História Memórias de Dezembros - Capítulo Único

Noite de 25 de Dezembro, eu estava no meu quarto observando a neve cair e acumular-se na minha janela, e por mais incrível que pareça, eu estava triste por isso. Cerca de meses atrás minha vida mudou completamente, Deixei meu país para fazer todo o High School em Goyang, na Coréia do Sul e apenas pretendo voltar para o Brasil se não passar no vestibular em alguma universidade aqui. Enquanto sou menor de idade, uma família coreana toma conta de mim, já que se trata de um intercambio. Me chamo Elivana, tenho 15 anos e possuo características de onde vim, cabelos e olhos castanhos e pele clara, porém bronzeada. Claro que estou amando viver aqui, mas os últimos dias não tem sido os melhores. Uma semana antes do natal toda a minha vidinha perfeita de estudante pareceu desmoronar bem na minha frente... Por ser nova na cidade, não tinha muitos amigos, a não ser meu melhor amigo da escola, o senhor e senhora Kim, meus pais de intercambio, e a minha vizinha, Mi Chae. Ela era muito próxima a mim, mas não havia me contado que sofria de uma doença em fase terminal e acabou nos deixando, e o meu outro amigo, iria se mudar para Seul já que era trainee na SM e iria debutar em uma boyband por nome EXO. E como ele ama contar segredos, deixou para me dizer isso na véspera do natal. E pra piorar tudo, comprei passagens para visitar minha família neste natal, mas o meu voo foi cancelado devido ao mal tempo e os outros voos estavam lotados para me transferir. Ou seja, além de triste, estava frustrada, e por mais que tentassem me animar, me levando para ver Seul enfeitada, compras, shows e tudo mais, não adiantava. Tudo o que eu queria no momento era voltar no tempo mudar o nosso destino. Vi a tela do meu celular brilhar no escuro do quarto. Havia uma mensagem de uma das pessoas mais importantes para mim no momento.

“Não fique triste, eu já pedi desculpas por não ter contado antes. Olhe para baixo.” – Olhei para baixo, assim como pedia a mensagem... E o que eu vi fez meu coração quase sair pela boca. O meu melhor amigo, Do Kyungsoo segurando um buquê de flores enquanto me esperava do lado de fora. Lembranças de como nos conhecemos vieram à minha mente.

Flashback On

Eu e Mi Chae estaríamos participando de um festival na escola que estudávamos, a ideia foi toda dela, já que seu sonho era ser trainee em alguma das maiores agências de entretenimento. Como tinha medo de apresentar-se sozinha, eu resolvi ajudar. Não que eu não goste de cantar, muito ao contrário, amo! Mas meu sonho era outro. Faltavam apenas dez minutos para a apresentação e eu estava me xingando mentalmente por ter aceitado aquilo, cantar em coreano na frente de centenas deles não parecia ser uma boa ideia.

- Não precisa ficar nervosa, tente se divertir enquanto canta, isso funciona. – Virei-me para ver quem falara.

Era um garoto lindo! Não muito alto, olhos curiosos e cativantes e lábios carnudos que formavam um sorriso encantador, de longe o mais belo que já havia visto. Meu mundo congelou por alguns segundos e por instantes não percebi que já era minha deixa, não tive tempo de respondê-lo já que me empurraram para o palco. Nos apresentamos e foi um sucesso. Minutos depois resolvo continuar assistindo o festival na plateia e vi o mesmo garoto de antes se apresentar, não era somente sua aparência que o tornava angelical, sua voz era incrivelmente doce e meiga, sentia minha mente flutuar à medida que ele cantava.

Mi Chae acabou me explicando que o nome do garoto era Kyungsoo e era do ultimo ano, e era bastante popular entre as meninas e os professores, apesar de ser bastante tímido. Depois de algumas semanas, estava andando pelos cantos da escola quando percebi uma movimentação estranha próximo à quadra. Era um grupo de meninos batendo em apenas um garoto, assustada com tamanha maldade, ameacei denunciá-los, fazendo-os fugir. O garoto estava de bruços, resolvi virá-lo com cuidado para ver seu rosto.

- Ai meu Deus! – Falei ao ver que era o Kyungsoo.

- Garota do festival! – Sorriu com dificuldade. Ajudei-o a levantar e o levei à enfermaria. Como ainda era cedo, a enfermeira ainda não havia chegado.

- Deixa que eu cuido disso. – Disse procurando pelo material de primeiros socorros.

- Ah... Não é necessário! – Seu rosto estava avermelhado de vergonha. – Eu não estou tão machucado assim, são apenas alguns arranhões. – Falou saindo da maca.

- Arranhões bem feios... Podem infeccionar se você não limpar isso logo. Volte para o seu lugar! – Ordenei. O mesmo arregalou os olhos com a minha autoridade.

- S-sim... – respondeu mais vermelho ainda. Peguei a caixa e limpei todas as suas feridas, em seguida fazendo o devido curativo nelas. Ao invés de resmungar, ele apenas permanecia ali, me encarando com aqueles olhos curiosos e com um bico imenso. Que fofo.

- Prontinho! – Disse.

- Obrigado! – Sorriu tímido e curvou-se. – Você fez tão bem que nem senti arder tanto, o que quer ser no futuro? Porque isso combina muito com você. – Disse, ainda tímido.

- Eu quero ser médica. – Sorri.

- Sou bom em adivinhar esse tipo de coisa. – Correspondeu o sorriso.

Conversamos por alguns minutos e depois nos despedimos. Depois daquele dia nos aproximamos bastante, e logo nos tornamos melhores amigos. Ele era um garoto de poucas palavras, mas aquilo era o que o tornava mais especial. Depois de meses de amizade, notei que sentia algo a mais por ele, algo ainda maior que um simples crush. Apenas não podia dizer se era correspondido.

Flashback Off

- Feliz Natal, pandinha! – Levantou-se do sofá e disse com um sorriso fofo enquanto eu descia as escadas.

- Qual é a das flores? – Falei apontando para o ornamento em suas mãos. A senhora Kim apenas observava com um sorriso enorme e olhos brilhantes.

- São para você! Qual o problema em um amigo tentar te animar? Estou dando meu melhor! – Respondeu com um olhar de cachorro molhado. Esbanjei um sorriso simples pela primeira vez naquela noite. Peguei o buquê de suas mãos.

- Obrigada Kyung! Talvez esteja funcionando... – Falei com voz fofa, lhe abraçando.

- Por que vocês não saem um pouco, Eli? Você precisa curtir o restinho do natal... – Disse a senhora Kim. Concordamos e saímos.

Depois de andarmos um pouco enquanto conversávamos já me sentia mais animada.  A cidade estava linda e iluminada. Estávamos sentados frente a um lago em um parque na cidade enquanto nos lembrávamos dos meses passados, era a ultima noite que o veria este ano. Ríamos bastante.

- É bom te ver rindo assim novamente. Não deixe de sorrir assim, você transforma o mundo ao seu redor quando está alegre. – Disse.

- E você vai deixar saudades, corujinha...

- Ei! Eu não vou morrer sua boba! Eu sei que talvez não nos vejamos por um bom tempo, mas eu só vou me mudar de cidade. Certamente minha vida será bem ocupada. Mas eu nunca vou te esquecer. – Dizia fitando o chão enquanto tentava arrancar um pedacinho de unha com os dedos. É, ele estava bem nervoso... – Eu tenho uma coisa para você. – disse tirando uma caixinha do bolso. – É o seu presente de Natal. Ah, e obrigada pela corujinha de pelúcia, eu amei.

- Você gosta, e parecia um pouco com você! – sorri, e ele sorriu de volta.

- Vire-se... – Disse enquanto tirava o objeto da caixinha. Virei-me. – Nunca se esqueça de mim. – Pôs ao redor do meu pescoço, um colar com um pingente de coração cravejado com pedrinhas. E no verso do pingente, nossos nomes estavam assinados com sua caligrafia, miúda, mas presente. Senti meu rosto esquentar e uma lágrima cair. Meus sentimentos por ele ainda eram confusos, ele era meu amigo, mas eu também o amava. Sentia-me insegura. Tinha medo de que aquela fosse mais uma de minhas ilusões amorosas.

- O-obrigada... – Falei tentando não chorar.

O mesmo começou a cantar baixinho enquanto me abraçava. Pude notar o trecho de Let me love you (until you learn to love yourself) de uma forma bem mais lenta e emotiva.

“Much as you blame yourself

You can't be blamed for the way that you feel

Had no example of a love that was even remotely real

How can you understand something that you never had?

If you let me I can help you out with all of that

Let me love you, and I will love you

Until you learn to love yourself

Let me love you, I know you're troubled

Don't be afraid, girl let me help

Let me love you, and I will love you

Until you learn to love yourself

Let me love you

A heart of numbness, gets brought to life

I'll take you there”.

Senti seu rosto cada vez mais próximo, suas bochechas estavam tão avermelhadas como nunca. Já podia sentir sua respiração próxima a minha. E senti seus lábios nos meus lentamente, como se o tempo tivesse parado. Aquele foi o nosso primeiro e ultimo beijo. A meu ver.

- E-eu não sei o que dizer... Me perdoa...  – Disse totalmente nervoso.

- Não vejo motivos para perdões aqui... – Falei sorridente. Um belo sorriso brotou em seus lindos lábios.

- Talvez não nos vejamos por anos, mas eu precisava desta ultima chance para dizer o que sinto todo esse tempo... Não queria partir sem contar. – Assenti. Nos abraçamos novamente. De forma triste, dessa vez.

E foi naquela noite de natal que terminamos o que havíamos acabado de começar. Se dói em lembrar-me disso? Claro que sim. Mas era necessário. Ambos seguimos em frente com o destino que escolhemos.

...

Quatro anos haviam se passado desde aquele natal. Desde lá, tenho feito amizades e seguido com a minha vida, que era muito feliz, a proposito. Tenho visitado minha família sempre que possível. Já havia terminado o colegial e estava no segundo ano da faculdade de medicina. Havia comprado um apartamento em Seul, já que estudava lá. Era noite de natal, e lá estava eu, no meu estágio, cuidando de pessoas no Hospital da Universidade de Seul, um dos melhores do país.

- Elivana? Temos um paciente de emergência neste quarto, preciso que você vá e tome todos os procedimentos iniciais, e depois encaminhe para o ortopedista. Não faça nada além do necessário! Ele é cliente VIP. De acordo com o seu empresário ele torceu o tornozelo durante um evento. – Disse minha supervisora entregando uma prancheta com os dados do paciente.

- Certamente senhora Wang! – Respondi apressada seguindo para o quarto do mesmo, mal tive tempo de ler seu nome. Cheguei ao quarto onde o mesmo reclamava de dores. Segundos depois de ler seu nome na ficha, tentei esconder minha surpresa e agir normalmente, estava ali a trabalho, afinal. – Boa noite senhor Do Kyungsoo... – Forcei um sorriso. – Precisamos tirar alguns raios-X do seu tornozelo.

Ele por sua vez não respondeu. Permaneceu estático com seus olhos arregalados em minha direção.

- Eli-Elivana?! – Falou com voz de espanto.

- Sim. Este é meu nome... – Apontei para o meu crachá fingindo não me importar. Pude perceber seu rosto tomar uma expressão triste.

- Sunbae, se importaria de nos deixar a sós, por favor? – Referiu-se ao manager que sentava próximo a ele. O outro apenas assentiu e saiu do quarto. – Eli? Não se lembra de mim? – Perguntou com os olhos cheios de lágrimas.

- Quem não se lembraria do D.O. do EXO? – Sorri amarelo.

- Não me refiro a este tipo de lembrança... – Abaixou a cabeça. Eu simplesmente gelei, não conseguia responder mentiras. – Eu ainda te conheço bem, pandinha. Sei que se sente insegura quanto aos meus sentimentos. Eles são os mesmos se quer saber. – Vi uma lágrima singela escorrer do seu rosto. – Você ainda sente o mesmo por mim?

Lentamente pus meus dedos entre a gola alta da minha blusa, retirando dali uma corrente prateada. Kyung levantou seu olhar sobre mim, arregalando os olhos, mais lágrimas começaram a sair de seus olhos ao ver o pequeno pingente de coração sair dali. A essa altura eu também chorava.

- O que você acha? – Sorri, ainda chorando. Vi um enorme sorriso formar-se em seus lábios. O mesmo tentou levantar-se do leito em que sentava. – Ei! Volte para o seu lugar! – Ordenei.

- Nossa, que nostálgico!  - Riu. – No final, é sempre você quem cuida de mim... – Aquele sorriso encantador novamente. Oh céus!

Sentei-me ao seu lado, passando as mãos em seus cabelos. Senti seus lábios sobre os meus, pedindo por um beijo, beijo este delicado, meigo e doce. Depois de nos separarmos, permanecemos nos olhando, com nossas testas coladas e largos sorrisos em nossas faces.

- Feliz natal pandinha, senti sua falta.

- Feliz natal Kyung, eu também senti a sua. – O mesmo me puxou para um abraço.

- Nunca vou te deixar. Eu te amo!