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História Melodia sociopata - Problemático


Escrita por: Jingotbelts

Notas do Autor


Dizem que me pareço uma escrivaninha, mas ninguém sabe a semelhança. Quem sou eu?

(Alerta de gatilho/TW)
Cenas fortes contendo expressão de dismorfia corporal, Anorexia e Bulimia.

Capítulo 6 - Problemático


Fanfic / Fanfiction Melodia sociopata - Problemático

Abri o portão enferrujado, ouvindo o barulho clichê e agonizante das dobradiças de ferro. Soltei um longo suspiro, pensando em quantas vezes as casas onde morei vinham com o mesmo defeito – que Bernie adorava por motivos desconhecidos. Seria extremamente gratificante saber o que meu irmão via de atrativo no som de portão rangendo.

 Após a breve reflexão, entrei e bati a porteira fortemente. Encarei uma das janelas do casarão verde, alugamos de um vigarista confiável. Vigarista confiável pois era o mesmo homem que fazia nossos documentos e depois nos apagava  do sistema para nos inserir novamente depois. O cara nunca soube de nossos “serviços”, e sinto que, se soubesse, não seguraria a barra por muito tempo. De toda forma, a visão de Bernie me encarando da janela, segurando uma caneca de café, surgiu tal como uma assombração quando menos esperava. Ele levou o objeto aos lábios dramaticamente com seu olhar severo sobre mim. Revirei os olhos e ajeitei minha mochila sobre as costas, apertando o passo em direção a porta de vidro em minha frente. Entrei pela mesma e me apressei em direção ao meu quarto.

         Coloquei minha mochila sobre a cama e nela procurei o CD, aquele da tal Melanie Martinez, emprestado por Lolla, a própria. Assim que o encontrei, não tardei a colocar o disco para tocar em um pequeno rádio velho que havia comprado há alguns poucos anos.

A música em si não era nada ruim, na verdade o contraste entre o ritmo pop e os temas alternativos era feito de forma muito interessante e natural. Suas metáforas davam voltas e voltas mas sempre pareciam chegar exatamente onde a cantora queria no final. Definitivamente algo a se respeitar, ideias são difíceis de descrever considerando o tanto que a mente humana é complexa. Dissecar nossos pensamentos e conceitos, mapas mentais, memórias e sentimentos, não é nada fácil.

Apertei o botão de pause e a música cessou por um instante. Não havia prestado tanta atenção nas letras antes, talvez por pensar que não fosse algo  tão relevante assim entender os gostos de Jessie, e sim imitá-los para ganhar sua confiança. Mas Lolla era diferente, mais cautelosa, minuciosamente astuta, segura de si mas com sérios problemas de desconfiança.

─ Acho que conheço uma das músicas, já que Jessie gostava de escutar a última do álbum mais do que todas as outras.

 Mudei a faixa de “Abcd boy” para uma das poucas quais eu realmente me lembrava, “Crazy Tailor”. Descobri que a música tinha muito mais a ver comigo do que eu imaginava. A medida que a música tocava, alguns flashes cruzaram rapidamente minhas memórias. Coisas horríveis que não reconhecia, mas que por mais perturbadoras que fossem, tentei ingorar. Não que qualquer coisa fosse perturbadora para mim mas aquelas imagens eram familiares de forma preocupante, preferi não me aprofundar em nada daquilo.

 De qualquer forma, ainda tinha muito o que fazer. Como Bernie havia me ensinado, precisava reunir as informações que já tinha sobre a vítima e montar um quadro ou um diário. Peguei meu livro disfarçado de contos de suspense que continha minhas confissões mais sinceras e detalhes de minhas confecções que, para mim, eram quase sagradas.

“All the best people are crazy... all the best people are!” ─ Sem perceber, comecei a cantar junto com a música.

Mesmo com algumas coisas em comum comigo, a música não chegava nem perto de resumir minha vida por completo.

Talvez algum dia, em algum lugar, alguém consiga acertar a letra, criando uma melodia perfeita para minha história. 

Sorri com meu próprio pensamento. Peguei o livro “A casa dos sonhos” de dentro da mochila e voltei a folheá-lo, absorta pelo universo construído naquelas páginas de papel desgastadas. Meu relatório poderia esperar mais um pouco. Estava em uma parte interessantíssima, onde obviamente aconteceria mais uma reviravolta. Já havia lido tantas na obra que as considerava previsíveis a essa altura.

Phear tomou-a pela mão e a ajudou a levantar. Seu tornozelo doía, graças a fratura, e encarar o gajo louro ainda era um temível desafio, mas desta vez, Dara sentia que podia confiar nele.

Os dois caminharam pelos corredores confusos e manchados de tinta, chegando enfim em frente a um espelho de prata.

─ É aqui ─ ele disse com os olhos pregados ao chão. Uma lágrima solitária descia por seu rosto, revelando um estranho rastro de cor acinzentada em sua pele divinamente bronzeada. ─ Você está livre, senhorita. Vá, e espero que me perdoe por assustá-la.

(...)

Por que libertá-la?

Encostei minhas costas na cabeceira da cama. Se já estava curiosa antes, isso havia me deixado muito mais agitada.

“(...) A menina dos cabelos castanhos e verdes encarou o chão, encontrando vulgo objeto pontiagudo. Uma lança, que aleatoriamente aparecera por entre as pernas de um divã velho. Seus olhos iam do espelho para a lança, da lança para os pés do belo rapaz, assim por diante; até que, suas mãos agarraram a lança, e decidida, ela quebrou o espelho.

(...)

Não entendo mais nada...

“(...) Phear a encarou confuso, e em questão de segundos, sua aparência começou a mudar. Seu cabelo mudou de cor, passando do ouro ao prata. Sua pele, do bronzeado perfeito tornou a parecer a aparência de alguma espécie de sucata, misturando tons de cinza e marrom com algumas rachaduras escuras, que indicavam ferrugem. Os olhos, "chaves da alma" como alguns dizem, agora tinham cores distintas um do outro: um laranja e o outro azul. Suas vestes não eram mais a jaqueta da moda, o jeans aparentemente caro e a blusa azul de marca; todas as roupas pareciam ser feitas de algum tipo de microfibra e cobriam praticamente seu corpo inteiro, com exceção das mãos e cabeça. Ainda chocado, ele enxugou a lágrima e sorriu. A menina o abraçou, feliz. Não por ter enlouquecido, mas por não enlouquecer sozinha. Phear passou os braços em torno de suas costas, retribuindo ao abraço e aumentando a própria respiração, parecendo emocionado. Ambos riram com lágrimas nos olhos. Dara estava feliz por não temer seu novo amigo, e ele estava feliz por não ser mais temido por ela.

Ela, sua querida Dara...

─ De que adiantaria eu ser livre se você continuasse preso aqui? ─ Ela o abraçou mais forte, afundando o rosto em seu ombro. ─ Posso até ter perdido minha única chance de voltar, mas pensando bem, prefiro este lado do espelho. Embora eu tenha medo de estar sozinha, também não sou fã de multidões...

(...)

─ Isso não faz muito sentido ─ disse para mim mesma e bocejei logo em seguida. Decidi que era hora para uma pausa e, então, após guardar o livro, me aconcheguei entre meus lençóis. Dormi.

***

 Abri os olhos lentamente, pensando no quão estranho havia sido meu sonho. Eu era uma personagem de animação quadro a quadro, uma das famosas obras de Tim Burton – foi bem bizarro.

 Decidi ignorar. Me espreguicei e arrastei meu preguiçoso corpo até o guarda-roupas, forçando minha pessoa a se encontrar de pé diante do mesmo. Peguei uma blusa de mangas compridas verde com um símbolo de raio preto cintilante, um par de calças Jeans e uma jaqueta preta. Me encaminhei para o banheiro e comecei a me aprumar para o passeio com Robbie, fazendo questão de pôr no MP3 uma das únicas músicas de meu gosto: o famoso "Lago dos cisnes". Após fazer minhas higienes, já vestida e com os olhos levemente contornados por maquiagens claras, saí do banheiro com uma bolsa em mãos.

 Obviamente eu levaria o livro. A melhor parte de tudo era por quem ele havia sido dado – no caso, emprestado.

 Corri até a sala, pronta para abrir a porta, mas antes que pudesse escapar das consequências de meus atos, escutei sua voz firme e contraditoriamente irritado.

   ─ Stella. Baljor. Houlph.

Assim como em um quartel, ele parecia pronto para me colocar para dormir do lado de fora ou até rastejar na lama por minha vida.

 ─ Primeiro: Que negócio é esse de você ter sido mandada para a detenção? ─ sua voz saía da cozinha dramaticamente grossa e ranzinza. ─ Segundo: O que aconteceu enquanto você estava lá? E terceiro: Onde a senhorita pensa que vai?!

   Suspirei e me joguei no sofá. Encarei a mão direita de Bernie assim que entrou no cômodo e notei que havia uma pistola enterrada na mesma. Reprimi um sorriso. Ele estendeu a pistola em minha direção e eu me levantei “assustada”.

   ─ Oh, Bernard, não atire, por favor...! ─ coloquei as costas da mão esquerda na testa.

    ─ Sinto muito, Stell, mas eu preciso ─ seu indicador segurou o gatilho com pura decisão. ─ Veja como estou furioso! “Grrr…” ─ tentei segurar o riso, o que quase foi em vão.

         Ele puxou o gatilho, eu gritei e me joguei no sofá, com a língua para fora, fingindo estar morta. Em seguida, ele apontou a arma para a própria cabeça e disse com entonação exagerada de tristeza:

         ─ Oh, não! O que eu fiz? Stell...!

       Então,  Bernard puxou o gatilho de novo.

         ─ Mundo cruel! ─ Exclamou o ruivo, depois cambaleou até o sofá, onde se jogou ao meu lado, colocando a mão no peito como se tivesse sido atingido ali ─ Soldado ferido.

─ Mortos não falam, idiota! E seu tiro não foi na cabeça? ─ Rimos juntos e baguncei seus cabelos. Ele me puxou para perto, me abraçou e beijou minha testa.

─ Você tem um bom histórico de encrencas, mocinha, não seria surpresa. Mas não é culpa sua o monitor ser um otário.

Saber que tinha meu irmão do meu lado fez tudo parecer ter mais sentido. Bernie sempre foi inteligente e bom em praticamente tudo, isso fazia eu me espelhar a ele com admiração. Não saberia o que fazer sem meu irmão. Sorri ao pensar em nossa parceria leal de anos e anos. 

Ele era minha força às vezes, ainda consigo me lembrar bem disso.

─ Mas correr nos corredores é contra as regras.

Meu sorriso se desfez na mesma hora. Me senti um tanto quanto traída. Precisei correr para não me atrasar no meu primeiro dia, não havia praticamente ninguém nos corredores. Não me parecia muito justo.

─ Conte-me tudo sobre seu dia, estou curioso. ─ Bernie me balançou pelos ombros. Fiz uma careta preguiçosa em resposta ─ Ande logo, o problema é seu, vamos!

Revirei os olhos e comecei a falar.

Estava tudo normal – e tedioso −, até uma silhueta se aproximar e se inclinar sobre minha mesa. Sua expressão não era muito contente. Ele entregou olhando em meus olhos, na mesa da carteira, um objeto familiar. Era o livro que estava lendo na biblioteca mais cedo, o que me deixou surpresa. Completamente sem graça, agradeci e desviei o olhar. Eu o observei enquanto sentava do meu lado, sentindo seu olhar juiz sobre mim.

− Frank, perdão, eu não sabia quando contei. Juro.

− Certo. ─ Seu tom era seco.

Agradeci outra vez pelo livro, mas mesmo assim, um silêncio perturbador se infiltrou em nosso diálogo. Suspirei e comecei a encarar a mesa de carvalho. O ouvi suspirar também, e curiosa, olhei para o lado novamente.

Nossos olhos se encontraram.

E se desviaram outra vez

Sorri discretamente e olhei para o chão. Minha curiosidade me fez perguntar o motivo de encontra-lo ali, percebi que não era a única “vítima” do monitor injusto, embora Frank dissesse já estar acostumado com aquele cara chato. Ele disse que viu meu pequeno acidente do refeitório, só não riu porque já havia passado pela mesma situação uma vez.

Menos mal, pensei comigo.

Uma mulher lá pela casa dos vinte e seis entrou na sala, o que nos fez fechar a matraca. Ela usava uma blusa regata preta, um casaco de lã lilás e calças jeans vermelho-vinho. Tinha um copo de cappuccino em mãos, que pela fumaça parecia estar quentinho. Seus cabelos eram loiros, pequenas mechas de sua franja vermelha dispendiam de seu coque frouxo. seu batom vermelho, um vermelho extremamente forte e vivo, assim como tudo em seu rosto jovial e reluzente.

─ Olá, pessoal. Sou a professora Emmily Jackson, mas podem chamar de professora Emm ─ ela sorriu para nós. ─ Frank, você na detenção? Vem chuva por aí!

─ Não é surpresa que o Humberto me mande para a detenção por nada, Sra. Jackson ─ ele deu de ombros.

─ Argh... certamente, não é nenhuma surpresa. Bem, e como vão as coisas com a Karen?

Ele suspirou e começou a bater os dedos na mesa.

Karen? Busquei o olhar de Franklin, à procura de alguma sugestão do que se poderia se tratar, mas ele nem ao menos percebeu, mesmo que o encarasse insistentemente.

─ Entendi... ─ a professora virou o rosto em minha direção ─ Aluna nova?

Acenei positivamente com a cabeça. Ela me estendeu a mão com um sorriso cativante, então cumprimentei-lhe e sorri de volta.

Nada muito interessante aconteceu depois, tivemos que escrever um mini relatório sobre aquele dia, explicando resumidamente tudo o que aconteceu até o veredito de detenção, depois recebemos algumas atividades extras referentes as aulas que tivemos mais cedo, os mesmos deveriam ser entregues no dia seguinte.

Após a detenção, fui direto para o portão da escola. Franklin foi embora tão rápido que nem tive tempo de me despedir, acho que mesmo tendo entendido que não fiz por mal, ele ainda estava um pouco chateado. Ao menos poderia ir para casa logo. “Chega de colégio por hoje”, pensei. Dei de cara com Robbie enquanto saía, então aproveitando o encontrão, combinamos o horário de nós encontrarmos na pizzaria.

Finalmente, depois de tudo isso, voltei para casa.

─ E agora estou aqui, enquanto já deveria estar na pizzaria! ─ dei um peteleco em sua orelha. Bernie riu e me soltou, permitindo que eu finalmente fosse a meu encontro com Robert.

Eu disse encontro? Não, encontro não. Passeio.

 

***

 

O lugar estava bem cheio. Eu encarava o interior do estabelecimento pela vidraça quando avistei Grattence, acenando para mim. Acenei de volta e avisei ao funcionário que eu o acompanharia essa noite. O homem, de gravata e smoking me olhou através de seus óculos de armação escura e entregou o papel de rodízio. Fui até a mesa onde o rapaz loiro se encontrava sentado, esperando por mim.

         À primeira vista ele elogiou minha aparência, dizendo coisas como “Você está linda” ou “Você veio deslumbrante”. Minha garganta deu o primeiro nó.

         Robert puxou a cadeira para mim, e então, começou a puxar assunto sobre aleatoriedades. O assunto que me pareceu estranhamente familiar foi o de duas crianças desaparecidas e evidências novas no caso, mas ignorei e prestei mais atenção no que foi dito sobre meu artigo. As pizzas vinham aos montes e nós as devorávamos, impiedosos. 

— Todos adoraram! O diretor quer que você escreva todas as semanas. — Robbie disse com tamanha empolgação. 

Tudo estava indo bem, até ele me olhar com olhos brilhantes. Não aguentei e pedi licença para ir ao toalete.

 Corri e coloquei metade das pizzas, que havia comido minutos atrás, para fora. Agora, pedaços de queijo boiavam na água do vaso, o que era realmente nojento.

 Nunca soube o porquê, mas sempre que eu pensava na ideia de ser “obrigada” a gostar ou a fingir gostar de alguém, eu ficava com ânsia de vômito. A ideia de ir contra meu próprio sentimento era nauseante, sem dúvidas. 

Eu não era a única ali colocando coisas para fora, surpreendentemente. 

Vamos, força, Ellois! Você quer continuar obesa?! Vomite, sua porca gorda! — alguém sussurrava, aos prantos, na cabine ao lado.

Reconheci tanto a voz quanto o apelido. 

Aquela ao lado era a minha bailarina


Notas Finais


resposta: o palhaço.
- D

Link da oneshot especial: https://spiritfanfics.com/historia/a-sociopaths-nightmare-before-christmas-7476234
Espero que gostem!


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