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História Melodia sociopata - Redação


Escrita por: Jingotbelts

Capítulo 4 - Redação


Fanfic / Fanfiction Melodia sociopata - Redação

Um sorriso maior se formou em seus lábios – se é que era possível. Consequentemente, suas covinhas aumentaram de tamanho. Antes que Franklin pudesse dizer qualquer coisa, o som agudo e estridente do sinal ecoou por toda a parte frontal da escola. Despedi-me agradecendo por oferecer sua ajuda, peguei meu cachecol o enrolando no pescoço e fui procurar minha sala. Como em todas as novas escolas, eu deveria me apresentar à turma. A primeira impressão é a que fica, e eu não era lá muito boa com isso

Minha apresentação no bimestre passado tinha sido uma porcaria. Esperava que dessa vez eu me desse bem. Analisando por outro ângulo, percebi que eu bem poderia ter ensaiado uma apresentação decente em casa, nem mesmo tinha me ligado dessa opção. Era quase cruel ter passado a boite em claro sem fazer nada de útil quando havia essa possibilidade, mas naquele momento não podia voltar atrás.

Tudo parecia extremamente repetitivo às vezes. Gostaria muito de ter uma experiência diferente na parte escolar, como por exemplo, um tipo de atividade. Um clube de batalhas de xadrez, um grupo de dança, ou talvez até um clube de música. Algo que me desse uma boa reputação e fosse um bom passatempo. Seria interessante, confesso, mas não havia coisas desse tipo nas escolas que frequentava. Não houve um clube sequer em colégios anteriores, então fiquei surpresa em encontrar um por lá, mais tarde, naquele mesmo dia.

Continuei andando um pouco aflita, afinal, eu realmente gosto de estudar, era uma das minhas partes favoritas pra falar a verdade, e não conseguia encontrar minha sala. Entrei por uma porta na qual havia uma placa, escrito “Redação”, imaginando que seria a sala das aulas de redação. Mal sabia eu que aquela era de fato uma sala de redação, local onde era elaborado o jornal escolar. O clube de jornalismo tinha uma sala pequena, mas de primeira vista parecia agradável.

─ Uh... Olá...? ─ disse completamente sem graça, notando que todos me encaravam tão confusos quanto eu. ─ Acho que entrei na sala errada, sinto muito...

Fui saindo sorrateiramente, de costas, ainda não acreditando na besteira que havia feito e sentindo minhas bochechas esquentando. Antes que eu pudesse abrir a porta outra vez, esta para sair daquela saia justa, um dos alunos ali presentes chamou por mim, alegando que queria perguntar algo. Parei, pedi que prosseguisse e assim o fez.

─ é a garota nova, não é? ─ afirmei com um gesto da cabeça, dando resposta a primeira pergunta. ─ E é boa com gramática?

Hesitei um pouco mais e me peguei pensando. Sempre tive aptidão com escrita no geral, mas ao tentar lembrar do porquê, fiquei presa entre memórias confusas. Lembrava de mamãe me batendo até que acertasse as perguntas da apostila, mas também de receber seus carinhos toda vez que acertava. Me esforcei pra desviar aqueles pensamentos e tentei dar a resposta que queriam.

─ Sim, tenho certa habilidade com atividades desse tipo. ─ respondi levando uma mecha de cabelo para atrás da orelha. ─ Por quê?

O rapaz de cabelos dourados veio em minha direção com um sorriso amigável e estendeu sua mão, apresentando-se como Robert Grattence.

─ Sou editor chefe do jornal da escola e, estou procurando por alguém que possa escrever as reflexões de segunda feira. Acha que dá conta?

Sorri para Robert, percebendo ter encontrado uma atividade perfeita.

─ Com toda a certeza. ─ demonstrei determinação, enquanto apertava sua mão. ─ Estava doida por uma oportunidade dessas!

─ Fechado! ─ disse Grattence, eufórico ─ Disse ter entrado na sala errada, não? Bem, se quiser, posso levá-la até a sala da professora Elise. É apenas um palpite, mas acho que pretendia chegar à aula de redação. Acertei?

─ Sim, e agradeço a gentileza. A que horas devo começar a escrever? ─ Saímos da sala sem ao menos olhar para trás.

─ Hm... Uma da tarde, no horário de almoço.

Subia os degraus atrás do garoto de cabelos dourados, levantando um pé atrás do outro e sentindo o cansaço nas pernas. Paramos em frente a uma sala, a placa estava marcada como Sala B-1. Abri a porta um pouco receosa. Entrei e pedi mil desculpas já  de cara. “Sou nova aqui, não estava encontrando a sala. Sinto muito. Posso acompanhar esta aula?”. Pedi com todo o jeitinho para não fosse penalizada e permanecesse na aula. Felizmente, a Profª Elise permitiu.

Obrigada, Robert! ─ murmurei ao loiro enquanto fechava a porta.

Pode me chamar de Robbie ─ pôs seu braço na porta para segurá-la por um instante ─, aliás, qual é o seu nome?

Stella, mas me chame de Stell. ─ a professora pigarreou ─ Te vejo no almoço, Robbie?

Estarei lá. ─ Robert me permitiu fechar a entrada da sala, saindo e tomando o rumo da escada outra vez.

Bem, chegou a hora.

─ Srta. ...?

─ Baljor. ─ completei.

─ Certo, Srta. Baljor. Queira, por favor, apresentar-se a classe. ─ Professora Elise, uma senhora de aparentemente 45 anos, cabelos grisalhos e olhos castanhos. Fisionomia de porte médio, menos na altura, ela parece ter uns 1,54. Parece ser uma senhora muito fofa. No dedo médio de sua mão direita, reside uma aliança de ouro, desbotada, o que me fez crer que era viúva. Uma gargantilha no pescoço, três pingentes: dois de menininhos e um de uma menina. No quadro negro, Mrs. Sun’nevouir, seu nome. Prestei atenção para descobrir se não seria nenhum obstáculo no caminho. Mais adorável do que perigosa, uma mãezona, isso sim.

─ Sim senhora, professora. ─ movi lentamente e dramaticamente meus pés a um ponto em frente às fileiras de carteiras.

Os olhares outra vez foram direcionados todos a mim. O silêncio era perturbador, mas ao mesmo tempo, interessante. Todos estavam tensos com o silêncio, inclusive eu, mas pareci entrar em apatia enquanto  apreciava a agonia nos olhos de meus novos colegas. Por algum motivo, parecia que estava fora de meu próprio corpo.

─ Olá ─ comecei com um sorriso radiante ─ Me chamo Stella Baljor, tenho dezesseis anos, amo litetarura e sou apaixonada por frases de William Shakespeare. Hoje é meu primeiro dia, como podem ver, mas nunca é cedo para começar uma amizade, então... Hey, vamos interagir, okay? ─ apenas o som da minha voz ecoava pela sala de aula ─ Perguntas?

A vítima que eu tinha escolhido mais cedo levantou a mão. Assenti com um gesto da cabeça, indicando a permissão para perguntar.

─ De que mais você gosta, Stella?

─ Pode me chamar de Stell. ─ sorri ao ver que Começamos bem ─ Eu era de uma cidade pequena, então, não conheço muita coisa. Mas estou aberta a sugestões de músicas, programas de TV, lugares legais, essas coisas.

─ Posso lhe apresentar uma cantora ótima ─ sorriu de volta ─, Melody Matizzi.

─ Ham... Ainda não sei seu nome. ─ ri um pouquinho desconfortável, admito. Talvez ela fosse um pouco lerda. 

De qualquer jeito, a sensação de estar fora do corpo havia acabado. Eu estava agora bem firme em meus pés, na frente de toda aquela gente, de novo com a sensação de desconcerto que a tempos desconhecia.

─ Ellois. ─ levantou de sua carteira, vindo em minha direção para que nos cumprimentássemos devidamente ─ Eloah Chemint, mas pode me chamar de Lola.

Outra vez este nome?!

─ Também é filha de Joel Chemint? ─ franzi o cenho e arqueei as sobrancelhas.

─ Sobrinha dele.

─ Ah, sim. ─ apertei sua mão ─ Prima do Franklin.

─ Uhum. Vejo que já o conhece. Mudando de assunto, você também gosta de escrever?

~ Lembranças 3/7 ~

Levei o garfo à boca, me deliciando com o maravilho sabor do strogonoff. A mesa estava completamente silenciosa, exceto por mim, já que murmurava a melodia de Swam Lake bem baixinho. Desde que mamãe havia me apresentado aquela música, me apeguei a ela como um imã se apega ao ferro. Passamos a ouvir durante suas histórias, nas quais ela retratava vários romances e dramas. Minha história favorita era a de Odette. É cativante o que acontece: O príncipe se apaixona por Odette, e todas as vezes que o sol se põe, ela se torna um cisne pois um feiticeiro a amaldiçoou. Odette só pode ter uma vida normal, caso alguém jure seu amor eterno, e é tão romântico quando o príncipe diz que o vai se declarar ao mundo inteiro por ela. Acontecem reviravoltas, pois sua gêmea malvada, Odile, tenta tomar seu lugar, mas o mocinho percebe a trama e volta para resgatar sua amada. Odette e o príncipe finalmente ficam juntos, o famoso clichê, “Felizes para sempre”. Mamãe dizia que era o espetáculo que mais gostaria de apresentar, mas nunca teve aquela oportunidade. Também me lembro de mamãe dizer que era extremamente infeliz toda vez que me colocava para dormir, só não consigo identificar se dizia gritando ou com ternos sussurros enquanto achava que estava dormindo.

─ Mamãe? ─ chamei olhando para a minha direita, onde estava sentada, afagando os longos cabelos pretos jogados sobre seu ombro.

─ Diga, minha pequena artista ─ ela me chamava assim graças às frases e desenhos que eu fazia em meus cadernos. Dizia que eu poderia fazer um livro com eles.

─ Quero mostrar uma coisa para vocês. ─ sorri ─ Para todos aqui. Posso?

Ela assentiu e ainda me encorajou. Levantei-me da cadeira pedindo licença e fui correndo até meu quarto. Abri a primeira gaveta com pressa, peguei uma folha de caderno que estava dobrada ali dentro e corri de volta para a sala de jantar.

─ Todos prontos? ─ falei do alto da cadeira. Recebi uns risos de mamãe por conta da cena de subir na cadeira, o que estranhei porque normalmente elame bateria por isso, mas logo, os três presentes na mesa concordaram com um gesto da cabeça. Prossegui ─ Tudo o que precisamos, algumas vezes, não é exatamente claro. Mas, algumas pessoas tornam tais necessidades cristalinas, já que é delas que precisamos. Mesmo que não queiramos, a distância se torna inevitável em algum momento, e a saudade nos abraça, tentando consolar. As pessoas mais próximas podem ser as que mais se distanciam, mas mesmo assim esquecê-las não é justo, mesmo que distantes. Esquecer pode parecer difícil, mas em algumas ocasiões, percebe-se que lembrar pode ser mais ainda. Algumas viagens são dolorosas, insistem em permanecer fazendo inúmeros “check in’s” desnecessários, mudam tudo de lugar, são turbulentas. Outras são discretas, nem percebemos que partimos, são tranqüilas como o teclar suave de um piano. Como dizia William Shakespeare, “Não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que vou fazer a respeito”. Serei forte, e se isto não adiantar, minha boca irá sorrir por meu coração, já que não poderá fazer o mesmo.

Suspirei e levantei o olhar do papel para minha família. Recebi uma calorosa salva de palmas, mas também um olhar relutante de J******. O vi franzir o cenho e indicar mamãe, discretamente. Neguei, também de maneira discreta, mas aquilo não adiantou.

─ Mamãe ─ disse meu irmão, não tirando os olhos do piso ─, a senhora continua doente?

O silêncio era desesperador. Mamãe comprimiu os lábios e forçou um sorriso, com isso já sabíamos a resposta. Pior ainda, sabíamos a verdade.

─ Ora, mas é claro que não, meu bem.

─ Mas, por que o Dr. Chemint continua nos visitando? ─ insistiu.

─ Bem, ele precisa cuidar da saúde de nossa família, não é?

─ Stell ─ papai se pronunciou, chegando a cadeira de rodas um pouco para trás ─, não acha que deve contar a eles?

─ Bernard, outra hora, por favor. ─ minha mãe o olhou com uma expressão angustiada ─ Crianças, terminem de jantar no quarto de vocês.

─ Contar o que?  ─ perguntei cabisbaixa, sabdendo que  não obteria nenhuma resposta.

Desisti e saí da mesa, puxando meu irmão pelo braço. Ele foi para a cama de cima e eu fui para o meu cantinho na pequena cabana de lençóis que fiz na cama de baixo. Fiquei com a cabeça encostada na parede, ouvindo a discussão que partia da sala de jantar e ecoava pelos corredores da casa.

Eu já falei, mas vou repetir: aquele médico não está ajudando em nada! Você mesma viu as manchas!

Tinha que falar sobre isso na frente das nossas filhas, Bernard?! E digo mais, você está ficando paranóico. Eu tenho algumas crises, é uma anemia fraca, apenas isso!

Stella, admita, é algum tipo de tumor. Vamos procurar aquele hospital, não vou suportar ver você morrendo deste jeito!

 Fim da terceira lembrança 

Pensei um pouco sobre como responder.

─ Eu escrevia bastante quando pequena. ─ respondi. ─ mas faz um bom tempo que não encosto em um poema sequer.

─ Ah... ─ comprimiu os lábios ─ Lamento... bloqueio de escritor é horrível mesmo.

Falei que estava tudo bem e deixei o centro da sala, me sentando ao lado de Lola. A professora iniciou a aula, finalmente.


Notas Finais


[interação] A quem a cantora citada faz referência?

Resposta no capítulo seguinte.


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