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História Memórias de um experiente - Mudanças batem à porta


Escrita por: Vitorgraziani

Notas do Autor


Neste capítulo, João de Deus nos narra seus anos em Quixeramobim, ponta pé para a formação intelectual da pessoa a qual tornar-se-ia anos depois. Boa leitura!

Capítulo 3 - Mudanças batem à porta


Tinha já dez anos de idade quando cheguei à Quixeramobim, e foi lá que realmente personifiquei todos aqueles pensamentos que já havia tido no Brejo da Cruz, pensamentos estes até então incompatíveis com uma criança de um povoado sem lei como lá era; e foi esta personificação que garantiu que as histórias aqui narradas realmente acontecessem. Mas esta mudança de cidade não representou alterações vitais só a mim, meu pai, que antes era um legítimo caipira que trabalhara no campo uma vida toda, agora via-se “preso” ao maquinário da indústria metalúrgica na qual começara a trabalhar, diferentemente do trabalho no campo, lá, papai era nada mais que um robô que executava ordens e ficava o dia todo no mesmo movimento repetitivo. Via que aquilo corroía papai, mas voltar para o Brejo da Cruz era algo inquestionável e impossível, decidi então que não poderia fazer nada para mudar a realidade de papai. Sua vida já estava feita, seu futuro já estava traçado; mas o meu, o meu não estava traçado, como um livro, no qual eu escolheria o que escreveria, decidi por escrever um futuro totalmente diferente do de meu pai, um futuro, que ingenuamente pensava eu, não me traria o desconforto, a tristeza, a solidão e até mesmo a infâmia pela qual papai passava. O primeiro passo para esta façanha foi decidir ir, sozinho (e sem a ciência de papai), pedir uma bolsa de estudos no Colegiário do Seminário da Santíssima Trindade, um seminário de formação de padres, mas também de estudo para os filhos de grandes coronéis que desejavam tornarem-se doutores (médicos ou advogados), porém, este segundo serviço era pago, e muito bem pago. Tinha eu já problemas pela frente: não queria ser padre, não queria ser doutor, não tinha dinheiro para pagar a mensalidade. Mesmo assim fui ao Colegiário e enfrentei de cabeça erguida e com todo o respeito possível, o Padre franciscano (que não aparentava seguir a humildade de São Francisco de Assis, o líder de sua vertente religiosa), minha retórica e caligrafia boas o convenceram a aceitar-me, mas teria de pagar dez por cento da mensalidade, mesmo assim aceitei, decidi que para conseguir o dinheiro da mensalidade venderia velas, que produzia em casa seguindo a “receita” de minha finada avó que também fazia o mesmo ofício, no cemitério e na Igreja Matriz de Quixeramobim, o que foi muito bom para mim, pois convivia com a intelectualidade e riqueza do Colegiário e com as dificuldades do trabalho, não do meu, pois não havia concorrência, mas sim das outras lidas de rua as quais via enquanto a minha exercia, e ainda de quebra sobrava uma quantia para ajudar papai em casa, o qual se orgulhava do filho, contando a todos o grande feito que havia eu feito, enfrentando o Padre e entrando no Colegiário. Ali apaixonei-me pela Sociologia, pela Filosofia, pela Literatura e por História. Todas estas matérias eram lecionadas por um mesmo professor, o Frei Caxias, diferentemente dos demais, era um grande amigo e um apaixonado pela arte de lecionar, dito como louco por seus “colegas” de profissão, era na verdade uma dócil e sábia pessoa, um companheiro que todos os seus alunos tinham, foi com ele que fiquei sabendo que neste mundo havia existido um grande líder, num país muito distante, que havia lutado pelos anseios da população mais sofrida, pessoas como meu pai, que não possuíam nenhum tipo de estudo e mal sabiam escrever o próprio nome, e que havia vencido e chegado ao poder, porém que foi influenciado por outros que embora dissessem pensar como ele, não o faziam, com o tempo esse líder mudou seus ideais e acabou vítima destes, vi com esse meu professor também aquele mesmo presidente de meu país que havia anunciado uma espécie de “ditadura” no dia de meu nascimento, deixar o poder, voltar e quando estava à beira de renunciar, afundado em uma grande crise, suicidar-se, vertendo-se num grande líder, como um verdadeiro salvador da Pátria, foi com Frei Caxias também que vi um novo presidente ser eleito, um presidente diferente de todos os que já haviam existido, e que mudaria meu país, e que não obstante, mudaria também a sua capital, num local onde só pasto havia. Tinha meus dezenove anos e formava-me no Colegiário. Quando estava no momento de maior felicidade de minha vida, esta, deu-me mais um golpe, um golpe muito duro, mas que impulsionou minhas mudanças: a morte de meu pai, vítima da espoliação de um ser, vítima da petulância e da arrogância de um ser, vítima de uma “mimimiçe” de um ser, vítima da ignorância de um ser, vítima de um jovem endinheirado, filho de um banqueiro, que foi à uma festa, bebeu demasiadamente, tomou seu automóvel recém comprado (presente por seus 18 anos de vida – e 0 anos de inteligência, penso eu em minha inconformidade até hoje com este fato), e atropelou e esmagou meu pai em um poste, papai havia acordado cedo e ia caminhando ao trabalho, para fazer o progresso deste país, mas acabou vítima é do retrocesso dos que realmente mandam neste. Cheguei do enterro de papai, inconformado, transtornado e sem rumo e sem chão. Olhava para o diploma de certificação de que havia concluído o Colegial (hoje chamado de Ensino Médio), olhava para as paredes, ruas, campos, construções e não via um futuro para mim, decidi Candango virar e para Brasília rumar, minha missão: fazer parte da História de meu país construindo sua nova capital!


Notas Finais


Não percam no próximo capítulo os detalhes da viagem de João até Brasília e sua vida na NovaCap! :)


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