História Me deixe sozinha - Buscar

Me deixe sozinha cap.23

    Victoria corre por todo o caminho até o mercado, muitas vezes tropeçando até no próprio pé, mas ela não pode se dar ao luxo de parar para ver se o corte em sua canela causada pela sua primeira queda ainda sangra, ou parar para a chuva que havia começado fraca, mas que agora os pingos estão pesados e caindo com força em sua cabeça que fica rapidamente encharcada tanto pelas gotas de chuva quanto de suas lágrimas, ela não pode perder mais alguém, não dessa maneira, ela se culpa por não ter contado sobre como Luiz fez parte do suicídio de Rebecca, talvez se ela tivesse dito, nada disso aconteceria, e agora estariam indo para a casa, como duas adolescentes normais, mas agora, mesmo a vida de Beatriz corre perigo.

  Ela chega no mercado aos prantos, mas só encontra a mesma funcionaria de sempre, lixando suas unhas como sempre, a única preocupação dela deve ser qual esmalte usar para combinar com as unhas dos pés, mas Victoria, carregava uma vida em suas costas, em todo o caminho longo que percorreu, uma vida pode depender dela. Ela corre pela porta dos funcionários, a funcionaria diz algo, mas ela ignora, as regras são tão sem sentido em situações como essa, assim que ela entra no quarto acelera o passo até a entrada até o telhado, onde ela Murilo e Rebecca costumavam passar grande parte do tempo, e que depois da morte dela, Victoria nunca mais tinha subido lá, ela abre a porta, mas assim que olha em volta vê que não está sozinha na sala, Murilo está no sofá ao lado de uma mulher um tanto familiar, mas isso não é importante.

  Murilo se levanta em um salto e corre até Victoria, ele a segura pelos ombros, mas ela se solta, sua respiração está tão desregular que quando ela finalmente consegue folego para falar, as palavras saem como algo doloroso de se ouvir.

-Pegaram, ela, vá, por favor.

 Os olhos de Murilo se arregalam, mas ele mantém a calma.

-Por favor Victoria, seja mais clara, tenho certeza de que posso ter entendido errado.

  A mulher no sofá se levanta com elegância apesar da situação de caminha até os dois, ela olha para Victoria como se a conhecesse, mas claramente não é reciproco.

-Ele pegou a Bia, ele fará o mesmo que fez com Rebecca, por favor, me ajude, precisamos ir até ela.

  Victoria chora tanto que suas pernas machucadas estão bambas, Murilo está tentando ficar calmo, mas sua respiração havia acelerado repentinamente e ele está pálido, e assim como com Victoria a poucos segundos atrás, quando ele fala, sua voz também está estranha e cortada.

-Para onde ele a levou Vick?

 Ele tentava não se desesperar, mas tanto Victoria quanto a mulher atrás dele sabiam que ele podia desabar a qualquer momento, suas pernas estavam bambas, e a cor ainda não tinha voltado ao seu rosto, Victoria respira fundo e pela primeira vez desde que chegou, fala com força, e sem quaisquer sinais de medo, ela confia em Murilo.

-Eles estavam na escola, na minha sala, mas assim que eu saí ele fechou a porta, ainda devem estar lá.

 Antes que Victoria dissesse mais alguma coisa, ou antes que a mulher conseguisse segurar o braço de Murilo, ele passou pela grande porta de metal, pegando uma das chaves penduradas próximo a ela, em menos de 15 segundos um ronco de moto foi ouvido do lado de fora da loja, as garotas que já estavam saindo da sala dos funcionários apertaram o passo, somente para ver a jaqueta de Murilo sendo arrebatada pelo vento, ele já tinha ido.

 Victoria começa a descer a rua, mas a mulher segura ela pelos ombros e a puxa para si, ela é alta e está usando salto, o que faz com que Victoria fique por um Bomtempo pendurando a cabeça para trás a fim de ver o rosto da mulher, seus dentes brancos aparecem em um sorriso nervoso.

-Ele cuida disso, mas você, não pode sair com as pernas assim.

 Ela acena com a cabeça para os pés sangrentos de Victoria, que enfim se dá conta da dor que sentia, a mulher com uma classe totalmente inapropriada leva Victoria de volta para dentro da loja, e assim que as portas automáticas se fecham atrás delas, Victoria só sabia rezar.

                Murilo já havia andado de moto sozinho milhões de vezes, mesmo sendo menor de idade, essa cidade não era tão pequena, mas as leis ainda eram a razão, mas hoje era diferente, ele não parava nos sinais, passava pela calçada quando preciso, nem mesmo dava seta, colocava sua vida em perigo, eu corro o risco de perder a única parte da minha vida que valeu, ele pensava cada vez que acelerava, sempre que piscava conseguia ver o sorriso frágil de Beatriz, e essa era a única coisa que ele queria proteger.

                Os curativos na perna de Victoria estavam firmes, mas as canelas estavam roxas e os joelhos ralados das vezes em que ela caia, tanto por causa da chuva quanto por tropeçar em seus próprios pés, ela havia passado todo o tempo explicando para a mulher misteriosa tudo que estava acontecendo, assim que citou o nome de Luiz a mulher saiu em disparada pela porta, agora era só Victoria e seu subconsciente, dizendo que ela não havia feito o suficiente, chegou a ponto em que ela gritou consigo mesma, só depois disso, ela ainda com os pés feridos, pegou a bicicleta de Murilo e pedalou, mas ela não estava indo para a escola.