História Me deixe sozinha - Pressa

Me deixe sozinha cap. 41

 Ela me explica pelo resto do caminho o porquê de não estar quebrando minha cara, é claro, ela ficou furiosa, muito, mas ela não parece tão irracional como eu, e mais uma vez eu me pergunto o porquê de eu ter feito aqui, loucura? Curiosidade? Drogas? Não sei mesmo, mas sei que, apenas pelas lembranças que libertei, meio que valeu a pena, mas o fato de eu ter me lembrado como ele era, nossa, como isso é confuso.

 O caminho até a escola foi somente Victoria falando sobre todo o tempo que perdemos enquanto estávamos fugindo uma da outra, estou feliz de finalmente termos nos acertado, se bem que, pelo visto, nós nem mesmo brigamos, apenas colocamos as cartas na mesa. Meus pensamentos vagam para longe, até serem trazidos de volta por Victoria, que me cutuca com o cotovelo.

-Pelo visto eu não a única com o relacionamento organizado.

 Foco a minha frente assim que ela diz isso, tem razão, estamos acertados, Murilo está vindo até nós com um sorrido gigante, e acenando como um louco, o que me faz duvidar de que aquele garoto do primeiro dia seja mesmo ele, meus músculos ficam rígidos, eu lembrei, eu dei uma rasteira nele, cubro a boca para conter uma risada nervosa e ele parece confuso, olho para Victoria esperando a mesma reação, mas ela está ocupada com outra coisa, sigo seus olhos e vejo o que ela admira, Carlos está atrás de Murilo, mas diferente de Murilo, ele está silencioso e extremamente vermelho.

 Murilo finalmente me alcança e me abraça, diferente de Carlos que se aproxima de Victoria e eles trocam um selinho, o sangue foge de meu rosto, vejo que Murilo tem a mesma reação, eu sabia que eles estavam namorando, mas ver isso com meus próprios olhos é bem mais chocante, Murilo está esfregando os olhos e balançando a cabeça como o que aconteceu não fosse real, sinto o mesmo, mas apenas fecho a boca que nem havia percebido que estava aberta, Carlos olha para Murilo como se ele fosse uma criança.

-Pode parar bonitão, sei que você já fez coisas bem mais interessantes que isso.

 Os olhos de Murilo saltam das orbitas e ele leva um dedo sobre a boca enquanto segura minha mão e me puxa para longe deles, eu estou super curiosa para saber o que ele quis dizer com isso, mas a visão de Victoria e Carlos juntos me distrai enquanto sou puxada até o portão da escola por Murilo. Assim que entramos ele solta minha mãe e eu continuo a caminhar até nossa sala, mas paro assim que vejo que ele não me acompanha.

-O que foi?

 Não gosto nem um pouco desse lugar, foi onde Luiz tentou enfiar a mão em meu sutiã, faço uma careta ao lembrar daquilo, olho para Murilo esperando uma reação igual, mas só o vejo olhar para além de mim, sigo seu olhar e vejo que é para uma câmera.

-Foi aqui que aconteceu, não é?

 Concordo com a cabeça, mas ele não está olhando para mim, o me força a responder em voz alta.

-Sim, porque?

  Ele fica em silencio e finalmente me olha.

-Podemos esquecer essa filmagem.

 -Por que?

 Ele respira fundo e caminha até mim.

-Essa é uma das câmeras desativadas daqui da escola, está aí apenas para amedrontar os alunos, acho que Luiz sabia disso.

 Câmeras desativadas? Segurança zero, ainda mais em uma situação como essa, a frustração aparece e toma conta de toda minha mente, se ela funcionasse, talvez eu nem mesmo precisaria passar por outra situação de abuso com Luiz, meus ossos parecem pesar, eu preciso ter certeza.

-Como você sabe?

Murilo encarava a câmera, eu pareço acordar ele.

-O que?

 Qual problema dele?

 -Como você sabe que está desativada?

 Ele abre a boca e solta um ahh, como se ele tivesse uma resposta incrivelmente surpreendente para minha pergunta, quase me senti como alguém perguntando algo para um detetive importante, só faltou ele pegar um cachimbo.

-Eu sou um amigo próximo de Carla.

  Carla.... Ele percebe minha expressão confusa e ruboriza, ele parece muito angustiado.

-A diretora, eu chamo ela assim, na primeira vez que nos vimos eu estava com ela.

 Mais uma vez me injustiçada, ele carrega toda essa bagagem de nosso relacionamento sozinho, é como se ele namorasse sozinho.

-O que vamos fazer?

 Ele faz uma cara, como se minha pergunta já viesse com resposta, ela não vem, por isso espero ele responder.

-Eu vou falar com Carla, ela vai me dizer.

 Mais uma vez duvido muito dessa amizade dele com a diretora, mas se está sendo vantajoso para nosso lado, não sei por que interferir. O sinal corta meus pensamentos, já devíamos estar na sala, Murilo pensa o mesmo, ele acelera, não diminuindo nem mesmo para segurar minha mão com mais calma, o que nos faz acelerar.

 Em meio minuto estamos na sala, ofegantes e rindo como idiotas, há cerca de cinco pessoas na sala, nenhuma delas espera pela aula, corremos atoa, de novo.

-Vamos.

 Ele solta minha mão, mas caminhamos juntos até dois lugares no fundo da sala, ficamos conversando coisas aleatórias, até Carlos chegar e Murilo se levantar para fazer uma entrevista, eu apenas observo de longe, parecem velhos amigos, o que é estranho. Murilo retorna assim que o professor entra na sala, sem esquecer de sorrir para mim ao se sentar. As aulas seguiram tranquilas, alguns bilhetes trocados e eu aguentado as meninas fazendo cara feia para mim novamente, só o de sempre.

 Mas no meio da aula, Carla entra na sala, interrompendo o professor no meio de um sermão para uma garota que o ignorava com fones de ouvido no volume máximo. A pose do professor muda logo de cara, e toda sala se endireita, ela parece intimidadora.

-Sim Sra. Miraz.

 Ela não parece ter gostado de ter sido chamada de Miraz, mas não o corrige, ele mesmo o faz.

-Digo, diretora.

  Vejo o perfil de Murilo mudar, acho que ele sorri, ele chama ela pelo nome, tem como isso ficar mais estanho?

-Bom, dia professor, só estamos dando um recado pelas salas.

 A expressão do professor se alivia obviamente, mas o restante da sala continua tenso, o que há com essa mulher?

-A escola está se preparando para um evento que vocês participarão, porém, a presença dos estudantes está atrapalhando a organização, por isso, nós da direção estamos fechando a semana, o evento precisará de uma certa reforma, então vocês não terão aula essa semana.

 Toda a sala se tranquiliza, menos eu e Murilo, nós dois, que até agora estávamos tranquilos ficamos tensos, ele me olha de relance, e eu sei o que ele quer dizer com isso. Vamos ter que fazer isso hoje.