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História "Memórias de Nina Garbo" - Especial 2 - Memórias de Nina Garbo


Escrita por: ValentinaEli

Notas do Autor


Chegamos ao fim desta história! Sei que demorei para finalizar, passei um período bastante corrido e um pouco sem criatividade. Quero agradecer imensamente por todos​ os comentários, amei cada um deles, e por acompanharem a Nina e o Otávio nessa luta, por torcerem pelo amor dos dois. Espero que gostem desse final que escolhi, que guardem e aproveitem cada palavra...Um grande abraço da VelentinaEli.

Capítulo 18 - Especial 2 - Memórias de Nina Garbo


Fanfic / Fanfiction "Memórias de Nina Garbo" - Especial 2 - Memórias de Nina Garbo

Narrado por Nina

Abri repentinamente os olhos e mirei o teto do quarto por alguns minutos, ouvi a respiração suave de Otávio dormindo ao meu​ lado e sorri sentindo paz. Inclinei a cabeça lateralmente, o relógio no criado mudo marcava quase quatro da manhã. Levantei da cama com um pouco de dificuldade, as dores em minhas pernas são frequentes quando acordo. Saí silenciosamente da cama e fui em direção ao banheiro do corredor para não acordá-lo. Acendi a luz, escovei os dentes, lavei meu rosto e o sequei com uma pequena toalha macia, olhei meu reflexo no espelho e esbocei um riso tímido e um pouco triste ao notar as muitas rugas em meu rosto, mas logo alegrei-me ao recordar quantas coisas boas me trouxeram cada uma delas, e os duros ensinamentos que a vida me ensinou. Meus olhos verdes não esbanjam mais aquele vigor, o único brilho que emana deles é todo para Otávio, mesmo depois de todos esses anos ele provoca em mim os melhores sentimentos que alguém poderia sentir. Peguei o pente e passei devagar por minhas mechas grisalhas, adorava meus cabelos​ castanho claros​, a textura macia e os cachos que tanto receberam e ainda recebem as carícias do único homem que eu amo. Fui até a sala que reservamos para nosso escritório, sentei na poltrona, peguei uma folha em branco e uma caneta tinteiro, coloquei meu óculos de grau e deixei​ a mente me levar.

 

Minhas memórias

Escrevo estas memórias porque sinto uma necessidade urgente de ajudar alguém, não importa quem seja, apenas desejo de alma que palavras tão profundas como as que estou a esboçar possam abrir os olhos daquele ou daquela que desacredita do amor. Eu sou a prova viva de que amar dói. Sim, amar dói. Porém, amar também constrói, amar ressuscita, é como respirar ar fresco, é como retomar o fôlego. Não pense que gostar de alguém não trará consigo dores, porque trará. Algumas maiores, outras menores, e até as que são imperceptíveis, mas todas serão dores. Amar alguém requer de nós renúncias, é abdicar de nossas "vontades exclusivas" para abrir o caminho e compartilhar da vida com outra pessoa, que de certo, nos retribuirá da mesma forma. O amor, infelizmente, é incompreendido, confundido com tantos outros sentimentos e tratado com desdém por muitos. Costumamos banalizá-lo, queremos barganha e fazemos dele um escambo, estamos decididos a apenas receber, quando na verdade aquele que não faz o exercício diário de amar, não conhece o amor, pois como diz meu velho amigo de infância dos livros, Antoine de Saint-Exupéry: “O verdadeiro amor nunca se desgasta. Quanto mais se dá mais se tem." Porém, eu sei que há batalhas em que é preferível jogar a espada, pois não há nada a se fazer, é aquele momento em que não resta outra coisa a não ser a indiferença, e de novo me remeto a um sábio pensamento, “Onde não puderes amar não te demores." Nem todos sabem ou podem desfrutar de um amor puro e singelo, mas digo que todos precisam e deveriam deixar-se abraçar por ele, ao invés de tanto resistir, mesmo que ao tocar a rosa sinta a aspereza dos​ espinhos​. E é com o coração aberto que posso dizer, por experiência, que decidi dar a mim mesma uma segunda chance. Uma oportunidade de ser feliz, pois não existe par perfeito, não existe uma pessoa que nos completará. Somos seres completos e necessitamos​ de companhia para nossa "humanidade", menos rejeição de nossos defeitos e mais compreensão de nossas virtudes.

Minhas memórias insistem em ser mais rápidas​ do que minha capacidade de escrever, eu poderia dizer tudo, mas levaria outra vida inteira para isso. Entretanto, vejo as coisas passarem diante dos meus olhos nesse momento, mas quero que entendam o resumo de um ponto chave, se assim posso dizer.

Se por ventura, algum trecho desta carta estiver manchado, não me recrimine caro leitor (a), nem pense que sou descuidada, eu só não consigo conter as lágrimas que descem pelo meu rosto agora. Não é um choro dolorido, mas sim, o pranto de um coração que se emociona ao contar sua história. Não vou escrever a célebre frase: Era uma vez..., mas posso dizer que há muito tempo atrás, na aurora da minha juventude eu conheci um belo rapaz, íntegro, leal, porem tão orgulhoso quanto eu, e por um grande plano para nos destruir eu fui injustiçada e ele preferiu ir embora. Durante vinte anos eu sofri sua ausência, perdi um filho, tirado de mim ainda criança. Depois disso, eu me tornei uma mulher arrogante, seca, autoritária, rude, insensível e outros tantos adjetivos que eu poderia citar, tudo isso apenas por não dar espaço ao meu coração para que ele pudesse se recuperar, eu quis guardar aquela dor porque era a única coisa que me fazia lembrar do único homem que amei e vou amar por toda a minha vida. Ao invés de buscar a cura eu preferi adoecer com o rancor, o ódio, o desespero.

Hoje, meu olhar sobre a vida e sobre mim mesma é de compaixão, pois não há forças na terra que impeçam​ alguém de ser feliz, devemos buscar incessantemente as coisas que nos fazem bem, mesmo que a vida não seja um mar de flores. Não se sinta obrigado (a) a estar contente ou sorrir sempre, há períodos de reflexão, há momentos introspectivos e há dias de luto. Tudo isso deve ser vivido, pois faz parte de nós. Não posso julgar meu passado com a maturidade que tenho hoje, mas se me fosse dada uma oportunidade eu voltaria no tempo e faria tudo diferente. Eu teria viajado até a Inglaterra atrás de Otávio, mesmo estando certa, porque alguém tem que dar o primeiro passo, sei que desisti muito fácil de lutar, e de batalhas, hoje, eu entendo bem, mas meu coração ferido fez-me perder a capacidade de enxergar a felicidade mesmo na escuridão. Perdi as contas de quantas vezes chorei diante do túmulo de meu filho, pedindo a ele perdão por não ter tentado mais, por ser fraca, por não amar seu pai quando ele mais precisava, quando ele estava imerso em seu mundo de sofrimento. É muito fácil amar alguém em seus dias de glória, difícil é amar quando não enxergamos atrativo algum ou nos momentos infelizes.

Posso afirmar com toda certeza: eu ganhei, eu perdi, eu amei, chorei e sorri, fui algoz e fui vítima. Sou apenas um ser humano. E se você se encontra perdido, ou deixou seu grande amor ir embora, vá atrás, peça perdão, diga que ama, que lhe quer bem. Não perca esta chance, eu esperei quase cinquenta anos da minha vida para perceber que eu não poderia ser feliz longe dele, que nenhum dos inúmeros infortúnios que nos atingiram diminuíram em um centímetro sequer o meu amor. Eu me enganei durante muito tempo até entender que a felicidade está nas coisas pequenas, nas coisas simples como admirar os olhos daqueles que amamos, de dizer "como você está lindo (a) hoje", "você me faz bem", "tudo bem, hoje você escolhe para onde vamos". Quando penso nessas pequenas frases eu lembro de minha eterna amiga Marcela, sem dúvidas, ela é um dos maiores presentes que já ganhei, minha conselheira, confidente, um amor que chegou e abalou todas as minhas estruturas, e se hoje escrevo minhas memórias foi porque um dia ela lançou esta ideia no ar. Nós nos vemos quase todos os dias num grupo de amigas da terceira idade, mas perto dela me sinto uma adolescente. Vibrei de alegria quando fui madrinha de seu casamento com o médico, amigo de Otávio. Ela é uma senhora linda e meiga como sempre foi.  Cada vez que a observo, penso em como uma boa e verdadeira amizade pode ser preciosa, pois o amigo é a alma que acolhe a nossa sem querer nada em troca. É o maior consolo na terra para os dias ruins, além de ser o refrigério nas horas incertas, o olhar que acalenta, a advertência nas horas cabíveis. É aquele que vai nos ouvir quando nada e ninguém no mundo puder nos entender. Sempre digo que a amo, isso me faz bem e fico mais feliz ainda quanto sinto seus cuidados comigo. Ainda hoje repetirei para ela "eu te amo". Nosso amanhã é tão imprevisível...

As vezes paramos em frente ao espelho para olhar nossas novas rugas, sim, acho que contamos quase todas. Foi Marcela quem lealmente cuidou de Otávio quando eu não realizei esta tarefa, e foi através dela que decidi mudar meu comportamento como mulher. Ela dizia na época: "não ligue para o que vão dizer, não economize seu amor". É essas palavras que me fazem rememorar das vezes em que Otávio eu nem pensamos no tempo, quando o via entrar em minha sala no escritório não precisava dizer nada, fazíamos amor alí mesmo. E quer saber, era bom demais! Se alguém ouviu nossos gemidos, bem, pelo menos percebeu nosso momento de entrega. O que eu pensava sobre isso? Simplesmente não pensava, já havia perdido muito tempo pensando e não agindo. Fizemos amor tantas vezes quanto respiramos, metaforicamente falando. Ah! Como é bom saber que amo e sou amada, não há nada na vida melhor do que isso.

É com imensa felicidade que recordo de minha lua de mel em Veneza, dos passeios nas gôndolas pelos canais da cidade ao pôr-do-sol, nas viagens de barca, e até mesmo da fachada da Basílica de San Marco. As casas coloridas nas vielas que enfeitavam nossas caminhadas matinais, e que um dia nos deixaram perdidos por horas. Se eu fechar os olhos posso ouvir nossas gargalhadas ao perceber que não fazíamos nem ideia de onde estávamos. Ao invés de nos irritarmos, nós bailamos pelas ruas estreitas e nos beijamos pedindo a Deus que nos desse uma luz sobre o caminho. As pessoas nos olhavam assustadas e por certo, nos tinham como um casal de loucos, de fato, nossos sorrisos, carinhos e declarações de amor aos quatro cantos do mundo foram ouvidas. Era contagiante nossa paixão, e nossos momentos de amor eram regados a um bom vinho e uma boa comida italiana.

Tem sido indescritível envelhecer ao lado dele, eu sinto tanto amor por este homem que a cada cabelo branco que eu vi surgir em sua cabeça, era uma festa dentro de mim. Depois que nos unimos após tantos anos de separação, posso contar nos dedos todas as brigas que tivemos, discussões grandes que nos renderam minutos de "raiva", não conseguíamos ficar brigados por muito tempo. Nunca dormimos sem pedir perdão um ao outro, pelo nosso ciúme, pela nossa incompreensão de certas coisas. Nós aprendemos juntos a viver nosso grande amor. O passado era uma rara lembrança, não de ressentimento, mas de ensino, buscamos não cometer os mesmos erros.

Ainda hoje, quando seus olhos azuis me encaram, sinto o mesmo frio na barriga da juventude, o mesmo amor, porém mais amadurecido, mais firme, leve. Nós temos um laço tão forte que nossa respiração nos dita o humor um do outro, até o que não dizemos uma palavra sequer, já dissemos tudo. Quase todas as noites colocamos uma música bem baixinha e dançamos juntinhos, nos passos lentos de nossa velhice avançada. Nossa diferença de altura permite-me deitar em seu peito, enquanto sinto seus afagos. Há momentos em que olho intensamente para ele, acaricio seus cabelos brancos e selo delicadamente nossos lábios. O abraço e agradeço a Deus por tudo, pela minha vida, por meus amigos e por meu grande e único amor, principalmente por ter me dado um filho Todo ano, no aniversário de Lucas, nós vamos até o cemitério, sentamos diante da lápide e conversamos com ele, contamos sobre nossas vidas e rezamos por sua alma. Coisas típicas de quem já viveu grandes alegrias, tristezas profundas, mas acima de tudo, viveu! Não vou embora desta vida sem ter tido a graça de aproveitá-la.

Eu finalizo estes pensamentos com um pedido: não perca tempo, corra atrás, valorize seu amor, olhe para ele (a) e pense no dia em que você​ se apaixonou, se ainda valer a pena não desista, "...pois a única falta que será, será desse tempo, que infelizmente, não voltará mais". Mário Quintana.

Nina Garbo Finnegan

 

Otávio ainda dorme profundamente, com o passar dos anos, começou a levantar depois das sete da manhã para descansar sua coluna exausta. Fui até a dispensa e peguei o objeto que estava procurando. Chamei um taxi, nessa idade não me arrisco muito a dirigir sozinha, sinto minha visão embaçar as vezes. Troquei de roupa, me agasalhei e saí de casa. Em poucos minutos o carro parou diante da praia de Copacabana, a aurora já forma um belo vitral no céu, preparando o nascer do sol e a orla está vazia. Tirei os sapatos e pisei na areia gélida pela manhã, o vento balança meus cachos, que mais parecem pedacinhos de algodão, abri minha bolsa, retirei a garrafa transparente com a carta dentro dela. Fitei o horizonte e caminhei até a beira da praia, senti a água fria em meus pés e me arrepiei. Juntei todas as minhas forças e lancei a garrafa ao mar na esperança de que algum dia alguém possa encontrar minhas memórias e aprender um pouco com elas, digo isso com toda humildade, pois se eu aprendi, também tenho o dever de passar adiante. Olhei a correnteza levar a garrafa e sorri, volvi meu corpo e imediatamente voltei para o táxi, o rapaz ainda espera para me levar de volta para casa. Quero deitar ao lado de Otávio e esperar até que ele acorde para dizer o quanto eu o amo, não perco isso por mais nenhum segundo da minha vida. Assim viveremos até o dia em que um de nós fechar os olhos, para depois nos encontremos graciosamente por toda a eternidade.


Notas Finais


Obrigada a todos pela atenção com essa fic, foi a primeira que escrevi, então peço perdão pelos erros que encontraram pelo caminho, mas a acreditem que fiz tudo com muito amor e dedicação. Fui aprendendo a melhorar a cada dia e gostei muito de estar na companhia de vocês leitores.

Dedico este capítulo à Poli


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