História Memórias - Make You Feel My Love

Bar Mitsashi, 23 de Novembro – 18h09min.

- Droga Lee, meu celular tem três ligações de Naruto. – o aparelho tinha descarregado a bateria e ficado desligado desde o inicio da tarde.

Depois da minha conversa com Neji eu não suportaria ficar sozinha naquele bar, por isso liguei para ele, que veio pouco tempo depois.

- O meu também tem ligações perdidas. – ele ignorou-o. – São de alguns alunos. – explicou.

Assim como eu, Lee também dava aulas de luta na academia, foi lá que nos conhecemos.

- Pode ser algo sobre Temari. – comentei ainda de costas para ele. Ouvi-o levantar-se e depois percebi que estava ao meu lado no balcão.

- Sendo assim, vá até o hospital. – ele sussurrou próximo a meu ouvido.

- Você não espera que eu vá assim não é? – me referi ao fato do bar estar cheio.

- Não se preocupe, eu tomo conta de tudo aqui.

- Obrigada.

Hotel de Konoha, 23 de Novembro – 18h38min.

Depois que finalmente sair de casa eu peguei um táxi até a casa de Shikamaru e conversei com Yoshino. Ela me acolheu lá em nome de Shikamaru, mas ainda assim eu falaria com ele depois. Agora eu precisava descobrir toda a verdade sobre os últimos seis meses, e sabia quem estava disposto a me contar tudo.

Liguei para Sakura perguntando se ele ainda estava no hospital e ela me disse que não. Toquei a campainha três vezes até que ele veio abrir a porta, a expressão em sua face ainda menos surpresa do que eu pude prever.

- Ino. – Mas sua voz demonstrava o que seu rosto não deixava passar.

- Podemos conversar? – ele me deu licença e eu entrei no apartamento. - Sobre nós. Sobre o que tivemos... E sobre o que sentimos. – ele assentiu e pediu que eu sentasse.

- Eu não sei por onde começar... – ele foi sincero. Era estranho estar naquela situação. Quase não nos olhávamos e quando acontecia um de nós desviava o olhar.

- Eu quero saber tudo. – e ele assentiu.

Gaara me contou com detalhes o dia em que admitiu estar apaixonado por mim, e como eu lhe dissera que era reciproco. Aquelas emoções eu conhecia, tinha sentido tudo novamente no hospital. Falou da primeira vez que dormimos juntos durante uma viagem de Sai. Ele estava desconcertado e eu tinha um misto de sentimentos ainda mais desconcertantes. Contou sobre nossos encontros e nossas viagens, algumas vezes nós tiramos fotos, o que me pareceu estranho e comprometedor; sobre nossas conversas e nossos planos para o futuro. Por fim ele me disse o que aconteceu no dia em que decidimos assumir que estávamos juntos, e transamos loucamente na dispensa de Hinata.

Eu podia associar algumas coisas que ele contou ao que eu achava serem sonhos. As lembranças da praia, por exemplo. Contudo, o que me chamou atenção foram os modos dele enquanto me contava. Saudoso. Nostálgico. Triste.

Ele me contava aquela história com paixão. E eu tinha certeza que o olhava com o mesmo sentimento agora. Eu o amava, ficou ainda mais claro para mim enquanto o ouvia. Era tudo verdade, e eu estava ainda mais confusa agora.

- Eu queria ter essas lembranças... Queria mesmo. – disse triste e ele que estava sentado a meu lado segurou minha mão. – Por que você foi embora? Por que se omitiu?

- Os médicos disseram que você deveria voltar a sua rotina. Sua rotina não era comigo e se era para você se recuperar, então valia o sacrifício.

- E se eu nunca lembrar? – perguntei. – E seu tivesse me apaixonado por Sai?

- Então eu passaria o resto da vida sofrendo por você. – ele disse baixo.  – Contudo... – virei de frente para ela. – Se houver a mínima possibilidade de você decidir ficar comigo, então eu desejo construir lembranças novas, melhores.

- O filho que estou esperando... De quem é? – eu queria tanto que ele soubesse responder. Era o que mais me doía, era o que eu tinha feito a mim mesma.

- Eu não sei. – ele foi direto.  – Entretanto, eu não estou preocupado com isso realmente. – franzi o cenho. Minha gravidez não importava a ele. – Eu amo você. – ele me pegou de surpresa. – E esse filho é seu, eu o amaria de qualquer forma.

- Eu estou muito confusa. – eu sabia que ouvir aquela frase ia doer, mas era a verdade. – Eu não sei o que te dizer, eu não sei bem o que estou sentindo. Eu ainda não consigo acreditar...

- Não precisa se explicar. – ele acariciou meu rosto.  – Se for preciso minha vida inteira para te provar então passarei a vida inteira te mostrando que o que disse foi sincero.

- Acho melhor eu ir agora. – falei e ele se afastou de mim.

- Quer que eu a acompanhe? – eu neguei.

- Você poderia... Dar-me um beijo? – ele sorriu e se aproximou de mim. Meu coração acelerou e senti minhas pernas tremerem em antecipação. Minhas mãos estavam geladas pela ansiedade daquele toque.

- Boa noite Ino. – ele disse baixo e depois me beijou o rosto. Eu queria um beijo como o do hospital. Quando o olhei sua expressão era de dor.

- Não enquanto você não tiver certeza sobre o que quer ou o que sente... – ele respondeu minha pergunta muda e beijou-me a testa.

Hospital de Konoha, 23 de Novembro – 19h26min.

Quando eu cheguei ao hospital, já havia conseguido falar com Gaara, eu não quis ligar para Naruto e ter que conversar com Hinata, ela me perguntaria sobre Neji, e quase tive um ataque ao saber que Temari finalmente tinha acordado e estava fora de risco.

Quando entrei na sala de espera encontrei Shikamaru conversando com Naruto e Hinata. Os três olharam para mim e depois para mais um recém-chegado, Neji. Ele me olhou por alguns segundos antes de passar por mim e ir sentar ao lado de Shikamaru, entregando-lhe um copo de café. Naruto franziu o cenho confuso e Hinata apenas baixou o olhar.

- Como está Temari? – perguntei querendo mudar o foco da atenção. – Já pode receber visitas?

- Ela passou o dia fazendo exames... Sakura falou que ela estava um pouco confusa no começo da tarde, porém já está bem melhor. – Shikamaru explicou. – Mas ainda não pode receber visitas.

- Entendo. – falei.

- O que aconteceu? – Naruto perguntou olhando de mim para Neji. – Vocês dois brigaram?

Shikamaru suspirou e Hinata tocou o ombro do marido. Neji me encarou com a sobrancelha arqueada e quando eu desviei os olhos ele se levantou.

- Eu tenho que ir. Liguem-me se precisar. – ele frisou o liguem-me para que eu soubesse que também se referia a mim. Quando passou por mim, pela segunda vez, o perfume dele ficou impregnado em meus sentidos.

- Nós também já vamos. – Naruto levantou e Hinata o acompanhou. – Até amanhã vocês dois.

- Se incomoda se eu ficar aqui essa noite também? – perguntei a Shikamaru e ele negou. – Não vai perguntar?

- Não preciso. – ele respondeu. – Ele gosta de você...

Hospital de Konoha, 24 de Novembro – 10h45mim.

A noite pareceu mais longa que todas as outras, por que eu sabia que ela estava acordada e que a qualquer momento poderia ir vê-la. Só que esse momento demorou um pouco mais do que eu pensei.

Quando amanheceu Gaara voltou ao hospital e eu e Tenten fomos para casa, ela para dormir um pouco antes de ir trabalhar e eu para tomar um banho. Parecia ridículo, mas queria estar ‘bem’ quando pudesse falar com ela.

Finalmente o momento tinha chegado. Sakura me disse que ela ainda estava na ala de observação, mas que eu poderia ficar um pouco com ela. Enquanto eu passava pelos corredores do hospital, não reparei em ninguém que passava por mim, não pensei em mais nada, além dela.

Tudo o que eu queria era vê-la, poder olhar em seus olhos e seu sorriso outra vez. Ouvir sua voz, e sentir seu cheiro, o calor de sua pele.

Eu sabia que não poderia abraça-la do modo como queria, e sabia que provavelmente seria difícil conversar com ela agora. O que eu não sabia é qual seria a reação dela a me ver e isso me deixava assustado.

Temari estava olhando para uma janela e não virou o rosto mesmo depois que eu entrei. Respirei profundamente e me aproximei ainda mais da cama em que ela estava. Quando eu já estava perto o suficiente ela me olhou, e o que eu vi em seus olhos foi apenas magoa.

Silêncio. Pesado e sufocante.

- Eu... – que palavras usar? Tive vontade de chorar, porém ela diria que sou um bebê chorão novamente... Ela não disse nada parecido quando eu perdi Asuma ou meu pai, ao contrário, ela havia sido meu alicerce. – Eu estou aliviado que você esteja bem.

- É tudo o que você tem a dizer? – a voz dela era fria, o cenho franzido. O que ela queria que eu dissesse? – Se é isso, então pode ir embora.

- Temari. – tarde demais, minha voz estava embargada. – Os últimos dias, eu... Pensei que iria perder você. – notei que ela ainda respirava com um pouco de dificuldade. Talvez estivesse sentindo dor, mas nesse momento ela não me diria.

- Você perdeu Shikamaru. – ela ponderou suas palavras. – No momento em que deixou que eu saísse naquela noite. – não era o melhor momento para falarmos disso, entretanto era inevitável. Ela não queria adiar aquela conversa. 

- Naquela noite, você me perguntou se eu a amava. – seu olhar ficou ainda mais triste. - Sim eu a amo desesperadamente, porém eu não sabia como dizer.

- Você só diz isso por que eu quase morri... Você se sentiu culpado, mas não foi sua culpa. Você não precisa se sentir assim apenas porque estamos nessa situação.

- Você está errada. – disse me aproximando ainda mais dela. – Você mais que ninguém deveria saber que eu não estou mentindo. – segurei sua mão.

- Eu não sei bem como... Mas acho que ouvi você. – ela balançou a cabeça. - Nós cometemos uma sucessão de erros por antecipação, logo nós dois. – ela riu fraco. De tão perto eu podia ver os traços de seu rosto perfeitamente. – Não vou fazer isso de novo.

- Eu falhei miseravelmente com você. – baixei meu olhar para sua mão, seu toque quente. – Tantas vezes. – a olhei, mas ela tinha voltado a olhar para a janela. – Eu devia ter ficado ao seu lado.

- Nós dois falhamos um com o outro. É tarde demais para querer mudar algo. Só nos machucaríamos mais.

- Nós podemos começar de novo... – repeti as palavras de Naruto.

- Eu queria poder acreditar nisso. – ela falou e seu dedo roçou levemente sobre a pele da minha mão. – Queria confiar em você outra vez, por que eu amo você, no entanto, eu não posso.

Aquelas palavras me fizeram em pedaços e o vento levou todos eles, meu mundo todo estava ruindo. Se ela tivesse me batido, se tivesse me ignorado, tudo isso doeria menos do que aquela frase.

- Nós nos envolvemos tão rapidamente e ignoramos nossa razão para agir por instinto, paixão. Esse foi nosso erro. – ela continuou a voz suave agora. – Nós nos apressamos em nos jogar do precipício, sem saber se sobreviveríamos.

- Eu teria me jogado mil vezes por você, problemática. – disse–lhe; o antigo apelido fez com que ela desse um sorriso triste. Não era esse o sorriso que eu queria ver. Eu queria o sorriso que virara meu sol. – O que nós temos não foi e não é uma mentira.

- Um ano atrás eu teria acredito cegamente nisso... – ela suspirou. – Mas não podemos fechar os olhos para o que aconteceu. Você sabe disso. Não podemos ignorar o que aconteceu.

- Eu fui tão tolo. – virei o rosto para que ela não visse minhas lágrimas. – Me perdoe Tema.

- Shikamaru. – ela chamou e eu voltei a olha-la; Temari levantou a mão com um pouco de dificuldade e a pôs em meu rosto. – Vai ser melhor assim.

- Eu não vou desistir de você. – ela sorriu mais abertamente desta vez; tive a impressão que ela diria algo.

- Shikamaru. – A voz de Sakura preencheu a sala e Temari voltou a repousar sua mão sobre a cama. – Está na hora, sinto muito.

- Tudo bem. – eu disse ainda olhando para Temari. – Eu virei ver você. – ela negou com a cabeça e depois baixou os olhos.

- Adeus Shikamaru. – eu quis reponde-la, contudo Sakura me impediu. Ela tocou em meu ombro e me guiou até o corredor.

- É melhor deixar que ela veja o irmão agora. – ela disse baixo.

- Você já a havia dito que eu viria vê-la? – ela assentiu isso explicava muita coisa.

- Eu não queria que ela se estressasse... – ela explicou. – Shikamaru ela aceitou ver você. – talvez eu devesse interpretar aquilo como algo bom, contudo, bom era o que estava longe de ser.