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História Melodia sociopata - Pele cínica


Escrita por: Jingotbelts

Capítulo 5 - Pele cínica


Fanfic / Fanfiction Melodia sociopata - Pele cínica

Lola parecia péssima. Seus lábios estavam sem cor, seus olhos, frios e sem brilho. Uns vinte minutos, diria, foi o tempo que a garota fixou o olhar no puro nada. Um ponto na lousa, permanente e inexistente.

 Ao som do sinal da primeira aula, pareceu sair do transe, piscando os olhos rapidamente, com uma expressão preocupada. Perguntei o que havia acontecido, mas a resposta fora tão inútil quanto a própria pergunta. Precisava descobrir tudo sobre Lola, ela parecia ser o tipo de pessoa a esconder os segredinhos sujos sob camadas de personas fajutas e descoladas. Meu objetivo era dissecar suas personas uma a uma, lentamente, até que sobrasse apenas seus maiores horrores.

E é claro que eu os usaria contra ela.

Logo depois de negar que havia algum problema – qualquer um que fosse –, ela apenas se voltou para Franklin, fazendo com que eu notasse sua presença. Me senti culpada por não perceber antes que estava ali. Não prestei atenção no que foi dito, mas ela pareceu bem aflita ao dizer. Minha curiosidade não me deixava quieta. No entanto, deveria me concentrar em meus próprios assuntos. Ficar fofocando e bisbilhotando por aí a plena vista não me aproximaria de uma pessoa tão metódica como Lola.

 Olhei, por uma fração de segundo, um rabisco no canto de seu caderno cor de abóbora. "Shakespeare era um gênio!", dizia. Tínhamos sobre o que conversar, afinal, caso ela realmente tivesse gosto pelo autor. Quando voltou a se acomodar na cadeira,  aproveitei para perguntar sobre o rabisco. Fiquei meio decepcionada com a resposta, embora não completamente. Franklin havia escrito aquilo no caderno da prima. Ela até concordou em ler algumas de suas obras depois de certa insistência.

 Recolhi meu material e segui o resto da turma até os armários. Apliquei a senha em meu armário, os números 4-0-7-6. Guardei as apostilas de redação pegando as de história logo em seguida. Olhei para a minha direita e vi Franklin um tanto atrapalhado com suas coisas. Reprimi uma risada e olhei então para minha esquerda, Robbie estava vindo até seu armário, de mãos vazias, provavelmente pronto para pegar o material e dirigir-se a aula. Ele sorriu de longe, pegou suas coisas e saiu.

— Quer ajuda? — Cutuquei o ombro de Franklin levemente.

 Ele olhou com aqueles olhos brilhantes por cima do ombro, fazendo suas pupilas refletirem as minhas.

  — Ah, eu.... Sim — disse sem jeito. — Grato, Stella.

 — Disponha — sorri. Coloquei meu caderno de história debaixo do braço e segurei alguns cadernos a mais para que Franklin pudesse guardar os outros gradativamente. — A propósito, pode me chamar de Stell... Ou De Tella, o que você preferir. — Desviei o olhar enquanto ele tentava organizar as pilhas de matérias e folhas soltas — Franklin, não é?

 — Se chamar por Frank, também atendo — ele voltou seu olhar para mim. Senti como se um lápis mágico tivesse desenhado o belo sorriso que pousava em seus lábios. — Aula de história? Se for, melhor se apressar. Vem comigo, Lola já deve estar lá.

   — Você a conhece? — Perguntei sem pensar.

   — Huh — ele não pareceu confortável. — Sim. Ela é minha prima, mas não é melhor exemplo. Digamos que eu já me encrenquei um pouco por causa dela. Mas ela.... Tenta compensar isso de vez em quando, então age como um tipo de mãe super protetora. — Parecendo querer mudar de assunto desesperadamente, Franklin coçou a nuca e desviou o olhar. — É meio bizarro, mas você se acostuma. Só, sei lá, cuidado.

Uma raiva estranha me consumiu. Algo que desconhecia me fez querer perguntar o que ela o fez, querer saber de todos os detalhes sórdidos, e não era a curiosidade. Tampouco parte do esquema de caça, aquilo parecia ser algo... diferente.

 Comprimi os lábios e desviei o olhar outra vez. Franklin suspirou e fez o mesmo. Parecia um daqueles momentos onde ninguém consegue se pronunciar: os dois olhando para o chão, como se fosse a coisa mais interessante do mundo. O chão parecia uma mudança de assunto.

 — Piso bonito, não acha?

Começamos a rir como dois idiotas. Finalmente partimos rumo a aula de história, correndo para evitar um atraso ainda maior.

 Realmente, o piso era bem bonito. Azul Marinho. Combinava perfeitamente com as paredes pintadas de bege, como se fosse a areia da praia em contraste com o oceano. Tive um mínimo vislumbre, uma lembrança de Jessie, o que fez um risco de ponta a ponta em meu rosto surgir, vigoroso e contente. Ela gostava de atenção, me contava cada ponto, vírgula e reticências de sua vida. Era tão inocente, tão vazia.... Mas era uma bela peça.

   Entramos na sala bem a tempo. Olhei para a fileira do meio. Ellois e duas garotas fofocavam sobre aleatoriedades, enquanto o resto da turma não deixava de fazer o mesmo. Encarei aqueles olhos brilhantes e magnéticos uma última vez antes de me despedir novamente e me juntar as meninas. "Melody" para cá, "Série tal" para lá, "clipe novo" aqui e acolá. Outros estilos musicais entraram na conversa, como "rock alternativo", e confesso ter gostado de algumas músicas. Possuíam de fato ritmos divertidos e refrões profundos, do tipo que fica na cabeça.

Minha principal curiosidade era a relação entre ela e o primo. Com isso em mente, fiz meu melhor e me esforcei em dirigir a conversa de uma forma que conseguisse perguntar sobre sem levantar suspeitas. Não consegui deixar clara minha intenção, tampouco obtive resposta.

***

O relógio marcava exatamente doze horas. O horário de almoço havia começado a pouco tempo, e como sempre, meu estômago mal educado performava alguma espécie de ópera grotesca, ansioso por alimento. Por um instante imaginei a cena, um estômago cantando ópera. Talvez fosse cômico. Precisava me concentrar, mas o que poderia fazer se a distração era mais forte?

Como não fiz nada, o universo preferiu fazer por si próprio. Realmente, não se pode ter sorte em tudo. A situação (e que vergonhosa situação) foi que, enquanto caminhava, imaginando um estômago cantando ópera, colidi fortemente com um dos pilares e acabei indo de encontro ao chão graças ao impacto. Não foram muitos a perceber, no entanto os que puderam presenciar a cena não pouparam risadas. Fiquei aliviada em não ver Franklin por perto.

 Agora, algo que eu não sabia, era que me acidentar com um dos pilares do refeitório me traria uma detenção. Obviamente não foi isso que fez o monitor me mandar para a detenção, mas talvez tenha sido a discussão que tivemos, após ele especular motivos vulgares que acarretaram em meu pequeno acidente. Apenas procurei me defender de seus ataques repentinos e sem sentido e recebi uma detenção em meu primeiro dia de aula. Mas não era justo o monitor dizer aquele tipo de coisa, tudo o que eu fazia era ouvir as meninas tagarelando sobre seus ídolos, sobre tamanho disso e aquilo, rumores de celebridade e todo esse tipo de coisa fútil que não me interessava realmente. Eu poderia me dizer quase um fantasma, observando os passos de todos, ouvindo cada palavra de cada um. Me aproximava como uma observadora, não como uma personagem de várias falas. Era assim que eu agia.

Bufei e após a discussão e recebi o papel de advertência a contragosto. Me dirigi com meus dois dólares até a cantina, porém me arrependi instantâneamente assim que notei que o prato do dia era purê de batatas, sopa de ervilhas e pedaços de fruta,  (aparentemente era uma maçã descascada que parecia velha e nada saborosa). Decidi passar fome, saindo frustrada do refeitório e buscando meu melhor refúgio, "devorar" os livros parecia a melhor maneira de esquecer a fome. Sentei-me à uma mesinha com pilhas de livros e busquei qualquer um que prendesse minha atenção. 

"A casa dos sonhos" Teria de servir.

 Abri o livro e comecei a folheá-lo. Não era tão ruim, parecia se tratar de um conto  de terror psicólogo, onde a protagonista temia um rapaz absurdamente bonito, dito como extremamente atraente sedutor  por todas as outras garotas. Ele a prendeu em um tipo de outra realidade, que espelhava a sua própria casa. A história teve suas reviravoltas, e bem, muitas delas prejudicaram a protagonista, Dara. Sinceramente? Estava gostando do livro, a despeito de meu julgamento anterior. Confesso que me senti feliz por estar errada.

— Stell?

Me virei para ver quem era. Cheguei a ter uma ligeira impressão de que ele poderia estar me seguindo. Não seria ruim de todo caso, estava feliz em vê-lo novamente.

— Frank — sorri.

Ele parecia ser diferente dos outros, não me deixava entediada ou enjoada. Nunca consegui aguentar verdadeiramente alguém por tanto tempo sem que sentisse repulsa. 

— Sabe o comentário sobre minha prima? — Fiz que sim, levemente concordando — Por favor, não comente com ninguém. É meio desconcertante, entende? 

Meu sangue se tornou gelo puro.

Como posso explicar já ser tarde demais para me alertar?

Ninguém. — Repetiu com ênfase. — Por favor. Era só isso mesmo.

Apenas assenti, mas sei que deveria ter dito que já contei. Pedi milhares de desculpas internamente, torcendo para ele não descobrir, ou pelo menos não ficar com muita raiva. Como quem não cometeu erro algum, voltei ao livro, dessa vez, tomada pelo nervosismo e por tics inevitáveis. Meu pé não parava de dar batidinhas no chão, meu indicador da mão livre não parava de se chocar contra a mesa e meus olhos percorriam o livro com agilidade. Franklin procurou  para saber se estávamos sozinhos, com essa certeza deu meia volta e se retirou, o que me fez suspirar aliviada. Fechei o livro, fazendo questão de pôr um marca-páginas no mesmo – não faço a mínima ideia de onde o encontrei, deveria estar jogado na mesa. Busquei um relógio com meus olhos e o que encontrei contava 12:55. Coloquei o exemplar em uma das estantes, torcendo para que ninguém o pegasse. Não havia tempo para um cadastro na biblioteca, e seria mais uma informação para apagar quando fosse para o bimestre seguinte da escola seguinte. Corri pelos corredores – sendo repreendida pelo monitor outra vez, e infelizmente, pegando uma detenção para o dia seguinte. Cheguei finalmente à porta da sala do jornal, depois de muito esforço e correria. Robbie me surpreendeu abrindo a porta e me encarando surpreso.

Oi! — Falei ofegante, pondo a mão no peito que subia e descia rapidamente.

— Eu.... Estava indo te chamar, mas, vejo que se garante — ele sorriu, ainda surpreso. — Entre, vou apresentá-la ao pessoal.

Eu o segui para o interior da salinha estreita. Uma menina loira repousava sobre uma cadeira giratória, em frente à uma máquina de escrever. Seus olhos eram azuis, pareciam vidrados em um artigo sobre dezessete garotas desaparecidas que escrevia concentrada.

Meu trabalho ficou famoso, pensei.

— Esta é Emmilie Baedfield, irmã do vocalista da banda de rock da escola, seu irmão deve conhecê-lo a essa altura. Desde que chegou parecem ter se aproximado bastante.

— O que quer dizer com isso? — perguntei.

— Quer dizer que seu irmão levou o meu pra cheirar uma boa atrás da escola — respondeu ríspida, ainda concentrada. 

A garota levantou e me estendeu a mão. Cumprimentei-lhe e me apresentei devidamente. Seria uma boa bailarina, mas Lola preencheria melhor o papel. O sangue Chemint correndo por suas veias era algo que me instigava muito mais que um rostinho bonito e delicado, mesmo que sua postura fosse extremamente adequada à minha arte em vários aspectos.

— Mas enfim, pelo menos ele deve ter acesso a mercadoria boa de verdade, espero — ela me olhou de cima a baixo, voltando a sua mesa — Não aguento mais o cheiro de bosta que a casa fica quando ele acende aquele bolado horrível dele.

— Pega leve, Barbie girl — Robbie riu, tendo como resposta um dedo do meio apontado em sua direção. 

A segunda garota estava de frente para uma impressora antiga, tentando fazê-la funcionar aos tapas. Tinha o cabelo preto longo e liso, olhos igualmente escuros e usava um par de óculos de armação transparente, já um pouco amarelados provavelmente por conta do tempo.

 ─ Olivia? ─ Grattence chamou.

─ Fale, loiro ─ ela lhe sorriu. Assim que seus olhos pousaram sobre mim, seu sorriso se alargou, como se me visse em mim a pessoa mais adorável no mundo. Diferente de outras vezes em que fiz “amigas”, espelhei sua aparente sensação. Talvez uma amiga verdadeira, depois de todos aqueles anos? Não seria de um todo ruim. Talvez me fosse até útil em alguma tática.

No fundo, acgi que só precisava de alguma companhia sincera.

   “Olivia Dawn, a garota mais amada do Oceans High School” foi como Robert a apresentou. 

─ Stella Baljor, mas por favor, sem formalidades ─ sorri. ─ Pode me chamar de Stell, caso queira.

─ É um imenso prazer conhecê-la, Stell. O loiro não parou de falar sobre você o dia inteiro, mas só coisas boas, garanto ─ ele a encarou como se ela tivesse dito algo errado. Olivia riu olhando-o com o canto dos olhos e voltou a olhar para mim. ─ Pode me chamar de Liv.

Assenti e procurei não encarar Robert. Não poderia correr o risco de se apegarem muito a mim. Ele chocou as duas mãos e anunciou um “Mãos à obra, senhoritas! Tyler e Patrick estão na aula, então, já sabem!”. A mim, foram entregues uma máquina de escrever e uma barra de cereal com chocolate. Estendi meus olhos a Grattence, confusa com o segundo item; ele me explicou que o refeitório não tinha as refeições mais saborosas do mundo, e que sabendo que eu provavelmente não teria como saber antes (ver para crer), era como um presentinho de boas-vindas.

Não neguei o presente, afinal estava com muita fome.

Além dos objetos mencionados, havia um pequeno manuscrito da edição para a qual eu iria compor uma reflexão. Pedi permissão para dar uma olhada, disseram que não havia problema.

“Novos estudantes e uma grande aquisição para o clube de jornalismo: saiba como ajudar em nossos projetos! ” Sorri. Desci meu olhar pelo papel, e entre parênteses havia os dizeres: “Escrito por Robert Grattence”.

“Acidente na Colômbia” Talvez eu pudesse escrever algo relacionado a vida e morte. Considerando meu estilo de vida, faria muito sentido.

“Vão, Turtles, vão! ” Revirei os olhos. Futebol, as meninas falavam muito sobre isso na sala de aula. Agora eu via a explicação, Lola era capitã do time. “Os testes começaram”, interessante... Talvez eu devesse entrar para o time. Isso me daria um tipo de acesso mais fácil a confiança de Lolla, e claro, a garantia de uma proximidade maior com ela.

De qualquer jeito, pensaria na ideia depois.

“Dezessete garotas desaparecidas” bingo! A matéria sobre mim.

Li atentamente a matéria, maravilhada com as palavras de Emmilie, a autora do relato, mas me surpreendi a achar fatos que não condiziam com aquilo que eu sabia. Os desaparecimentos eram relatados em uma única cidade, algumas das garotas nem mesmo tinham idade para continuar estudando. Antes que pudesse ler mais sobre, fui interrompida por um toque em meu ombro.

─ Conseguiu chegar no artigo da Pizzaria?

Virei minha cabeça levemente para o lado. Grattence sorria em minha direção. Fiz que não com a cabeça e ele veio até mim.

─ Bem... O que acha de conhecer o lugar? Posso te levar até o Danna’s Pizza Place, se quiser.

Olivia, que estava do meu lado na hora, sorriu discretamente e escondeu o rosto por trás de um livro. 

Certo, Stella. Não é um encontro, ninguém se apaixona por você tão rápido assim, ele só quer ser gentil e você não é o último biscoito do pacote, pensei comigo mesma, tentando me confortar. Falei que por mim tudo bem.

Decidi que era a hora de parar de enrolar e escrever a reflexão.

***

Às quatro horas os alunos foram liberados. Todos menos eu. 

Por me defender justamente e acabar em duas detenções.

Fiquei um tanto quanto desanimada ao lembrar do ocorrido, mas não me dei por vencida. Peguei meus cadernos, levando-os para meu armário e os guardando. Me encaminhei para a sala de detenção, totalmente entediada e estressada. Ainda não conseguia acreditar que havia sido repreendida por um encontrão com um pilar.

Sentei em uma das carteiras com apenas um caderno e um estojo em mãos. Não deixei de batucar os dedos na mesa, frustrada e impaciente. Tudo normal – e tedioso − até uma silhueta se aproximar e se inclinar sobre a mesa.

Sua expressão não era muito contente.


Notas Finais


[interação] Resposta:

https://youtube.com/user/Melmartinezx3

E aí? Conseguiu acertar? :D


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