História Me deixe sozinha - Uma ajuda perigosa

Me deixe sozinha cap. 22

 Só entro na sala, após Victoria entrar na dela, tive que quase amarrar Luiz para que ele não fosse na direção dela com aquele olhar faminto, eu preciso muito falar com ela e Murilo após essa aula, que parece nunca começar, Murilo não está na sala hoje, não o vejo desde ontem, e não sei se devo me preocupar com isso agora, mesmo assim, ele faltar a aula não é um evento tão raro, mas não me mandar alguma mensagem avisando sim, ele nunca deixaria passar isso, nossa, o que eu me tornei? Estou na sala de aula pensando em um garoto, agora entendo o que mamãe quis dizer com deixei você para trás.  Me lembro da ligação que ele recebeu, da maneira cortes que ele conversou com mamãe, e senti falta.

 A aula foi longa demais sem ter a visão da nuca de Murilo, ou de seus bilhetes estranhos que ele me passa, ou de quando ele belisca meu joelho, se bem que isso é mesmo desnecessário, passo na porta da sala de Victoria antes dela sair, mas assim que chego perto da porta escuto alguém.

-..., mas você parece querer ir comigo –

  Luiz...

 Corro para a sala e a expressão de Victoria foi como se ela tivesse visto o homem de ferro, ela começa a vir na minha direção, mas ele se coloca a frente dela e se vira para mim.

-Olá Bia, quer participar? Você pode começar com uma massagem.

 Imediatamente sinto aquele arrependimento mortal, escuto Victoria pigarrear atrás dele, é minha deixa.

-Não será possível, eu e Victoria temos um compromisso, coisa de mulher sabe.

 Escuto uma tentativa de segurar uma risada, mas é claro que foi em vão, já que veio de Victoria, a garota que nunca precisou disfarçar o que está pensando, e deve ser por isso que Luiz se irritou, ele bufa e torna a se virar para Victoria, que logo para de rir. Assim que ele ergue a mão para toca-la eu passo por ele e seguro sua mão, como Murilo fez, ele percebe isso e olha com desdém para mim.

-Vocês também estragam a diversão das pessoas com as mãos dadas? Eu só estava conversando com sua amiga, deixa de ser possesiva.

 Victoria parece calma, mas suas mãos tremem, onde está Murilo nesses momentos?

-Luiz, deixa ela aí, eu sou bem amis divertida.

 Pareço ter despertado um monstro dentro dele, seu sorriso extremamente branco se abre e ele se afasta de Victoria, que tenho certeza estar me olhando com medo, ela e eu sabemos do que ele é capaz, mas eu sei me proteger, e agora, devo protege-la, Luiz caminha até mim, e coloca uma das mãos em minha cintura, seu toque me faz ter calafrios, mas apenas pego o troco do café dessa manhã e jogo para Victoria, que me olha com desespero.

-Victoria, vá comprar alguma coisa para comer, eu vou ficar aqui com Luiz.

 Estou desejando com todas minhas forças que ela entenda o que quis dizer, ela me encara por um momento, mas parece ter um momento de clareza, ela disfarça sobre o olhar de Luiz, que a metralha, como se cada segundo que ela passa lá, é um a menos para ele ficar sozinho comigo, e só Deus sabe o que ele quer fazer sozinho aqui, eu tenho ideias, mas prefiro fingir que é apenas minha imaginação.

 Assim que Victoria sai da sala, ele fecha a porta e se vira para mim, eu faço a melhor cara de satisfação que posso encenar, agradeço mentalmente pelo pequeno curso de teatro que fiz por um tempo, ele caminha até mim.

-Achei que você estava namorando o Murilo, sabe, ele te protege como se fosse o bichinho dele, tão patético.

 Não á nada de patético em proteger quem você ama, é o que quero dizer, mas ainda não, Victoria deve estar no caminho até o mercado.

-Talvez ele acha divertido eu ser o bichinho dele.

  Luiz não tenta disfarçar a ironia em sua risada, o que me faz pensar na primeira impressão que tive dele, ele parecia um rapaz bom, tímido, mas agora, eu pareço estar em uma disputa face a face com o próprio demônio, e ele está tão sorridente que posso ver as almas que ele roubou atrás de cada dente branco em sua boca, ele é tão belo por fora quanto é podre por dentro, escuto o som de uma espécie de jato, mas ignoro, o sorriso dele fica maior.

-Eu sei o que você está com medo de mim Beatriz, eu já fiz isso vezes o suficiente para poder ver cada expressão de medo de todas, mas você, caramba Bia, eu estou a dias tentando laçar você, desde o dia em que me fez aquela massagem, naquele momento, eu ia descobrir cada pedaço de seu corpo, mas seu “dono” estragou a brincadeira novamente, desde então você me evita, não gosto nada disso, tive que usar sua amiga, eu nem tenho interesse nela, pode se dizer, que ela não faz meu tipo, já você ah Bia, você faz tanto meu tipo, que serei mais devagar com você.

 Não sinto minhas pernas, todo o tempo em que eu passei fazendo aulas de luta, apenas umas palavras dele, me fizeram acreditar que eu não era capaz de usa-las, ele me travou novamente, mas dessa vez, ele se aproxima de mim, e o mundo vai perdendo o foco, eu não posso desmaiar aqui, recuo um pouco e me seguro na mesa, estou totalmente tonta, isso não é apenas nervosismo, não é apenas medo ou pavor, ele fez algo, pela sua risada fora de ordem, sinto que ele fez, e quando vejo o mundo voltar ao foco por poucos segundos, vejo algo em sua mão, parece uma lata de spray, mas agora nem posso ver mais, está tudo ficando escuro, e a visão dele, some lentamente da minha visão, quase no mesmo momento em que uma luz invade a sala, mas já não vejo nada, e lentamente, nem escuto mais meus pensamentos.