História Me deixe sozinha - O sonho

Me deixe sozinha cap. 28

  O homem que até agora tinha ficado em silencio caminha a nossa frente por um quintal que um dia deve ter sido bonito, mas hoje está em estado tão péssimo quando a casa de onde acabamos de sair, a tinta estava descascada e a grama cinza por ser tão pisoteada, as poucas manchas de vida verde estavam cheias de ervas daninhas que acabariam matando a grama que até agora teria sobrevivido, tento memorizar cada pedaço do local antes de entrar na van a nossa frente, ela seria assustadora, se não estivesse aos pedaços, o homem entra no carro mas não da partida antes de que todos nós entremos, eu não entraria em situações normais, mas não conheço o lugar onde estou, que é bem deserto, e Carlos parece estar bem confortável com a situação, o que eu tento similar para que esteja tudo bem, o tal Murilo entra depois de mim, e senta do meu lado, eu tento ignorar sua presença e as lágrimas silenciosas que escorrem uma vez ou outra por suas bochechas.

  Ele dirige por toda a cidade mas não reconheço a maior parte, não que meus pressentimentos de familiarização contem como conhecer, mas já é algo, e na minha situação, eu considero bem importante qualquer coisa do tipo, até mesmo o flash de memória que tive naquele quarto escuro agora a pouco, minhas mãos coçam por causa da sensação de outra mão entrelaçando os dedos com os meus, eu nunca tinha pego na mão de ninguém daquela maneira, eu nunca tinha feito nada com ninguém até o dia em que eu me mudei para essa cidade, não me lembro de nada que aconteceu, somente de chegar nessa cidade e entrar eu meu quarto, acho que a única pessoa que conheço mesmo aqui, são aquelas vizinhas que parece ter saído de um filme de terror, eu não me lembro de entrelaçar os dedos com alguém, mas minha mão deve se lembrar, pois sempre que Murilo se mexe ao meu lado elas coçam ainda mais.

 Me deparo olhando para ele assim que o homem para o carro, desvio o olhar no mesmo momento em que Carlos desce do carro e me dá passagem para descer também, eu o sigo com pressa, estamos na frente de um pequeno posto médico, quase inabitado, a não ser por uma velha no canto de um dos bancos na porta, onde a outra única pessoa fumava um cigarro, na frente de um posto, isso não é nem o mais estranho, as pessoas não se machucam nesse lugar? Minha cabeça arde novamente e minha visão fica turva, sinto que vou desmaiar, talvez toda essa pressão finalmente tenha esvaziado de mim assim que vi o hospital, mas não tenho certeza, porquê caminho alguns passos para frente, apenas para me segurar em quem está em minha frente, antes de perder toda a noção de onde estou, bato nas costas dessa pessoa que me vira e me pega, não sei o que acontece, estou adormecendo aos poucos novamente... novamente? Isso já aconteceu? Acontec....

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 Estou correndo por um lugar tão escuro que não vejo minhas mãos a minha frente, ou mão, a outra tem alguém segurando, sua respiração está tão desregulada quanto a minha, mas ela parece estar no controle da situação, ela me puxa pelo escuto fazendo curavas em coisas que não sei ao certo o que são, mas eu confio nela, não sei bem como sei que é mulher, apenas sei, e ela está me protegendo, de repente tudo fica claro, claro demais, estamos em um quarto branco, olho para trás e tem sangue por todo o chão, estou com uma corda no pescoço mas não a sinto quando não a toco, apenas sei que ela está lá, como os cortes em meus pulsos, profundos como os de alguém que os corta com a certeza de que quer a morte, tem uma pessoa bem mais atrás que todo o sangue pelo caminho, ele usa preto e tem uma faca na mão, mas não se move, apenas nos observa, olho para a garota a minha frente que sorri para mim, por pouco tempo, pois escutamos uma voz a nossa frente, eu sei quem esse é, Carlos está a poucos metros de nós, com os braços estendidos para um abraço, meu sorriso por velo é radiante, e assim que dou um passo em sua direção, a garota ao meu lado me passa e corre para os braços dele, que a abraça como se ela fosse tudo o que ele precisa, eles não olham para trás, um nome surge em minha garganta.

-VICTORIA!!
 Eu grito, não por ódio, mas estou confusa porque ele abraça meu Salvador? Ela se vira, e sussurra algo, e, mesmo estando longe, escuto como se estivesse gritado ao meu lado.

-Rebecca.

 Assim que o som de sua voz me alcança sou jogada para trás nos braços do cara com aparecia meio asiática e a faca nas mãos, e assim que ele enfia a faca em meu estomago eu grito.

  Estou em uma cama com lençóis que deviam ser brancos, mas estão amarelados, minha respiração ainda está acelerada, o grito que eu dei não ficou preso somente em meus sonhos, todos que me estavam no quarto agora me olham espantados, reconheço Murilo e o homem, mas a garota que agora segura minha mão, não consigo determinar bem quem é, ela é apenas familiar, como tudo nas últimas horas que passei, ela sorri com lágrimas nos olhos.

-Bia, que bom que acordou, estava tão preocupada.

 Tenho certeza que sim, ainda mais pela maneira como ela aperta minhas mãos, mas não consigo me preocupar com ela, estou olhando a minha volta a procura de Carlos, mas nem sinal dele, possivelmente está recebendo tratamento, ele estava tão ruim quanto eu, talvez até mais, levo minha mão livre até o corte em minha cabeça, mas ele não está mais lá, apenas sinto linhas e a minha pele inchada, levei pontos enquanto dormia, olho meus pulsos e eles estão cobertos por faixas amareladas, ainda uso minhas roupas sangrentas, o que é muito estranho.

  A garota ao meu lado solta minha mão e se senta na maca que faz um som não muito confiável quando ela o faz, ela coloca a mão em minha testa e respira fundo.

-Você estava com uma febre feia, fiquei sabendo que desmaiou, meu Deus amiga, que isso nunca mais aconteça, o Murilo vai cuidar de você 24 horas por dia agora, aí dele se ele se afastar.

 Escuto um suspiro vindo de Murilo, mas não olho para ele, olho para ele com os olhos espantados, meu coração acelera e a tonteira retorna para mim, ela é a garota do meu sonho, agora me lembro, tanto dela quanto de Rebecca, o nome do qual ela me chamou.