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História Melinyel - Capítulo 13


Escrita por: Illisse

Capítulo 14 - Capítulo 13


A visão dos grandes Portões de Rohan surgindo no horizonte não poderia ser mais oportuna. 

Já estavam viajando há três semanas, acampando em meio as árvores e revezando-se como vigia, ambas precisavam de uma boa refeição quente e uma noite completa de sono. Graças a Tauriel, viajavam com o passo acelerado. 

Partindo de Bronnan o caminho mais rápido a Minas Tirith seria seguir para o outro lado das montanhas nebulosas, margeando Mirkwood e Lothlórien ao Sul, mas para isso teriam que aproximar-se muito de Rivendell para tomar a passagem segura através das montanhas; e Elora não queria arriscar ser descoberta. Então seguiram pelo caminho mais longo. 

Em um ritmo de viajem calmo e despreocupado, levariam pouco mais de dois meses para ir e outros dois para retornar, mas como Tauriel queria encurtar o tempo da jornada o máximo possível viajaram todos os dias e grande parte das noites, evitando ficar muito tempo em um único local. De acordo com a elfa, neste ritmo exaustivo levariam a metade do tempo para chegar à Cidades dos Reis. 

Elora estava exausta e faminta, não dormia fazia dois dias e se Tauriel quisesse seguir outra semana neste ritmo, a menina precisaria de algo mais substancial em seu organismo do que frutas e legumes. Talvez alguns pães salgados ou tortas suculentas e bem quentinhas...

A elfa torceu o nariz quando Elora levantou a possibilidade de pararem por um dia ou dois em Rohan, mas cedeu quando viu as olheiras enormes e o cansaço aparente no rosto da menina. Tauriel as vezes esquecia que, mesmo com todo o poder, Elora ainda era apenas uma humana.

A menina estava imaginando o longo banho que tomaria quando Tauriel ergueu a mão em punho, comandando que parasse. Um relâmpago ricocheteou, iluminando o crepúsculo enegrecido. 

A elfa olhava para os lados desconfiada, tentando sentir alguma coisa no ar. Seja o que for, os cavalos também sentiam. Randír balançava a crina, irritado. Elora acariciou-o no pescoço tentando acalmá-lo. Ia perguntar a Tauriel o que estava  havendo quando a elfa virou-se para ela e, em silêncio, indicou com a mão para que se escondesse nos arbustos próximos. 

A menina desmontou de Randír e apressou-se até o local, fazendo com que as folhagens crescessem até que pudessem também escondê-lo. Outro trovão ressonou quando a garoa começou a cair. 

Elora não queria que Tauriel corresse perigo sozinha, mas havia prometido que iria obedece-la e tinha que fazê-lo. Ficou ali, parada na chuva em silêncio com a respiração acelerada até ouvir a voz da elfa chamando-a. 

- O que foi? - Elora perguntou, alto o suficiente para que nem a distância ou a tempestade impedisse a elfa de escutá-la. 

Tauriel correu em sua direção, puxando o corcel branco pelas rédeas, não estava com uma expressão muito boa.

- Achei algumas pegadas. Wargs... - Ela franziu os lábios - Acho que ainda estão frescas, a chuva não nos deixará ter certeza. Devem ter passado por aqui há quatro ou cinco dias. 

- Tão perto da cidade? - Elora ajeitou o capuz na cabeça, olhando em direção aos portões. Estavam próximas o bastante para que os vigias no alto das torres pudessem ter visto os lobos selvagens. - Há mais algum rastro? Houve alguma batalha?

- Não. Apenas as pegadas indo para o norte. Havia sangue, mas era de animal; alguma presa pequena. Enviarei uma mensagem à Mirkwood, para caso apareçam pelas redondezas. - Tauriel subiu no cavalo, guiando-o para Rohan, Elora montou novamente em Randír e seguiu-a. - Vamos nos apressar, a tempestade vai piorar em poucos minutos.

 

 

Assim que passaram dos portões Elora desejou que tivessem pensado em trocar de roupas. As orelhas pontudas de Tauriel poderiam ser escondidas facilmente, mas as vestimentas élficas não eram muito sutis. Eram seguidas de perto pelos olhares curiosos e cochichos dos guardas e alguns poucos cidadãos dispostos a andar nas ruas enfrentando a chuva. 

Muitas das pessoas do Sul não estavam acostumadas a ver elfos viajando por aqueles lados, alguns dos mais novos nunca chegaram a ver um de fato. Sua curiosidade, embora indesejada, era compreendida. 

Tauriel mantinha o olhar no caminho a frente, sem dar muita atenção.

Chegaram a parca estalagem após moverem-se por algumas esquinas. Era uma construção rústica em madeira de dois andares apenas, também possuía um corcel, símbolo da cidade, esculpido em sua porta. 

Quando entraram, o estalageiro, um homem robusto com sardas avermelhadas salpicadas pelo rosto redondo, distribuía baldes pelo chão onde goteiras pingavam intensamente. Os outros que estavam comendo ou bebendo perto do bar silenciaram-se enquanto as duas tiravam as capas molhadas e escorriam os cabelos. Elora sentiu as bochechas corarem, por que eles não podiam ir cuidar as próprias vidas ao invés de ficarem encarando-as desse jeito?

Podiam ao menos disfarçar. 

O estalajeiro saudou-as com uma expressão surpresa, que logo modificou-se para assustada e, logo em seguida, curiosa. 

Elora empertigou-se, tentando parecer confiante e capaz - mesmo que sua aparência estivesse deplorável, ia tratar da negociação quando Tauriel deu um passo a frente.

- Boa tarde senhor, gostaríamos de um quarto com duas camas por favor. - A elfa falou ao homem rechonchudo meneando a cabeça.  

- Muito boas tardes senhoras. - Ele sorriu, andando apressadamente até uma parede contendo várias chaves penduradas. O homem pegou uma e estendeu-a para Tauriel. -  Três moedas a noite.

A elfa deu um pequeno sorriso de lado, encarando o homem nos olhos. Ele possuía um bom senso de preservação pois deu um passo para trás.

- Por que não fazemos assim? - Tauriel passou a mão na bochecha esquerda, retirando calmamente um pedacinho de folha que grudara em seu rosto. - Te dou cinco moedas e você  inclui o jantar desta noite, dois banhos nas termas e alguém para checar os cavalos durante a noite? 

- O que? - O homem riu nervoso com o rosto avermelhado. - Não posso fazer por menos de oito moedas. - Ele cruzou os braços. A elfa continuou em silêncio. - Tudo bem, sete moedas. 

Tauriel não moveu os olhos do rosto do homem. 

Elora olhava de um para outro impaciente, queria apenas dormir e não acordar por duas semanas. O estalageiro finalmente cedeu e Tauriel lhe entregou as cinco moedas sorrindo.  

- Estão em Rohan para negócios oficiais? - Ele ergueu a sobrancelha curioso enquanto guardava-as em uma pequena bolsa de couro.

- Estamos apenas de passagem. - Tauriel respondeu. 

O homem assobiou e um jovem apareceu para guiá-las ao quarto. 

O rapaz era magricelo e tinha os cabelos pretos como carvão, também tinha um apresso por conversar. Elora e Tauriel tomaram conhecimento de todos que haviam chegado e partido, além dos acontecimentos na cidade nos últimos dois meses. Como haviam imaginado, Rohan não notou a aproximação dos Wargs. Tauriel mencionou para ele o que haviam achado, tinha certeza que ele saberia espalhar o alerta o mais eficientemente possível. 

- Não sabia que tinha tanta habilidade de negociação. - Elora disse, jogando as bolsas na cama. 

- Eu lhe disse que já havia andado um pouco por aí. Pode ir banhar-se primeiro, tenho que garantir que o homem cumpra o acordado. 

- Por favor, não faça com que o homem tenha um ataque do coração. 

A menina pegou uma das bolsas com roupas limpas e encaminhou-se para o primeiro andar. Quando retornou, o jantar já estava na pequena mesa ao canto do quarto, Elora fechou os olhos quando sentiu o cheiro delicioso chegar até ela. Comeram em silêncio, cansadas demais para planejar a próxima semana. 

A elfa seguiu para o primeiro andar e Elora atirou-se na cama, adormecendo quase instantaneamente embalada pelo barulho constante da chuva contra a janela. 

A sacudida de leve em seu ombro, agora já tão familiar, fez com que a menina xingasse Tauriel. Ouviu uma risada e abriu os olhos com dificuldade. 

Tauriel já estava completamente vestida e com o cabelo trançado complexamente. 

- Já lhe disse que as vezes odeio essa perfeição élfica? - Elora disse esfregando os olhos, incomodados pela claridade. 

- Acho que já ouvi algo do tipo e certamente ouvirei novamente. - Sorriu. - Agora vista-se, temos muito o que fazer antes de seguir viagem. 

- Está muito cedo. 

- Já passou do meio do dia. Dormimos o suficiente. 

A menina rolou os olhos, jogando-se de costas no colchão sabendo que perdera a discussão. 

Vestiu-se deixando os cabelos soltos, não estava com muita paciência para escová-los. Juntaram os pertences rapidamente e seguiram para a recepção, mais uma breve parada nos mercados para comprar mantimentos e poderiam seguir viagem. 

Claro que com os dons de Elora não precisavam estocar tanto, mas ainda sim era melhor prevenir.

 

 

.o0o.

Chegaram a Minas Tirith antes do previsto. A manhã estava clara e sem nenhuma brisa para amenizar o calor. 

Ficaram alguns minutos observando a cidade de longe, era majestosa. Um brilho pálido na encosta da montanha. A cidade e seu povo ostentavam uma altividade singular e a diferença entre classes era visivelmente clara. Enquanto uns encostavam-se maltrapilhos entre ruelas mal iluminadas, outros caminhavam em seda adornados com jóias recebendo sol ao rosto e tudo o que a Minas Tirith tinha a oferecer de melhor. 

Tauriel foi tratar da hospedagem enquanto Elora perambulava pelas ruas próximas. A elfa tinha tudo sob controle e não precisava da menina ao seu lado para negociar com o povo dos homens, mas talvez eles precisassem de Elora para amenizar a intensidade de Tauriel. 

As casas eram estreitas, tão perto uma das outras que era difícil saber aonde uma começava e outra terminava; e todas eram feitas com a mesma pedra branca polida. 

Elora permaneceu sentada em um dos bancos próximos a estalagem. Já havia recontado suas moedas duas vezes, tinha uma boa quantidade para os mantimentos da viagem de volta e ainda comprar alguma lembrança da cidade e um presente para Tauriel - a elfa merecia por ter lhe aguentado durante o último mês.

- Podemos ir. - Tauriel atravessou o arco de madeira da estalagem, ajeitando a bolsa transversal em seu corpo. 

- Você demorou. - Elora seguiu-a. - Por favor, não me diga que fez o pobre homem chorar. - sorriu jocosa.

- Infelizmente não, mas há sempre o amanhã. - Tauriel sorriu de lado.

Caminharam até chegarem a uma pequena feira de especiarias, contendo temperos e ervas de todos os tipos. Atravessaram-na em poucos minutos, chegando ao grande mercado da cidade. Vendedores mostravam tecidos, jóias, animais e tudo o que se podia imaginar. 

Elora olhou animada para as tendas que se estendiam até onde os olhos podiam ver, nunca havia visto um mercado daquele tamanho. Até Tauriel olhava ao redor admirada.

Combinaram de se encontrar na fonte em quatro horas e cada uma seguiu uma direção. 

Elora olhava todas as barracas por que passava, mas não tinha ideia do que comprar para Tauriel; nada que havia ali comparava-se ao trabalho élfico e não queria dar algo a Tauriel que ela encontrasse melhor confeccionado em Mirkwood ou Lothlórien. O que reduzia e muito as opções. 

Elora embrenhou-se ainda mais pelas tendas, ofereciam-lhe capas, vestidos e outros itens desnecessários no momento quando um grunhido baixo chamou sua atenção.

Passava por uma barraca de lã, com três homens musculosos no centro da tenda logo atrás - rodeando uma caixa grande no chão. Elora parou na entrada quando ouviu outro lamento, agora mais alto, ecoando pelo espaço. Um dos homens percebeu sua aproximação e foi em sua direção.

- Seja bem vinda! Seja bem vinda! Temos a melhor lã desta região, muito mais resistente e suaves do que as outras deste mercado. - Ele falava olhando para a tenda da frente, onde uma mulher de meia idade lhe fazia careta.

- Sim, posso ver... são bem macias. - Elora passava a mão pelo mostruário quando fingiu notar pela primeira vez a caixa na tenda. - O que tem ali? 

Ele seguiu seu olhar e franziu o cenho. 

- Nada de mais. Uma raposa... mas não se preocupe, está bem presa. 

- Você também vende animais? 

- Não. Ela matou duas ovelhas ontem, antes de a capturarmos. - bufou. - A trouxemos para os jogos. 

- Jogos?

Ele assentiu, enrolando um novelo. 

- Hoje é o primeiro dia do festival em honra ao governante regente, teremos uma caçada ao entardecer. 

- Ela parece estar machucada. Não será justo torná-la um alvo. - Elora exasperou-se. 

- Minhas ovelhas também não tiveram um fim justo. - irritou-se. - Se não for comprar nada é melhor ir andando. 

- Eu quero comprar sim. - Ela procurou as moedas na bolsa. - Quero o animal. 

 

 

Era muito mais fácil andar nos corredores lotados do mercado segurando uma raposa. 

Todos abriam caminho com medo de serem mordidos; Elora recebia muitos olhares de desaprovação, mas ela não se importava. Caminhava confiante com o animal em seu colo. 

Foi difícil persuadi-la a sair da caixa, ainda mais difícil a fazê-la aceitar ser carregada, mas Elora acabou convencendo-a que não lhe oferecia perigo. O melhor de tudo fora ver os rostos pasmos dos homens enquanto afastava-se com o animal nos braços. A raposa podia ter causado a morte das ovelhas mas, por mais errado que isso pareça, é a natureza. Elora não podia julgá-la por sentir fome.

A raposa agora descansava a cabeça no ombro de Elora, resmungando ocasionalmente pela pata machucada. Afastava-se para a parte mais calma a fim de cuidar do ferimento, comprou um pouco de carne crua e foi sentar-se próxima a fonte. Deitou a nova amiga no chão e foi vasculhar sua bolsa atrás de algo para fazer um curativo. Achou uma tira de pano e o vidrinho com essência de Centella, era o único e esperava que ela e Tauriel não precisassem no caminho de volta. Lavou a ferida com um pouco de água antes de aplicar o líquido esverdeado, recebendo um chiado de desaprovação. 

A raposa mostrava-lhe os dentes com as orelhas deitadas. 

- Eu avisei que iria arder. - Elora encarou-a sem deixar-se intimidar. - Agora fique quieta, preciso terminar o curativo. 

A raposa deitou novamente a cabeça no chão, Elora podia jurar que viu-a rolando os olhos. 

Aplicou o restante de Centella sobre o machucado, amarrando o tecido em seguida. Ajudou-a a sentar-se e colocou o saco com os pedaços de carne à sua frente. Elora observou-a comer. Seu pelo era volumoso e alaranjado, tinha os olhos cor de âmbar e uma pequena mancha preta perto do focinho. A raposa devorou a carne rapidamente, devia estar faminta. Certamente havia caçado as ovelhas com o bando e fora aprisionada antes de usufruir da presa. 

- Como fez isso? - Falou uma menininha parada há alguns passos de distância. 

Tinha as roupas coloridas meio puídas e remendadas e olhava para Elora com um espanto maravilhado.

- O que? - Perguntou sorrindo, já sabendo a resposta. 

- Fazer ela ficar quietinha assim. - A menina aproximou-se desconfiada. 

- Ela sabe que não lhe farei mal e que estou tentando ajudá-la. 

- Você pode mandar ela fazer outras coisas? - A menina animou-se com a possibilidade. - Já vi um carrocho que saltava argolas! 

Elora encarou-a, analisando a melhor forma de explicar à menina.

- Qual o seu nome? - Elora perguntou. 

- Alannis. 

- Eu não mando nela, Alannis. - Disse calmamente, como sua mãe costumava lhe falar. -Não devemos tentar conter ou forçar animais selvagens a nos obedecerem, é contra a natureza livre deles. Certos animais aceitam a companhia humana quando criam um vinculo com alguém, uma ligação rara e especial de amizade e companheirismo... não de posse. 

- Mas os cachorros...

- São animais domesticados, alguns pelo menos... - Elora lembrou-se do cão do padeiro em Alórien. O animal era tudo, menos domesticado e comportado. - Eles nascem entre os humanos há gerações, acostumaram-se conosco. Assim como os gatos ou os animais de fazenda. 

Alannis encarou o rosto atento da raposa silenciosamente, depois deu um passo a frente.

- Você é muito bonita. Espero que melhore logo... 

- Pode tocá-la se quiser. - Elora sentia a calma emanando do animal. - Ela gostou de suas palavras.

A pequena sorriu levemente, levantando a mão um pouco relutante. Elora pegou-a, colocando-a gentilmente sobre o pelo macio do pescoço do animal. Alannis sorriu, despedindo-se antes de voltar correndo por onde veio. 

Elora acariciou a orelha da raposa, sentindo seu contentamento. 

Era diferente sentir as sensações que emanavam da bola de pelo alaranjada para as de Randír. Elora já estava acostumada com o corcel há anos, esta era a primeira vez que tentava usar seus poderes com outros animais. E veio-lhe muito mais naturalmente do que seu dom com a terra. 

Elora arrependeu-se por ter passado tanto tempo remoendo-se por não conseguir evoluir rapidamente com a flora, ao invés de experimentar o que mais podia fazer.

A menina pegou a bolsa, examinando as poucas moedas que sobravam. 

O comerciante havia lhe cobrado dez moedas pela raposa, certamente achando que desistiria pelo valor absurdo. Mas não tinha como Elora dar as costas e ir embora sabendo o que fariam com ela. Agora restavam-lhe apenas sete moedas e ainda não havia achado nada para Tauriel. 

- Ora, Ora. 

Uma sombra surgiu sobre a menina, acompanhada de uma voz grave que Elora reconheceu de imediato. Ficando tão surpresa quanto o mago que lhe encarava com o cachimbo na boca.

- Gandalf!- Ela levantou-se, indo abraçá-lo.  

- Que coincidência encontrá-la aqui. Estava indo a Rivendell para vê-la. 

- É uma longa história. - Elora sentiu as bochechas avermelharem. 

- Uma muito boa imagino. - Piscou. 

Elora riu e os dois sentaram-se na borda da fonte. Gandalf e a raposa se encararam.

- A salvei de um comerciante que queria colocá-la como presa na caçada de hoje. - Elora explicou.

- Um dia animado então. - Ele baforou o cachimbo, olhando em volta. - Está viajando sozinha? - Perguntou desconfiado com a sobrancelha arqueada.

- Não, Tauriel está me acompanhando. Queria ver o lugar aonde meus pais se conheceram. 

Gandalf levantou-se, ajeitando o chapéu pontudo. 

- Está no lugar errado. Venha, vou-lhe mostrar o correto. 

Elora levantou-se, colocando a bolsa e pegando a raposa novamente no colo. Teve que correr para alcançar o mago, seguiram pelas ruas estreitas subindo ao terceiro nível, até um espaço circular aberto. Haviam algumas pessoas dançando e outras pendurando flamulas e ajeitando mesas. Preparavam a praça principal para as festividades da noite. 

- Também era o Festival do regente naquele dia. Eles passaram a tarde inteira aqui. Berenna era uma excelente dançarina, movia-se tão fluidamente quanto a água.. já Elros, - O mago riu, com os pensamentos longe - tinha dois pés esquerdos. 

A menina encarou os casais dançando, imaginando sua mãe e Elros entre eles. Sorrindo felizes um para o outro. O que teriam dito? Como sua mãe reagiu quando descobriu que ele era o rei disfarçado? 

Não teria resposta para estas perguntas, assim como tantas outras. 

- Obrigada, Gandalf. - Elora enxugou os olhos marejados, virando-se para o mago. 

Voltavam pelo corredor estreito quando Elora quebrou o silêncio:

- O que o trouxe a Minas Tirith? 

- Tinha assuntos a tratar com o regente. Infelizmente não podia mais adiar... 

- O conhece? Podemos ir ao palácio?

- Não é uma boa ideia. É melhor que você não atraia muita atenção. 

- Só olhar de longe então? - Elora deu o melhor olhar suplicante que pôde.

Gandalf bufou e guiou-a para as escadarias que levavam ao último nível.

Pararam há alguns metros dos portões, onde podiam ver apenas um pedaço do palácio. Elora imaginou Estel, ou melhor Aragorn, governando entre as paredes de mármore branco. 

Não importa o que ele achava, Elora tinha certeza que o primo seria um rei muito melhor para Minas Tirith do que o atual governante regente. Talvez Estel também tivesse parado neste mesmo lugar e observado o palácio, perguntando-se se poderia pertencer a este lugar. 

Ele viajava com Légolas, então era provável que tivesse passado pela cidade que um dia seria o ponto central de seu reinado.

 

 

.o0o.

Gandalf e Elora retornaram à fonte, Tauriel chegaria em um hora ou menos e então todos poderiam ir jantar juntos. 

A raposa dormia calmamente ao lado de Elora, que dividia um saquinho de doces com o mago. A menina percebeu que Gandalf lhe encarava, esperando que ela falasse. Elora não sabia como, mas o mago parecia ver as palavras se formando na mente da menina. 

Elora então suspirou e falou o que vinha tomando seus pensamentos neste mês de viagem. 

- Vocês estavam errados. - Disse ela. - Você, mamãe e Lord Elrond. Disseram que eu precisava ficar em Rivendell para desenvolver meu dom, mas sinto que o conheci muito mais nesta viagem do que no tempo que fiquei por lá. 

Gandalf mastigou um doce concentrado.

- Você precisa de raízes, criança... Disso tenho certeza; talvez apenas não seja aonde achamos que seria. - O mago deixou os doces de lado, alisando a longa barba branca. - Pense desta forma: se você já consegue fazer tanto, imagine quando se conectar verdadeiramente com a terra. 

- E o que serei capaz de fazer?

- Eu não sei, você que irá descobrir. - Gandalf lhe deu uma piscadinha brincalhona.

Elora achava incrível a forma com que ele falava tanto, mas no fundo não dizia nada. Será que todos os magos falavam de forma enigmática e evasiva?

- Suas habilidades de mentorear não melhoraram muito, não é? - Ela riu, sendo acompanhada pelo mago. - Fiquei algumas semanas em Mirkwood antes de ir para Rivendell, acha que isto teve alguma influência?

- A magia não é influenciada facilmente. - Disse jogando um docinho de amora na boca. - Reflita um pouco sobre isso, achará seu caminho uma hora ou outra. 

- Eu... eu não sei se quero achar.

Elora falou evitando o olhar curioso de Gandalf. Ela sentiu um arrepio correr por seu corpo quando imaginou-se vivendo na floresta sombria, nos domínios de Thranduil. Sentindo sua presença nos corredores, seu olhar intenso sobre ela... Não, Elora não poderia ficar lá. 

O mago ainda a olhava, esperando que continuasse. Elora então deu-lhe seu outro motivo:

- Meu tio sofrerá se eu deixá-lo para viver em outro lugar. 

- Mas se ficar, você sofrerá. Não deve fazer algo que lhe trará tristeza apenas agradar outras pessoas. Lord Elrond a ama, ele compreenderá se isso for o melhor para você. - Gandalf a encarava profundamente. - Talvez sinta-se atraída por Mirkwood por que sempre esteve destinada a ir para lá. 

Elora sentiu o peso das palavras do mago atingi-la. 

Será mesmo? 

E se não tivesse sido coincidência? Lord Elrond poderia tê-la deixado em Lothlórien mas levou-a à floresta. Elora lembrou-se da tristeza profunda que sentiu quando viu a devastação do local, o aperto no coração que quase a impedia de respirar. 

- As vezes... eu sonho com a floresta. - A menina acariciou a cabeça da raposa, buscando conforto. Sentindo-se exposta ao falar sobre isso em voz alta. - As árvores mortas com seus galhos retorcidos e cheios de teias de aranha. Sempre acordo com um peso no coração.

De início imaginava que havia alguma relação com Thranduil mas após as palavras de Gandalf, ponderou se não seria algum sinal de Yavanna.

-  Vá para a floresta novamente. Visite Radagast, ele é excêntrico mas terá muito a lhe ensinar tenho certeza.

Gandalf já havia lhe falado sobre o Mago Castanho, Aiwendil como era conhecido pelos elfos, o Istari escolhido por Yavanna para vir à Terra Média. Elora sentiu a esperança aumentar, ele poderia ajudá-la.

- Eu irei. - A menina sorriu.

- Ótimo! - Gandalf disse contente. - Ele reside em Rhosgobel nos vales do Anduin. Fica no beiral oeste de Mirkwood, entre Carrock e a Floresta da Velha Estrada. Tauriel pode levá-la, os elfos da floresta sabem o caminho.

- Lord Gandalf! - Uma voz ansiosa chegou aos ouvidos dos dois, que levantaram a cabeça a tempo de ver um dos soldados de Minas Tirith chegar correndo com um pequeno rolinho de papel nas mãos. 

O mago levantou-se, pegando a mensagem e agradecendo o soldado em seguida. Elora observou-o ler o pergaminho, Gandalf franziu a testa parecendo contrariado. 

- Há algo errado? - Elora indagou.

- Nada de mais, o mesmo de sempre.  - Gandalf bufou ajeitando o chapéu e pegando seu cajado. - Infelizmente terei de deixá-la abruptamente. Mas nós nos veremos novamente em breve.

- Tenha uma boa viagem. - Elora disse lhe estendendo o cachimbo, antes que o mago o esquecesse. 

- Avisarei a Elrond que cruzamos nossos caminhos e lhe instruí a passar algum tempo sob os cuidados de Radagast. 

- Obrigada Gandalf, por tudo. - Elora levantou-se abraçando o mago. 

Quando separaram-se, Gandalf colocou uma mão no ombro da menina. 

- Não é bom viver com dúvidas. Nem com as perguntas que começam com 'e se'. - Ele exasperou-se. - Essas são as piores.

Elora ainda estava rindo quando o mago desapareceu entre a multidão que caminhava apressada pelo mercado. 

Tauriel apareceu em seguida, comprara alguns itens estranhos por pura curiosidade, prometendo a Elora que os mostraria quando chegassem na estalagem. Enquanto caminhavam, Elora aproveitou para atualizar a elfa sobre os últimos acontecimentos, o resgate da raposa e o encontro com Gandalf. 

Tauriel ouvia a tudo concentrada, perguntando-se por que aceitara a ideia de separarem-se em primeiro lugar. A elfa entendia os motivos que levaram a menina a salvar o animal, mas Elora não deveria ter desafiado o homem que a capturara. Ele poderia tê-la ferido! Como explicaria isso a Lord Elrond?

 

 

- Você deveria ter me procurado. E então lidaríamos com eles.

Elora reprimiu a vontade de rolar os olhos. Ainda estavam na metade do caminho para a estalagem e já era a terceira vez que Tauriel reclamava sobre o assunto. 

- Se houvesse algum perigo, eu teria saído de lá o mais rápido possível. - Elora repetiu, ajustando a raposa em seu braços. - Eram apenas comerciantes mal humorados.

Chegaram a estalagem sem tocar novamente no assunto. 

Deixaram as bolsas e o animal descansando no quarto enquanto desciam para comer. O cheiro apelativo da comida fez o salão encher rapidamente. Os que não seguiam para a caçada, procuravam o local para jantar antes das festividades da noite. 

Tauriel e Elora dividiram uma torta suculenta de batatas e queijo, pedindo duas grossas fatias da sobremesa de maçã antes de retornarem ao quarto. 

O novo dia chegou calmo, não havia mais música ou falatório nas ruas. Estava ainda muito cedo para todos acordarem depois das celebrações do dia anterior. Enquanto Tauriel acertava as contas com o estalageiro, Elora seguiu aos estábulos no final da rua. 

Apesar de não ter ficado muito feliz, Randír aceitou a raposa em seu dorso quando Elora explicou-lhe que seria apenas até saírem da cidade. Ao contrário do cavalo, a raposa mostrava-se muito confortável. Elora riu acariciando ambos. Deu uma moeda para o cavalariço, puxando os dois cavalos para a rua. 

Aguardava por Tauriel encostada em uma das paredes de madeira dos estábulos quando viu o rosto familiar se aproximando, era a menina curiosa do dia anterior. 

- Olhe mamãe, - a menina sorria para a mãe apontando para Elora - é a moça que lhe contei. A que fala com os animais. 

- Olá Alannis. - Elora sorria com o entusiasmo da menina. Não se deu ao trabalho de negar a afirmação, poucos acreditariam que ela pudesse de fato falar com os animais. E em todo caso, ela e Tauriel já estavam de partida.

As duas acompanhavam uma caravana de carroças, eram comerciantes de outra cidade que vieram à Minas Tirith apenas para o festival. 

A mãe da menina parou sua carroça carregada e aproximou-se com a mão estendida, a qual Elora pegou cumprimentando-a. 

- Sou Brytta, minha filha falou muito sobre você ontem. 

- Elora. Fico feliz em saber que causei uma impressão tão boa. 

- Você ainda está com ela? - Alannis perguntou olhando para o chão em volta. 

Elora assentiu, mostrando-lhe a raposa nas costas de Randír. 

- Vou escoltá-la em segurança até os portões da cidade. 

- Posso me despedir? Não vou encostar nela, prometo.

A raposa ouvia a conversa, mas Elora não sentiu nenhum impedimento de sua parte. O animal estava apenas entediado.

Elora assentiu e a menina foi correndo ate Randír.

- Poucos que fariam o que você fez. - Brytta falou, olhando-a admirada. - Viajo muito, mas faz tempo que não vejo alguém que se importe tanto com outra pessoa além de si mesmo. Ainda mais com um animal. - A mulher sorriu. - Alannis gostou de você e fiquei muito contente com o que você lhe disse. É difícil colocar alguma coisa naquela cabecinha agitada. 

- Ela é uma boa menina. 

As duas viraram-se para Alannis que agora encontrava-se de frente para Randír e o cavalo de Tauriel.

Elora olhou novamente para Brytta e sua carroça cheia de tecidos e bolsas.

- O que você comercializa? 

- De tudo um pouco, - Disse - está interessada em algo em especial?

- Gostaria de dar um presente a uma amiga, mas é bem difícil escolher algo para ela. 

- Conte-me sobre ela. 

Brytta animou-se, correndo até a carroça.

Após Elora terminar seu relato, a mulher separou as opções de Elora em um lenço de veludo azul marinho. Olhava as peças, mas uma em particular chamou sua atenção. Era um adorno de cabelo, forte, liso e comprido com uma pedra azul brilhante no topo. Lembrava uma adaga e Elora tinha certeza que Tauriel poderia fazer qualquer coisa se tornar uma arma.

Elora pegou-o, rodando-o entre as mãos. Se a elfa fosse desarmada, ainda teria este pequeno trunfo escondido.

- É lindo e pode machucar muito... combina bem com ela. - Elora riu enquanto pegava as moedas em sua bolsa e guardava o objeto em segurança. 

Alannis e a mãe despediram-se em seguida, apressando o passo para alcançarem o resto do grupo. Elora ainda acenava para a menininha quando ouviu Tauriel reclamando as suas costas. 

- Você demorou. - Disse Elora, caminhando até os cavalos.

- Todos decidiram ir embora na mesma hora. Foi uma confusão. - Tauriel pegou as rédeas de seu cavalo, enquanto Elora ria seguindo-a rua abaixo. 

 

 

Alcançaram em pouco tempo a campina que margeava os muros a leste da cidade. A raposa chiou contente quando a menina colocou-a no chão, retirando o curativo. A pata ainda não estava totalmente curada mas já estava bem melhor, permitindo-a andar sem sentir muita dor. Elora cogitou leva-la na viagem, pelo menos até que estivesse totalmente curada, mas logo desistiu. Não a separaria de seu bando. 

- Tenha uma ótima vida. - Elora afagou a cabeça e o pescoço da raposa antes de levantar-se voltando aos cavalos. 

Elora subiu em Randír, olhando para trás quando ouviu o uivo. A bola de pelos também estava se despedindo. A menina meneou a cabeça e o animal foi caminhando com dificuldade em direção ao bosque que surgia ao norte.

- Não se preocupe, ela vai ficar bem. - Tauriel disse quando viu o semblante preocupado da menina. 

- Eu sei, é só que... vou sentir falta dela. - Elora subiu rapidamente em Randír.

- Talvez a veja novamente. 

- Quem sabe. Ei, tenho uma coisa para você! - Elora animou-se. - Um agradecimento por continuar sendo minha amiga, mesmo depois de todos os problemas em que já a coloquei. - Puxou a pequena bolsa para seu colo, procurando o presente. Quando o achou, estendeu-o à elfa. Olhando-a em expectativa. - Espero que goste. É um adorno de cabelo, mas se você for desarmada ainda pode enfiar isso no olho de alguém. 

As duas riram. Tauriel rodou o objeto nas mãos admirada.

- É lindo, obrigada. - A elfa sorriu. - Não era necessário, mas obrigada. - Tauriel desferiu alguns golpes em um oponente imaginário, antes de colocá-lo satisfeita em seu cabelo.

As duas seguiram pela estrada de chão em silêncio. O sol estava encoberto pelas nuvens, mas ainda sim o dia estava bonito e quente. Para a infelicidade de Elora, Tauriel informou que seguiriam no mesmo ritmo em que vieram. Iriam juntas até Rhosgobel, onde Elora ficaria sob os cuidados de Radagast e Tauriel retornaria para o reino de Thranduil.

Elora surpreendeu-se quando percebeu que a ideia de entrar novamente em Mirkwood não lhe deixava receosa. 

Entrar nos domínios de Thranduil não implicava vê-lo ou ter de lidar com ele. A cabana de Radagast ficava afastada do reino, Elora ficaria isolada naquela parte até retornar à Rivendell. 

Por outro lado, sentia a ansiedade corroer seu peito. As palavras de Gandalf voltando insistentemente à sua cabeça. 

Se o mago estivesse certo, ela teria coragem de deixar Rivendell para viver em Mirkwood?

 


Notas Finais


Elora está voltando para Mirkwood (yay!). Agora as coisas vão começar a ficar interessantes! rsrs

Coloquem nos comentários o que vocês acham que vai rolar no próximo capítulo! bjbj


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