História Me deixe sozinha - Despedidas

Me deixe sozinha cap. 55

                A moça que já tinha tirado a máscara de mim olhou em volta como se nem mesmo soubesse do que eu estava falando, o desespero de domou por um momento e eu voltei a correr na direção da porta que agora a pouco eu tinha saído, mas assim que me aproximo, um braço toma a minha frente como se fosse uma roleta, assim que olho para cima vejo o bombeiro bonitão que nem olha para mim está com uma cara zangada e bufando.

-Eu acabei de te tirar de lá, nós nem mesmo terminamos de apagar o fogo, você é suicida ou o que?

                Eu ignoro o tom de voz dele por saber que ele estava certo, mas se minha amiga ainda estava lá dentro, eu não desistiria de tira-la de lá.

-Minha amiga e-eu não acho ela, ela estava comigo lá dentro, ela está lá.

                O bombeiro tira o braço de meu caminho, mas me segura pelos ombros para impedir que eu saia enquanto ele olha em volta da mesma maneira que a médica tinha olhado agora a pouco, eu não tenho tempo para isso. Mas assim que eu começo a me balançar para me soltar de seu aperto forte uma mão segura a minha, olho para o lado apenas para ver Murilo com os olhos vermelhos e com meus saltos em suas mãos.

-Victoria está bem, foi para o hospital com Carlos, eu estava realmente preocupado com você...

                Ele coloca os saltos em minha mão e o bombeiro me solta se afastando, como se a cena de amor juvenil o irritasse, e assim foi, Murilo me abraça e só agora me sinto desmontar, lágrimas de alivio escorrem silenciosamente pelo meu rosto quando ele se afasta e me olha nos olhos, e diz um pouco mais sério e calmo que antes.

-Você só pode ser louca, tem noção de que entrou em um prédio em chamas? Os bombeiros poderiam ter salvo Victoria, Rafael é um bom bombeiro apesar de ser mal-humorado.

                Ele olha na direção do bombeiro bonitão, que agora falava com a garota que estava no prédio comigo, então o nome dele é Rafael, mas a garota, ainda é uma desconhecida, ainda nos braços de Murilo aponto para a garota que está com uma máscara de oxigênio e uma careta para o Rafael que ainda a repreendia como uma criança malcriada.

-Quem é aquela garota, ajudou lá dentro... Com Victoria.

                Murilo a encara por um momento, e ainda sem olhar para mim responde.

-Julia, ela meio que é irmã do Rafael, ela é da sala da Victoria, ela nunca te falou dela?

Tento organizar meus pensamentos, mas a única coisa que me vem à cabeça é o beijo que eu e Murilo trocamos agora a pouco, e com ele, todas as memorias de todas as coisas que passamos juntos, eu deixo um som de surpresa escapar por minha boca, e olho espantada para Murilo, eu me lembrei de tudo, nem mesmo tive chance de contar, mas assim que vou dizer algo, sinto alguém puxar Murilo. A mãe dele estava com os olhos marejados enquanto checava cada pedaço de Murilo que poderia estar ferido, então me lembrei de algo que não queria ter lembrado, é hoje, Murilo vai embora, minha respiração fica mais fraca por causa das lágrimas que roçam e fazem minha garganta arder, ela perguntava sem parar se ele estava bem, mas ele permaneceu em silêncio, até quebra-lo com uma pergunta da qual ele já sabia a resposta, e eu também.

-O que a senhora está fazendo aqui?

                Ela seca as poucas lágrimas que escorreram do seu rosto com sua habitual classe e respira fundo, ela sabe que isso é difícil para todos nós.

-Nós precisamos ir, agora.

                Ela diz a última frase olhando para mim, como um pedido de desculpas, e eu entendo, esse é o melhor para Murilo, mas é o mais doloroso para todos nós. Murilo parece sem chão, ele apenas olha para a mãe se soltando de seu aperto até agora a pouco desesperado.

-Já, mas... aconteceu isso e... Mãe.

                Ela apenas abaixa a cabeça e diz que tem que sair agora porquê pegarão um avião, Murilo se vira para mim com os olhos vermelhos, mas não tanto quanto os meus, então nós caminhamos de mãos dadas até a porta da escola, onde vejo um táxi, que parecia bem mais triste nessa situação, a mãe de Murilo se despede de mim com um abraço fraco e poucas palavras sobre eu ter feito a escolha certa, e depois disso somos só eu e Murilo, esperando para que ele realmente seja obrigado a entrar no táxi, o que acontece segundos depois, então ele me abraça, sinto cada gota de seu desejo desesperado por ficar no pequeno beijo que ele me dá antes de me soltar, ele se afasta, mas está segurando minha mão enquanto se volta para minha orelha.

-Não se esqueça de mim, eu volto antes de você sentir minha falta.... Eu te amo.

                Ele ainda está perto de mim quando meus olhos começam a arder, mas logo depois disso a mãe de Murilo abre a porta por dentro e bate no banco pedindo para ele entrar, ele o faz, minha garganta se fecha, mas eu não choro. Assim que o táxi dá partida sinto um pedaço de mim indo com ele, e a única coisa que me impede de correr atrás dele, e o peso de uma mão em meu ombro, me viro apenas para ver Mamãe e Eduardo atrás de mim, e é ai que eu choro, corro para os braços de minha mãe e choro enquanto sinto as mãos de Eduardo afagando meu cabelo e dizendo que vai ficar tudo bem, é claro que vai, isso é o melhor para Murilo, mas o tempo que levarei apenas para me acostumar com a falta de todas as gracinhas que fazíamos como planos de resgate ou seja lá o que fosse, será doloroso, mas não tanto quanto não ter ideia de quando e como poderei vê-lo novamente, eu me afasto dos braços de mamãe e enxugo minhas lágrimas enquanto tiro com cuidado a mão de Eduardo de minha cabeça, apenas para respirar fundo e dizer.

-Precisamos ir até o hospital, agora.