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História Melodia sociopata - Nimbo


Escrita por: Jingotbelts

Notas do Autor


"Pessoas que se amam, nunca quebram o contato visual. Pessoas que se gostam em segredo, têm medo de não poder contê-lo."

Capítulo 7 - Nimbo


Fanfic / Fanfiction Melodia sociopata - Nimbo


 Me revirei entre meus cobertores, talvez pela nona vez naquela noite. Encarei o relógio e vi que já se passava de duas da manhã.

O primeiro mês já havia sido concluído. Descobri um dos segredos de Lola, terminei de ler o livro “A casa dos sonhos”, não tive mais lembranças confusas me atormentando... Não havia motivos para que ficasse daquele jeito, sem sono, com aquele nó insistente na garganta e presa em milhares de pensamentos que nunca iam a lugar nenhum. Flutuando sobre uma porta no meio do mar, era assim que eu me sentia, mas o Titanic ainda estava de pé e ninguém parecia querer me resgatar. 

 Eu quis saber quem era Karen, não quis? Pois bem, eu descobri. Eu tive minha resposta no momento em que vi a garota loira de corpo perfeito agarrada ao pescoço de Franklin, atacando o rosto do pobre garoto de olhos castanho-escuro com sua saliva ácida de comida diet. E ele não parecia se importar muito, acho que até mesmo o vi sorrir.

  O que não conseguia entender era por que me senti um lixo quando os vi? Só o que presenciei naquele dia nublado foi Franklin beijando a namorada, nada demais. Por que senti algo me machucar? Queria muito entender, e queria saber como tirar aquela imagem da cabeça. Me revirei entre os cobertores pela décima vez.

Por que é que dói?

Encarei o lençol que cobria a cama. Apertei o mesmo com minha mão, sentindo algo molhado em meu rosto. Água descia de meus olhos, mas por quê?! Eu nunca fui assim. Eu nunca odiei uma cena romântica, eu sempre as ignorei, nem ao menos faziam sentido para mim. Meus pais não se amavam, não amavam a mim ou a meu irmão, eu não conhecia aquele sentimento e, diversas vezes, tinha até mesmo nojo, mas não era nojo o que eu estava sentindo. Era algum tipo de frustração, como quando algo dá errado, mas diferente. Não me dava vontade de quebrar nada.

Me dava vontade de deixar de existir.

Foi isso? Vê-lo com outra pessoa daquele jeito foi o que trouxe essas lágrimas? Essa sensação de não querer abrir os olhos nunca mais?

─ Não é esse o meu lado de ser. Essa não sou eu. Eu não sinto nada por ninguém, eu não sou assim! Não sinto a dor de outras pessoas! Eu sou um lado que não pode sentir nada. Eu estou no comando!

Comecei a soluçar, rolando de um lado para o outro em minha cama. Alguma coisa queria roubar meu lugar, mas eu não podia deixar. Eu tinha que  controlar. Pacificar aquilo, era o que eu precisava fazer. Aquela coisa já estava me dando nos nervos, empurrando lágrimas pelos meus olhos como se estivesse no comando.

Desci as escadas de mármore preto, embrulhada em meus cobertores cor de rosa. Atravessei o baixo divisor entre a cozinha e a sala, me dirigindo aos armários, onde procurava calmantes. Abri a geladeira e peguei um copo d’água para fazer o remédio descer por minha garganta.

─ Nós vamos dormir ─ abri um sorriso forçado e empurrei o comprimido com a água.

Berrei de ódio. Como era forte a vontade daquilo de chorar, de me machucar! Conseguia ser mais forte que eu, tanto que não pude conter os soluços que acompanhavam aquela corrente de água maldita. Bernie Veio correndo, descendo as escadas com pressa em minha direção.

─ Stell?

Não fui capaz de respondê-lo. Estava ocupada demais chorando e soluçando alto, encostada à geladeira, abraçada aos meus joelhos. Pude ver ali a garotinha de 13 anos chorando porque mamãe e papai a haviam maltratado, e essa definitivamente não era para ser eu. Pelo menos, não àquela altura do campeonato. Mamãe não gostava quando chorava, chorar doía muito porque fazia barulho. 

Confuso e monstrando-se preocupado, Bernard não perguntou mais nada. Apenas me envolveu em seus braços como se eu fosse aquela criança, dizendo que ficaria tudo bem, como seu lado estranho sempre fez em situações como essa. Nunca gostei daquela coisa, parecia nos tornar mais fracos, mas agradeci por aquilo estar ali conosco daquele momento.

─ Franklin... Isso ─ funguei. ─ ... Isso.... Está cho... ─ puxei o ar desesperadamente, soluçando outra vez. ─ ...rando... p-por ele!

Ele me encarou franzindo as sobrancelhas com pena. Não tenha pena, pensei. Me fale como parar!

─ Venha comigo ─ enxugou minhas lágrimas. ─ Vou contar uma  história.

Sem questionar, o segui até o sofá, onde nos sentamos. Apoiei a cabeça em seu ombro, soluçando um pouco mais baixo. O olhei nos olhos, ainda dói, diziam os meus.

Eu sei como é, responderam os dele. Apenas nós, irmãos, melhores amigos, entenderíamos nossos códigos.

“Bem, acho que nunca te falei sobre ela. Acho que devia ter falado, já que essa garota foi uma das duas únicas pessoas que me entenderam no mundo. Seu nome era Rose.

Conheci Rose há alguns anos, você havia escolhido Paola como alvo naquele bimestre. Não  me peça pra lembrar de muitos detalhes, sabe como essas coisas funcionam. Ela era diferente de todos no colégio, era a primeira menina que me fazia sentir um formigamento estranho no peito. Nunca andava só, mas ao mesmo tempo, não parecia ser o tipo de garota metida a popular. E não era. Rose era apenas alguém muito feliz, com muito amor genuíno pela vida e um coração bom e aberto. Sua aparência lembrava a de uma princesa da Disney, tudo sobre ela era incrivelmente perfeito, e eu não poderia ter sido mais agraciado do que no dia em que a conheci.

Estava ensolarado lá fora e todos os próximos ao meu soldado marcavam de passar em uma praia durante o fim da tarde. Me senti na obrigação de ir para me enturmar e conseguir aprofundar meu contato com ele, então óbvio que confirmei minha presença tentando parecer super animado. Ela então se sentou do meu lado para conversar com os outros e puxou também conversa comigo.

Sua beleza era algo inegável, vez ou outra me pegava tendo aquele tipo de pensamento que não vou detalhar por motivos óbvios, mas sabia bem o quanto Rose era atraente.

Só não sabia ser capaz de sentir algo além da atração por sua beleza.

Começamos a conversar todos os dias na frente dos portões do colégio, enquanto ela esperava o carro da mãe, e vou confessar, vê-la falar era incrível para mim. Sua voz, seu jeito de cada palavra, seu ponto de vista sobre a vida... eu me perdia no rio de palavras dela. Parte de mim parecia estar adormecida, era como se visse tudo acontecer estando do lado de fora, mas era lindo. 

         Na metade do segundo mês, ela me fez uma proposta: queria que olhasse fixamente em seus olhos. Caso sentisse que nunca mais ia querer quebrar contato visual, seriemos oficialmente algo a mais que amigos. E não era para menos, estávamos cada vez mais próximos, eu a cortejava cada vez mais, às vezes sem nem saber o que estava fazendo. O resultado foi que era exatamente o que sentia. Queria encarar seus olhos brilhantes para sempre, mergulhar e sumir no brilho como se fosse o céu estrelado. Não demorou muito para acabarmos juntos.

Um lado meu estava feliz, mas o outro estava completamente apático, como se tudo o que importasse fosse eu, quando eu só conseguia pensar que tudo o que importava era ela. Quando descia ao porão para procurar criatividade, mesmo quando brincava com os soldados, não sentia nada. Minha visão ficava turva, eu entravaem algum tipo de modo automático, onde conseguia apenas pensar nela.

Memórias começaram a voltar, mas eu mal me reconhecia nelas. Até mesmo meu corpo parecia estar diferente, como se fosse o corpo errado. Eu já não conseguia entender nada o que estava acontecendo a minha volta, me questionava se eu mesmo existia. Estávamos distanciados, eu e você. Não consigo lembrar o porquê mas sei que toda vez que conversávamos eu estava desse jeito, a visão turva e eu do lado de fora.

Tudo começou a piorar quando, em certos momentos, era como se eu sonhasse acordado,mas nunca eram sonhos bons. Uma hora eu esta com ela e na outra estava em um quarto cinza, frio e escuro que parecia de hospital, gritando e sentindo uma dor inimaginável na cabeça. Tinha vezes que acordava amarrado ou afogado e não conseguia o porquê. Não sabia se a razão de tudo aquilo era ter encontrado Rose mas não importava, eu só queria estar com ela, mesmo que significasse sofrer e ser torturado por meus próprios pensamentos.

Mas algo terrível aconteceu. Rose entrou no container enquanto estava "trabalhando" e viu tudo. Aquela parte apática em mim pareceu ter ficado feliz e eu não entendia o porquê, meu lado conseguia sentir apenas desespero por não saber o que fazer.  Saber eu sabia... mas não queria de jeito nenhum.

Quando Rose ameaçou contar tudo para a polícia e disse que estava com medo de mim, me chamou de monstro e todas aquelas coisas que uma pessoa normal nos diria, eu enlouqueci. Queria chorar e pedir desculpas, queria dizer que pararia se ela quisesse, mas eu simplesmente não conseguia. Era como se não tivesse mais controle sobre meu corpo, mais intensamente do que nunca. Eu a matei e fiz parecer um suicídio, depois de hackear seu e-mail e mudar meu IP eu escrevi algumas postagens em seu blog, típicas de uma pessoa prestesa desistir de tudo. 

Depois de postar tudo aquilo, editei seu search em redes sociais de música para músicas que falassem sobre depressão e ansiedade. Finalmente depois de tudo aquilo, levei Rose até uma ponte em uma parte vazia da cidade e a empurrei de lá. Quando cheguei em casa e me deitei em minha cama, voltei a acordar naquele quarto cinza e vazio.

Eu nunca chorei tanto na minha vida como chorei aquele dia, encarando aquelas paredes escuras e frias do que parecia ser o inferno.”

Não tive palavras para reagir. Havia conseguido parar de chorar, mas sentia que as lágrimas seriam empurradas de novo a qualquer instante. 

─ Não cometa meu erro, mana. Enfrente o problema, lide com ele. Seja forte!

Minutos refletindo aquelas palavras, funguei uma última vez antes de perguntar:

─ Você se lembra de nossos nomes?

Seu corpo estremeceu. Sua expressão era de pura perplexidade. Ele comprimiu os lábios franzindo o cenho, depois voltou seus olhos a mim, respondendo:

Eu pensei que você lembrasse.

 

***

 

         Segunda-feira de manhã. “Olhos de hortelã, tão lindos, mesmo chorando” dizia o bilhete pendurado em minha cabeceira. Olhos de hortelã, mas os que choravam eram de prata, escondidos abaixo de olhos artificiais. Fique quieta, eu ordenava. E assim como ordenei, ela estava quieta: a criança chorona dentro de mim.

         Suspirei me sentando em minha cama. Os lençóis cor de rosa me davam bom dia, enquanto o próprio sol tratava de fazer a mesma coisa. Retribuí o gentil cumprimento com um sorriso triste, depois, me espreguicei calçando as pantufas. Corri até a cozinha – o que foi uma péssima ideia, já que havia levantado da cama muito rápido e ficado tonta – e peguei o primeiro copo que vi pela frente.

         Enchi o recipiente de água até a borda e levei a boca, completamente desidratada.

Quarta Lembrança, metade dessa sei que era com certeza minha. A dor era a mesma.

         Agulha atrás de agulha, seringa atrás de seringa. Gritos e berros clamando por piedade era tudo o que conseguia sair de minha boca. As substâncias passeavam dentro de meus braços e veias, enquanto os furos ardiam como se estivessem em chamas. Eu chorava, chorava muito. Pedia que parasse de furar meus braços, que parasse de me causar sofrimento. Gritava por socorro, e acima de tudo, pelo nome de meu irmão. Depois, comecei a chamar por papai e mamãe, mas ninguém atendia. Pedi até mesmo que algum deus me tirasse dali, pedi que tirasse minha vida, mas não havia ninguém por mim.

         Me debatia na cadeira, amarrada como um porco para o abate. Meus soluços eram incontroláveis e mais pareciam gritos de um filme de terror.

         Olhei nos olhos do homem que buscava a verdade, mas não acreditava em uma palavra minha que a carregasse. Queria entender como ele achava que a dor mudaria minhas palavras, mas não conseguia proliferar nada além de “Não”. A dor estava lá muito antes que tivéssemos começado.

         O ambiente girava à minha volta. Encarei rapidamente meus braços, os furos, os pontos de incisão, antes de sentir uma forte dor de cabeça e fechar os olhos com força. Mesmo assim, o mundo não parava de se mexer, eu conseguia sentir perfeitamente.

         ─ Me diga o que você e a peste do seu irmão fizeram a ela! Me diga, monstro! ─ Ele gritava com fúria e olhos lacrimejantes. Com toda a minha coragem, cuspi em seu jaleco branco como resposta. ─ Não vai dizer? ─ Sua gargalhada grave ecoou pelo local, fazendo todos os pelos do meu corpo se arrepiarem. Em suas mãos, uma seringa de líquido vermelho, cuja agulha parecia a ponta de um prego de tão grossa ─ Minha cor favorita, sabia?

         O objeto foi rapidamente de encontro ao meu ombro, colidindo diretamente com minha estrutura óssea. Gritei como uma Banshee¹, sentindo minhas cordas vocais queimando tanto quanto as feridas. A substância vermelha começou a se esvair da seringa, percorrendo por entre minhas correntes sanguíneas: Invisível, porém não indolor.

Fim da quarta lembrança

Minha mão fraquejou e o copo foi ao chão. Elas, levei os dedos aos meus cabelos, puxando levemente os mesmos. Elas voltaram.

         Fechei os olhos e respirei fundo. “É. Vou ter que lidar com isso”.  

Limpei minha pequena bagunça e peguei outro copo cheio para me hidratar. Já eram cinco da manhã, eu provavelmente teria que ajeitar todas as minhas coisas em uma velocidade sobre-humana se quisesse terminar os trabalhos pendentes a tempo.

Coloquei meu melhor par de chuteiras na mochila, meias brancas e o uniforme do time. “Turtles do Oceans”, céus, o que eu não fazia para me aproximar de um alvo. Mas tudo o que passava era parte do jogo e da música: O alvo tocava o pré refrão com suas notas, e depois, seria minha vez.

Encarei meu notebook descarregado sobre a cômoda. Pom² ficaria decepcionada, pensei. Conectei o carregador e fui até meu armário procurar um par de calça jeans bem grossa de cor vinho, acompanhada de um casaco preto de moletom com capuz. Meu celular vibrou, o que me fez dar um pulo. Estranhei o medo repentino, mas como fiz com todo o resto, preferi ignorar.

“Hey, hey, Tella panela! Vamos patinar hoje, você vem? Espero que sim. Na escola te passo detalhes! ” Dizia a mensagem de Loli. Dei de ombros e digitei:

         “Beleza, eu vou. Te vejo lá”

Ainda estava desnorteada, e muito, muito perdida. A rapidez com a qual tudo estava acontecendo era surreal, muita informação para minha cabeça. Tudo parecia estar dando errado. Mais uma mensagem, desta vez de Robert, dizia: “Stell, podemos sair de novo? Me ligue assim que puder”.

Droga!

Certo, aquele com certeza não era meu dia.

─ Stella, não temos água quente ─ Bernard berrou do andar de baixo.

Suspirei com ódio e fui tomar meu banho. Água fria, dia frio, humor frio... uma maravilha. Me vesti rapidamente e tomei o caminho da escola. Batia meus pés com força no chão, não só por estar com raiva, mas tentando não mostrar o quanto queria amassar o rosto de algum outro ser humano com as mãos.

Passando pelo pátio, percebi que as notas do mês foram lançadas – pelo menos as dos testes. Procurei as minhas e, quando encontrei, obtive surpresas:

Stella Baljor

Matemática: B

Ciências: A

Literatura: A

Geografia: D-

Física: B

Educação Física: A

História: A

Inglês: A

 

Não soube o que dizer, tampouco o que pensar. D- em geografia? Era meu fim, meu irmão me jogaria pela janela! Desci minha visão pelo mural, mais precisamente nas notas de literatura.

Franklin Chemint

Literatura: F

 

Analisei atentamente a nota, já pensando em um bom plano – o que provavelmente não era muito bom. Eu precisava saber de mais coisas sobre aquela família, e agora, já tinha um método para conseguir a resposta.

Sorri arteira e fui andando até a sala de literatura, me sentando ao lado de Lola, como sempre fiz. Karen estava na sala, me olhando com cara feia e um biquinho ridículo. Até uma semana atrás nunca tinha nem visto o rosto daquela garota pela escola, o que era estranho porque ninguém pareceu notar sua ausência. Ao perceber que olhava em minha direção, sorri de volta. Ela pareceu não gostar muito disso.

Segurei ao máximo minha vontade de rir, até que ela passou: exatamente no momento em que senti outro par de olhos sobre mim. Como em várias outras vezes, nossos olhos se encontraram e se desviaram.

Psiu! ─ virei minha cabeça em direção a Olivia. Ela disse entre gestos: “Depois falaremos sobre isso”. Fiz que sim com a cabeça e me voltei para Lola.

─ Quem vai conosco, onde é, e que horas devo estar lá? ─ Perguntei.

─ Meu primo, Liv, Emmy e Tyler ─ respondeu prontamente. ─  É um lago atrás da escola, vamos assim que a aula terminar, é só buscar os patins em casa.

Fiz um sinal de “okay” e voltei minha atenção a aula. A matéria do dia era sobre metáforas. Com o lápis na mão, comecei a produzir um texto cheio das mesmas. Enquanto o dia se seguia, uma enorme nuvem cobriu a escola – talvez o bairro inteiro.

O nimbo. Era com certeza uma boa matéria para as reflexões de segunda-feira. Representava muito bem meu dia, embora eu estivesse começando a ter ideias de como muda-lo.

Eu realmente estava tendo um bad time

 


Notas Finais


referências meramente com o intuito de adicionar easter eggs.
[interação] quais você conseguiu encontrar?


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