História Me deixe sozinha - Um relacionamento real?

Me deixe sozinha cap. 30

 A primeira coisa que me passa pela cabeça é uma retrospectiva de tudo que vivi com Carlos, pelo menos o que eu me lembro, de antes do incidente, apenas o nosso quase beijo no em um corredor familiar, mas depois disso, desde ele engatinhando até mim, mesmo ferido, até seu sorriso sarcástico quando eu perguntava coisas o tempo todo, faz sentido, ele estava calmo, parecia saber o que fazer, eu nem percebi isso, ele estava muito calmo, mas, o mais estranho agora, é que não me sinto enganada por ele, não me sinto como se estivesse acompanhada por uma naja mentirosa todo esse tempo, quando assemelho esse fato, de ele saber com ele, é como se, isso não pudesse me fazer odiar ele, o que me faz ficar ainda mais confusa, e eu duvido de mim mais uma vez, será que antes disso, eu realmente namorava Murilo? Pois, mesmo depois de Murilo explicar toda a situação, eu ainda me sinto estranha com ele, como se ele estivesse me traindo.

-Murilo....

 Consigo sentir seu quase imperceptível arrepio por escutar eu o chamar pelo nome, mas finjo que não notei.

-Sim, pode falar Bia, eu vou responder tudo.

 Não olho para ele, mas sei que ele bate a perna incessantemente.

-Minha mãe, ela está demorando para chegar.

 Não era a pergunta que ele esperava, mas mesmo assim ele se retrai e volta a bater os pés.

-Ela não vem, ela, não pode vir.

  Olho para ele, mas ele evita a troca de olhares comigo.

-Esse lugar não existe, só eu meu pai, e as enfermeiras aqui sabemos que ele existe, é aqui que cuidamos das pessoas que eu e papai pegamos, ou das vítimas que eles fizeram.

 Ele finalmente olha em meus olhos, mas antes dele dizer qualquer coisa, eu tomo a palavra.

-Porque não leva eles para um hospital, vocês não estão fazendo uma coisa boa? 

 Ele estala os dedos, e o som é tão alto quanto de alguém que os estala para entrar em alguma briga de rua qualquer.

-Bom, a polícia entraria em contato e bom.... Nós não somos, “amigos” dela, isso que fazemos, é meio que ilegal.

 Eu namorava um cara que procurava criminosos de maneira ilegal... eu faço parte de algum tipo de filme de ação? Não seguro uma risada curta de desaprovação, e isso parece incomoda-lo, mas ele não diz nada.

-Você é o que? Um justiceiro das sombras? Isso não é seu trabalho.

 Ele abaixa a cabeça, eu devo ter sido cruel, mas nada do que falei é mentira, isso é perigoso demais para um adolescente, e o que é pior, o pai dele, ajuda ele com tudo isso, eu sei que realmente namorei ele por um tempo, mas eu não sei o porquê, eu devia ter perdidos muitos parafusos, durante o tempo em que morei aqui, pois agora, parece que sempre chamam meu nome, sinto que estão chamando outra pessoa, ainda mais quando dizem Bia, ninguém me chama de bia.

-Eu realmente não conseguia ver a polícia corrupta desse lugar ficar de mãos abanando, eu tinha que fazer isso Bia.

 O olhar dele é extremamente sério e determinado, o que me assombra um pouco, ele tem 17 anos e parece ter certeza de muitas coisas, é uma coisa dessas que você não pode mudar em uma pessoa. Tento me livrar dessa expressão determinada em seu olhar, mas mesmo não o olhando nos olhos, sei no que ele pensa, isso é tão bizarro.

-Onde está o Carlos?

 Mais uma pergunta que parece pega-lo de surpresa, sua expressão confusa chega a ser engraçada, ele balança a cabeça como se estivesse escutado errado, mas não escutou, o que o deixa ainda mais assombrado.

-O que você quer com ele? Porque está procurando ele? Bia, você odeia ele!

 Eu também amava você pelo visto, nem por isso as coisas deixaram de mudar, é o que quero dizer, mas o silencio parece uma arma melhor, uma arma que faz Murilo me olhar mais confuso a cada momento que se passa.

-Você.... Não está.... Caída por causa do modo batalha dele.... Está?

 De novo isso de modo batalha? Mas que porra, minha curiosidade está moendo meus ossos para saber o que é, mas se que se eu perguntar, não é hoje que saio daqui, então apenas faço que me lembro.

-Não é algo que você precise saber, apenas me diga onde ele está, por favor.

 Educada e venenosa, Ele respira fundo, parece magoado, ele realmente gosta de mim, o que me faz pensar, se eu realmente gostava dele, onde todo esse amor está?

-Ele vem muito aqui, tem um quarto que usa sozinho, no andar de cima, mas não vá até lá Bia, por favor.

 Ele se aproxima de mim e eu recuo, não quero sentir todo esse pesar que ele carrega no peito, se essa situação machuca ele, ele me incomoda.

-Você não decide isso também.

 Me levanto, tirando a agulha e minha veia, que me conectava a uma bolsa de soro quase vazia, uma grande gota de sangue se forma, mas como tudo que está acontecendo, eu apenas a deixo rolar.

 Do lado de fora é quase idêntico ao de dentro, velho, usado e um pouco amarelado, o chão de madeira desgastada faz um som de lixa quando minhas sandálias passam por elas, tento me concentrar nesse som, não na tonteira crescente que sinto, eu realmente deveria ficar no meu quarto, mas tudo o que Murilo me disse, me deixou tão inquieta que a tonteira de andar é menor que a pressão em todas as palavras vindas de Murilo.

 Tento similar tudo enquanto subo as escadas até Carlos, minha mãe não virá, ele e o pai dão uma de Batman, Carlos sabe sobre tudo isso, estou com raiva por não saber sobre isso por Murilo antes do incidente, mas não tenho raiva de Carlos, o que me faz duvidar mais uma vez, eu realmente amava Murilo?

 Minha pergunta faz ainda mais sentido quando abro uma porta branca assim que termino de subir as escadas, Carlos está com a perna engessada, o que me traz uma sensação familiar, fico parada na porta até ele notar minha presença e me chamar para entrar, até mesmo depois disso, fico na porta tanto por que ele está sem camisa e com ferimentos pelo abdômen, quanto por causa de meu coração, que está acelerado desde que toquei a maçaneta.