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História Medicine - The Sense of Me


Escrita por: leonhardtprice

Notas do Autor


Música do capítulo: The Sense of Me - Mud Flow

Aviso de gatilhos do capítulo: TEPT, lembranças de experiências traumáticas.

Capítulo 1 - The Sense of Me


Chapter I – The Sense of Me

 

12 de outubro de 2013

Escuro. Tudo estava escuro de novo, exceto por alguns poucos pontos de luz no quarto. Ela sentia o calor de seus pulsos vermelhos imóveis um contra o outro, fortemente atados com a fita adesiva, seu movimento limitado. “Não. De novo não.” Era tudo o que conseguia pensar enquanto sentia lágrimas quentes escorrendo pelo seu rosto ao som dos repetidos cliques da câmera.

Sentia-se tonta e confusa, mas aos poucos recuperando o que lhe restava de consciência. “...para esse rosto perfeito.” E tão rápido quanto a recuperou desejou não ter o feito. Desejou não ter se lembrado mais uma vez – se é que sequer havia se esquecido – daquela voz, daquele tom, da sensação de vulnerabilidade, de estar sendo manipulada e não ter controle nenhum sobre o que quer que aconteceria com si mesma. De se sentir suja. Sua mente e seu corpo exalavam angústia além de desespero numa tentativa falha de soltar-se, que apenas lhe rendeu o que ela menos queria.

“Mantenha esse olhar!” O homem gritou, e a única resposta que seu corpo conseguiu manifestar foi um pequeno, porém brusco movimento acompanhado de um baixo som de contestação que por pouco não teria saído de sua boca. “FIQUE PARADA!”

E entre felizmente perder a consciência e a retomar novamente, podia sentir a diferença naquele mesmo ambiente. Seu peito ainda doía de angústia e ela poderia jurar que nunca havia sentido seu coração palpitar daquele jeito. Como se sua vida estivesse prestes a acabar. A próxima sensação da qual tomou conta era a mão fria dele, coberta por uma luva, segurando e acariciando seu rosto. E naquele momento ela conseguiu extrair de si toda a energia que lhe faltava para se movimentar tão bruscamente a ponto de conseguir empurrar o homem para trás, seus óculos caindo no chão. “ME DEIXA EM PAZ!” a garota gritou, lhe gerando uma dor de cabeça automática, o que viria a ser seu menor problema a partir do momento em que sentiu duas mãos em torno de seu pescoço. Ela ainda conseguiu soltar mais um grito de protesto antes que sua visão ficasse turva e escura.

“...Max!”

Tudo ficava mais claro na medida em que ela sentia sua consciência voltar e passava por cima da dor que estava sentindo e do peso de sua própria cabeça, para esforçar-se a entender o que estava acontecendo. Entender a realidade. Realidade. Isso nunca esteve tão deturpado para ela.

“MAX!”

Ela nunca ficou tão grata por acordar por meio de gritos. A dor em seu peito aos poucos ia embora, por mais que ela ainda conseguisse sentir o calor de mãos em seu rosto, para o qual seu corpo reagiu mais bruscamente do que ela gostaria. Aquele toque, contudo, era o único que lhe passava segurança – constatou ao tomar percepção da realidade e abrir os olhos, relembrando onde estava, colocando seu braço na frente dos olhos numa tentativa de regular a quantidade de luz que chegava a machucar sua visão e percebendo que as mãos que antes estavam tão perto de seu rosto agora haviam recuado, por receio.

“Caralho.” A garota ouviu ao seu lado. Aquela voz. Ela gostaria que aquela voz fosse a única da qual se recordasse no momento, a única que passasse pela sua mente. “Desculpa. Você me assustou.” Chloe disse, como uma explicação da sua reação. ‘Caralho’ poderia significar vários sentimentos naquele momento, e se tinha algo que a garota de cabelos azuis não queria que Max pensasse fosse que ela estivesse nervosa ou qualquer outra coisa além de preocupada.

Ela novamente aproximou as mãos do rosto de Maxine, mas dessa vez lentamente. Com medo, mas não da garota. Medo de saber o que aquele toque poderia ter significado para ela, de quem ela havia pensado que aquele toque pertencia no momento em que recuou. Max não apenas consentiu ao toque, enquanto Chloe colocava a sua franja – ainda suada por conta do pesadelo – atrás da orelha da morena, mas também puxou a garota punk para perto de si – um pouco mais forte do que pretendia – abraçando-a fortemente e se aninhando em seus braços.

“Ei, calma. Eu não ‘tô indo embora.” Chloe disse com um pequeno sorriso de canto, para o qual Max respondeu com apenas uma tentativa – sem sucesso – de sorriso, aliviando o aperto no corpo da garota. Ela queria conseguir falar, contar tudo, tirar de dentro de si todo aquele peso, todas as lembranças de algo que nunca havia acontecido ao mesmo tempo em que havia e estava mais do que presente em sua memória. Ela só queria poder esquecer-se de tudo e seguir em frente. Junto de Chloe. Mas as palavras não saíam. Ao invés disso, apenas um suspiro.

Max voltou a se ajeitar no banco da caminhonete olhando em volta. Percebeu que as luzes que antes machucavam seus olhos vinham dos postes e o céu já estava escurecendo. A caminhonete estava estacionada em uma das poucas vagas restantes ao lado de uma loja de conveniência em um posto de gasolina. Ela tinha vagas lembranças de já ter estado ali nas viagens de carro em família, principalmente naquelas em que Chloe também ia. Era sempre o mesmo ciclo vicioso das duas garotas de se preocuparem mais com o estoque de papel sulfite, canetinhas e CDs, e menos com o estoque de comida, as “porcarias” pra comer no caminho das viagens. Lojas de conveniência resolveram isso na maior parte das vezes.

“Preciso abastecer o carro. Pensei que seria uma boa ideia aproveitar pra pegar alguma coisa pra comer no caminho enquanto a gente não acha algum lugar pra passar a noite.” A voz de Chloe lhe tirou da distração das suas memórias. “Ou se você preferir a gente pode comer em algum lugar aqui.” Uma ideia interessante, visto que ‘algum lugar’ se resumia a dois restaurantes pequenos ao lado da loja de conveniência. Poucas opções, fácil de decidir.

“É uma boa ideia.” Max disse, ainda um pouco imersa em sua mente. “Digo, comer em algum lugar aqui.” Completou. Normalmente escolheria comer algo no caminho considerando a possiblidade de voltar a dormir quando quisesse, mas dormir era definitivamente a última coisa que ela queria no momento.

“Pizza Hut?” Chloe perguntou. Max assentiu; sua outra opção seria comida chinesa. Não que ela não gostasse de comida chinesa, mas simplesmente pensar no esforço de ter de lutar contra os hashis e acabar espalhando comida para todo lado lhe deixava cansada. “Então vamos.” A garota de cabelos azuis disse enquanto tirava a chave do contato da caminhonete e pegava sua mochila. O risco de alguém furtar a caminhonete não era algo que não havia passado pela mente da garota, então que pelo menos o fizesse sem a mochila com os 5.000 dólares dentro, por mais que ‘ladrão que roube de ladrão tenha 100 anos de perdão’ ou o que quer que seja a frase. Antes de sair da caminhonete, Chloe abriu o envelope com o dinheiro, separando apenas algumas notas para o que seria necessário comprar antes de continuar a viagem para Seattle.

“Não precisa.” Maxine disse se referindo ao dinheiro na mão de Chloe, ao perceber que a garota contava as notas. A morena pegou sua mochila no chão da caminhonete, procurando por sua carteira e tirando da mesma um cartão de crédito – que não pensava que teria de usar tão cedo. “Meus pais me deram isso. Pra casos de emergência.” Ela disse. Max nunca havia usado aquele cartão e por um segundo sentiu falta da possibilidade de ser apenas uma adolescente normal, feliz por finalmente poder usar seu cartão de crédito. E por mais que fossem gastar com coisas supostamente fúteis como os cigarros que a Chloe com certeza compraria e algumas poucas peças de roupa que Max conseguia ver pelo vidro da loja de conveniência, pensar no que seus pais achariam disso era o menor dos problemas da garota no momento, além de não ser um problema de fato uma vez que eles estavam mais preocupados em saber do estado físico da filha.

Ao menos eles já sabiam que Maxine estava viva, visto que responder as mensagens desesperadas de ambos drenou toda a pouca energia restante que a garota tinha. Pensar em pegar o seu celular e interagir com qualquer outra pessoa que não fosse Chloe já era o suficiente para lhe deixar cansada. Ela queria simplesmente se isolar e esquecer que o resto do mundo existia. “Está indo pelo caminho certo, Maxine, vai ser fácil desprezar o mundo quando você mata uma cidade inteira e deixa um traço de destruição por onde passa.”

Max tentou simplesmente ignorar o pensamento e o fato de que se sentia constantemente presa em uma guerra com sua própria mente.

“Tudo bem a gente usar mesmo? Quer dizer, eu ainda posso pagar se você quiser.” Chloe disse, vestindo sua jaqueta e colocando sua mochila nas costas enquanto olhava para a outra garota. Max assentiu.

“Tudo bem. É melhor a gente guardar o dinheiro.” A morena disse, também pegando sua própria mochila e a colocando no ombro. A sensação de vulnerabilidade foi automática no momento em que ela abriu a porta da caminhonete e colocou o primeiro pé no chão. Em uma ação inconsciente, a garota ajeitou a touca de seu moletom de forma que protegesse seu pescoço e apenas se dispôs a começar a andar em direção ao restaurante quando Chloe deu a volta pelo automóvel, se aproximando da morena e entrelaçando seus braços.

Embora o pensamento sobre tudo o que estava começando – ou descobrindo – sentir pela garota de cabelos azuis passou pela cabeça de Max com aquele ato, ela se sentiu grata por toda a tranquilidade que aquilo lhe passava, qualquer que fosse o futuro das duas, contanto que estivessem juntas. Sua mente já estava confusa o suficiente dentro de um mar de problemas e de culpa, mas seus sentimentos por Chloe não estavam e não deveriam estar no meio de tudo isso como se fosse um problema. A garota ainda conseguia se agarrar em todo o tempo que elas teriam juntas, e nada mudaria, independente do que ela descobrisse estar sentindo.

Essa era uma das coisas que lhe fazia mais segura em estar ao lado de Chloe: a conexão que ambas tinham, principalmente agora, era maior do que qualquer outra coisa no mundo para Maxine e ‘amizade’ já era uma palavra fraca para as coisas entre elas, depois de tudo pelo o que passaram juntas. Max só conseguia resumir como amor em sua mais pura forma, e a morena sabia que a mais pura forma disso poderia ser qualquer coisa no futuro: ela amava a garota de cabelos azuis de todas as formas possíveis. Ela só queria continuar ao lado de Chloe.

As garotas entraram no restaurante, procurando um lugar próximo para sentar. O espaço era relativamente pequeno (nada surpreendente para um restaurante de posto de gasolina) e um pouco apertado no meio de algumas mesas, mas com um pouco de esforço elas arrumaram um local próximo da parede, Max se sentando de costas para a mesma enquanto Chloe sentava-se na sua frente. A morena estava tão distraída pelos quadros nas paredes com diversos desenhos de pizzas e frases que mal percebeu quando Chloe havia começado a fazer o pedido.

“... um pedaço da barbecue bacon cheeseburger.” Típico de Chloe Price, considerando a obsessão da garota por bacon e por qualquer coisa que fosse extremamente gordurosa. “E... Um pedaço da pizza de pepperoni?” Ela perguntou, olhando para Max como se esperasse uma confirmação sobre aquele ainda ser – ou não – o sabor de pizza favorito da morena.

Max assentiu. “E uma Coca-Cola também.” Completou, antes de voltar a se distrair nos pequenos detalhes do local após a atendente sair da mesa para pegar os pedidos, e sua atenção se voltou para Chloe quando percebeu que a garota mexia no celular. Qualquer ato pequeno que conectasse as duas ao resto do mundo era o suficiente para deixar Max agoniada. Ao mesmo tempo em que queria respostas, notícias, ela tinha medo do que viria a saber em breve. Afinal, quantas mortes ela havia causado?

Durante todo o tempo em que ambas as garotas haviam ficado no restaurante, foram poucas as palavras trocadas. O máximo de interação verbal entre as duas consistiu em Chloe perguntando se Max terminaria de comer o resto do pedaço da pizza que havia deixado no prato, para a qual a morena respondeu que não, sabendo que a garota de cabelos azuis pediria para comer o resto. Costumava a ser praticamente um hábito delas: Max quase sempre não comia tudo, e a outra garota fazia questão de terminar o prato.

A morena, contudo, diante das circunstâncias em que estava, sabia que não conseguir terminar de comer não se deu simplesmente por uma mania dela. O estado mental dela no momento era o suficiente para lhe causar suas crises de gastrite – as quais fazia tempo que não sentia – e simplesmente pensar em comer lhe causava enjoo, da mesma forma que meramente falar lhe deixava cansada. Chloe sabia do peso dos últimos acontecimentos, mas ainda assim a quietude da outra garota a preocupava.

Elas saíram do estabelecimento após a garota de cabelos azuis pagar a conta, e Chloe abasteceu o carro, aproveitando a ida à loja de conveniência para comprar algumas coisas. Enquanto Max pegava algumas poucas peças de roupa, a garota punk pegou duas garrafas de água, uma garrafa pequena de Coca-Cola e algumas coisas para comer como um pacote de batatas e algumas barras de Snickers para o caso de ficarem com fome. Neste momento entraram algumas pessoas na loja, que claramente haviam acabado de sair de alguma festa, considerando o tumulto que estavam fazendo no local. “Ah, o poder do álcool.” Max pensou, e não conseguiu deixar de reparar quando uma das garotas no grupo esbarrou em Chloe, e a morena poderia jurar que foi proposital observando pelo modo como a garota de cabelos pretos e longos olhava para Chloe. A desconhecida emitiu um baixo pedido de desculpas, sorrindo para a garota de cabelos azuis, que simplesmente assentiu, porém não conseguiu deixar de examinar a garota com os olhos na medida em que ela se afastava.

Max procurou reprimir o desconforto que sentia com a situação e voltou para a sua tarefa tentando ignorar os gritos do grupo que estava na loja, pegando apenas uma blusa de manga curta vermelha simples, um lenço de pescoço para si, e uma regata preta larga para Chloe, além de uma blusa xadrez roxa. Ambas pagaram e saíram do estabelecimento, mas não antes da garota de cabelos azuis comprar três maços de cigarros comuns, perguntando para Max se havia algum problema em o fazer usando o cartão de crédito de seus pais (tecnicamente).

No caminho para a caminhonete, o grupo que antes estava na loja agora havia saído, ainda causando uma total desordem. No meio de gritos, as garotas conseguiram ouvir uma voz masculina gritando no meio do aglomerado, e com certeza não era para as pessoas do grupo.

“Ei, sapatão!” O garoto gritou, olhando para Chloe, no meio de risadas. Elas se viraram a tempo de ver a garota de cabelos escuros murmurar alguma coisa, claramente desconfortável com a ação do amigo. Não é como se Chloe não estivesse acostumada com isso – quaisquer 5 segundos que passasse com Nathan Prescott eram o suficiente para ser chamada de sapatão – e ela não tinha nenhum problema com a palavra contanto que fosse ela mesma usando em relação a si ou Rachel, no meio das conversas (e piadas) que ambas costumavam ter. Max conseguiu segurar a mão de Chloe antes que a garota de cabelos azuis levantasse o braço, pronta para mostrar o dedo do meio e gritar algo. Apenas aquele ato e o olhar de Max como quem dizia que aquilo não valia a pena foram o suficiente para reprimir o ato da garota.

“Babacas.” Chloe murmurou para si mesma ao entrar na caminhonete e seguir a viagem. O silêncio incomodava Max, visto que não estar distraída por algo lhe rendia mais e mais pensamentos que ela não queria ter. A morena abriu o porta-luvas da caminhonete, procurando por algum CD que Chloe poderia guardar ali. Contudo, enquanto o silêncio a incomodava, muito barulho também não lhe parecia uma boa opção, o que fez Max desistir ao ver a playlist do disco que encontrou. Uma mistura de Die Mannequin, Amanda Palmer, Joan Jett, Sparklehorse e... Linkin Park. Conhecendo a garota de cabelos azuis do modo como conhecia, ela não estava surpresa. Não que ela não gostasse daquelas músicas, elas só eram um pouco agitadas para o momento.

Percebendo que a morena analisava o CD, Chloe deu uma risada baixa, pegando sua mochila perto de seus pés e entregando para a garota. “Tem mais um CD aí.” Ela disse, sorrindo levemente e voltando a prestar atenção no trânsito. Max remexeu a bolsa (extremamente bagunçada, diga-se de passagem) da melhor amiga à procura do objeto; e o achou. Chloe havia guardado o CD que Max deu a ela quando tinham 12 anos de idade, e ver aquilo conseguiu tirar um leve sorriso da garota pela primeira vez nas últimas horas. A morena colocou o disco no rádio, e assim seguiram viagem, Max apenas observando as luzes passarem, procurando focar sua atenção nas músicas e não em seus pensamentos.

Não levou muito tempo para encontrarem um motel simples na estrada. O quarto, que conseguiram por 20 dólares, pequeno e com uma cama de casal e uma televisão de por volta de 20 polegadas, não era de todo ruim; era limpo, aconchegante até.  O banheiro possuía um chuveiro simples – e fraco, mas não deixava de ser extremamente útil. Max conseguiu retomar um pouco da sua energia ao tomar um banho, logo seguida por Chloe, que não teve nenhum problema em se despir na frente da outra garota. Aquilo não incomodava Max, elas estavam acostumadas uma com a outra desde crianças, mas a morena não podia deixar de pensar em tudo o que estava acontecendo e o quão próxima ela se sentia de Chloe agora, de uma forma diferente ao mesmo tempo em que igual. As garotas dormiram com sua roupa debaixo (visto que calças jeans não são lá tão confortáveis) exceto pela parte de cima; Max vestiu-se com a blusa azul recém-comprada, e Chloe com sua regata preta.

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“Eu preciso encontrar Kate.” Max pensava, andando pelos corredores claros do hospital. Ouvia barulhos de pessoas conversando e carrinhos auxiliares sendo empurrados, até que ouviu uma voz estranhamente familiar atrás dela.

“Você não cansa de fazer isso com as pessoas? Você manipula as pessoas, Maxine. O que você pensa que está fazendo aqui, fingindo que se importa?” Max virou, se deparando... Consigo mesma. A garota, sentada em uma cadeira próxima da porta de um dos quartos, a olhava com desdém.  “Você não merece paz. Você não deveria nem estar viva, Max. Já parou pra pensar que talvez tenha merecido tudo o que aconteceu com você?” Ela dizia. Max franziu a testa, procurando alguma resposta; que não encontrou. Ela não possuía argumentos contra algo que ela concordava. “O que veio fazer aqui? Ver o que restou da Kate? Ter certeza de que ela está morta?”

“Para com isso. Por favor...” Max disse, sentindo suas pernas enfraquecerem e seus joelhos falharem, fazendo-a cair no chão. Ela sentia lágrimas escorrendo de seus olhos. O piso, antes branco, agora brilhava vermelho na medida em que se espalhava sangue.

“Tudo isso por causa daquela garota. Chloe. Eu achava que você era mais inteligente que isso, Max.” A voz agora era diferente, e ela reconhecia. Ela sentiu um forte e desconfortável aperto em seu punho, levantando a cabeça lentamente para olhar para Warren. “Ela te odeia. Ela nunca vai te querer, Max. Não como eu. Você é tola.”

Num ato de desespero, Max levantou-se, esforçando-se para se desprender do aperto de Warren em seu braço e correndo para a porta mais próxima que encontrou. E lá estavam todos eles, no escuro. As vozes familiares chamando por ela, com rancor. “Você vai pagar, por tudo, Maxine.” A morena sentiu um forte aperto em torno de seu corpo, tentando se libertar com todas as forças.

Max acordou subitamente, se levantando em um movimento brusco, com a respiração ofegante. A garota ao seu lado acordou com a agitação repentina, tentando tomar consciência do que estava acontecendo, mas a morena não prestou atenção nisso, estando mais preocupada com os barulhos que ouvia de fora do quarto. O vento estava muito forte, e ela podia ouvir o som de carros sendo arrastados e movidos bruscamente, objetos sendo lançados no ar e colidindo com as paredes além do que ela acreditava ser o barulho de postes sendo arrancados à força do chão pelo vento. Max estava inquieta, porém não sabia o que fazer. Era como se sua mente houvesse parado de funcionar completamente juntamente com seus pulmões. Ela procurava se acalmar e respirar, porém sentia o ar pesado, como se todo o oxigênio antes ali presente já tivesse se esvaído completamente. O barulho continuava, e ela podia sentir seus olhos começarem a arder.

“Max, o que foi?” Chloe disse, já quase que completamente acordada pelo susto, sentando-se na cama e segurando a outra garota pelos ombros.

“Chloe, tá acontecendo tudo de novo!” Max disse com dificuldade, entre respirações esgotadas e lágrimas.

“Como assim?! Max, fala comigo!” Ela disse, sua testa franzida, sua mente funcionando a mil, tentando pensar em todas as possibilidades para acalmar Maxine.

“Você não tá ouvindo?!” A garota perguntou, olhando em desespero para a garota de cabelos azuis. “O tornado! Chloe, o tornado, eu preciso sair, a gente precisa sair daqui!” Ela dizia rapidamente, em agonia, não conseguindo controlar o ar que mal saía e entrava em seu corpo.

“Max, não tem barulho nenhum, não tem nenhum tornado, tá tudo bem-“ A garota punk tentava dizer, sendo interrompida pelos soluços de Max, que tentava se mover de forma confusa, como se estivesse perdida e não soubesse para onde ir. A morena então, como se perdesse todas as suas energias, desabou ainda mais em lágrimas, tentando apoiar o peso do resto do seu corpo em suas mãos, apoiadas na cama. Tudo que ela menos precisava agora era começar a ter alucinações. Chloe se aproximou, puxando a garota com cuidado em um abraço apertado, aninhando-a. “Eu tô’ aqui, Max. Tá tudo bem, eu prometo. Só presta atenção em mim, ok?” Ela dizia, procurando passar por cima da sua dificuldade em consolar e acalmar alguém, enquanto afagava os cabelos de Maxine, tentando esconder o desespero em sua voz.

Chloe não pôde deixar de perceber consigo mesma que ela conhecia aquilo. Ela não era exatamente a pessoa certa para avaliar ou tentar entender tudo o que estava acontecendo dentro de Max, muito menos entender tudo que um transtorno de estresse pós-traumático envolvia, mas aquilo era familiar. Todas as vezes que ela se lembrava de sua mãe acordando com olheiras depois de uma longa noite lidando com os pesadelos e os gritos de David. Ela não queria Maxine passando por tudo aquilo, e isso apenas lhe desesperava mais.

Após alguns minutos a morena pôde começar a se acalmar aos poucos, ainda fortemente segurando Chloe.  Ela podia ouvir os batimentos cardíacos da garota de cabelos azuis e procurava controlar sua respiração em um certo ritmo na medida em que podia escutar o coração da garota. Aquilo lhe acalmava. Saber que ela estava ali, com ela, lhe trazia um senso de realidade que lhe tranquilizava, principalmente na medida em que em alguns desesperadores momentos, Max já não conseguia mais discernir o que era ou não real, o que estava apenas em sua mente e o que estava de fato acontecendo. Será que ela estava simplesmente presa em um sonho e acordaria para se deparar com morte e destruição, será que ela ainda estava naquele lugar com Jefferson?

E quanto a si mesma? Será que ela era realmente tão egoísta e manipuladora que não conseguia perceber o mal que fazia às pessoas só para mudar a forma como era vista pelos outros? E se era tão destrutiva consigo mesma e com os outros, não seria melhor que se isolasse de tudo e todos, para o bem das pessoas ao seu redor? Para o bem de Chloe? Esses pensamentos agonizavam a garota toda vez que se mostravam presentes na cabeça dela.

E no meio dos pensamentos frios, das lágrimas quentes escorrendo pelo seu rosto e do calor do toque da garota ao seu lado afagando seus cabelos, Max caiu tão rápido em um sono pesado que mal teve tempo de perceber as lágrimas ardentes que se formavam nos olhos de Chloe. 


Notas Finais


Levei um bom tempo pra postar essa fic mas finalmente tomei coragem (obrigada à todos os envolvidos no encorajamento). Queria agradecer ao famigerado grupo da treta por me darem ótimas ideias pra fic, principalmente a minha panelinha das fanfics de LiS (Anna - que acompanhou todas as atualizações do capítulo enquanto eu escrevia -, Marina e Camilla), ao Kalil que me ajudou muito na escrita e corrigiu várias coisas (aposto que deixei passar algum erro no capítulo inclusive), e ao pessoal no LiSbr que continuamente fica enchendo a nossa paciência dizendo que Pricefield não é canon e que a Chloe é hétero/bi e que me deram forças pra escrever isso por meio da raiva.

Espero que gostem!


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