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História Memórias Póstumas de Jimin (Hiatus) - A experiência de Yoongi


Escrita por: Formidavel e Desventura

Notas do Autor


YOOOOOOOOOO DEMOREI, DEMOREI!
Mas nem foi tanto, eu tava ocupada, casa, curso, minhas aulas voltam dia 01, tô loka.

90 favs, vou morrer ><

Espero que gostem.

PS: OBRIGADA PELO COMENTÁRIOS, SÉRIO, EU ESCREVIA PENSANDO EM CADA UM DE VOCÊS QUE COMENTARAM E EU NEM TENHO COMO AGRADECER AOS ELOGIOS <3

Capítulo 3 - A experiência de Yoongi


Fanfic / Fanfiction Memórias Póstumas de Jimin (Hiatus) - A experiência de Yoongi

† A experiência de Yoongi †

 Quando eu estava na faculdade de ciências humanas e sociais houve uma aula onde o professor disse-nos que, independentemente da espécie, era natural o macho – ou fêmea – mais velho sentir-se atraído pelo mais novo do bando.

 Se julgarmos pelas relações homossexuais; é totalmente o inverso.

 Como todo garoto de dezessete anos, eu queria um homem, mas não um homem que apenas tivesse um órgão masculino reprodutor por entre as pernas, mas um homem mais velho; mais experiente e sábio, que soubesse tratar-me como eu merecia – ou seja, como o garotinho mimado que eu fora criado – fosse maturo e estivesse disposto a assumir um relacionamento sério.

 Naquela idade, tudo o que eu queria era desfrutar de um amor alucinante como todo mundo, mas a realidade uma hora bate na nossa cara e grita como uma mãe dizendo: “acorda pra vida, você não é todo mundo”.

 Só que ainda era século XX e as chances de encontrar um homem com mais de vinte e cinco anos descomprometido, homossexual – se fosse homossexual – e com interesse em rapazes mais jovens eram, teoricamente, nulas.

 E dado por isso, ter um acompanhante mais velho era motivo de popularidade no colégio, claro, se você fosse uma mulher – o que não era meu caso.

 Ainda sim, eu tive um namorado experiente que comprovou a teoria do meu professor, ele havia se aproximado de mim primeiro, atraído pelo mais novo.

Busan, 1899 – Virada do século XIX

 A cada dois anos, uma pequena confraternização organizada pelas famílias fundadoras da cidade era realizada um pouco antes das eleições, geralmente ocorria no final do ano, mas por motivos de frescura dos patriarcas das famílias, decidiram que seriam antes do natal.

 A cerimônia de abertura das eleições apresentavam seus candidatos políticos – ou era pra ser esse o real objetivo – mas o que sucedia de verdade era um bando de “chefe de família” enaltecendo seu enorme ego, disputando quem era melhor no quê ou quantas cabeças de gado tinham em sua fazenda.

 Traduzindo: Uma enorme aporrinhação.

 Quando eu tinha a família Kim como vizinha, eu não ligava de vir pra essas cerimônias entediantes. Eu passava todas as horas obrigatórias do evento aprontando alguma travessura junto com Taehyung e Sora, depois de um tempo; passou a ser só a Sora, porém, como tudo que é bom dura pouco, nem a presença de Sora eu tinha mais.

 A família Kim havia se mudado para a capital, Seoul, há dois anos, depois de Taehyung assumir sua homossexualidade – nem preciso dizer que foi um enorme choque e rendeu semanas de castigo para o meu amigo com uma cidade inteira enojada, levando-os a sair de Busan para recomeçar em outro lugar. Nos dois primeiros meses eu mandava cartas – escondido – para o Tae, só que algum empregado atrevido e ganancioso contou para meu pai em troca de uma elevação no cargo.

 Acabei que perdi totalmente o contato. Há quem diga que Taehyung fora morar no ocidente, já que lá era um ótimo lugar para “gentinha” como ele.

 Coitados, tão energúmenos e ingênuos – Não há lugar para a “gentinha”.

 Concentrando-se na entediante cerimônia: Junto das famílias fundadoras, alguns policiais, militares, empresários e burgueses marcavam presença na reunião – que eu apelidava carinhosamente de “pega-burro”, só os idiotas iam lá; por isso que eu estava ali –.

 Como bom ser humano que eu sou, quando estou no tédio me entupo de comida, e ao menos isso, era o que tinha de mais abundante além da falsidade oxigenada.

 Caminhei por entre as mesas, devorando tudo aquilo com os olhos e com a boca, eu não sei pra onde vai tanta comida porque pra altura que não é.

 Eu varria aquelas mesas com os olhos, agradecendo aquele tanto de doces, até que eu parei de agradecer pelos doces e passei a agradecer por outra coisa; um rapaz não muito alto, com uma cara tão entediante quanto a minha, sua pele era tão pálida – questionava-me internamente se ele estava adoentado – possuía madeixas negras, realçava sua falta de melanina – o que eu estava achando absurdamente encantador.

 Reparando um pouco melhor, ele não trajava roupa social ou de gala, ele trajava uma farda policial, o que lhe dava um ar de autoridade muito, mas muito atraente.

 Um policial, hein... Por que estou tendo pensamentos sórdidos?

 Eu o agraciava com os olhos, sabia que eu não poderia simplesmente chegar e jogar charme para um desconhecido, as coisas não funcionam fáceis assim.

 Agora eu entendo porque em alguns bordéis os dançarinos e cortesãos usam farda. É muito... Instigante.

 Estava começando a ficar com calor, sou muito sensível á pessoas bonitas, não sei como eu aguento me olhar no espelho.

 Sai daquele lugar privilegiado com a visão panorâmica do policial bem-proporcionado.

 É muito tarde para voltar a roubar maçãs?

 Caminhei até a área externa do salão de festas em que o evento era realizado. Com as palmas cheias de doce, quase transbordavam minhas pequenas mãos, encontrei uma cadeira vaga, com visão para todo o salão.

 Sentei-me ali mesmo, saboreando meus doces furtados antes da hora da sobremesa, observando as pessoas tagarelando, cada grupo formado ocupando alguma mesa.

 Ri assoprado com um Tteok¹ enfiado na boca deixando minhas bochechas infladas, vendo o quanto aquelas pessoas são ridículas. Pessoas como aquelas que só se interessam pelo poder acabam suas vidas com nada, tiveram muito e no fim, terminam sem nenhuma sobra. Era lamentável e eu não queria ser assim.

 Irônico, não? Parece que sua vontade não foi concebida, Pequeno Jimin.

 É cansativo pensar muito nisso, mas é inevitável: Eu me decepcionei.

 Decepcionar os outros, não atingir as expectativas alheias ou não corresponder esperanças que depositam em você já é péssimo; se decepcionar dói como o inferno.

 Fiquei ali, comendo e perdido em relances, olhando e observando cada pessoa. E parece que alguém me olhava.

 O policial deslumbrante estava me observando, com uma taça de vinho na mão, levava á boca despojadamente enquanto mantinha seus olhos fixos em mim.

 Uma troca de olhares desafiadora começou ali, disputávamos silenciosamente quem desviava primeiro e parecia que nenhum estava disposto a perder.

 Ele tomou virou a taça, calmamente, ainda mantendo seus orbes fixos em mim e engoliu o liquido, exibindo seu pomo-de-adão a subir e descer, deliciando-se da bebida quente.

 Deslizou sua língua pelo seu lábio inferior, lambendo qualquer resquício de vinho deixado ali.

 E o desgraçado fizera tudo isso olhando para mim. Para mim, Park Jimin, eu estou em erupção.

 Aquele homem era sensual sem o mínimo esforço e o pior é que ele tem completa noção disso.

 Ele desceu seu olhar para meu corpo, confesso que eu estava um pouco encolhido, retraindo todos os músculos, era um dia bem frio e eu já estava pegando fogo.

 Percebendo o estado que me deixara, ele soltou um risinho de lado e levantou-se.

Caminhando como quem não queria nada, achei que ele ia embora ou sair do meu campo de visão. Foi até uma das mesas próximas onde ele estava sentado á pouco, a mesa em que meu pai estava sentado. Cumprimentou os homens que conversaram entre si e virou-se para meu pai.

 Aquilo era um teste? Meu pai desconfiava de algo? Talvez por ser amigo de Taehyung ele tenha levantando suspeitas... Não. Uma reação não significa nada, eu poderia rebater qualquer acusação dizendo que fiquei sem saber como portar-me perante a ação do rapaz, que não esperava algo vindo de um homem e...

— Park Jimin, filho de Park Kang Cheol. – O policial apareceu ao meu lado, segurando duas taças de vinho e acomodando-se na cadeira ao meu lado.

 Eu havia sentado no lugar mais distante dos demais anfitriões justamente para poder observar e não ser pego observando, mas parece que não era só eu que tinha mania de fazer isso.

 Tudo o que conversássemos não sairia dali e ninguém poderia ouvir.

— Olha um fã. – Sorri forçado, aceitando a taça que ele oferecia-me.

— Muito prazer em... Conhecer-te. – De novo, ele fez aquilo de novo, medindo-me de cima a baixo com seus olhos exigentes.

— Poderia dizer o mesmo se eu soubesse seu nome. É meio rude não apresentar-se. – Se ele queria jogar, eu jogaria então. 

 Se há uma coisa que eu tenho absoluta certeza é do meu desaforado.

 Eu sabia provocar e quando eu era provocado, conseguia disfarçar muito bem, mas havia algo em Yoongi que me desestruturava e tornava-me vulnerável.

— Min Yoongi, sargento da base 12. – Estendeu sua mão pedindo para que eu apertasse.

 Retribui o aperto, um pouco apreensivo, não era como se ele fosse me engolir só com a mão, mas sua presença era deveras intimidante.

 Ele tinha o toque firme, ou ele quis passar essa sensação ao apertar minha mão, meus pelos se eriçaram e eu agradeci mentalmente por estar com smoking.

 Eu já ouvira falar da base 12, teve uma temporada no colégio em que o assunto da semana era: O policial charmoso da base 12. Eu não tive interesse em saber quem era, achava que era exagero da parte das alunas. Vejo que estava enganado.

— Você não deve ser tão novo quanto eu pensava, ir para a base 12 levam-se anos. – Comentei dissimulado, apenas arrumando um pretexto para saber sua idade sem perguntar diretamente. 

— Não sou tão velho também, devo ser dez anos mais experiente que você. – Ri abafado.

— “Experiente”? É a nova maneira que as pessoas usam pra disfarçar a idade avançada?

— É sim. – Acompanhou-me na brincadeira.

— Então você tem entre vinte e sete anos?

— Tenho vinte e nove, se isso mata a sua curiosidade, Park. – Bebericou do vinho, ele falara aquilo com um tom divertido.

 Eu me perguntava onde estava aquela malicia que ele emanava.

— Tenho curiosidade sobre outras coisas. –repuxei um sorriso lateral. – Policial Min. – E lá estava a malicia que eu queria, seus olhos brilharam e acho que os dias depois daquele seriam ardentes.

 E se vocês querem saber se eu e Min Yoongi fomos para a cama, sim, nós fomos.

 Grande parte de nossos encontros eram noturnos, erámos amantes da lua que acima disso, os encontros deixavam marcas, normalmente arroxeadas e no meu.  Eram noites quentes e apaixonantes, rolavámos pela cama até a madrugada, entre beijos e mordidas, promessas de amor - que eu tinha consciência de serem proferidas no calor do momento, mas que queria acredita que eram reais –, enquanto ele me preenchia e eu desprendia o lençol da cama, afogando meus apelos por velocidade até dividir o momento do ápice com Yoongi.

 São boas memórias, dá até uma saudade.

 Minha avó era uma senhora muito sábia – minha mãe dizia que ela já estava caduca –, e uma de suas sabedorias arrecadada ao passar dos anos era: ”Quando a esmola é demais meu filho, o santo desconfia”. Era verídico.

 Estava vivendo uma belíssima utopia, eu tinha um homem exatamente do jeito que eu almejara, ele era carinhoso, mas ainda era um militar.

 Se para uma pessoa “comum” ser homoafetivo já se torna uma enorme dor de cabeça, para um militar; um homem da lei, exemplo de cidadão para os demais, e vários outros exemplos de boa pessoa, era um crime perdoado apenas com a morte – queria eu estar dizendo isso no sentido figurado.

 Quando nos encontrávamos na rua, apenas como bons amigos – na visão das outras pessoas -, Yoongi olhava para os lados como um ladrão sorrateiro, sempre estava com pressa e falava exageradamente formal até para o século XIX. Entrava em choque quando nossos dedos se encontravam em meio as caminhadas, recusava-se á ficar mais de dez minutos comigo em público. Tão irritante.

Após um tempo, esse medo de ser descoberto atrapalhava até nossos encontros noturnos.

 Yoongi chegava ao pequeno sobrado – onde costumávamos nos encontrar – fechando a porta com violência e agilidade demasiada.

— Algum problema, Yoongi? – Perguntei sentando-me na cama, suspirando pesado e cansado de todos aqueles comportamentos hiperbólicos.

— Ninguém te seguiu? Você prestou atenção no caminho? – Caminhou até a janela coberta por uma persiana, puxando a linha do pino fazendo-a subir o suficiente para espiar a rua.

— Yoongi, já chega! – Exaltei-me, levantando da cama e indo a sua direção.

 Nem com o meu pequeno ataque de fúria Yoongi desgrudara os olhos da janela. Puxei-o violentamente pelos ombros, forçando-o a virar-se para mim.

— Eu não sei o que acontece com você, mas definitivamente isso não é normal. – Acalmei-me ao fitar aqueles pequenos olhos, transmitiam medo e eu pressenti que algo estava errado.

— Jimin, eu acho que eles descobriram... – Segurou meu rosto com ambas as mãos, sussurrando baixinho, segredando-me aquilo com terror nascente em seu tom de voz.

— Eles quem, Min? – Parecia que eu falava com uma criança, usando um tom baixo e suave, na tentativa de acalmar o homem na minha frente.

— Eles, Jimin, eles. – Apontou para a rua. Soltei suas mãos de meu rosto e fui á janela que Yoongi observava segundos antes.

— Yoongi... Não há nada lá fora. – E parece que ele havia caído em si.

— Não?

— Não.

 Eu havia ficado assustado com aquela síncope de Yoongi. Internamente eu achava que deveria terminar tudo aquilo enquanto dava tempo, mas algo em mim impedia-me, eu me sentia indiretamente responsável por aqueles surtos de pânicos do policial – afinal, ele nunca havia estado com homens antes, eu era o primeiro. E último.

 Eu desejava que minha vida passasse lentamente, gostaria de ir á festas, talvez arranjar uma amiga pra fingir ser minha namorada – coisa que eu fiz – e viver como o adolescente que eu era. Não esperava ver a morte de frente tão cedo desde o falecimento do meu avô.

 Três meses. Três meses desde aquela crise do pânico de Yoongi e eu ainda estava ao lado dele.

 Com algumas conversas, monólogos e acordos, consegui convencer o mais velho de que ninguém o seguia e nem sabia de nada. Claro que não foi fácil, foram muitas conversas até ele aceitar que estava paranoico.

 Eu me sentia o adulto da relação, sempre acalentando e confortando o moreno medroso, que chegava logo se atirando no meu colo e dormindo ali.

 Três longuíssimos meses sem nenhum toque mais íntimo, eu estava carente e respeitando os limites de Yoongi.

 O problema real começou quando sua síndrome do pânico atacava no período de trabalho.

 Ele ficava alerta demais e atirava em pessoas, animais e até em objetos inanimados sem qualquer cautela.

 Seu superior achou melhor afastá-lo, mandara o rapaz descansar por uma semana, eu me prontifiquei a passar esses dias de folga com ele e Yoongi aceitara de bom-grado.

— Jimin, eu estou com medo. – Aquela devia ser a centésima vez que ele repetia essa frase, agora tão recorrente, em menos de uma semana.

Já passaram-se quatro dias desde sua dispensa e eu nunca vi um homem tão acabado quanto Yoongi.

— De quê? – Perguntei mesmo sabendo a resposta. Eu acariciava seus fios negros e sedosos com as pontas de meus dedos, obtendo um Min Yoongi sonolento em meu colo.

— Eu não fui afastado porque tive um surto. – Confessou. Parei de acariciar seus cabelos, tencionando meu corpo, esperei que o mais velho prosseguisse. — Um cadete nos viu, naquele dia em que eu te perguntei se alguém te seguira, há três meses, lembra?

— Nos viu? Como? – Levantou-se do meu colo, encarando-me sério.

— Ele me seguiu, o porquê eu não sei, mas ele estava me seguindo e ele nos viu, nos viu... – Sua voz falhou e eu sabia que ele estava repreendendo o choro.

— E o que ele fez? Se ele nos viu isso significa que me viu também? —Eu perguntava manso, mas por dentro eu estava querendo bater em Yoongi por ser tão descuidado.

 — Ele começou a me chantagear, no começo eu ignorei então ele ameaçou você, ele dizia que tinha provas e eu fiquei com medo por ti, e por mim... O que seria da minha carreira, Jimin? Um policial veado? — Riu sem humor. — Não, Jimin! Eu não sei o que eu faço, sem aquela farda eu não sou nada. — Cobriu seu rosto com ambas as mãos e fungou baixinho, um fungar pesado e dolorido, que me cortaste o coração.

 Porém, eu tenho um pescoço a zelar, eu não poderia ficar mais perto de Yoongi, se esse rapaz possuía provas isso era motivo o suficiente para eu me afastar do mais velho.

 E uma ótima desculpa, diga-se de passagem. Eu já não sentia o mesmo por Yoongi e só não tinha largado o mais velho por consideração aos bons momentos juntos.

— Você vai, JimJim? – Recobrei minha consciência com o olhar pidão do pálido.

— Vou o quê? 

— Ficar ao meu lado? – Contorceu seu rosto em uma feição de choro, usando da emoção para me persuadir. — Você vai ficar ao meu lado?

 Desculpe-me, Yoongi.

— Ficar ao seu lado? – refiz sua pergunta, incrédulo.

— Eu perdi tudo, eu vou ser demitido quando voltar... Eu só tenho você! – Aproximou-se de mim, tentando me tocar. Desviei de seu toque e lancei-lhe um olhar piedoso.

 Levantei da cama, deixando-o sozinho, perdido nos panos brancos e desolado.

— Você perdeu tudo, não eu. – Peguei minha jaqueta e sai avoado, com a promessa de quê não voltaria ali.

 Eu era realmente uma prole malcriada de uma dama fácil da sociedade que fornece serviços sexuais em troca monetária – em outras palavras; filha da puta.

 Eu larguei Min Yoongi, eu não sabia reconhecer o quanto se arriscara por mim, eu o deixei no pior momento e até hoje me culpo pelo o que veio acontecer.

 Ele abriu mão de seu emprego- coisa que era sua maior realização – , seu status e importei-me apenas comigo mesmo.

 Eu achava que meu “amor” por Yoongi não era tão forte assim á ponto de abrir mão da minha reputação de bom moço. Eu pensava que ele amarrara uma âncora em seu pé sozinho, que arcasse sozinho com o peso dela então. Hoje eu percebo que era uma maneira covarde de lidar com a minha culpa.

 Aquele cadete que chantageou Yoongi espalhou para a cidade que o mais velho era “bichinha”, como eu pensara; ele não tinha provas disso, mas Min estava tão apavorado que suas ações e reações lhe entregavam por si só.

Não demorara muito para a cidade falar do mais velho, em todo lugar alguém tocava no assunto do Policial sem-vergonha.

— Ele é um rapaz tão bonito, um desperdício. Tinha tanto pela frente, como uma pessoa faz isso com ela mesma? – Ouvi uma senhorinha na fila da loteria falar.

— Isso pra mim é desaforo sem escrúpulos, onde já se viu; dois homens deitando-se como homem e mulher, é uma calúnia! – Um velho, que estava em sua frente na fila, opinou.

 Respirei fundo unindo toda paciência e pacificidade dentro de mim, para não ir lá e falar algumas verdades para aqueles idosos.

 O Pequeno Jimin, tanto quanto o Atual Jimin, odeia o fato das pessoas gostarem tanto de opinar ao êxtase de quererem opinar sobre a vida dos outros; apontar o que está certo ou errado, o que faz bem ou faz mal, o que pode ou não pode. O que é bom para a sua pessoa, não é para as outras. Pessoas com asmas não podem correr como alguém com pulmões saudáveis, por isso você iria dizer para ela continuar correndo porque exercícios fazem bem á saúde?

 Acho que não.

 Yoongi se isolou, eu não o via há, mais ou menos, quatro semanas. Confesso que estava preocupado.

Infelizmente, eu estava impedido de contatá-lo; meu pai confrontou-me, alegando que eu só arrumo amizade decadente: Primeiro Taehyung e depois Yoongi.

“— Quer que falem que você é um, - parou, buscando pela palavra que descrevesse ou rebaixasse as pessoas como eu. — Quer que as pessoas digam que você é um doente mental como aqueles dois?”

 Doente mental.

 Eu deveria ir á um psiquiatra?

 Um erro comum do ser humano é achar que tudo se resolvem com remédios ou religião.

 Mas eu veria Yoongi, certificar-me que ele estava bem – dentro do possível –, para saber como ele estava lidando com tudo aquilo. Eu tinha ido à base 12 perguntar sobre seu paradeiro, mas ninguém sabia ou se enojavam ao ouvir o nome do policial.

 Bando de hipócritas malditos. 

Decidi que me viraria sozinho.

— Vamos, Park, pensa. 

“— Você vai ficar comigo?”

 Era tão óbvio á ponto de ser ridículo.

 O sobrado, o nosso pequeno paraíso. Ele estava lá.

 Sem mais delongas, eu sai perambulando pelas ruas semidesertas de Busan, caminhando por entre a pouca e falha iluminação. Eu desejava que Yoongi estivesse realmente lá, exatamente onde eu o deixei. Minha intuição dizia que tudo acabaria ali, no lugar onde tudo começou, eu só não sabia clarificar se era um final feliz ou um final infeliz.

 Demorei mais do que eu gostaria para chegar à frente da fachada do sobrado. O brilho do letreiro de “Paradise Lost” havia se perdido.

 Eu deveria ter levado aquilo como o famigerado sinal divino, como tanto se fala, eu deveria ter dado meia volta ido para minha casa e ter acordado na manhã seguinte com a terrível notícia – que me aguardava lá dentro do sobrado – estampada nos jornais. Mas eu não nasci para obedecer nem meus próprios pressentimentos.

 Inspirei fundo, sentindo meu diafragma contrair-se, falhando na tentativa de aliviar o estresse.

 Por que tanto receio?

Não vai acontecer nada.

Absolutamente nada.

Encostei minhas mãos no ferro gélido dos portões do paraíso, cauteloso para não ecoar o rangido do ferro enferrujado pelo local, estranhamente, silencioso.

 Caminhei por entre o pequeno jardim até a porta principal e retirei minha chave da calça, encaixando a mesmo na fechadura artesanal da entrada.

 Dentro do paraíso, eu fui em direção às escadas, subindo tenso, refazendo aquele caminho que eu jurara á mim mesmo nunca repetir.

 E aqui estou eu, em frente á porta do quarto 29... Número irônico, a idade de Yoongi.

 Com um sopro de coragem eu abri aquela porta.

 Fora a pior coisa que eu fiz.

 O corpo de Yoongi estava suspenso pelo candelabro no teto desgastado, estava mais branco do que o usual e um arroxeado adornava em volta de seu pescoço delicado. Seus cabelos caiam sobre seus olhos, impossibilitando saber se estavam abertos ou fechados, eu lamento tanto que a última coisa que ele vira foi uma base de uma porta de madeira mofada.

 A forca pendia como um pêndulo, suavemente, embalando o meu pequeno adulto de um lado ao outro.

 Minhas mãos foram até a boca, instintivamente contendo um grito de terror, eu sentia um formigar subir em meus canais lacrimais, eu não sabia mais o que era respirar e a única coisa que eu desejava; era ter chego mais cedo.

 As lágrimas desciam quentes e eu chorava silenciosamente. Eu só queria que aquilo fosse um pesadelo, um sonho ruim, queria que Yoongi soltasse daquela forca e me beliscasse e quando eu abrisse meus olhos; ele sorriria vivo, alegre, com o vermelho que possuía em sua bochecha e não aquele roxo em seu pescoço.

Eu me xingava, eu xingava aquele cadete, eu xingava aquelas pessoas, eu xingava Yoongi.

Era verdade, então? Era minha culpa?

Não é minha culpa.

Hesitante, eu tomei a atitude de aproximar-me do corpo sem vida do moreno, toquei em seus dedos longos, mãos que costumavam ser tão quentes e agora só sobrara o frio.

— Me desculpa. Yoongi me desculpa, por favor. – Eu levei suas mãos, que agora pareciam de porcelana, até meus lábios, sentindo a textura macia e petrificada com gosto de morte.

 Na cama, estava um pequeno bilhete, sua carta de suicídio, escrita com sua letra cuidadosa, o papel tinha traços de lágrimas - ele chorou escrevendo aquilo.

“Caro, alguém

Escrevo-lhes essa carta sem nenhum intuito, não acho que há algo para esclarecer.

Entreguei meu coração á um homem e esse foi o único pecado que cometi, ele não o aceitou.

Acredito eu, que não haverá pessoas para chorar minha morte, afinal, eu perdi toda minha honra e peço perdão por isso, mas não me desculpo.

Cumpri com o meu trabalho, vivi um amor, eu amei e agradeço-o por isso.

Não vou dizer o nome dele, se é isso que esperam, vou segredar seu maravilhoso nome como meu mais belo soneto, meu sentimento morrerá comigo e viverá para sempre com ele.

Obrigado, por tudo, viverei eternamente contigo.

Aqui, deixo-te meu último adeus.

Com pesar, 

Min Yoongi”.

 Passei minhas falanges por todo aquele papel, bebendo de cada palavra ali.

 Ele fazia-me parecer ruim mesmo quando confessava seu amor. 

Adeus, Yoongi.

 Eu era crédulo, no meu mundinho eu havia criado uma tese de que quando eu morresse, encontraria Min Yoongi.

 Por que eu ainda penso que alguma coisa daria certo pra mim?

 Ele deve estar em algum lugar melhor e isso me conforta.

 Eu nunca fui alguém bom para ele, aquele rapaz merecia mais. Ele merecia amor, algo que eu não poderia dar porque eu não amava Min Yoongi.

No dia de seu funeral muitas pessoas compareceram. Eu modifiquei sua carta, alterando os fatos e excluindo a parte que ele confessa seu amor indiretamente á mim.

 Naquela noite eu havia gritado como nunca gritei em minha vida, o desespero que não saiam como lágrimas, saíram em berros clamando por ajuda.

Os enfermeiros retiraram o corpo de Yoongi depois da autopsia, os jornalistas escreviam em seus blocos os detalhes do ocorrido – que eu contava –, e entreguei a carta modificada aos jornalistas.

Era o mínimo que eu poderia dar a Yoongi, um funeral decente, como ele merecia. Repleto de gente. Os julgadores lamuriavam a morte do meu rapaz, aqueles que falaram pelas costas estavam ali se culpando junto comigo pelo final trágico do policial.

E como o meu avô, que foi lembrado como um herói, Yoongi fora também.

E mais ainda como o meu herói, por ter aguentado tudo aquilo por nós dois.

De todo coração, eu peço-te perdão, Min Yoongi.


Notas Finais


1 - Tteok é o equivalente á versão coreana do Mochi.

Obrigada por ter chego até aqui <3


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