(POV MARK)
“MARK?!” – Meredith pareceu surpresa ao me ver em pé na sua cozinha.
“Oi. Onde tem leite nessa cozinha? Não consigo encontrar.” – perguntei irritado enquanto ela me olhava atordoada.
“Ah... Se você não encontrou na geladeira, abra a primeira porta do armário. Vai achar alguma coisa.” – seu olhar incrédulo ainda estava voltado para mim.
Ficamos em silêncio enquanto eu fazia meu café e ela alimentava Zola.
“Bom dia ZoZo.” – Derek chegou tascando um beijo na testa de Zola – “bom dia Mer e, ah... bom dia Mark?!”
Ele olhou para Meredith que o encarava confusa.
“Derek, há algo que você tenta esquecido de mencionar?” – Meredith pediu, claramente zangada.
Ele pareceu pensativo.
“Acho que não, porquê?”
“Bem...” – ela continuou – “porque Mark está na nossa cozinha a essa hora da manhã só de cueca?”
Derek riu.
“Acho que você deveria pedir isso à Lexie, não estou certo parceiro?” – ele ergueu a sobrancelha.
Eu estava com a boca cheia de cereais que havia acabado de roubar da caixinha de Meredith.
“Ah é...” – eu sorri com os dentes sujos de cereais – “Lexie e eu estamos juntos de novo!”
Derek sorriu.
Meredith fechou a cara.
“Eu meio que tinha subentendido essa parte da história, Mark.”
“Bom dia Mark!” – Lexie chegou radiante e sorridente me beijando, porém, se encolheu bruscamente ao ver o resto da família – “e... Oi pessoal.”
“Lexie?” – Meredith levantou as sobrancelhas.
“Sim?” – ela respondeu mordendo os lábios.
“Porque Mark está apenas de cueca em minha cozinha?”
Eu e Lexie nos entreolhamos. Derek ria discretamente.
“Acho melhor eu me vestir.”
“Acho melhor você se vestir.” – ela concordou.
Porém, antes de subir as escadas, fiquei quieto atrás da parede ouvindo o restante da conversa.
“LEXIE!!” – Meredith falou agitada.
“Oi?”
“Como eu vou explicar isso para Zola????” – Lexie e Derek riram.
“Zola está praticamente dormindo, ela nem viu nada...” – ela tentou argumentar.
“Mas e se ela estivesse bem acordada???” – Meredith parecia brava – “Lexie, por favor, só... Só garanta que ele esteja de roupas, ok?” – ela respirou fundo.
“Ok.”
Todos permaneceram em silêncio por alguns segundos.
“Então... Você e o McSteamy, hein?”
Lexie riu, assim como Meredith e Derek.
“Eu gosto dele, Mer.” – ela falou.
“Eu sei que sim.”
Sorri comigo mesmo. Dessa vez as coisas dariam certo.
“Torres!” – eu exclamei quando vi Callie nos corredores do hospital.
“Ei, Mark. Você está afim de ir no Joe’s hoje? Tomar algo pra acabar com o stress? Arizona tem me deixado louca com todo esse negócio do amigo de Tim...”
“Ah... Na verdade...”
“Mark!” – nós dois nos viramos quando Lexie me chamou – “Oi Callie... O jantar de hoje...” – ela tentou não parecer incomodada em ter Callie do nosso lado – “você pode marcar para as nove. Consegui trocar meu turno com April.”
“Claro.”
Lexie sorriu.
“Ah, ok... Certo. Nós nos vemos.” – e saiu saltitando.
Callie agora estava boquiaberta me olhando.
“Mas o que diabos...”
Eu coloquei meus dedos sobre sua boca, calando-a.
“É uma longa história.”
Ela respirou fundo e deu uma gargalhada.
“Ontem à noite eu saí do hospital preocupada com você e essa sua ideia ridícula de ter filhos com Julia, e agora? Agora você está aí, marcando jantares com Lexie Grey. Sim, Mark. Eu tenho certeza que é uma história muito longa.”
“Eu a amo.” – eu suspirei enquanto a via se afastar pelos corredores.
“Eu sei.” – ela falou compreensiva me abraçando em seguida – “estou tão feliz por você...”
“Eu também, Torres.”
O resto do dia foi quase monótono, com exceção de uma reunião organizada por Owen cujo objetivo era a discussão do futuro dos residentes do quinto ano que estavam indo embora.
“Sloan? Robbins?” – Hunt falou quando estávamos saindo da sala – “podem esperar um pouquinho?”
Eu e Arizona nos entreolhamos enquanto todos os outros iam embora.
“Os gêmeos. De Boise.” – ele falou sem tirar os olhos do celular.
“O que tem?” – Arizona parecia assustada.
Hunt guardou o celular e nos olhou.
“Só quero me certificar que está tudo preparado.”
Arizona sorriu.
“Está sim, chefe Hunt.” – ela exclamou.
“Essa cirurgia é muito importante para nós. Estou confiando em vocês para irem lá e mudar totalmente a vida dessas crianças. Só quero garantir que vai dar tudo certo.”
“Eles estão unidos no esterno e no diafragma.” – eu comecei – “é complicado, mas nada que não possamos resolver. Vai ser até simples.”
“SIMPLES?” – Arizona explodiu – “Mark Sloan!!!!” Tanto eu quanto você sabemos que a única coisa que essa cirurgia não é, é simples! Eu escalei os melhores médicos de Seattle para estarem comigo nessa situação e você está entre eles. Não quero que você veja o problema desses bebês como algo que você está habituado a resolver todo dia, porque não é! Eu quero dar à eles uma vida diferente, quero que eles sejam capazes de viver como crianças normais e não vou tolerar que isso não aconteça porque seu ego é grande demais para assumir a gravidade da situação, então se você...”
“Arizona!” – eu exclamei – “foi só modo de dizer, vou dar o melhor de mim. Vai dar tudo certo, fique calma!”
Hunt nos olhava preocupado.
“Vocês dois tem certeza que vai dar tudo certo?” – ele arqueou as sobrancelhas.
“Sim.” – respondemos em coro.
“Certo...” – ele pareceu pensativo – “quem mais vai com vocês?”
“Derek, Yang, Grey, little Grey e Karev.” – Arizona disse.
“Ok.” – ele parou – “um avião estará à espera de vocês amanhã cedo, pontualmente as oito horas, não se atrasem. E... avisem os outros.”
“Sim senhor.” – Arizona respondeu empolgada.
Ao sair da sala, ela continuou tagarelando sobre o quanto estava ansiosa pela cirurgia e para ver os meninos separados. Depois fomos até a creche ver Sofia que estava dormindo profundamente e fiquei pensando comigo mesmo que esses meninos deviam ter a mesma chance que Sofia tem de viver como uma criança comum.
“Callie me contou sobre você e Lexie.”
Eu assenti.
“Eu gosto mais dela do que de Julia; Lexie exala um ar diferente de vida... Ela exala felicidade, entende?”
Eu franzi o cenho e olhei para ela.
“Na verdade eu acho que prefiro que Lexie seja madrasta de Sofia do que Julia. Lexie é fofinha, dá vontade de abraçar.”
“Robbins?”
“Sim?”
“Qual o objetivo dessa conversa?”
“Não estrague as coisas dessa vez, Sloan. Nós gostamos dela... Callie, eu, Sofia... Só... Não estrague as coisas de novo.”
“Certo.”
“Seria legal se a Sofia tivesse um irmãozinho. Mark Grey Sloan Jr. Eu gosto da ideia.” – ela riu e eu passei meu braço sobre seu ombro beijando o topo de sua cabeça.
“Se você gosta da ideia de Sofia ter um irmão, vocês duas deveriam tentar...”
“Eu sei... Nós estivemos conversando sobre isso, sabe? Mas é complicado.”
“Você preocupada com estereótipos?”
“Não, não é isso! É só que... Tenho medo que mais uma criança vá estragar as coisas com Callie.”
“Deixe de bobagem Robbins, uma criança a mais ou uma menos não vai fazer diferença. Vocês se amam! Foram feitas uma para a outra!”
“Você tem razão...”
“Eu sempre tenho.” – lancei a ela meu melhor sorriso e a vi retribuir. Ficamos ali olhando Sofia por mais algum tempo apenas nos dando conta de como a vida estava sendo boa para nós.
Eram dezoito horas, eu tinha dois pacientes para visitar e depois passaria uma noite romântica com Lexie. Seria como nos velhos tempos em que namorávamos. As coisas dariam certo dessa vez; eu estava confiante. Sorri comigo mesmo e fui visitar minha paciente.
Carol Morris tinha setenta e um anos e além de uma paciente antiga, era uma grande amiga.
“Boa noite Carol.” – eu sorri.
“Mark Sloan, meu menino. Qual o motivo desse sorriso? Há tempos que não vejo um sorriso assim...” – ela riu.
“Apenas feliz por vê-la depois de tanto tempo.” – eu dei um beijo em sua bochecha.
“Não minta para mim...”
“Hm... Digamos que as coisas estão indo bem.”
“Muito bem, eu diria.” – ela deu uma boa gargalhada – “é uma garota?”
“Talvez.”
“Bonita?”
“Muito!”
“O sexo é bom?” – dei uma gargalhada alta.
“Carol...” – eu falei repreendendo-a.
“Não precisa responder. O sorriso no rosto já diz tudo. É a Dra. Grey?”
“CAROL!”
“Ah, vamos lá Mark... Aquela foi a única moça decente que você me apresentou...”
“Foi a única moça que eu te apresentei, Carol.” - eu falei sem levantar os olhos de seu prontuário.
“Por isso eu chego à conclusão de que foi a única decente que você namorou. Foi a única que você teve coragem de apresentar à mim; e ela era uma gracinha, Mark.”
“Vamos falar da sua cirurgia, está bem?” – eu encerrei o assunto.
A cirurgia de Carol estava agendada para daqui a dois dias, quando eu voltasse de Boise. Não era nada demais, só um pequeno procedimento para engrandecer seu ego.
Fiquei ali conversando com ela por algum tempo e fui visitar o outro paciente; quando saí de seu quarto, percebi que estava atrasado mas ainda havia tempo. Me aprontei para o jantar e olhei o relógio: oito e meia. Fui até o saguão e a esperei por cinco, dez, quinze minutos...
Nenhum sinal dela.
Peguei o celular e comecei a discar.
“Oi, Lex. Você tá aond...” – travei no meio da frase ao vê-la descendo as escadas do Seattle Grace Mercy West.
Seu cabelo estava solto e ela usava uma calça preta que marcava muito bem seu corpo; o decote em sua blusa deixava a pele abaixo do pescoço exposta e o blazer preto que ia até seus quadris tinha detalhes que combinavam com seu scarpin. Seus lábios estavam discretos sob uma fina camada de batom nude e ela estava simplesmente... Deslumbrante.
“Vamos?” – ela falou engatando seu braço no meu.
“Com certeza.”
Naquela noite, Sofia estaria com Callie e Arizona, por isso não me importei em levar Lexie até meu apartamento e dormir abraçado à ela. Tudo que havia acontecido conosco desde o dia anterior ainda parecia não fazer parte da realidade. No jantar, conversamos sobre nós mesmos e nossas vidas. Eu precisava conhece-la outra vez. Saber tudo sobre ela, cada detalhe, cada manha, cada coisinha que influenciasse de alguma maneira na sua vida. Na nossa vida.
Quase não preguei o olho durante a noite pois vê-la dormir era como um vício. Infelizmente, a manhã seguinte chegou e a hora de voltar para o mundo real também. Eu não queria acordá-la, ela parecia um anjo dormindo... Mas eu precisava, afinal, hoje iríamos para Boise salvar a vida dos gêmeos siameses. Lexie estava muito ansiosa com isso, estava esperando há algumas semanas pela chance de acompanhar essa cirurgia.
“Bom dia Lex.” – falei beijando seu pescoço.
“Não quero sair daqui, Mark.” – ela falou bocejando.
“Nós estamos indo para Boise em algumas horas. Anime-se.”
Ela sorriu.
“Você quer ajuda com isso? Não é meio pesado?” – eu apontei para a mala que Lexie carregava. Nós havíamos chego no hospital há pouco tempo e nos juntamos à todos os outros que se preparavam para a viagem.
“Não, tudo bem. Acho que consigo.”
“Vamos lá, Lex. Eu te ajudo.”
Ela abriu um sorriso.
“Tudo bem.” – ela falou me encarando e eu a encarei de volta. Nós dois não conseguíamos não sorrir quando estávamos perto um do outro.
“Seu filho da mãe. Eu tive que saber pelo Hunt!! Não foi homem o bastante para me dizer?” – nosso momento foi interrompido pela voz de Arizona estremecendo no fim do corredor – “Seu cachorro mal-agradecido.”
Arizona colocava Karev contra a parede enquanto Callie tentava acalmá-la.
“É HOPKINS!” – ele gritou – “você estudou lá, você deveria saber.”
“Seu miserável.”
“Robbins, eles me querem, está bem?” – Alex tentou acalmá-la – “realmente me querem.”
Arizona estremeceu.
“Você vai mesmo?” – ela estava prestes a chorar. Todos que estavam por perto olhavam a cena.
“Podemos conversar sobre isso quando voltarmos?”
“Não!” – ela arrancou o prontuário de suas mãos.
“O que você está fazendo?” – Alex parecia confuso.
“Você não vai à Boise porque não representa mais este hospital!” – ela gritou e foi embora com Callie logo atrás.
Karev estava atordoado e todos o olhavam com pena.
“Será que...?” – Lexie começou.
“Não, Lex. Dê um tempo à ele.” – eu disse passando meus braços em torno de minha namorada e puxando-a junto de mim.
Ela me olhou e me beijou. Bem ali, na frente de todo mundo; mas eu não me importava, estar com Lexie era tudo o que eu queria no momento.
“Dra. Grey?” – Hunt chegou chamando pelos corredores. Ambas, Lexie e Meredith, o olharam e ele pareceu confuso – “Lexie!” – ele disse vindo em nossa direção.
“Sim, chefe Hunt?”
“Você não vai à Boise. Preciso de você aqui.”
“Mas, mas... Mas é uma coisa única, e eu... Eles precisam de mim.” – Lexie falou decepcionada e fazendo biquinho.
“Eu também preciso de você.” – ele falou e me olhou suplicando ajuda.
“Lex... Se Owen precisa de você aqui, deve ser algo importante. E quer saber? Eu posso filmar a cirurgia pra você.” – falei calmamente.
“Mesmo?” – seus olhos se encheram de esperança.
“Sim.” – pisquei para Hunt e ele se foi.
Lexie me abraçou.
“Queria poder ir com você...” – ela suspirou.
“Eu sei. Queria que você estivesse lá.” – falei cabisbaixo – “mas amanhã eu já estou de volta para nós dois passarmos todo o tempo do mundo junto, certo?”
Ela assentiu.
“Tchau Lex. Se cuide, está bem?” – falei beijando o topo de sua cabeça.
“Você também.”
Em poucos minutos nossa tripulação havia diminuído razoavelmente, no fim, eu, Arizona, Derek, Meredith e Cristina embarcamos no avião que nos levaria até Boise. Sentei em meu assento e fiquei observando Lexie acenar da plataforma. Ela parecia triste, mas não há nada que poderia ser feito.
A viagem seria curta e seguia tranquila. Eu permaneci em silêncio durante a maior parte do trajeto, olhando pela janela e pensando. Tudo seguia calmo. Calmo demais.
Foi quando o avião sacudiu e ouvimos o barulho.
Um barulho assustador que causou gritos e pânico. E quando o barulho tornou-se ensurdecedor e a gravidade parou de fazer seu dever, nós entramos em queda livre.
Um filme de toda minha vida passava pelos meus olhos enquanto eu sentia a vida saindo do meu corpo; quando a queda finalmente acabou e o avião impactou sobre o solo, a escuridão me engoliu.
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