História Me deixe sozinha - Um longo caminho

Me deixe sozinha cap. 19

                Pouco tempo depois de mamãe chegar escuto a campainha, finjo que chequei minha roupa somente para ver se estava suja, e não para o caso de ser o Murilo atrás da porta, mas não é, mas também não é algo ruim, Victoria me olha de cima a baixo.

-O Murilo também vem, não é?

 Nossa, eu devo ser muito obvia, mas a situação é engraçada.

-Sim, está muito obvio?

 Ela tira o pirulito da boca e segura uma risada irônica.

-Não, é muito normal você usar brilho labial e sandálias novas em casa.

 As sandálias não são tão estranhas, mas ela tem razão sobre o brilho labial, ele nem mesmo é meu.

-Ok, eu vou tirar, mas antes, temos que comprar as coisas para preparar o jantar.

 Ela parece estar em modo câmera lenta hoje, após 5 segundo me encarando, ela finalmente parece voltar.

-Ah, achei que o lance do jantar fosse brincadeira.

-A única parte que foi brincadeira era a de que você iria cozinhar, não quero que coloque fogo em minha casa extremamente colorida.

 Ela não diz nada, mas ri um pouco, esse devaneio dela deve ser por algo bom, algo realmente muito bom.

 Ela está tão avoada que só percebeu que eu estava caminhando quando eu a chamei para me acompanhar, ela faz uma corridinha muito fofa até mim.

-Você não vai fechar a porta?

 Eu preciso segurar o riso, levei cerca de três minutos para trancar a porta.

-Eu tranquei, você devia estar em saturno em quanto eu fazia isso, me diga, o que aconteceu?

 Ela corou, e fez uma espécie de dancinha preparatória para segredo que me assustou, parei no meio da rua e a olhei como se fosse uma espécie de alienígena chamando seus amigos.

-Você está me assustando...

 Ela começa a rir, mas logo para.

-Você promete guardar segredo e não rir?

 Agora isso pareceu sério.

-Claro, prometo, agora me diga, fiquei realmente curiosa.

Ela limpa a garganta, isso parece ser uma história muito longa.

-Bom, você sabe aquele Luiz, bonitão e tal -Meu coração gela, mas decido deixar ela terminar de falar – Então, ele me chamou para ir em uma festa sábad...

-NÃO VÁ!!

 Ela se assusta, não sabia que os olhos de alguém podiam se arregalarem tanto.

-Escuta, não importa o que ele disser, não vá, ele é perigoso, psicótico, maluco, idiota, se você gostar desse babaca juro que vou te trancar em meu porá...

 Ela começa a rir freneticamente, não sei se fico confusa ou furiosa, pareço estar brincando?

-É claro que não vou Bia, relaxa, não sou tão doida como a..... Esquece, isso é uma longa história, mas escuta, eu não vou ir nessa festa, por que sei bem do que ele é capaz, mas você não me deixou terminar.

 Respiro fundo, não me lembro de me sentir tão aliviada assim em toda a minha vida, então... ela parece saber sobre a história de Rebecca, mas por que ela não me disse?

-Não me assuste assim novamente, nem sei o que eu faria se você fosse até lá!

 Ela coloca uma das mãos em meu ombro, e respira fundo.

-Eu sei querida, o que seria de você sem mim não é mesmo?

 Tiro a mão dela de meu ombro e a empurro.

-Nossa realmente, eu perderia o ar, mas me diga, qual desfecho dessa história?

 Mas, assim que ela finalmente resolve matar minha curiosidade, vemos o Murilo dobrando a esquina, seu sorriso quando me vê, se torna uma careta quando ele percebe Victoria ao meu lado, mas deve ter disso reflexo, ele também devia estar pensando que seriamos apenas nós dois, o que esses pervertidos querem fazer sozinhos comigo? Enquanto ele se aproxima, me volto para Victoria.

-Então... fale.

 Ela parece estar novamente em um transe, mas logo retorna.

-Ah, isso, é melhor eu te contar quando ele não estiver perto.

 Pela primeira vez tive vontade de enxotar Murilo de perto de mim, ele parece ter escutado a última frase de Victoria.

-Ele quem? -Perguntou colocando as mãos nos bolsos de sua calça jeans – Não deve ser comigo, por que me chamam de mestre da beleza absoluta dos dias cinzas.

 A irônica de Victoria é tão óbvia, que parecem perfurar Murilo, mas ele continua com sua pose de Mestre da beleza absoluta, eu não sei se rio ou choro.

-Se já acabou de inflar seu ego, nós precisamos comprar as coisas para o jantar.

 Ele parece confuso, se inclina um pouco para trás e me olha.

-Não podemos fazer um jantar romântico com 3 pessoas querida -Ele se vira para Victoria -A não ser que você seja nosso cachorrinho.

 Ela parece cuspir veneno com os olhos, ele começa a rir e se aproxima dela.

-Calma Victoria, estou apenas brincando.

 Ele ergue a mão para bagunçar o cabelo dela, mas ela segura a mão sem olhar para ela, depois ergue a cabeça devagar, isso parece até um filme de terror, Murilo tenta soltar a mão, mas ela segura com força, ela inclina a cabeça dá um sorriso maligno.

-É melhor você correr, por que eu mordo.

 Ele arregala os olhos e começa a correr e ela vai atrás, o que me resta é apenas assistir e rir quando ela o alcança e lhe dá um chute na bunda, essa briga deles não é muito longa, mas me fez lembrar sobre como os dois eram, antes de mim, quando Rebecca ainda estava viva, eles deviam fazer coisas desse tipo o tempo todo.

 Murilo está com o pirulito que Victoria chupava ainda a pouco erguido bem acima de sua cabeça, ele é mais alto, então seus pulinhos são totalmente inúteis, acho que é agora que eu separo a briga, me aproximo e começo a fazer cócegas em Murilo, que se contorce como uma minhoca no sol.

-Quantos anos vocês têm?  Terei que comprar uma coleira para vocês?

 De repente os dois param e me olham, o clima parece ter ficado sério, Murilo devolve o pirulito para Victoria, mas ela apenas o segura, os dois abaixam as cabeças.

-O que foi?

 Os olhos de Victoria estão marejados, quando ela ergue a cabeça.

-Não é nada, mas isso que você falou.... A Rebecca, dizia isso o tempo todo para nós.

 Murilo não me olha nos olhos, apenas coloca as mãos de volta em seu bolso.

-Ah, sim, desculpe.

 Victoria segura minha mão, e sorri, um dos sorrisos mais tristes que já a vi fazer.

-Não, sério, não tem problema, só fomos pegos de surpresa, não é Murilo?

 Murilo está olhando para mim com um sorriso tão grande que seus olhos estão em formato de meia lua.

-Sim querida, mas olha só, se quisermos jantar ainda hoje, temos que comprar as coisas agora, vamos até minha loja.

 Ele vem em minha direção e segura minha mão, Victoria encara por um momento antes de revirar os olhos.

-Além de ter que se exibir por causa da loja, fica nessa melação com minha melhor amiga, você parece não temer a morte.

 Ele só sorri, e continuamos nosso caminho, eles parecem tranquilos, mas isso que eu fiz, está me perturbando até agora.