História Me Faça Existir. - Me Faça Existir.- 41

Me coloquei de pé, meus olhos estavam sensíveis depois de chorar até dormir. Não me lembro a última vez que estive no meu apartamento, e nem tão pouco compreendo o porquê é tão estranho estar aqui sem ela.

Minha cabeça lateja e a bagunça dentro de mim, me deprime.

Pego duas aspirinas e rapidamente as tomo tentando solucionar apenas um dos meus problemas, a ironia maior é que eu reconheço não estar perto de solucionar  nem metade deles.

Dirijo-me até a cozinha, Trey caiu no sono deitado no sofá, encosto na porta que divide a sala da cozinha e o observo, me sinto agradecida por ter um amigo como ele.

 Realmente devo uma a ele por ter dirigido de madrugada, só para me buscar.

Respiro pesadamente, ainda lembrando de todo o episódio, Trey se mexe e ainda com os olhos fechados e a voz de sono, fala:

- Eu sei que ter um modelo ultra gostoso no sofá, não é pra qualquer uma.. vai mesmo ficar me olhando?

Os seus olhos azuis se abriram, não eram em nada parecidos com a intensidade dos de Lara, e mesmo assim, talvez a cor ou só essa saudade reprimida misturado a insatisfação de toda a mentira, me fizeram lembrar de algo que, na verdade, não dá pra esquecer.

- Bom dia Trey, desculpa te acordar.

- Me surpreende você estar acordada baby... Como se sente?

- Como se todo o meu corpo precisasse de um tubo gigante de cola! Estou quebrada, tudo dói.

- Sinto muito por isso May... Tem a ver com Bruno? 

Olhei pra Trey, e quase ri pela primeira vez no dia. Bruno era o menor dos meus problemas no momento.

- Não Trey, não tem a ver com ele. Embora eu acho que preferiria que tivesse. Bom, não temos tempo pra isso. Vou ao banho, e tenho que trabalhar. 

- Eu te levo.

- Não precisa, quero dirigir. Você pode descansar mais, está com olheiras.

Falei e sai andando querendo rir da expressão de pânico dele, conhecia bem meu amigo, depois deste argumento ele iria dormir sem dúvida, tudo para evitar marcas no mais novo rosto de outdoor.

***

-Todos os relatórios estão em sua mesa, chegou um e-mail com caráter de urgência, algo relacionado ao contrato de um ano, a senhora quer café?

- Vou aceitar, obrigada Aline. 

Dentro do meu escritório me acomodei, revisei todos os relatórios, organizei os números e a despesa do mês, estamos bem. A empresa está a todo o vapor, isso me orgulha.

Abri o e-mail, só faltava esse detalhe para me ver livre das horas corridas da manhã, meu estômago já está protestando a falta de alimento, ao menos estive ocupada o bastante pra não pensar na minha vida pessoal.

"Bom dia Senhorita Mayra Stwert. É com grande satisfação que reafirmamos a adesão ao contrato de um ano com a Invicta. Esperamos uma reunião o mais breve possível. Temos detalhes a serem discutidos e precisaremos de suas idéias. Organizaremos de uma forma que não atrapalhe sua agenda, uma visita sua a nossa empresa. Contamos também com a presença do seu diretor de operações (COO) Bruno Lopes, com o qual temos tratado. A direção faz questão de financiar as passagens e a hospedagem no hotel próximo à empresa, mas se preferirem podem escolher e nos enviar o nome de outro hotel. Aguardamos ansiosos sua resposta para começarmos essa parceria. 

Att: Jean Mason."

Respondi rápidamente o e-mail, sentindo a satisfação de ver agora os frutos do meu trabalho. Meus pais estariam em êxtase com toda essa notícia.

"Bom dia Sr Jean Mason, gostaria de começar a ver seus detalhes o quanto antes. Se não houver problema, amanhã mesmo poderemos estar a caminho. 

- Mayra Stwert CEO Invicta Creation."

O e-mail foi respondido imediatamente.

"Estarei providenciando as passagens e informo o horário do seu vôo. Ficaremos muito feliz em receber vocês aqui. 

Att. J.Mason."

Então tenho uma viagem marcada, tenho que informar ao Bruno, isso provavelmente será um problema pra Lara, mas não posso me dar ao luxo de misturar o profissional e o pessoal. 

Peguei o celular, inúmeras ligações e mensagens dela, não dá pra me esconder pra sempre, então ligo.

"- Alô.. oi Lara, tem um tempo?

- Amor.. eu, me desculpa...por favor.

- Lara.. para..não por telefone. Acho que temos que conversar, mas isso tem que ser feito do jeito certo.

- Eu..ehr..tudo bem Mayra, onde posso encontrar você?

- Vou almoçar no mesmo restaurante aqui perto, te atrapalharia vir almoçar comigo?

- De forma alguma, estarei lá.

Desliguei, sentindo meu corpo desejar a presença dela, mas a minha mente gritava por toda a razão, por todas as certezas, não dava pra continuar desse jeito, não dava pra deixá-la acreditar que estava tudo bem. Simplesmente não dá.

***

A rua está movimentada, eu amo essa agitação, amo o cheiro do dia novo, e essa mania de mantermos a fé nas incertezas que nos cercam dia após dia.

Cheguei na porta do restaurante, e fiquei esperando por ela pra entrar, uma mão segurou minha cintura por trás, e a voz no meu ouvido me fez prender a respiração.

- Oi amor..

Me afastei, tentando esconder a necessidade que o toque dela me causava.

- Vamos entrar Lara.

Me acomodei na primeira mesa que vi, e ainda que eu quisesse, não dava pra olhar diretamente pra ela, eu estava enfurecida, queria que ela tivesse um pouco mais de juízo, queria amar menos, queria não sentir tanta vontade de beija-la..que droga de amor idiota.

- Você está péssima! - falei finalmente conseguindo olha-la tempo o bastante para reparar as olheiras em seus olhos.

- Não seria necessariamente uma surpresa. Porque estamos aqui May? 

- Eu gostaria de conversar sobre ontem.

- Podíamos fazer isso em casa.

- Não é assim que funciona Lara, não é assim que iremos conseguir resolver.

- Não mesmo? Então quer dizer que depois de casarmos, sempre que você odiar algo em mim, vai sair correndo pro colo do Trey? Porque eu espero Mayra, que saibamos lidar com os nossos defeitos dentro de quatro paredes, e na nossa casa.

Casamento? Mas, do que ela tá falando? Eu não posso me deixar levar pela emoção dessas palavras, eu não posso deixar ela pensar que é simples assim.

- Não faz isso. Não faz tudo isso parecer ser culpa minha. Não fujo daquilo que não me machuca, ontem eu não suportaria olhar pra sua cara, e voce está quase conseguindo fazer a mesma coisa agora. O erro não está em mim, eu fiquei perto a primeira vez, eu pedi que parasse, você prometeu..Não suporto mentiras Lara.

Os olhos dela se encheram, assim como os meus. Controlar os sentimentos estava sendo bem mais difícil do que qualquer coisa que já fiz, mas precisava manter a postura se não quisesse ser capa de jornal no próximo dia, desde a revelação do nosso namoro, sempre tem repórteres nos seguindo.

- Eu sei May, eu sinto muito. 

- Sente mesmo? Eu não sei como ajudar você, e nem sei se você quer ser ajudada também.

- May eu..

- Amanhã estarei viajando Lara, não podemos conversar muito agora sobre isso, mas ao menos nos dará tempo pra colocar a cabeça no lugar.

- Viajando? Para onde você vai?

- A empresa que fechou contrato conosco pediu uma reunião para analisar os detalhes finais dessa parceria. Acredito que vá durar uns dois dias pra finalizar todas essas questões e então eu volto.

- Dois dias Mayra? Mas isso é muito tempo.

- Isso é o meu trabalho Lara.

- Posso te levar se quiser, tenho um jato particular e...

- Lara, não precisa. Bruno vai comigo, e no mais, todos os detalhes estarão sendo pagos pela empresa deles.

- Como é que é? Porra Mayra, nem fodendo você viaja com ele.

- Não começa, você não está em posição de me pedir nada.

- Eu não tô nem aí em qual posição você acha que estou Mayra, pra mim, é não é ponto final!

- Ótimo, imaginei que fôssemos agir como adultas, mas você sempre vai ser a menininha que não divide aquilo que acredita ser a dona.

- Eu não acredito ser.. eu sou Mayra. Olha pra sua mão, isso não é enfeite.

- E nem uma coleira porra! Larga de agir como uma estúpida que não confia em mim.

- Eu não confio nele.

- Sugiro que aprenda, porque eu vou goste você ou não.

- Não faz isso May.

- Eu tô exausta Lara, to cansada de brigas. Preciso de um tempo pra mim... Um tempo sem você.

- O..O que isso significa?

Eu não sabia o que aquilo significava, só sabia que precisava ir.

Me levantei e passei por ela sem a encarar.

Porque eu sabia, se eu fizesse isso, não iria conseguir ir.