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História Meio-Irmão, Problema Completo - O Irmão do Meio-Sangue


Escrita por: Bela_Florr

Notas do Autor


Eu inicialmente postei isso dois anos atrás, mas aqui estou reescrevendo. Vai entender essa minha cabeça.

Capítulo 1 - O Irmão do Meio-Sangue


Olha, eu não queria ser o irmão de Percy Jackson... Eu não queria ser um meio-sangue. Apesar de que, ser um semideus explica o porquê minha vida sempre pareceu um pouco problemática demais para um órfão qualquer.

"Mas como você pode não querer ser o irmão do Percy?!Ele é, tipo assim, o cara mais incrível que existe!" 

Olha só, não é como se eu tivesse nada contra o cara... Pelo que eu ouvi dizer, ele é maneiro, muito maneiro, uma lenda até, e o mais importante, uma boa pessoa. Mas, atualmente, nosso parentesco sanguíneo é meio que exatamente o que está destruindo a minha vida. Não que as coisas fossem melhores antes de toda essa loucura começar, mas temos que concordar que fugir de alguns policiais, que tem algumas, ou até múltiplas razões para te prender – como furto, por exemplo, embora, sejamos sinceros aqui, roubar bolos de uma loja de conveniência de um posto de gasolina não pode ser considerado roubo. Afinal, se eu não comer, ninguém vai. Primeiro porque eram bolos horríveis. Nossa. E segundo porque só olhando pra elas você podia ver que havia algo de errado – é inegavelmente mais fácil do que fugir de monstros mitológicos de centenas de anos de pratica em perseguir semideuses azarados – contra os seus três dias de treino com uma ruiva maluca – que tem múltiplas razões para te matar. Uma delas sendo o fato de você ser irmão do semideus mais famoso dos tempos atuais.

Se você está lendo isso é porque provavelmente conhece o meu irmão. E me inveja. Sério. Não me inveje. Por fora, ser irmão de uma celebridade é algo incrível. Você ganha ingressos de graça para shows, as pessoas te fazem favores por interesse e etc. Na realidade, todo mundo só diz: “Nossa, vocês são muito parecidos” – o que eu realmente não vejo já que Percy me lembra daqueles galãs de novela mexicana dos anos 90 com cabelo bonito e namorada perfeita e eu... Entrei na puberdade já algum tempo e ainda tenho dificuldades de encontrar os benefícios... – e os únicos ingressos que ganhei até agora foram para batalhas que podem literalmente dar um fim na minha vidinha insignificante e miserável. Já que todos os seres superpoderosos que falharam em matar o meu irmão agora tem uma chance para doce vingança. 

Meu nome é Bash Thatcher. Tenho onze anos. Até algum tempo atrás eu estudava no Instituto O’holoran para garotos indisciplinados. Uma instituição particular em Nova York onde os orfanatos jogam os garotos órfãos que lhes dão muita dor de cabeça para que lidem com eles 24 horas por dia. Se eu sou indisciplinado? Claro que não. Sou tão doce que chego a dar diabetes. Mas os meus colegas de cela, quero dizer, os outros meninos do Orfanato não entendem isso muito bem.  O Instituto se divide em duas partes. A primeira é para as crianças pequenas até os nove anos. A segunda é para os de nove em diante. Desde que cheguei foi sentenciado à segunda parte, e o que deveria ser meu lar passou a ser meu inferno pessoal. Os garotos eram maiores e mais velhos, e eu era pequeno e novo, uma presa fácil e inocente, e lógico, eles não podiam deixar a oportunidade de me torturar passar em branco.

Os garotos de O’holoran eram todos órfãos, e compartilhavam as mesmas histórias de vida tristes e trágicas. O lugar era tão animado quanto um presídio. Durante a manhã, eu estudava, bem, tentava estudar, e a tarde trabalhava no mercado perto do Orfanato junto com uma ruiva simpática chamada Nancy, tentando juntar dinheiro para quando finalmente fosse solto – em meus dezoito anos. Era uma vida aceitável. E aos poucos fui me acostumando com ela, e minhas tentativas de fuga – que costumavam ser mais frequentes do que gosto de admitir – foram diminuindo. No começo, eu queria fugir porque odiava o Odiava O’holoran e queria ir para Hollywood tentar carreira atuando como o novo garoto de “Karate-Kid”. À medida que fui ficando mais velho, no entanto, esse sonho acabou, e passei a escapar só pelo prazer de dar nos nervos do diretor do lugar, Logan Quinn. Um cara de meia idade, bonito, bem sucedido, viúvo e com certeza rico o suficiente para providenciar algo melhor do que sopa de feijão para o nosso jantar todos os dias. Eu gostava da adrenalina de sair da minha cama durante a noite com nada além de tênis nos pés e um casaco na cintura e desviar nas câmeras de segurança para o lado de fora. Gostava de fugir dos cachorros que eles colocavam para correr atrás de mim quando sem querer acionava algum dos alarmes (apesar de hoje eu ter algumas cicatrizes nada agradáveis, mas definitivamente históricas, por conta disso), e principalmente, gostava de acenar e sorrir bobamente para Serena, filha única do Sr.Quinn, a quem ele tinha que arrastar consigo para o Orfanato em plena madrugada só para me dar bronca sempre que eu era pego e arrastado – literalmente – de volta para aquele lugar. Ela sempre sorria de volta, e de repente a noite ficava mais clara, meus calcanhares sangrentos não doíam tanto, e todo o esforço valia a pena mesmo que teoricamente eu tivesse falhado no meu objetivo.

Quando eu era furtivo o suficiente para desviar das câmeras e rápido o suficiente para fugir dos cães, ficava alguns dias fora. Fazia alguns malabarismos no sinal. E então, no máximo em 72 horas, a Polícia me encontrava, e me encarcerava de novo. Era bom para matar o tédio e eu podia continuar levando a vida assim até os meus dezoito. Mas óbvio que quando algo é bom pra mim, o destino faz questão de estragar...

Tudo começou a desandar no primeiro dia do meu sexto ano. Os novatos chegaram e eu, como fracassado veterano no caminho para deixar de ser um Zé-ninguém, devia dar o exemplo, me apresentar e falar algo sobre como o curso e o trabalho intensivo dos professores havia me transformado em um cidadão capaz de conviver em sociedade novamente. Um trabalho sujo, mas fácil e que me livraria da semana de detenção a qual eu estava destinado por ter esquecido de fazer a lição de geografia da semana passada. Minha simples missão começou a dar errado logo às oito e meia da manhã quando eu acordei atrasado e tive que vestir o uniforme às pressas e sair correndo pelo corredor - o que é ironicamente proibido - levando gritos dos monitores.

Cheguei à sala 07 às 8:30, quando devia estar presente às 8:00 para ajudar a receber os novos monstrinhos em nossa "grande família". Mas ninguém é perfeito e é o que temos pra hoje. Para a minha sorte, a responsável pelo comitê de boas vindas era Minerva Yukio, vice-diretora. Uma mulher de mais ou menos vinte e três anos, asiática, com cabelos negros como breu presos num coque firme, modernos óculos quadrados e olhos estreitos e severos, como dois pedacinhos de carvão. Quando seus olhos pegavam fogo, você sabia que ela estava com raiva. Ela tinha ganhado minha simpatia desde meu primeiro dia em O'holoran quando me ofereceu um biscoito, um abraço e disse que tudo ia ficar bem. Mimi tornava meu dia-a-dia muito mais agradável e era a única pessoa que me levava a sério e realmente via em mim algo além do problemático palhaço da turma.

Bati na porta, e botei a cabeça para dentro, dando meu melhor sorriso de desculpas.

-Mimi, meu despertador falhou, estou atrasado, mas já cheguei. Posso entrar?-Falei fazendo o meu melhor para soar convincente. Mimi franziu os lábios e me analisou de cima a baixo, parecendo estar fazendo notas mentais para cada ponto negativo da minha aparência. "Gravata torta, -1; Sem cinto, -1; Cueca aparecendo, 100% inaceitável".

-Professora Minerva, Senhor Thatcher- Ela fez questão de explicar com um pigarro, como se fosse fazer diferença a essa altura. -E sua entrada foi permitida. -Disse balançando a cabeça. Suspirei, aliviado. Entrei em um segundo e logo me pus de frente aos novatos, tentando apertar minha jaqueta o mais forte possível na minha cintura para evitar que minhas calças descessem num momento inapropriado - não que houvesse um momento apropriado para suas calças caírem - acabando de vez com o resto de dignidade que me restava.

-Como eu dizia Mimi, sinto muito pelo atraso, realmente não foi culpa minha.

 -Nunca é, Senhor Thatcher. -Comentou Mimi com um riso abafado. Causando risadas nos novos pestinhas. Fiz bico.

-Sabe que eu sempre sou a vítima da história, Mimi. -Ela revirou os olhos, um sorrisinho escondido nos lábios vermelhos fechados. -Então, essas são nossas novas vitimas, quer dizer, estimadas almas que serão tocadas pelo trabalho árduo da nossa amada instituição? -Questionei. A Professora acenou que sim e eu sorri de forma maldosa, encarando os olhos curiosos virados em minha direção. Havia poucos esse ano, a maioria tinha nove ou dez anos, entretanto, dois deles pareciam ter a minha idade. Um deles era uma garota. Ela era alta e esbelta. O cabelo ruivo escuro ondulado era desarrumado, cortados um pouco acima de seus ombros. Tinha pele parda e gentis olhos cor-de-chocolate. O rosto era magro, com uma mancha de graxa em sua bochecha esquerda. Suas vestes eram surradas, uma saia jeans, uma camisa social de botões e coturnos pretos. Nas mãos, havia luvas sem-dedo, e em sua cabeça um daqueles óculos esquisitos de mecânico. Ela tinha uma expressão neutra, levemente entediada, como se não quisesse exatamente estar ali, mas também não tivesse algo muito melhor para fazer. O outro era um menino. Sendo sincero, ele me parecia ter saído de uma sessão de fotos da Calvin Klein. Os fios louros platinados estavam perfeitamente alinhados para a esquerda e os olhos incrivelmente violáceos demonstravam com clareza o quanto ele não queria estar ali. Era pálido, pele cor de leite. E, diferente de certas pessoas, parecia ter realmente pensado sobre o que se vestir antes de pegar a primeira coisa que saiu do armário. Camisa branca, colete de couro preto e jeans. Fiquei pensando no quanto o loiro de farmácia ficaria arrasado quando descobrisse que o uso de uniforme era obrigatório... Mas algo chamava a minha atenção naquele garoto. Tinha a estranha sensação que já tinha o visto antes...

Mimi dividiu a sala em pequenos grupos formados por um veterano e dois novatos, por sorte – tanto minha quanto deles -, fiquei com os dois da minha idade.

-Cada grupo deve fazer uma breve introdução sobre cada um dos integrantes, para que possam se conhecer melhor. – Instruiu Mimi com um sorriso. – E depois os alunos da casa podem falar sobre o trabalho maravilhoso da nossa escola e responder a quaisquer dúvidas.

Todos começaram falar de uma vez. Virei-me para meus dois companheiros de mesa.

-Então... Eu começo? –Perguntei. Silêncio foi à resposta. Como quem cala consente, fui em frente.

-Sou Bash. –Falei. -Tenho doze anos. Estou aqui porque tive problemas com alguns alunos na minha antiga escola, e não sabiam mais o que fazer comigo. – Fui sincero. A ruiva me encarou, arqueando a sobrancelha como se tivesse esperado algo mais elaborado vindo mim. Como não veio nada, ela balançou a cabeça e começou a falar.

-Sou Judith. -Disse– Tenho doze anos e estou aqui porque trabalho demais e dizem que não consigo relaxar. E que sou violenta. E cabeça quente. –Explicou com um tom de voz calmo. – O que é um grande exagero, só tenho um pequeno problema para controlar a raiva. Só isso.

O loiro riu um pouco, e ela o lançou um olhar fulminante que me fez ponderar seriamente a veracidade em suas palavras. “Um pequeno problema para controlar a raiva” parecia um eufemismo e tanto para alguém pronto para socar a cara de alguém até não sobrar mais nada. Mas ele não se intimidou. Era como se já se conhecessem antes.

-Sou Liam. – Ele disse. Eu e Judith o encaramos, esperando. Não veio mais nada, mas ele sorriu, tentando parecer simpático. Judith suspirou.

-Liam é tímido, e tem dificuldades em fazer novos amigos. – Explicou ela como uma mãe preocupada falando do desempenho escolar do filho caçula.

-Cala a boca, Judith. – Liam inflou as bochechas que adquiriram um leve tom rosado.

–Mas tenho certeza que gostou de você. – Continuou a garota sem se importar pela interrupção. Balancei a cabeça devagar, sem saber muito bem o que dizer. Não era como se eles tivessem opção... Teriam que me suportar até o fim do ano escolar gostando de mim ou não, mas era bom saber que nos nossos cinco minutos de interação, eles não me odiavam ainda. Como... Hm... A maioria das pessoas que eu já conheci fez. Antes que pudéssemos continuar nossa conversa estilo de grupo de autoajuda para alcoólicos anônimos, o alarme do colégio tocou forte, causando pânico imediato nos alunos.

-Acalmem-se todos. – Pediu Mimi já de pé. – Formem uma fila e saiam da sala calmamente. –Ela pediu, mas ninguém parecia estar ouvindo. Os alunos saíram correndo e gritando da sala e Mimi se descabelando atrás deles. Pobre Mimi... Tinha certeza que a maioria só estava usando a oportunidade para fazer uma algazarra sem sentido. Não que eu também não tenha me sentido tentado com a possibilidade...

-Não se preocupem, provavelmente os garotos acionaram o alarme para irritar o diretor, é algo bem comum por aqui. –Expliquei tentando passar calma entre minhas palavras. Afinal, o que mais poderia ser?Nada de emocionante acontecia naquele colégio há anos, e não havia porque começar agora. Liam e Judith não pareciam assustados, mas se entreolharam, aflitos, como se soubessem que algo ruim estava para acontecer. –Só vamos para o pátio junto com os outros e vai ficar tudo bem. –Assegurei me levantando. Judith segurou meu braço com muito mais força que uma garota daquela idade deveria ter. Ela era da minha altura, mas notavelmente mais forte do que jamais teria sonhado.

-Bash, não acho que correr para o pátio vá resolver as coisas. – Ela disse mordendo o lábio.

-Do que está falando? –Questionei sem entender. Ouvi um rugido nada humano do lado de fora e foi aí que me assustei de verdade. – Okay, o que está acontecendo?

-Bash, não temos tempo para tentar ser gentis, a benevolente nos encontrou antes do esperado e precisamos escapar daqui antes que ela mate você. –Disse Liam e eu o encarei mais perdido do que ficava durante as aulas de matemática –acreditem isso era algo alarmante -.

-Do que você está falando? Do que vocês dois estão falando?–Perguntei arqueando a sobrancelha. Algo estava muito errado e eu podia sentir. A criatura do lado de fora rugiu novamente e uma onda de calafrios atravessou meu corpo todo em um segundo. Liam balançou a cabeça, colocou as mãos na cintura e suspirou fundo e eu não entendia como ele podia continuar parecendo tão descolado ainda que estivesse fazendo a pose de “mãe irritada”. O garoto Calvin Klein me encarou por alguns segundos. Eu o conhecia de algum lugar, tinha certeza disso.

-Bash, você é um semideus, filho ilegítimo de Poseidon, o Deus dos Mares, irmão caçula de Percy Jackson e precisamos que você venha conosco e nos ajude a salvar o mundo.

Bem, não é todo dia que um garoto que parece a protagonista de Game of Thrones aparece na sua escola diz que você é filho de um deus grego supostamente fictício e irmão de um cara desconhecido e pede para que você largue tudo para salvar o mundo com ele. Mas eu não conseguia, ou melhor, definitivamente não queria acreditar no que ele dizia.

-Você é louco?-Foi a única coisa que consegui responder. Eu não acreditava em deuses, não acreditava em magia e muito menos que meu sangue tivesse algo a ver com tudo isso. – Meu pai morreu no mar, eu sou filho único. Não sou semideus, sou um garoto normal, e não quero lutar.

Judith olhou para mim com uma expressão triste. Como se eu tivesse acabado de descobrir que estava com câncer e ainda estivesse em negação.

-Sim Bash, você é. Não adianta negar.  –Ela tentou me convencer colocando a mão gentilmente no meu ombro. –No fundo, você sempre soube que havia algo de diferente com você, algo que não se encontra nos outros garotos. Por favor, venha conosco. Estamos tentando salvar sua vida.

Outro rugido. Mais forte dessa vez. Coloquei as mãos sobre a cabeça, sem saber o que pensar. Aquilo só podia ser um sonho, ou melhor, dizendo, um pesadelo. Eu estava ficando louco, estava ficando completamente louco. Igual a minha mãe.

-Não. – Balancei o rosto. – Não. Não. Não. Isso não pode estar acontecendo. – Me lamentei. Liam pôs a mão em meu ombro e me encarou profundamente com aqueles olhos violetas que pareciam ler a minha alma e me conhecer bem mais do que eu mesmo.

-Bash, eu queria não ter que te dizer isso, mas o mal é real. Existem monstros lá fora e não podemos fugir deles para sempre. – Disse ele, a voz surpreendentemente suave. – Precisamos enfrentá-los, principalmente quando temos medo deles.

Olhei Liam de cima abaixo e aquele discurso fez com que eu finalmente me lembrasse de sua identidade.

-Você... Você é Liam Holland. – Sussurrei as palavras devido ao choque. Meus olhos estavam esbugalhados e eu não sabia muito bem o que dizer a partir dali. Era surreal a possibilidade de Liam e eu termos nos encontrado, naquela situação, depois de tanto tempo... Eu não via desde os sete anos, mas lembrava claramente da nossa amizade e de tudo que tínhamos passado juntos. Lembrava de seu rosto fino e levemente afeminado e do jeito como ele inflava as bochechas como uma criança mimada sempre que perdia em algo quando brincávamos. Liam não fora só meu melhor amigo, ele fora meu único amigo. – O meu...

-... Melhor amigo. – Ele completou minha frase e sorriu simpático. –Você prometeu que seria meu melhor amigo para sempre, Sebastian Thatcher. Mas demorou a me reconhecer. -Ele acusou. Apesar de tudo, não parecia bravo.

-Você mudou. – Eu tentei me justificar. Não era mentira. Ele tinha mudado, tinha tirado o aparelho, e de longe já não era mais o garotinho extremamente tímido e recluso de antes. Acho que não reconheci de imediato na época porque Liam fora um amigo muito antigo, e inconscientemente, assim como o resto do meu passado, eu estava determinado a esquecê-lo também. Sem falar que Liam era rico, não havia porque ele estar num reformatório para órfãos.

-Um pouco. – Ele admitiu. – De qualquer maneira. Preciso que você saia da sua depressão momentânea e mostre a coragem que sua versão de sete anos tinha aos montes para me fazer entrar em encrencas.

-Mas... – Eu tinha reconhecido Liam, mas ainda não fazia idéia do que estava acontecendo.

-Eu explico tudo depois. Prometo. – Ele garantiu. –Agora, nosso único foco deve ser transportar você para o Acampamento. Vivo, de preferência.

Não sabia o que estava rolando, não sabia que acampamento era aquele, mas se eu tinha que confiar em alguém para me explicar, que fosse o meu melhor amigo.

Assenti com a cabeça.

-Por onde começamos?

-Matamos a criatura do lado de fora e vamos para o Acampamento Meio Sangue, Quíron está muito curioso pra te ver. –Disse Judith tirando uma marreta do bolso. Como aquela marreta coube em seu bolso?Porque ela carregava uma marreta no bolso? Não tenho ideia. Mas não se questiona uma pessoa com uma marreta.

-Matar? A gente? – Perguntei quase soltando uma risada. A ideia era absurdamente ridícula por vários aspectos diferentes. Eu já estava começando a me arrepender.

-É, Stripper, e não podemos demorar muito então vamos logo. – Ele debochou e foi então que eu percebi que devia mesmo ter colocado um sinto na hora de sair da cama porque minha calça já estava nos meus pés. Mas não tive tempo para ficar envergonhado – mal tive tempo de subir minhas calças direito – Liam e Judith puxaram meus braços. E enquanto corríamos pelo corredor, vi Judith levantar as mangas da camisa até todo seu braço ficar exposto. Havia uma espécie de tatuagem negra em seu braço esquerdo, duas listras negras que contornavam que o contornavam perfeitamente.

Meu primeiro pensamento foi: “Uau, ela tem uma tatuagem! Isso é tão maneiro”. E então no gesto mais estranho que eu já tinha visto, ela puxou a pele para baixo, como se estivesse tentando arrancar a tinta, uma luz dourada surgiu do nada e no segundo seguinte, uma longa espada prateada de cabo negro.

Foi literalmente a coisa mais legal que eu já tinha visto alguém fazer na minha vida.

Judith jogou a espada em minha direção e por algum milagre eu a segurei sem deixá-la cair. Senti o peso do metal sobe minha mão e a ajustei da melhor forma que consegui pensar. Eu e Judith não éramos os únicos carregando amas muito provavelmente ilegais, Liam tirou uma adaga de seu tornozelo e continuamos a correr até que finalmente chegamos ao nosso aparente destino, a cantina da escola. Esgueiramos-nos pela porta de entrada com Judith em nossa frente. A cantina era um dos meus lugares favoritos em toda O’holoran por motivos simples. Tinha comida (bem não uma comida deliciosa, mas ainda sim era comida) e eu podia ficar sozinho, sem ter que me dar ao trabalho de fingir que sequer suportava a maioria das pessoas de lá em nome do bom convívio. Os garotos de O’holoran não eram exatamente boas almas, se tinham sido mandados até ali, havia uma razão. Cleptomania e abandono  era a maior parte dos casos.

 A cantina estava vazia, tirando a criatura mais feia e esquisita que eu já tinha visto na minha vida. Enrugada, curva, escura, com asas e garras de morcego e um bando de dentes afiados e amarelados a mostra. Parecia estar nos esperando especificamente porque não se movia, ao contrário, estava estática, imóvel e poderia muito bem ser considerada uma escultura de cera se não fosse à sutil respiração.

Depois dessa conclusão. Eu nunca mais cheguei perto de estátuas.

-Aí está ela... – Disse Liam parecendo enjoado. –Ou isso...

-Tudo bem, eis o plano... – Conhecendo Judith como conheço hoje, sei que seu plano provavelmente nos levaria a uma vitória rápida e limpa. Mas tudo foi por água abaixo porque por alguma razão que até hoje não identifico, eu só sai correndo em direção ao monstro igual ao idiota e desferi um golpe com a espada da forma mais furiosa que pude imaginar. Era como o despertar um instinto que nunca soube que tinha. Eu fiquei com tanta raiva... Era real! Era mesmo!

O golpe foi certeiro. Acertando o alvo bem no tórax. O monstro desapareceu no mesmo instante em um monte de areia amarela. Minha súbita coragem sumiu completamente. Minhas pernas bambearam e eu cai de joelhos, sem acreditar muito no que tinha acabado de acontecer. Judith e Liam correram em minha direção. Judith não parecia nada feliz, mas Liam estava impressionado.

-O que você tem na cabeça, imbecil? – Perguntou ela puxando minha orelha como uma criança. Eu não tinha uma resposta. E sinceramente estava estupefato demais para pensar em uma gracinha.

-Bom, ele facilitou o nosso trabalho... – Argumentou Liam dando de ombros. Ele sorriu e me ajudou a levantar me puxando pelos ombros. -Foi bom para um novato, Thatcher. Você é mesmo uma caixinha de surpresas.

-Infelizmente nossas dificuldades só estão começando. –Advertiu a ruiva com um sorriso fraco. Saímos da cantina em silencio e eu os segui até a porta da frente onde mais uma surpresa me esperava. Serena Quinn, a garota por quem eu cultivava um não muito saudável amor platônico parecia nos esperar do lado de fora.

Serena era... Diferente de outras garotas que eu já tinha conhecido. Ela era alta – eu era mais ou menos 7 centímetros mais baixo - e esbelta. A pele com bronzeado californiano perfeito, os cabelos curtos na altura de seu queixo eram loiros, e se ajeitavam ao redor de seu rosto como raios de sol. Ela tinha grandes olhos azuis celeste, geralmente contornados por um lápis preto que os deixavam ainda mais marcados do que naturalmente já eram. Serena usava vestidos de tons delicados – o daquele dia era cor-de-rosa - e tênis Converse de cores variadas. Sempre acompanhada de uma tiara na cabeça e uma mochila nas costas. Ela estava sempre de bom-humor, era gentil e disposta a ajudar quem precisasse... E claro, sem absolutamente nenhuma dúvida, a garota mais linda que eu já tinha visto na vida.

O problema era que Serena sequer sabia direito da minha existência já que –obviamente – não estudava na O’holoran – e aparecia para visitar o pai apenas duas vezes ao mês. E quando ela aparecia, me reconhecia somente como o garoto que fazia seu pai arrastá-la para a escola no meio da madrugada, então seria totalmente compreensível que ela me odiasse. Ou pior, sequer soubesse meu nome.

-Oi, Bash! – Serena acenou de forma animada. – Que bom que ainda está vivo.

Eu era um ser abençoado. Ela sabia o meu nome. E tudo que eu podia fazer era encarar e sorrir como um idiota. 



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