História Me deixe sozinha - Desculpas

Me deixe sozinha cap. 46

 Um baile, me lembro bem do primeiro em que fui, no ensino fundamental, foi a pior festa da minha vida, toda minha turma já era bem evoluída para a idade, passei todo o evento em um banco no canto do ginásio com um livro nas mãos enquanto a minha turma do nono ano brincava de trocar saliva uns com os outros, nem mesmo o buffet estava bom, mas esse baile, sinto que não será a mesma coisa, ou espero que não, seria decepcionante nunca ter ido em uma festa de verdade, eu ligo para Victoria ao invés de mandar uma mensagem, quero saber os detalhes, ela atende na primeira chamada.

“-Olá heroína, mas que honra. ‘’

“ -Olá cidadã indefesa, não é hora para piadas, me conte mais sobre o tal evento. ”

 Consigo sentir o sorriso dela aqui, ela parece ficar louca quando me vê curiosa com algo, pareço ser difícil de entreter.

“ -Antes, me conte mais sobre O PORQUÊ DE VOCÊ NÃO TER ME DITO NADA!? ”

 Afasto meus ouvidos por um instante, isso me pegou de surpresa, mas argumento não é o me falta, passo a mão por um de meus hematomas quando repondo.

“ -Se você quiser apanhar para que outra garota não apanhe depois, é só me falar, posso bater em você ao invés de em Gabriela. “

 Os curtos segundos que se passam mostram como fui convincente.

“- ok, perdi, mas só por que quero ver você estapiar Gabriela. “

 Estagiar? Que vocabulário.

“ -Sim, claro, conte logo. “

 Sinto que virá quase um monologo interrupto quando escuto ela limpar a garganta, até me sento.

“ -Bom heroína, acontece que por causa de um certo acontecimento que eu não ficaria sabendo se não fosse por Murilo, a diretora teve que sair em meio a sua explicação, então depois veio a assistente que estava na outra sala avisar que era por causa do baile, então quando teríamos aula de matemática, vimos viaturas na escola, e fomos liberados mais cedo, a supervisora disse que estavam fazendo apenas a segurança da escola, a diretora sabe mesmo como esconder tudo, foi a mesma coisa quando vocês pegaram o professor, você e Murilo não param quietos. “

 Um fleche de mim mesma rolando em uma escada volta a me assombrar, mas apenas afasto de minha mente enquanto continuo.

“ -Detalhes sobre o evento, teremos muito tempo para falar de como eu quase perdi meus dentes. ’’

 Escuto um som de reprovação e reprimo um sorriso, ela ficaria brava se eu risse de sua preocupação.

“ -Claro heroína, o baile será na sexta feira, mas estão reformando essa semana para que tudo fique adiantado, pessoas que escolheram ajudar na arrumação do baile, como eu, ficaremos até mais tarde na escola para preparar tudo na quarta e na quinta, o evento será a noite e terá até mesmo show ao vivo, eu fui no do ano passado e sei que nem se comparará com esse! ‘’

 Pelo jeito que ela nem mesmo parou para respirar, tenho certeza de que ela está animada, mas ela ainda não acabou.

“ -Então, você, que tenho certeza que só iria se prender nessa casa, vai comido até a cidade aqui do lado para comprarmos as nossas roupas. “

 Isso nem mesmo foi uma pergunta, faço uma careta, nunca gostei de fazer compras, ainda mais para comprar roupas, isso me lembra de quando fui até o shopping com Murilo e a mãe dele, abro o armário enquanto ela fala sobre como um aloja na outra cidade tem as roupas com qualidade melhor, mas quando eu o abro me deparo não só com o vestido da mãe de Murilo quanto com o vestido que Eduardo me deu, ele é lindo, interrompo Victoria no meio que uma comparação de tecidos.

“ -Vou apenas comprar sapatos, já tenho minha roupa. “

 O silencio dela significa que duvida de mim, mas logo escuto um suspiro.

“ -Ainda assim, você vai até a loja comigo. “

 Apenas faço um som para concordar e desligo, estou de frente para meu armário olhando para a peça a minha frente, pego um velho macacão que sempre esteve aqui, mas ainda assim, não tive chance de usar, ainda mais com tantas camisetas de super-heróis e bandas disponíveis. Então desço correndo e vejo mamãe e Eduardo vestindo seus casacos e sorrindo um para o outro como recém-casados.

 Quando finalmente percebem minha presença, nem mesmo a aura apaixonada deles se altera, que bom que se sentem confortáveis comigo aqui, tranquilizador.

-Você demorou querida, se já está pronta, pegue minha bolsa por favor.

 Se já está pronta? Olho para minha roupa depois para as deles, Eduardo está como sempre, todo cheio de classe, é mamãe que me surpreende, ela está usando um vestido, o que é comum, mas este é preto, ela sempre foi colorida ao extremo, sempre com uma aura de felicidade estampada, olho para mim mais uma vez, tem muita estampa em meu macacão, mas decido continuar com ele e subo as escadas para alcançar a bolsa de mamãe.

  Estamos no carro de mamãe, mas quem dirige é Eduardo, ele parece tenso, mas mamãe sorri para ele toda vez que ele parece quase explodir, pelo visto ela está no controle da situação, decido não atrapalhar, então apenas pego meu celular quebrado e volto a responder mais algumas mensagens estranhas que recebo. Mas me paro pensando, se a diretora encobriu tudo, como ainda recebo mensagens? Ah não, balanço minha cabeça para tirar essa ideia de minha mente, não quero pensar nisso agora, apenas volto a olhar o casal a minha frente, sem conseguir evitar pensar mais alguns anos à frente, em como estaremos, se essa situação será um pouco menos tensa no futuro, pelo menos para Eduardo, solto meu celular e fecho os olhos, me rendo a minha meditação, algo que não estou conseguindo fazer muito ultimamente.

 Sinto o carro parar, mas não abro os olhos, pois nem mesmo o motor foi desligado, devíamos estar em um semáforo, mas quando escuto mamãe, sei que estamos apenas em uma situação delicada.

-Se você não quiser fazer isso, tudo bem.

 Abro um dos olhos apenas para ver mamãe com uma das mãos em cima das de Eduardo no volante que parece extremamente tenso, olho em volta apenas para sentir um frio na espinha, estamos em um cemitério, viemos ver Rebecca.