História Me deixe sozinha - A outra garota

Me deixe sozinha cap.11

                Ainda são 6:30 quando meu despertador toca, eu não costumava acordar tão cedo até me mudar para cá, mas eu tenho muito tempo livre e comecei a caminhar, me levanto e assim que me troco vou até a cozinha, mamãe ainda não tinha voltado, mas suas 32 mensagens diziam que estava perto, então calço meus tênis coloco meus fones e saio, dessa vez nem me preocupo em trancar a casa.

                O tempo do lado de fora está úmido e agradável, apesar de não ser tão cedo, a cidade estava parada, bônus de cidade pequena, ela dorme, deixando nós, pessoas da ‘’cidade grande’’ com um tempo silencioso que nunca teríamos em uma grande metrópole, enquanto corro, meus pensamentos voam até Murilo e o nosso quase beijo, quando estou com ele, sinto é como se a Beatriz que pegava os caminhos mais longos até a escola para não encontrar ninguém, ou a Beatriz que passava os intervalos na biblioteca para conseguir comer sem escutar o que as pessoas diziam dela, mesmo sendo grande parte mentira, quem acreditaria na menina calada? Ninguém, todos gostam de um azarão, mas ninguém gosta de lhe dar um pouco de sorte.

                Quando me deparo, estou em frente à loja de Murilo, eu realmente não sei o porquê de estar aqui, mas já que estou, melhor comprar algo para comer, nossa Beatriz arranjando desculpas para ver o Murilo, este realmente é o fundo do poço de minha vida insociável, entro no local, me forçando a acreditar que estou olhando em volta para achar barrinhas de cereal, e não Murilo, isso é quase uma obsessão, me recuso a ficar obcecada, ele não parece estar aqui, finjo não estar decepcionada e vou até a parte de café da manhã, escolho minhas típicas barrinhas de aveia com banana, e caminho lentamente até o caixa, mas paro bruscamente quando escuto uma voz.

-O que vocês fizeram?

 Carlos?

-Eu já disse que não te interessa, não sei o que você acha que tem com ela, mas não vou deixar que se aproxime!

 Meu coração acelera, Murilo, vou até o final da prateleira e espio, Carlos está segurando a gola da camisa de Murilo, que está com os braços cruzados “quem se irrita primeiro sempre perde a briga”, me lembro dessa frase na hora, e Murilo parece estar bem calmo, diferente de Carlos que está vermelho como um pimentão.

-Escuta aqui, estou cansado dessa sua marra, é sempre assim, é só chegar mais uma garota na cidade que você acha que acha que tem o direito sobre ela, igual a como foi com Rebecca.

   Rebecca? Sinto que se ficar mais um pouco aqui, vou escutar algo que não quero, mas a negação é uma das coisas que mais odeio na humanidade, como quando sua família pede para tirar de um canal porque não consegue escutar as verdades sobre o mundo que vive, eles se negam e ver que estamos à beira da ruina, eu não.

-A Rebecca não tem nada a ver com isso.

 Agora Murilo pareceu alterado, ele ficou nervoso, Carlos notou mas mesmo assim, ele sentiu como se tivesse tocado em uma ferida, sinto que tem algo segurando meus estomago e a cada respiração cortada ele aperta mais, ficar aqui parada não irá resolver esse aperto em meu peito, não quero me esconder e não tenho direito de saber sobre os fatos, mas não quero me esconder como se tivesse feito algo de errado, então respiro fundo, e passo por eles, Carlos continua segurando Murilo, eu olho para eles, mas não paro de caminhar, Murilo se debate até se soltar de Carlos, mas quando ele se solta já estou no caixa sendo atendida por Julia.

-Bia, eu não tinha te visto.

O fato de ele estar agindo como se tivesse feito algo errado só me fere ainda mais.

-Sou conhecida por ser silenciosa...

Ele abaixa a cabeça e respira fundo.

-Sobre o que ouviu...

-Se machucou brigando com ele, por que?

 Ele fica surpreso quando vê que mudei de assunto, eu realmente não sei o porquê de ter feito isso, mas agora, não quero que minha manha comece com a informação de uma garota que pelo visto tem relações com o cara que eu quase dei meu primeiro beijo, talvez mais tarde, quando eu não tenha que passar muito tempo olhando para ele.

-Foi por causa de uma garota.

 Parece que qualquer coisa que eu tente fazer para que não falemos disso, só nos aproxima mais 100 passos de falarmos disso, frustrante, respiro fundo, minha garganta está mais apertada que nunca.

-Entendi.

  Estendo a mão para pagar Julia, que aprecia seu show particular, mas ele segura meu pulso e abaixa meu braço.

-Não precisa pagar.

 Me solto devagar de sua mão e coloco o dinheiro na registradora, descuidadamente aberta, ele me olha como se eu tivesse cometido um pecado, mas eu apenas me forço a sorrir.

-Até a aula Murilo.

 Ele não me segura e eu agradeço, isso seria pior, assim que saio pelas portas automáticas, Carlos me segue.

-O que vocês estavam falando.

 Eu realmente não estou com humor para isso, assim que olho para o seu rosto, seu olho está roxo, e sua boca cortada, e ele tem um curativo na maça do rosto, ele tem seu típico sorriso maligno, e parece gostar de tê-lo.

-Gostou? Foi seu amiguinho que fez comigo.

 Diz ele passando a mão no rosto, toco sua bochecha e ele mente que doeu, e eu recuo minha mão, mas ele a segura, olho em direção a loja, e Murilo está na porta, assim que Carlos vê para onde estou olhando, ele solta minha mão com violência.

-Mas que inferno, o que eu tenho que fazer para que você não olhe para ele nunca mais? Isso já está me aborrecendo, você é minha!

 Assim que ele diz isso ele segura minha cintura e me puxa pare ele, recuo a cabeça e começo a soca-lo, mas ele segura minhas mãos pelos pulsos e fico paralisada, assim que decido pedir ajuda a Murilo ele já está aqui, ele dá um soco no rosto de Carlos que me solta e cambaleia, Murilo me puxa para trás de si, Carlos passa a mão pelo corte que se abriu novamente em sua boca e começa a rir.

-Essa deve ser a 5 vez que você me bate essa semana por causa dessa garota, o que é que ela tem? Ela não é tão bonita assim, e você a segue como um cachorrinho, como é idiota, mas se quer ficar com ela, vai nessa ela terá o mesmo destino que Rebecca.

 Foi tanta informação para absorver que fico tonta, eu sou a garota, ele brigou por mim, Carlos só me quer para irritar Murilo, Carlos sai andando como se essa briga não tivesse ocorrido, ele é realmente estranho, Murilo se vira para mim e pega meus pulsos, que estão vermelhos por causa da força de Carlos, ele massageia meus pulsos, está de cabeça baixa e silencioso, não vejo nada de errado até uma lagrima cair em minha blusa, estou chorando novamente, por que? Murilo vê, e me abraça, eu nunca tinha precisado tanto de um abraço em toda minha vida, quando ele sussurra para mim que tudo ficará bem, começo a soluçar como uma criança que acabou de machucar o joelho, e ele me abraça mais forte, e por um curto tempo, senti que todos os cacos dentro de mim se juntaram, eu não tinha que ser perfeita, e podia errar, eu posso querer abraços.

 E eu sigo pensando assim, durante todo o caminho de volta a minha casa, já estou calma, mas a cada momento que sinto que vou desabar, o Murilo está lá, segurando minha mão, e eu não me importo se essa tal de Rebecca é ou será importante, só me importo com esse momento, com o calor a da mão de Murilo na minha.