História Melodias do Passado - Um - Amigas

As férias estão terminando. Que pena! Gostava de ficar em casa mofando, pois não tinha nada pra fazer, mas prefiro ficar mofando em casa a estudar!

Mas tudo bem, vou passar meu último dia das férias na casa da Luka, pelo menos a mãe dela sabe cozinhar melhor que meu pai – muito melhor, diga-se de passagem –, meu pai sempre queima o ovo frito! Quem queima ovo frito? Bem, o meu pai...

Na minha casa não tenho nada pra fazer, gosto de tocar o velho piano vermelho da minha mãe, mas meu pai não gosta que eu o toque, então, o piano fica coberto com um pano branco, assim como a maior parte das coisas da minha casa. Minha casa tem tanto pó que parece um canteiro de obras, meu pai não deixa nem uma faxineira entrar naquela casa e tocar em alguns daqueles móveis, e também não temos dinheiro para pagar uma faxineira, e ele não espera que eu limpe aquela casa, né?

Meu pai odeia aquela casa, odeia pois minha mãe amava aquela casa. E tudo naquela casa consequentemente nos faz lembrar dela. Ela morreu faz três anos de leucemia. Quando eu tinha 13 anos, enfim, não superei completamente. Mas pelo menos não choro toda noite até cair no sono como antes...

* * *

-Miku-chan! Achei que não vinha mais! – disse a Luka me puxando para dentro da casa dela – Infelizmente já acabou a comida!

-Sério? Mas eu não comi em casa! – disse frustrada – Droga vou morrer de fome...

-Nossa, até parece que você vem aqui em casa para comer! – Luka diz se fazendo de ofendida.

-Não, Luka, não, é que você sabe como meu pai é na cozinha!

-Eu sei Miku, eu estava brincando, tem comida sim! – disse me fazendo sentar no sofá – Mãe, a Miku chegou!

-Que bom que chegou querida, fiz seu prato preferido! – Disse a Sra. Megurine .

-Com bastante alho-poró, né? – Disse animada, afinal, a mãe da Luka trabalha em um restaurante, é cozinheira!

-Claro Miku! – Disse a Sra. Megurine

A mãe de Luka já estava acostumada comigo na casa dela, minhas visitas lá eram muito frequentes. Ela até sabia meus pratos preferidos, meus costumes, me jeito de ser. Lembro da Sra. Megurine desde que me lembro de mim. Minha mãe e a Sra. Megurine eram melhores amigas, tinham aulas de músicas juntas.

Assim também conheci Luka, somos amigas desde sempre.

A comida estava na mesa e começamos a comer.

-O jantar estava ótimo Sra. Megurine! – Disse limpando minha boca com um guardanapo.

-É, pena o papai não ter jantado conosco... – Disse Luka mexendo no frango com o garfo.

O pai da Luka trabalhava no gabinete de um senador. Vivia trabalhando, quase nunca aparecia em casa, não que ele não fosse um pai carinhoso, mas alguém precisava botar comida na casa. Igual ao meu pai. Meu pai também vive ausente, mas ele trabalha como secretário de um empresário rico, que mora no interior, em uma mansão numa fazenda dos sonhos, cheia de jardins e flores. Como eu sei como é a mansão e a fazenda? Minha avó mora pertinho da fazenda, em um sítio. Meu pai diz que é coincidência ele trabalhar na fazenda ao lado do sítio da minha avó, onde ele foi criado. Eu acho que tem algo mais, mas ele não me conta, quando eu pergunto sobre isso pro meu pai, ele muda logo de assunto.

-Eu já estou indo dormir Miku. Amanhã temos que acordar cedo para ir para a escola! – disse Luka indo para o quarto dela.

-Eu também já vou, estou morrendo de sono.

Fui para o quarto, me deitei no lado de baixo do beliche.

-Miku, será que vamos ficar na mesma turma? – perguntou Luka me observando de cabeça pra baixo da cama de cima da beliche. Seus cabelos pareciam uma cortina rosa claro caindo se cima.

-Claro! Ninguém ousaria separar a dupla dinâmica do colégio! – Dei uma piscada simpática para ela.

Rimos. Eu e a Luka somos inseparáveis no colégio, nada nos separa e nada nos abala, – exceto duas pessoas que vivem nos atormentando – somos temidas na escola, todos nos chamam de más, mas os alunos se incomodam com a minha sinceridade e a agressividade da Luka. Por isso não temos amigos, só uma a outra.

-Miku? Vamos cantar? – Perguntou já sabendo a resposta.

-Claro! Achei que não íamos cantar hoje!

É um costume, sempre que durmo na casa da Luka, a gente canta canções até dormir, foi assim que parei de chorar de saudades da minha mãe toda a noite...