História Me deixe sozinha - Precipitação

Me deixe sozinha cap. 42

 Sei que Murilo está tenso a minha frente, por que também sinto o mesmo, se adiarmos mais toda essa merda, é capaz de Luiz descobrir de alguma forma, ainda estou surpresa por ele ainda, depois de tudo que aconteceu, tentar me abusar, é certo de que a câmera estava desligada, mas de qualquer maneira foi arriscado.

Começo a bater o pé de nervosismo, eu sabia que teria que fazer isso, mas hoje, eu havia dito que hoje não era o dia, sinto o sangue fugindo de meu rosto, apenas pensando na possibilidade de passar por aquilo novamente, é certo que eu dei uma surra nele, mas antes disso, em todo o tempo, eu não sabia nem mesmo gritar por ajuda. Todos os outros alunos fazem comemorações baixas, exceto Murilo, que levanta uma mão, o ato me surpreende, mas o restante da turma nem mesmo percebe.

-Murilo, não interrompa a diretora.

  O professor corrige Murilo, mas a diretora o interrompe, fala algo em um tom que apenas o professor pode escutar, sinto o medo dele com a simples aproximação da diretora, imagino mais uma vez, se isso é respeito ou medo. Ela faz um pequeno aceno em direção a Murilo, que se levanta quase imediatamente, decido não interromper, mas ele segura minha mão e me leva junto ao encontro da diretora já fora de sala.

 Quando saímos, ele ainda segura minha mão, ela dá uma boa olhada nelas, mas sua expressão não diz nada. Murilo não parece que o fará, então sou eu quem solta nossas mãos, ele dá um passo à frente, e a diretora parece ativar o modo atenção total, é como se a pessoa que intimidou quase 30 pessoas dentro da sala, fosse substituída.

-Preciso saber quais câmeras dessa escola estão ativas, ou até mesmo ativar todas, Beatriz tem uma ideia de como acabar com o incomodo L.

 Incomodo L? O Luiz? Eles têm códigos? Isso sim é algo que eu não esperava. Ela olha para mim, eu esperava uma expressão de dúvida, ou até mesmo um olhar de superioridade, mas ela parece apenas curiosa, até mesmo intrigada.

-Qual é o plano?

 Levo um tempo até perceber que ela está falando comigo.

-Ele tem uma mania grave de tomar posse de toda garota que tem interesse, porém ele não desiste até quebrar totalmente a garota que ele quer, da última vez ele tentou se esfregar em mim, eu achei que uma das câmeras estava filmando, mas me enganei, tenho certeza de que ele fará isso novamente.

 Ela perece entender mesmo sem eu dizer exatamente como irá funcionar, Murilo volta a falar com ela.

-Porém, com essa notícia, acho que teremos que fazer isso hoje, por isso preciso das câmeras.

 Ela apenas escuta e faz que sim com a cabeça.

-Vamos precisar ser rápidos, podemos olhar isso agora mesmo.

 Murilo concorda e começa a seguir a diretora, que caminha rapidamente pelo corredor, fico parada no lugar, sem saber se volto para a sala, ou os sigo, até Murilo parar e se virar para mim.

-Você não precisa vir conosco se não quiser, mas não volte para a sala, dê uma volta pela escola e observe os lugares, onde tem câmeras, pense bem em como pegar aquele desgraçado.

 A diretora está parada no corredor, ela não o faz, mas imagino ela batendo o pé e olhando o relógio, sem paciência. Murilo caminha até mim, e me beija na testa, um beijo leve, mas que arrepia toda minha pele, não sabia que ele tinha esse efeito comigo.

-Cuidado com aquele idiota, não deixe ele se aproveitar demais.

Não me lembro bem como falar qualquer coisa, então apenas faço que sim, ele tenta fazer um sorriso, mas está tenso demais, então apenas volta até a diretora, eles até parecem uma dupla dinâmica, só não sei ao certo quem é o líder. Volto até a sala, e pego meu celular e um bloco de notas, o professor tenta me impedir de sair, mas com uma pequena menção da diretora, ele já quebra totalmente a moral que fingia ter, e saio sem problema algum, bom exceto o olhar fulminante das garotas, rio ao me lembrar que elas me odeiam para caralho.

 Assim que estou do lado de fora da sala de aula novamente, começo a caminhar pela escola, meus pensamentos começam a voar, quando foi que parei de preocupar com a perda das aulas, e comecei a pensar em como prender um idiota, parece até que estou em outro corpo.

 A escola não é pequena, mas me lembro do tour que Victoria insistiu para fazermos, sei quase tudo da estrutura, mas quando preciso pensar em um lugar para ser quase abusada enquanto filmam, acho que não tem lugar para isso nessa escola, nem em qualquer lugar, mas não irei desistir agora, não importa o que acontecer.

 Estou no banheiro feminino lavando meu rosto, me sinto tonta e nervosa, fico repetindo para mim mesma que é por uma boa causa, que ficarei bem, mas sempre que o faço, me lembro da última vez que fiquei sozinha com Luiz, ter sido desmaiada, amordaçada, e presa em um cômodo mofado com um homem de meia idade, o pai de Murilo, a ideia ainda me dói, não, isso não foi culpa de Murilo, já o odiei por tempo suficiente.

  Assim que penso nele, meu telefone vibra, pego rapidamente, e percebo que estou tremendo, é Murilo, sinto meu corpo ficar mais leve, não sei quem estava esperando, mas a simples ideia de não ser Murilo, já me deixa nervosa, respiro fundo antes de atender, mas ainda tremo muito.

“-Oi, eu ia perguntar se está bem, mas posso ver que sim”

 Estou bem? Sinto que minhas pernas criarão vida e correrão de mim. Sinto braços em volta de minha cintura, e já sei o porquê de eu dele poder ver que estou bem, eu seguro um sorriso, mesmo estando feliz, aqui não é lugar disso, me solto tentando segurar o riso, mas assim que me viro, nem preciso tentar, qualquer sombra de sorriso existente em minha boca foge para qualquer lugar, não é Murilo atrás de mim, é Luiz.