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História Melodia sociopata - A filha da bailarina


Escrita por: Jingotbelts

Notas do Autor


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Capítulo 2 - A filha da bailarina


Fanfic / Fanfiction Melodia sociopata - A filha da bailarina

— Pode contar desde o início, por favor? O tanto que você conseguir lembrar, desde o começo. O que exatamente trouxe vocês a este ponto?
















Sempre era assim; Eu chegava em uma nova cidade, eu fazia novas amizades e todas acabavam do mesmo jeito. Definitivamente, nunca consegui me sentir mal, mesmo depois de todas elas. Eu sabia que havia um culpado, mas nao conseguia parar de descontar naquelas garotas inocentes. Chegava a ser divertido, parecia que sempre que eu as torturava eu estava fazendo alguma coisa muito certa, era como se os culpados sofressem duas, três vezes mais com aquilp tudo.

Meu irmão não era tão diferente. Talvez até fosse pior do que eu, considerando que seus métodos eram friamente silenciosos na presença de suas vítimas. Ele as fazia pensar que poderiam ir embora após cumprir uma ou duas humilhações. Eu fazia um espetáculo, chegava a ver coisas algumas vezes, como luzes coloridas ou flashes de pessoas ao meu redor. Eu me divertia com sua dor, seus gritos enchiam meu peito de felicidade e adrenalina, era como estar em uma montanha russa. Eu me sentia muito mais viva, mais real. Fora isso, não sentia praticamente nada. 

Meu irmão era seco. Ele sempre demorava um pouco mais para terminar seus serviços, e mesmo que não fosse tão agitado como eu, era extremamente barulhento. Seus tiros batiam com força contra as paredes de metal do porão ao meu lado.

Ou era um container?

Nãoconsigo dizer ao certo. 

Naquele dia eu tinha acabado de fazer mais uma vítima. O nome dela era Jessica Parker. Estava admirando meu trabalho recente. A imagem era mais bonita na minha cabeça antes, ainda lembro brm como ela estava. Seu olho direito tinha ficado manchado com pequenas nuvens de pigmento azul marinho, e o outro, violeta, tudo isso em meio ao vermelho do sangue pingando como se fossem lágrimas. Duas mexas de cabelo soltas do penteado alto caíam em seu rosto pálido, o que realçava a beleza de seu rosto fino e delicado.

— Vamos ter que nos mudar, Jessie. Sinto muito, mas precisarei me desfazer de algumas das suas companheiras. Estão fedidas... E já velhas, preciso de novas. — Eu disse para o cadáver, como se conversasse com um vivo.

Pensamentos intrusos me enchiam a cabeça e eu não entendia o que significavam, muitas vezes me perguntei de onde vieram ou se ao menos eram reais, porque tudo o que eu lembrava parecia não ter acontecido, era como montar um quebra cabeça sem bordas, onde as peças não se encaixam. Pensava muito sobre meus pais.

 Mas não consigo me lembrar o porquê. 

O único que me restava era meu irmão. Na época seu nome era Peter. Ele sempre pareceu me compreender, afinal, éramos iguais. Haviamos passado pelas mesmas coisas. Sofremos e sentimos as mesmas dores, o mesmo abuso, tínhamos o mesmo problema. A mesma rotina demoníaca e o mesmo passado cruel. Mas mesmo me entendendo, nunca fomos tão próximos quanto passamos a ser a dois meses, pelo menos não de verdade.

Sempre foi muito estranha a relação que tínhamos um com o outro. Sinto que por muito tempo nem ao menos tínhamos contato, mas ao mesmo tempo, lembro de sentir dores exorbitantes enquanto segurava sua mão, ou sentar ao seu lado em uma sala branca num sofá branco, parecíamos estar unidos como carne e unha. Em relação aos outros, nunca tínhamos sentido nada. Era estressante. Pessoas queriam coisas, de nós mas não era como víamos as coisas, era muito diferente.

Minhas mãos sempre pareciam frias e vazias, sempre parecia que faltava alguma coisa ou que algo estava errado. Nunca foi possível encontrar alguém que as aquecesse e preenchesse, que fizesse eu me sentir no lugar ou real. Nunca encontrei essa pessoa. Provavelmente nunca encontraria.

Tudo o que preenchia minhas mãos e meu peito era aquela sensação de machucar, parecia que eu sentia a alegria de outra pessoa e aquilo me alegrava de um jeitoque até hoje não consigo entender.

─ Lulu? ─ Peter chamou pelo que seria meu nome na época ─ Vamos, maninha. Ainda temos que pôr as bailarinas no meu caminhão.

Eu me lembro que estávamos de mudança, mas não consigo lembrar quantas vezes já havíamos nos mudado. Só sei que havia muitas bailarinas, embora essas memórias sejam um tanto quanto borradas agora.

─ Peter, acho melhor mudarmos de aparência. — Acho que foi o que eu disse.

─ Eu não gosto de mudar. Sabe que se você ficar diferente, eu vou ter que fazer o mesmo. Por que você não volta a ser como que era antes? Nós podemos voltar àquela época, não acha? Pelo menos uma vez, quero tentar.

É estranho porque também lembro dele concordando comigo e dizendo que já havia pensado naquela possibilidade.

Foi de súbito, meu irmão começou a ficar meio bobo e brincalhão. Não me lembro se antes ele era assim.

─ Eu também vou ter que pintar meu cabelo assim? ─ perguntou com uma cara de repugna ─ Quero dizer, não me parece algo que cairia bem em um cara como eu: esses meus olhos azuis, esse cabelo loiro que tanto me caiu bem...

─ Não reclame ─ cortei a situação ─ Você tem as lentes verdes do ano passado, não tem? É só por um bimestre, bobo. Não seja tão... convencido.

Ele riu e eu também.

Mamãe dizia que podíamos fazer de qualquer lugar um lar, perfeitamente habitável e que podíamos transformar qualquer coisa ruim em boa. Nossas mãos podiam aquecer qualquer coração. Ou então disse que podíamos fugir para que uma bruxa comesse nossos corações... 

Eu realmente não sei, mas naquele dia eu tive uma lembrança diferente dela. Não era ruim pra variar, era amável. Ao contrário das outras visões que tinha do meu passado, nessa ela não me batia ou xingava, nem me deixava do lado de fora chorando. Eu senti algo muito bom, quase como se fosse um abraço quente quando viajei para aquele pensamento distante.

-Três anos atrás-

─ Mamãe, mamãe! ─ chamei pela bela moça de cabelos negros e olhos prateados. Os olhos de mamãe pareciam mercúrio derretido.

 Eram lindos.

Ela tinha uma expressão calma, como sempre. E, como sempre, estava fazendo uma caixinha de música, cujo tamanho era igual ao de uma caixa de sapatos de bebê. A última peça que faltava era a bonequinha de porcelana que ela havia feito, que conseguia ser incrivelmente parecida comigo: seu cabelo escuro como a noite, cheio de cachos, os olhos da cor do céu nublado, um lindo vestidinho branco de bailarina e uma tiara de princesa.

─ Oh, E(???)! Gostou? Fiz para você!

─ É linda, mamãe! ─ Sorri abraçando suas pernas.

-Fim da primeira lembrança- 

Senti uma expressão de desgosto se formar em meu rosto. Não gostava de ter essas memórias dela. Odiava, na verdade. Elas não pareciam reais, nada nunca parecia ser muito real. Mas vê-la tão amável e carinhosa me dava um medo inexplicável, não conseguia suportar a ideia de ela não ser uma vaca narcisista e agressiva. Ela precisava ser abusiva para que eu não sentisse que estava ficando louca, ou pior, que a culpa não era dela.

─ Lulu ─ meu irmão chamou outra vez, vendo que estava distraída. ─ Como vai ser seu nome?

─ Eu não tenho certeza, mas... ─ respirei fundo hesitante. Não sei se sabia o que estava fazendo mas talvez tenha sido o início do efeito dominó. ─ Stella. E você, como vai se chamar desta vez?

Eu o percebi estremecer com minhas palavras.

─ Bernard ─ disse firme, mas hesitando assim como eu fizera segundos antes.

Olhei em seu rosto pálido, e ele carregava a mesma expressão que eu tinha. Talvez tenhamos pensado sobre a mesma coisa: papai e mamãe.

─ Okay, Bernie. Posso chamá-lo assim?

─ Sim, Stell. Digo, posso te chamar de Stell?

Pensei um pouco antes de responder.

─ Pode. Era assim que eles se chamavam, não é? ─ minha expressão mudou para um sorriso forçado.

─ É — Bernie fez a mesma coisa ─ Era exatamente assim. Sabe disso.

E a partir daquele dia passamos a usar a identidade de nossos pais, partindo para uma outra cidade, onde faríamos amigos e peças novas para ambas as nossas coleções bárbaras. Nossa diversão estava apenas começando.

Ou era o que eu achava.


Notas Finais




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