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História Melinyel - Capítulo 11


Escrita por: Illisse

Capítulo 12 - Capítulo 11


O fim da semana chegou rapidamente para todos que estavam envolvidos com os preparativos da festividade. 

Elora logo percebeu que elfos encaravam as comemorações com uma seriedade impressionante. Tudo fora medido, organizado, checado e revisto pelo menos duas vezes até a véspera da festa. Lindir e Emel provaram-se uma dupla com sintonia inigualável, passaram a maior parte dos dias andando juntos para todos os lados supervisionando o trabalho em andamento. O que um começava o outro completava. Elora percebia a aura que surgia em volta dos dois quando os via passar ao longe, fechados em sua conversa e alheios ao resto do mundo. 

Estava nos estábulos, selando Randír quando os gêmeos apareceram. Naquela noite, fariam a comemoração de seu próprio jeito. Estel e Légolas iriam depois para não levantarem muitas suspeitas. Os três e suas montarias saíram discretamente, subindo a pequena colina até a parte escondida do bosque aonde descobriram o local perfeito para admirar tanto o céu estrelado, quanto a aldeia abaixo do penhasco.

Durante horas riram, conversaram e dançaram com a alegre música que vinha da aldeia. Divertiam-se tanto que perderam a noção do tempo, até Légolas que nunca parecia relaxar por completo estava entregue ao ar leve e despreocupado do momento. Foi somente quando a primeira claridade do dia aparecia no horizonte que o grupo percebera o quanto haviam se atrasado para voltar. 

Recolheram as coisas depressa e postaram-se silenciosamente de volta para Rivendell. Légolas seguiu na direção contrária ao resto do grupo. Estel ficou encarregado de levar os cavalos de volta aos estábulos, enquanto Elora e os gêmeos verificavam se havia alguém pelo caminho dos quartos. Quando os três aproximavam-se da vivenda de Elora, uma silhueta apareceu em varanda saindo do escuro. 

Elrond estava com a testa e os lábios franzidos, sua raiva era evidente. Os gêmeos deram um passo a frente, com seus movimentos perfeitamente sincronizados, fazendo menção de explicarem-se; mas Elrond levantou a mão, silenciando-os. 

- Falarei com vocês em outra hora. - Elrond falou, dispensando os filhos. 

A menina cruzou o olhar com os dois antes de começar a andar para seu quarto. Elrond caminhou lentamente até a sacada da varanda com as mãos cruzadas nas costas. 

- Tem ideia do que poderia ter acontecido? - Ele falou calmamente. 

- Sinto muito, tio. Mas estávamos juntos, não havia ameaça alguma. E se houvesse a teríamos eliminado. 

Elrond suspirou.

- Sei que você acha que sim, mas não subestime seus oponentes. Elfos muito mais experientes em combate que você já sucumbiram nas mãos de orcs. 

- Se eu corresse perigo os gêmeos teriam me ajudado. - Não queria citar Estel ou Légolas, não tinha certeza se Elrond já sabia do envolvimento deles.

- Não deve entrar em uma luta esperando ajuda. Sei que meus filhos a defenderiam com suas vidas, mas antes você precisa aprender a defender-se sozinha. 

- Estou evoluindo em meu treinamento. E se me deixasse participar das rondas ou dos grupos de busca eu certamente teria mais experiência. 

O elfo virou para ela, seus olhos estavam cansados. 

- Não posso deixar que corra este risco. Não deixará a cidade novamente até que eu julgue que esteja preparada. 

Elora olhou-o em choque. 

- E quando isso será? Daqui a mil anos? - Ela aproximou-se. - Não pode me prender aqui enquanto o mundo é consumido por Sauron. 

- Minha prioridade é sua segurança. Tem ainda muito que aprender antes de participar de fato desta guerra. 

- Não estou pedindo que me envie diretamente ao necromante. Quero apenas que me deixe ajudar! - Ela se enfureceu. - Com as aldeias que foram atacadas nos últimos meses, por exemplo. Eles perderam suas plantações e estão famintos. Não precisa ser assim, eu posso ajudá-los. - Elrond lhe encarou, certamente imaginando como ela saberia disso. 

- Quanto menos pessoas souberem sobre você, melhor. - Elora ia confrontá-lo, mas Elrond silenciou-a. - Seu poder será cobiçado pelos que esperam tirar proveito dele; e você será caçada pelos que o temem. Não tenha pressa, tudo tem sua hora certa para acontecer. Descanse, conversaremos mais pela tarde. 

O elfo saiu e Elora deixou-se desabar na cama, encolhendo o corpo em uma pequena bola. 

Se Elrond somente deixasse-a sair quando estivesse no mesmo nível de treinamento dos outros, ela tinha certeza que ficaria em Rivendell pela próxima Era inteira. 

 

 

.o0o.

Elora escovava os cabelos enquanto Emel preparava suas roupas para as festividades daquela noite. Mas a menina não conseguia focar-se nos preparativos, pensava apenas nas palavras de Elrond. Ainda sentia o coração pesado, parecendo bloquear-lhe a garganta e impedindo-a de respirar. 

Teria que lhe pedir que reconsiderasse. Elora ainda não havia escolhido seu caminho. O mundo dos homens perdera o brilho depois que conheceu profundamente a historia e costumes élficos, mas a imortalidade vazia também não lhe tinha nenhum apelo. Não poderia ficar ali treinando até que ficasse velha demais e morresse. 

Quando terminava sua trança, Amyna entrou no quarto informando que Elrond a estava chamando. Elora colocou o colete sobre a camisa folgada e saiu a passos firmes. A elfa lhe contara que ele havia chamado os gêmeos mais cedo naquela manhã, e no momento estava com Estel. O fato de Elrond escolher falar com cada um separadamente a deixava ainda mais apreensiva. 

Esperava do lado de fora do Salão particular de Elrond quando a porta se abriu em um rompante e Estel saiu atordoado. Elora chamou-o, ele virou-se em sua direção mas não parecia vê-la. Saiu a passos rápidos, dirigindo-se para os bosques. 

Elora caminhou relutante enquanto entrava no comodo iluminado, não conseguia imaginar o que fizera Estel ficar tão abalado. 

Elrond estava sentado em uma das cadeiras no canto inferior, próximo as janelas. Ele estava com o semblante calmo e concentrado, bem mais leve do que o da noite anterior. Levou alguns minutos até que ele levantasse o olhar para Elora e lhe sorrisse. 

- Vi Estel saindo. - Ela se adiantou. - Ele não parecia muito bem. 

- Venha sentar-se. 

Elora o fez, mas Elrond ficou ainda alguns minutos olhando pela janela. No entanto não parecia ver nada, parecia perdido em lembranças. Levou mais alguns segundos até que voltasse a falar. 

- Olhando para o passado, vejo que quase todos os momentos mais importantes de minha existência aconteceram bem aqui. - Ele olhou ao redor, enquanto um leve sorriso apareceu em seu rosto. - Estava aqui quando vi Celebrían pela primeira vez; quando Elros veio despedir-se; quando soube da iminência da guerra; quando fui avisado que uma rainha e seu príncipe buscavam refúgio... e agora adicionarei mais dois a lista.

- Eu não entendo... - Elora torceu as mãos, nervosa. Por que ele estava fazendo tantos rodeios?

- Não pretendia contar-lhes tão cedo, mas a imprudência de vocês abriu meus olhos e não me deixou escolha. Precisam entender sua real importância em nosso futuro. Eu teria esperado que ficassem mais velhos, mais preparados, que aprendessem mais antes de colocar um peso em seus ombros. Infelizmente o peso já estava sobre você, mas fico feliz em saber que pude afastá-lo de Estel. 

Elrond entrelaçou os dedos, olhando fundo nos olhos da menina. 

- Ele é o último Dunedáin puramente humano, herdeiro legítimo de Isildur e rei por direito dos tronos de Arnor e Gondor. Ele é seu primo Elora. 

O elfo parou de falar, esperando que ela se pronunciasse. Elrond sempre teve uma espécie de sexto sentido quando se tratava de deixá-la pensar e sentir suas emoções antes de forçar uma conversa. 

Ela abriu e fechou a boca várias vezes antes de se recostar na cadeira e bufar enquanto cruzava os braços fortemente contra o peito. A primeira resposta que veio em sua mente foi a raiva. Queria gritar com Elrond: como ele pode esconder dela seu único parente humano, e bem debaixo de seu nariz? 

Mas quando ia falar, olhou o semblante calmo do tio. No qual sempre buscava conforto e aconselhamento quando nada mais no mundo lhe dava forças para tentar outra vez. Os olhos carinhosos que sempre olharam-na como uma filha. Ela então respirou profundamente buscando acalmar os nervos que desde ontem estavam a flor da pele.

- Entendo. - Elora falou depois de alguns minutos. O elfo olhou-a em uma mistura de alívio e preocupação. - Queria protegê-lo. Até de mim, que sem querer poderia deixar escapar alguma coisa. Por isso me disse quando nos conhecemos que o paradeiro dele era desconhecido... não é?

Elrond assentiu. 

- Eu gostaria de poder brigar com você. Mas era um segredo que não envolvia apenas minha vida... - Elora respirou fundo. - Mas preciso que me conte tudo agora. 

- Quando Gilraen chegou aqui com o filho nos braços, estava muito fraca. Sabia que não sobreviveria muito mais e pediu que o protegêssemos de Sauron. A criança teria um fim rápido se tentássemos buscar abrigo para ele entre os homens, então o criei em Valfenda. O ensinei e treinei toda sua vida, preparando-o para o momento em que sua jornada começaria. Ele é a esperança dos homens de um futuro melhor, o rei que os inspirará e liderará para a liberdade e glória.   

- Esperança... Por isso Estel. - Ela murmurrou. - Então qual é o verdadeiro nome dele?

- Aragorn. 

Elora repetiu o nome, testando-o nos lábios. Demoraria até que conseguisse visualizar Estel como o rei prometido. 

- E pelo jeito como Estel saiu, devo presumir que ele não recebeu seu legado muito bem. - Ela encarou Elrond, que assentiu. 

- Ele ainda é muito novo, levará algum tempo... anos, até que se acostume com a ideia. 

- Você não vai procurá-lo? Talvez seja melhor alguém ir atrás dele e... conversar. - Elora vira o semblante triste e confuso de Estel quando ele saiu da sala. Queria ir até ele, confortá-lo. 

- Ele precisa ficar sozinho com sua consciência. Não devemos pressioná-lo a abrir-se conosco. Pelo menos não agora. - Elrond aproximou-se, tomando as mãos de Elora entre as suas. - Estarei aqui quando ele precisar. Assim como para você. 

A menina apertou suas mãos.

- Está amadurecendo mais rápido que eu previa. - Disse Elrond sorrindo. - Orgulha-me Elora, a cada dia mais. 

- Isso significa que está repensando sobre o que disse ontem? 

O elfo negou com a cabeça.

- Mas...

- Sinto muito, mas minhas palavras foram finais. 

O tio podia imaginar que o assunto estava encerrado, mas para Elora estava longe do fim.

 

 

.o0o.

Elora correu pelos bosques atrás de Estel. Ouvia sua voz entoando uma canção antiga, que lhe guiava o caminho. Apesar do que Elrond havia lhe falado, ela queria conversar com o primo. 

Já estava quase alcançando-o quando parou bruscamente e escondeu-se atrás de uma das árvores para observar Arwen conversando com Estel. Os dois rodeavam-se, curiosos e com os olhos vidrados um no outro. Estavam tão concentrados que não perceberam a chegada da menina, nem quando ela virou-se e foi embora na ponta dos pés. 

Elora seguiu diretamente para o quarto com um sorriso nos lábios.

Já era noite quando terminou de aprontar-se. Colocara o vestido que Emel lhe presenteara e deixou os cabelos trançados em um coque simples. Enquanto dava os últimos retoques no penteado, olhou através do reflexo do espelho para a para a caixa de madeira embaixo de sua cama. 

Nas últimas horas seu olhar havia vagado insistentemente até lá. Qual fora o propósito de um presente tão extravagante? A dúvida agora dava lugar a uma frustrante raiva. Este poderia ser o plano dele o tempo todo. Fazê-la questionar-se demais sobre uma coisa que não existe. Ou talvez... o elfo apenas quisesse que ela se recordasse dele. Da mesma forma que ela fez ao deixar suas coisas em Mirkwood.

Elora rolou os olhos levantando-se rispidamente, pegou a caixa e a escondeu no fundo do armário; soterrada por diversos vestidos. Ali ela não poderia causar nenhum dano. 

Elora desejou que sua mãe estivesse ali. Ela certamente lhe daria conselhos preciosos sobre como lidar com este tipo de situação. Berena sempre tinha sábias palavras na manga quando alguém vinha atrás de seus conhecimentos. E todos sempre saíam satisfeitos. 

- Não. - Elora sacudiu a cabeça. Iria aproveitar a noite sem mais pensamentos envolvendo a caixa ou o elfo de cabelos quase brancos. 

Era seu aniversario afinal, pensaria apenas em coisas boas. 

Elora fechou a porta atrás de si e foi caminhando a passos largos até o Grande Salão. 

Candelabros enormes iluminavam o espaço, as paredes e pilastras estavam adornadas com tecidos leves que flutuavam ao menor sinal de uma brisa fresca, dando ao local um ar quase onírico. A música alegre que enchia o salão por pouco não era abafada pelo sons emaranhados de risos e conversas. 

Elora ficou parada debaixo do arco de entrada apenas olhando ao redor, assimilando os detalhes. Todos estavam tão felizes, tudo estava perfeito. É devido a momentos assim que a menina as vezes se pegava imaginando por que havia tanta maldade no mundo. Porque tínhamos que ferir uns aos outros? Porque necessitamos tanto da sensação de superioridade sobre outro alguém? Se todos se respeitassem, orgulhassem-se de suas diferenças e trabalhassem em conjunto por um futuro melhor, haveriam mais momentos perfeitos assim. Famílias reunidas, amigos trocando risos e confidências. 

A menina mal notou quando um braço forte envolveu seus ombros. Chegou a assustar-se de leve antes de perceber Elladan lhe sorrindo. 

- Não deve deixar sua guarda baixa, minha prima. - Elrohir apareceu logo em seguida com duas taças nas mãos. Um nunca ficava muito longe do outro. A cumplicidade dos gêmeos sempre a impressionava. 

- Estamos em uma festa. - Ela disse enquanto pegava o cálice que o elfo lhe estendia.

- Certamente uma das situações mais perigosas de toda a Terra Média. - Elladan correu os olhos pelo salão. 

- Porque? - Ela perguntou confusa. 

Elrohir sorriu e apontou discretamente para uma das elfas no meio do salão. Elladan estremeceu de leve quando seguiu seu olhar. Elora não conseguia entender que perigos enormes a pequena figura morena poderia oferecer. No entanto quando a elfa olhou diretamente para eles, Elora pode ouvir o primo engolindo a seco. A figura que antes parecia delicada e inofensiva agora era uma fúria raivosa que encarava os gêmeos com olhos assassinos. A gota dágua para Elladan foi quando a taça de vidro dela segurava quebrou entre seus dedos. 

- Me pergunto o que vocês fizeram para enfurecê-la tanto... - Elora virou-se para os primos mas apenas um permanecia ao seu lado. O elfo olhou para o lado e notando a falta do irmão tratou a sair de fininho. 

- Meu querido pai deve estar a nossa procura... sabe como ele se sente em relação a atrasos. - o elfo sorriu antes de partir.

Elora caminhou até uma das mesas cheias de petiscos ainda rindo.  Pegou um pequeno prato e encheu-o de guloseimas, não notara o quanto estava faminta. Viu Emel próxima a uma das janelas e foi ao seu encontro. A elfa estava radiante, tanto pelo vestido acinzentado que reluzia como prata líquida quanto pelo fato de Lindir não conseguir ficar muito tempo afastado. Os dois passaram metade da noite juntos; e na outra metade trocaram olhares. Conversaram sobre a estranha habilidade de Lindir sempre estar por perto quando o banquete principal foi anunciado e Elora seguiu para a mesa principal. 

Sentou-se ao lado esquerdo de Estel enquanto Elrond discursava sobre a importância de celebrar todos os momentos bons, principalmente nestes tempos incertos. Ao final todos ergueram suas taças e brindaram juntos, muitos assentindo e reafirmando as últimas palavras do elfo. 

Assim que todos ficaram distraídos com o banquete e suas conversas internas, Elora virou-se para o primo. 

- Como você está? - Ela disse incerta, não sabendo como chegar ao assunto. 

Estel estava distraído com algo em seu prato e não lhe respondeu. Elora chamou-o novamente, mas só conseguiu sua atenção quando pousou a mão em seu braço tirando-o do torpor. 

- Desculpe, o que disse? - Ele falou. 

- Perguntei como estava. - Elora rodou sua taça com os dedos enquanto buscava as próximas palavras. - Elrond me contou... sobre tudo. Queria falar com você antes, mas ele disse que seria melhor lhe dar um tempo para refletir sobre isso sozinho. 

Elora omitiu que o vira no bosque com Arwen. Não era um assunto que lhe dizia respeito.

Estel a encarou por um longo momento antes de soltar o ar pesadamente e engolir uma grande quantidade de vinho. 

- Não parece real. - Ele finalmente falou. - Acordei como Estel e irei dormir como Aragorn. 

- Conheço a sensação. - Elora comeu um pedaço de sua torta, tentando não remoer novamente as sensações que se esconderam bem no fundo de sua mente. 

- É diferente. - Ele resmungou.

- Não há nada de diferente. Ambos permanecemos no escuro enquanto outros omitiam coisas a respeito de nossos futuros; e, em um belo dia, tudo veio a tona nos atingindo como uma onda gigantesca e nos afogando dentro de nossos próprios medos e inseguranças. 

Estel encarou a toalha da mesa com o cenho franzido. 

- Você não entende... Não há nada verdadeiro em mim, nem meu nome. 

- Você está dizendo tolices! - Elora exasperou-se. - É a mesma pessoa que conheci a meses atrás e que, em breve, irei derrotar gloriosamente em um duelo para poder me vangloriar para sempre. 

Um leve sorriso apareceu nos lábios dele, mas foi-se tão rápido quanto surgiu. 

- Você sabe que Elrond teve razões para esconder sua real identidade. - Elora continuou.

- Sim. Mas uma parte de mim ainda se ressente. 

- Se dê um tempo. Tudo vai se encaixar, ou pelo menos eu espero. - Elora franziu o cenho ao repetir as palavras do tio. Queria muito que fosse verdade.

- Quando tudo isso sobre ser a escolhida de Yavanna se tornou concreto para você? 

Elora abriu a boca para responder mas não conseguiu chegar a nenhuma resposta conclusiva. Fora quando chegara a Mirkwood? Com o choque das diferenças entre o reino da floresta e seu antigo vilarejo? Ou talvez quando Tauriel começara a lhe treinar e Elora sentira o real peso de ter uma espada nas mãos, pronta para tirar uma vida?  

- Acho que ainda não é, não completamente pelo menos. - Ela recostou-se na cadeira. - Ainda há muito a descobrir. Mas estou chegando lá.

- Não sou tão esperançoso quanto você. Não posso governar. - Estel balançou a cabeça. - Não sirvo para ser rei.

- Bom, você nunca tentou antes. Como pode saber que será ruim? - Elora sorriu. 

- Bom senso? - Ele lhe encarou com a sobrancelha erguida. 

- Você recebeu uma educação primorosa, lhe ensinaram tudo o que precisava saber para ser um ótimo governante, mesmo que você não percebesse. Se dê um voto de confiança. Yavanna sabe que eu tento me dar, todos os dias. - Elora olhou para o alto enquanto erguia a taça e tomava um longo gole. 

Toda essa conversa estava começando a lhe afetar. Tudo o que dizia a Estel era um reflexo do que ela própria tentava se convencer. 

- Mas como fazer para os outros confiarem em mim? Para eles serei o herdeiro criado entre elfos, que nunca será realmente parte da cultura humana. Elrond diz que eles são meu povo, mas... este é o meu povo. - Ele olhou ao redor do salão. - A família que conheço desde sempre. 

- Acha que é assim que os elfos me vêem? Apenas como uma forasteira criada por humanos barulhentos?

- O que? Não... 

- Você ainda tem o benefício de ter apenas um sangue correndo em suas veias. Eu tenho dois, sou parte das duas raças mas não pertenço inteiramente a nenhuma. E, contrariando todos os meus medos, ninguém aqui se importou com isso. Nunca me trataram com hostilidade, nem se quer com um olhar atravessado.

- Homens não são iguais aos Elfos. 

- Então ensine-os. Tome isto a seu favor e mostre-os como isso é uma vantagem. 

No momento em que as palavras saíram de sua boca a imagem de Thranduil apareceu em sua mente. Aprendera com ele a pegar as desvantagens e virá-las a seu favor. 

Elora afastou a lembrança e continuou:

- Não é uma decisão que precise tomar agora, ainda há tempo para você. Mas quero que saiba que não importa o que decidir, estarei aqui por você. Antes de sermos primos, antes de você ser Aragorn, somos irmãos. E sempre seremos. 

Estel sorriu de leve enquanto pegava a mão de Elora e a apertava firme. 

- Sempre estarei aqui por você também. - Ele disse. - Para o que precisar.

- Isto é muito conveniente, pois no momento preciso de um parceiro para dançar. - Elora levantou-se. - Ora, vamos! É nosso aniversário, temos a obrigação de nos divertirmos. Esqueça tudo isso, pelo menos esta noite. Sim?

Estel a seguiu, ainda que meio relutante, até estarem em meio aos casais dançando sincronizadamente no meio do salão. A coreografia era animada e a música agradável, não demorou muito para os dois estarem mais relaxados e sorridentes. Ao fim da segunda música, Elora viu Elladan vindo em sua direção. Estel afastou-se quando o elfo pediu a próxima dança.

Ao parar na sua frente, Elladan fez uma reverência exagerada:

- Minha senhora, me daria o prazer de acompanhá-la nesta dança? - Ele ria. 

- Mas é claro, meu senhor. - Elora sorriu, repetindo seu gesto antes de alcançar sua mão e começarem os passos. - Aonde está sua outra metade? Devo confessar que preocupo-me quando os vejo separados. 

- Não há motivos para se alarmar. Não afetamos o equilíbrio do universo. Ainda. - ele piscou. 

Elora gargalhou enquanto o elfo a fazia rodar a sua volta. 

O restante da noite foi agradável e tranquilo, Estel e Arwen saíram juntos um pouco antes de Elora. Após um banho demorado a menina encontrava-se em sua varanda, encolhida em uma das poltronas enquanto observava o céu. Não estava com sono e queria prolongar aquela noite por, pelo menos, mais alguns minutos.

 

 

.o0o.

Emel passou a acompanhar Elora em todos os seus deveres diários, por isso foi uma surpresa quando a menina viu-se sozinha caminhando pelo casarão central. Ela e Lindir deviam estar em algum lugar da biblioteca revisando novamente seu cronograma de lições e treinos para os próximos dias.

Elora estava pensando seriamente em pegar Randír e escapar sorrateiramente para os bosques. Deixaria os dois a sós e ela poderia aproveitar a bela tarde ensolada entre as árvores. 

Estava descendo as escadas quando a voz de Elrond a fez parar. Ele conversava com Estel em uma das salas próximas as escadas. As portas e janelas estavam abertas, fazendo com que as vozes chegassem altas e claras à Elora. 

- Você não deve ter uma esposa, nem assumir compromisso com qualquer mulher, até que seu tempo chegue e você seja considerado digno disso. - Elrond disse calmamente. 

Pelo seu tom, Elora podia imaginá-lo sentado com os cotovelos apoiados na mesa e as mãos cruzadas em frente ao rosto. O semblante sério e impassível. Ela não esperou pela resposta de Estel, subiu novamente os degraus e caminhou silenciosamente para a outra extremidade da construção até a escadaria em espiral que saía diretamente nas cozinhas. 

À noite Elora estava sentada em sua escrivaninha, terminando outra carta para Tauriel quando ouviu leve batidas em sua porta. Assim que a abriu, Estel entrou decidido. 

- Vim me despedir. - Ele disse sem rodeios. 

- O que?! - Elora disse confusa. 

- Partirei amanhã a tarde. Tomei uma decisão sobre o que conversamos.  

- Não estou entendendo. - Elora ainda segurava a maçaneta. 

Estel sentou-se em uma das poltronas e a menina finalmente fechou a porta. 

- Não posso ficar aqui refletindo sobre quem eu sou. - Ele a encarou. - Eu preciso ir até lá fora e descobrir se um dia poderei ser Aragorn, herdeiro de Gondor e Arnor, ou se serei apenas Estel. Viverei entre os homens, aprenderei seus costumes e ouvirei suas histórias. 

- Por quanto tempo? 

- Alguns meses ou anos. Quem sabe.  

- Mas... e Arwen? - Estel a olhou confuso. - Ora, por favor... vocês não são tão discretos quanto pensam.

- É por ela que estou fazendo isso. - Ele respondeu meio abatido. - Provarei meu valor a Elrond, mostrarei que sou digno. 

Elora queria falar alguma coisa para consolá-lo ou dar-lhe esperanças, mas não conseguia. Então apenas aproximou-se, sentando ao seu lado na cama e o abraçou. 

Assim que Estel foi para os próprios aposentos, a menina jogou-se na cama. 

Ela sabia o que esperava o casal no futuro, naquele ponto já havia ouvido muitas histórias sobre humanos e elfos se apaixonando e a grande maioria não possuía um final feliz. 

Todos elfos retornarão às terras imortais algum dia, sem exceções. E Arwen passará a eternidade sofrendo por seu amor perdido... assim como Tauriel. Se escolhesse ficar teria que abrir mão de sua imortalidade e aceitar seu novo destino: experimentar a amargura da mortalidade.  

Ela ficaria presa no tempo, só podendo ter o alívio da morte após ter perdido tudo pelo qual renegada sua linhagem. O que para Arwen significava que ela não poderia morrer, até que tivesse perdido Estel. É uma saída cruel que obriga a pessoa a assistir seu amado envelhecer, tornando-se fraco e adoecendo até que a morte finalmente chegue, enquanto permanece em beleza e juventude; e só podendo partir deste mundo, quando sofresse toda a dor da perda e do luto.  

Arwen e Estel. Emel e Lindir. Dois casais que claramente se amavam desde o primeiro olhar, mas com destinos completamente diferentes.  

Não haviam empecilhos entre Emel e Lindir, a não ser a timidez mútua que parecia impedir que confessassem seus sentimentos ao outro, eles tinham a eternidade ao seu lado. Enquanto Arwen e Estel teriam que provar-se e abrir mão de muitas coisas para vislumbrarem a esperança de um futuro juntos. 

Mas mesmo com um futuro perfeito ou um inconstante, Elora os invejava. 

Bem ou mal haviam encontrado sua outra metade e ela talvez nunca encontre. 

Sua mente vagou novamente para Thranduil. Mas ao invés de afastá-lo como sempre, deixou a imagem do elfo tornar-se mais clara: O rosto impassível com um leve sorriso no canto dos lábios; os olhos azuis penetrantes que sempre pareceram enxergar através de sua alma; o torso firme com músculos delineados; seu cheiro... 

Como seria beijá-lo? Qual seria a sensação de ter os braços dele envolta de seu corpo? 

A ideia a agradou mais do que gostaria de admitir. 

Não havia sentido uma atração assim antes. Quando fechava os olhos, podia imaginá-lo perfeitamente na sua frente. Ouvia sua voz e sentia seu cheiro. Era loucura! Não devia perder tempo imaginando coisas que nunca acontecerão.

Elfos amam apenas uma vez e Thranduil tem sua esposa. Ela pode ter morrido nesta vida, mas eles se encontrarão novamente quando os elfos retornarem à Aman. E ele certamente a ama profundamente já que arrisca destruir a paz com os anões para recuperar uma lembrança dela. 

Elora não podia iludir-se com aquele presente estúpido. Não significava nada, não podia. 

Não há espaço em seu futuro para um sentimento não correspondido. Tinha que esquecê-lo e focar suas atenções em seus treinamentos. Não pedira por seus dons, mas os recebera. E tinha que começar a colocá-los em primeiro lugar.

Gandalf tinha razão, há sempre um sacrifício a ser feito.


Notas Finais


Mais um capítulo no ar! Espero que gostem do rumo que a história está tomando. Em breve Elora começará de fato sua jornada! :D


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