História Memórias De Um Novo Mundo - Sensações

- Pronto! - falei descendo do carro - Esse foi o último.
Alguns dias depois tinhamos levado nossos carros pra dentro do pátio da prisão, eles chamavam muito a atenção ficando pra fora.
- Agora é só levar esses corpos pra queimar.
- Alguém sabe onde está o Glenn e a Maggie? - Carol perguntou olhando para os lados - Vamos precisar da ajuda deles.
- Eles estão na torre de vigia - T-Dog comentou.
- Mas eles já não estavam lá ontem a noite? - Rick disse fazendo menção de ir até lá.
- Glenn! - Daryl gritou em direção a torre, ele logo apareceu sem camiseta e fechando o cinto da calça.
- Vocês vem? - todos já estavam rindo, só murmurei "que merda" enquanto eles desciam.
- Ei Rick olha - T-Dog apontou para os três presos que tinham saído.
- Olha cara não dá pra ficar lá dentro - Axel falou quando chegamos perto deles - Aqueles corpos, eram gente que nós conheciamos, tem cérebro estourado pra todo lado.
- A cerca do nosso lado do bloco caiu, toda vez que levamos um corpo aquelas coisas chegam e a gente só joga lá - Mark completou - não podemos nem dar um fim descente neles.
Rick pensou por um tempo e me pediu para trancar os três em um pequeno espaço de cercas que tinha ali, fiquei vigiando até ele decidir o que fazer.
- Não somos a ameaça que vocês pensam que a gente é - Mark estava encostado na grade e tentava conversar. - Só não queriamos mais ter que viver naquele cemitério.
- A um ano nós vivemos em um grande e aberto cemitério, dá pra sobreviver - retruquei sorrindo, seu rosto só demonstrava piedade.
- Olha, o Rick vai decidir o que fazer com vocês até lá, poupe sua saliva.
- Porque? Vou precisar dela mais tarde? - Mark falou com um sorriso incrivelmente bonito. Normalmente eu teria dado uma resposta dura mas por algum motivo só soltei uma risada nervosa e me afastei um pouco.

Uma hora mais tarde pegamos uma parte dos suprimentos para entregar aos três presídiarios que preferiram tentar a sorte na estrada do que permanecer naquele bloco investado por carne em decomposição.

- Eu entendo de mecânica, podia dar uma olhada pra você - Mark comentou com Daryl que acabara de sentar em sua moto.
- Nem olha pra ela - e saiu com a moto, levando-a até o pátio mais próximo do nosso bloco.
- O que você tá fazendo cara? - Oscar repreendeu Mark.
- Achei que podia ser útil - ele respondeu inocentemente.
- Daryl é uma pessoa bem difícil então por favor não toque, não fale, não olhe ou faça qualquer coisa que tenha relação com aquela moto. É o bebê dele. - Mark soltou uma risada.
- Tá legal, já estamos de saída mesmo, não vamos mexer com a preciosidade do seu namorado.
- Ele não é meu namorado - respondi com dureza.
- Me desculpa, você tem tanto o jeito dele que achei que estivessem juntos - Mark parecia satisfeito com essa conversa.
Glenn entregou a caixa com alguns alimentos enlatados para os três, a essa altura já tinhamos tirado todos os corpos do pátio principal e Lori, Beth, Kim e Carl vinham acompanhados de Hershel que agora caminhava com duas muletas, parecia ter se adaptado muito bem, todos nós que tinhamos ficado do lado de fora olhavamos com satisfação aquela cena, até eu arrisquei mostrar um sorriso curto até que esse belo momento foi quebrado por vários zumbis que vinham do portão onde tinham sido trancados e um som de alarme que ressoava dos olofotes.
- Como a gente para essa coisa! - Rick gritava para os presidiarios depois de termos dado um fim em todos os bichos. Vi Maggie e Kim correndo pra dentro da prisão com Lori e Carl.
- Eu trabalhei umas semanas na lavanderia, o lugar onde estão os geradores que desligam esse alarme é bem perto! - Mark gritou de volta e fomos em direção a sala.
Como esperado novamente tinham mais zumbis nos túneis que levavam a sala dos geradores, chegando lá temos a surpresa de encontrar um presídiario que atacou Rick, Daryl estava segurando a porta para os zumbis não entrarem.
- Daryl abre a porta! - eu gritei apontando minha arma para ela, ele me olhou como quem diz "isso não vai dar certo" mas abriu mesmo assim. Os zumbis entraram e começei a atirar, minhas balas acabaram e Daryl continuou com uma faca. Mark já tinha desligado os alarmes. Rick e o outro homem já tinham se largado e os dois erguiam as mãos para Oscar que apontava uma arma na direção dos dois.
- Atira nele cara! Essa prisão é nossa, vai logo! - o preso falava, Rick apenas olhava pra ele sem expressão definida, por fim Oscar atirou no homem e devolveu a arma para Rick, aquele gesto com certeza conquistou a confiança e simpatia do nosso líder para com os outros caras .

Voltamos pelos corredores que estavam sendo iluminados apenas por uma luz fraca que oscilavam dando um ar tenebroso, vimos dois zumbis devorando um corpo que lógicamente era fresco, Rick matou os dois e mesmo chegando perto não dava pra definir direito quem era, as roupas e o que sobrou do corpo estavam cobertos por sangue, voltamos até o pátio principal onde Hershel e Beth tinham ficado.
- Onde estão os outros? - Beth perguntou ainda tremendo um pouco.
- Achamos que tinham voltado - Rick respondeu, os dois sinalizaram negativamente a cabeça.
Derrepente ouvimos um choro de bebê que me deu arrepios pelo corpo todo, nos viramos e lá estava Carl com um semblante quase irreconhecível e Maggie com um pequeno projeto de gente no colo e as mãos cobertas de sangue seco.
- Não...- Rick se aproximou de Carl e o fitou por alguns segundos sentindo a dor e associando o que tinha acontecido com sua esposa então ele desabou, Maggie não conseguiu se conter e num impulso peguei o bebê dos seus braços e o acomodei confortavelmente em mim, era uma menina que com aqueles olhinhos cor de mel me observava e parecia ler a minha alma, como se em algum ponto dela tivesse algo realmente bom, o arrepio voltou e junto com ele a vontade de chorar que permaneceu na garganta.
- Deixe-me ver - Hershel pediu, Carl a tirou cuidadosamente dos meus braços, ninguém pareceu notar o transe em que eu tinha entrado que só foi quebrado pelas palavras de Daryl.
- Não, ela não. Nós não vamos perder mais ninguém desse grupo - e com a besta nas costas foi indo em direção aos nossos veículos. - Já ta anoitecendo e ela precisa se alimentar, quem vem junto me ajudar a achar alguma coisa? - Maggie se ofereceu mas eu e Glenn insistimos para ela ficar, já tinha passado por muita coisa naquele dia e eu precisava fazer isso, do jeito que eu tratava a Lori tinha que fazer isso, por ela.

- Fique por perto - Daryl murmurou assim que chegamos a uma creche que aparentemente não tinha sido explorada, entramos e nos separamos, Daryl foi até a cozinha e eu fui até onde ficava os berços e os brinquedos pra pegar fraldas e algumas roupinhas. Depois de colocar tudo dentro da minha mochila notei alguns papeis com formas diferentes na parede e o nome da criança que fez. Um arrepio cortante subiu pela minha espinha assim que vi um papel azul em formato de coração escrito tortamente "Cole", peguei e observei por um tempo, fechei os olhos com toda força e enfiei o papel no bolso junto ao pequeno envelope com fotos que eu carregava desde o começo de todo o caos.
- Acho que é isso né? - Daryl apareceu com quatro latas de leite em pó.
- A-ah, s-sim - falei com a voz um pouco trêmula - já peguei tudo, vamos.
Fui indo em direção a saída e pelas costas senti pesadamente o olhar de Daryl sobre mim, subi na moto com o pensamento longe e voltamos.
Chegando na prisão peguei a mochila onde estava o leite em pó, mamadeira, uma garrafa de água e rápidamente preparei para ela. Daryl estava com a bebê no colo e a segurava tão carinhosamente que quase não acreditei no que estava vendo, todos exceto Rick estavam reunidos e observavam Daryl alimentar a pequena.
- Você gosta disso né - ele conversava tão docemente com ela...
- Ela não tem nome ainda né. Que tal bravinha? - ele comentou e todos riram, fui a única que permaneceu imóvel e com a boca apertada, senti o choro vir novamente e me retirei o mais rápido possível, Glenn e Kim ficaram me olhando subir pra minha cela já sabendo o porquê da minha reação mas nenhum dos dois veio atrás de mim, sabiam que eu precisava ficar sozinha e longe de tudo.
Porém, pra minha supresa quem apareceu minutos mais tarde foi Daryl que me observava com certa preocupação.
- Ela já mamou? - tentei disfarçar, não tinha forças pra mandar ele sair dali.
- Já sim, ela é bem gulosinha - Daryl diz com um leve sorriso de canto.
- Ah que bom - retribuo sem emoção nenhuma.
Ficamos nos encarando por um bom tempo até que ele percebeu que não ia conseguir tirar nenhuma informação de mim.
- Tenha uma boa noite - concluiu e voltou aonde estava o grupo.
"Tenha uma boa noite"
Fiquei quieta sentada na minha cama fitando o chão, mesmo sabendo que não seria muito boa deitei e fiquei ali até conseguir dormir horas mais tarde.