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História Memórias Rasgadas - Capítulo XIV


Escrita por: Imagination

Notas do Autor


Muito obrigada pelos comentários, mensagens, favoritos e a todos os que acompanham o enredo!
Quero agradecer também os desejos de um bom aniversário.

E já que estamos em época festiva um Feliz Natal a todos!

Capítulo 14 - Capítulo XIV


Capítulo XIV

 

Durante algum tempo, Levi apenas escutou a proposta sem dizer nada por vários momentos. O que lhe foi pedido era algo bem mais sério do que rever alguns relatórios e contas. Ia bem além da formação que tinha. Ainda assim, havia bastante confiança depositada nele com a ressalva de que se não fosse capaz de executar o trabalho, o dinheiro que ia cair na conta dele seria um empréstimo. Porém, as condições de pagamento seriam bem menos exigentes, como Levi já esperava mesmo antes de concordar.

– Isto é diferente. – Comentou o jovem estudante. – Devias falar com um engenheiro especializado. Só sei programar coisas básicas e foi para ajudar a Hanji em pequenos projetos.

– Tens uma atenção excecional ao detalhe. Já para não falar que tens uma competência acima da média para os cálculos, fórmulas e afins. – Veio a resposta do outro lado.

– Mas este projeto… – Hesitou. – Chegaste a dizer que seria a grande aposta da tua carreira. Eu não quero prejudicar ou fazer com que percas tempo.

– Estou certo de que nada disso irá acontecer. No entanto, se não te sentires capaz depois de ver o projeto, fazemos como combinado.

– Depois digo qualquer coisa, mas não te garanto que seja já hoje.

– Confio que tomarás uma decisão acertada. – Veio a voz do outro lado novamente e Levi suspirou, dizendo:

– Depois digo qualquer coisa, mas tu estás estranho.

– Eu?

– Pareces… abatido? Não sei.

Um sorriso triste do outro lado da chamada era algo que não podia ver. Sentado no escritório com vários papéis à sua frente e um computador com diversos gráficos, o homem passou a mão nos cabelos antes de responder:

– Não é justo partilhar só de um lado, não é Levi?

– Ah… eu…

– Bom, de qualquer das formas, o meu regresso deve estar para breve e se possível, gostava de te ver novamente. Quem sabe possas tirar as tuas dúvidas e eu também as minhas. Caso contrário, podemos só beber um bom café e conversar sobre o que quiseres. Sabes bem que em qualquer dos casos, gosto de passar tempo contigo.

– Não digas asneiras. Há pessoas bem mais interessantes do que eu.

– É a tua perspetiva. – O tom um pouco mais divertido.

No fim da chamada, o jovem de olhos cinzentos viu o ar curioso do namorado a quem pediu para ir na frente comprar a senha para a refeição para poder ficar à vontade durante a chamada. Não queria ter que explicar ao loiro com quem estava a falar, mesmo que na prática não estivesse a fazer nada de errado. Eren era o problema e não aquele a quem a melhor amiga chamava de Sugar Daddy.

– Quem era? Parecias muito sério para ser a Hanji.

– Não era nada de importante. – Levi esquivou-se à pergunta do namorado. – Como correu o exame?

– Correu bem. – Respondeu o loiro descontente por ver que o jovem de cabelos negros não queria conversar acerca da identidade da pessoa com quem estava a falar antes. Embora, tendo em conta a conversa com Hanji e o círculo social reduzido de Levi não fosse difícil deduzir quem seria a pessoa.

O loiro ponderou que aquela hesitação em falar da identidade do tal Sugar Daddy fosse sobretudo porque o namorado não sabia que a melhor amiga já tinha dado início a essa conversa. Se não havia nada de sexual entre eles, Armin queria pelo menos entender qual era a relação dos dois. Evidentemente que depois do comentário de Hanji sobre a aplicação “Date me, Daddy”, ele pesquisou sobre o tema. Aquela aplicação existia há algum tempo e com a desinibição social cada vez maior das pessoas em geral, conseguia cada vez mais utilizadores. Basicamente as pessoas inscrevem-se e escolhem o papel que querem ter (Sugar Daddy ou Sugar Baby), preferências por género, área de residência, interesses, uma biografia e fotos. O papel de Sugar Daddy é no entanto o que traz mais movimentação de dinheiro na aplicação, visto que procuram parceiros a quem “mimar” com diversos presentes. A falsa publicidade dizia haver bons homens ou mulheres simplesmente em busca de boa companhia para beber um café, mas depois de ler vários artigos sobre o tema, tornou-se óbvio que beber café era código para trocas de favores sexuais.

Sendo assim, Armin queria saber o que levou o namorado aparentemente a usar ou ter usado essa aplicação no passado e por que razão, esse Sugar Daddy ainda se mantinha por perto a troco de nada.

– Só vou ter exame amanhã. – Comentou Levi enquanto comia.

– Espero que corra bem. – Sorriu. – Hum, mas sobre a conversa de antes… podes contar-me tudo. A Hanji pode ter deixado escapar que tens um…

– A Hanji fala demais. – Interrompeu.

– Ela só se preocupa assim como eu. – Disse o loiro um pouco intimidado pela mudança de clima entre eles. – Não há problema nenhum com isso e só queria…

– Não quero falar do assunto, Armin. – O tom de voz era bem seco.

– Levi, eu não…

– Sou obrigado a partilhar tudo? – Cortou novamente, levantando-se da mesa mesmo sem ter terminado a refeição.

– Não, claro que não. – Disse apressadamente. – Por favor, senta-te. Prometo que falamos de outra coisa.

Levi sabia que em parte estava a exagerar na reação, mas falar da história do Sugar Daddy era remexer mais uma vez num passado ao qual era incapaz de escapar. Não queria falar do quão baixo pensou ir naquela época da vida dele em que tudo estava tão errado.

Depois claro que havia os sentimentos de culpa pelo que tinha acontecido com Eren. Ver como o loiro estava disposto a ser compreensivo aumentava e muito o nó na garganta. Devia dizer-lhe. Contar a verdade e acabar com tudo de uma só vez.

– Perdi o apetite. Não é nada contigo. Só não quero conversar.

– Espera, fui eu? Ou aconteceu qualquer coisa em casa? O Eren fez alguma coisa?

– Quero ficar sozinho, Armin. – Respondeu antes de deixar o namorado sozinho no refeitório.

Depois de sair Levi sabia que em vez de sair como o Sr. da razão devia ter dito a verdade a Armin. Dessa forma, nem teria que dar explicações acerca da chamada de antes, pois tudo se tornava irrelevante. Nunca devia ter aceitado aquele namoro. Parte dele sempre soube que ia magoar o loiro. Também estava a piorar a situação ao não terminar tudo. As palavras ficavam presas na garganta e a vergonha também fez com que não fosse capaz de olhar durante mais tempo para a cara do loiro.

 

Eren – Mensagem:

Já almocei e tmb já tomei os comprimidos.

Vou dormir. Isto dá-me sono. Qd chegares, se eu estiver a dormir, acorda-me. Quero ver o Kuro.

 

Guardou o telemóvel sem responder à mensagem de Eren. É verdade que antes do almoço tinha enviado uma SMS ao moreno para se assegurar que este último não se esquecia de comer e cumprir o horário da medicação. Era irónico que se preocupasse com uma das razões para que as coisas estivessem a correr mal ultimamente.

O triste é que nem é justo colocar as culpas todas nele. Eu já devia ter terminado com o Armin”, pensava à medida que caminhava na direção da faculdade de Filosofia. Quando a hora de almoço terminasse, teria que apresentar-se no trabalho. O que depois do último dia e de ter pedido dispensa no fim de semana não era um momento que aguardasse com grande alegria.

– À minha procura, gato?

Levi olhou na direção da voz e viu Marco levantar-se de um dos bancos que havia nos jardins exteriores. O jovem de sardas no rosto acenou a alguns estudantes que o cumprimentaram ao passar. Em vez do cigarro na boca desta vez, Marco trazia um pirulito que pelos vistos estava a deixar os lábios e a língua com uma cor bem avermelhada, assim como o doce que tinha na boca.

– Hoje estás em clima de doces?

– Para variar um pouco. – Sorriu. – Queres provar?

– Marco preciso de qualquer coisa forte, mas nada de fumo porque vou trabalhar e…

– Hum. – Pôs o pirulito de surpresa na boca de Levi e divertido segurou na mão deste enquanto o conduzia para alguma sala da faculdade de Filosofia. – Precisamos de alguma privacidade e já vou avisando que não estou a gostar da tua cara.

– Não quero falar, Marco. – Disse, deixando-se levar pelo outro sem retirar o doce da boca.

Em pouco tempo, os dois entraram numa sala de aula pequena e vazia. Como as persianas se encontravam fechadas, passava uma sensação de que a sala não estava a ser utilizada. Marco explicou que às vezes usava aquela sala por ser mais privada quando queria passar algum material mais sensível. Como era um local escolhido por ele, ninguém ia até ali sem que ele desse indicação nesse sentido. Era uma sala que raramente era usada para aulas devido às dimensões reduzidas.

– Pensava que agora com o loirinho como namorado as coisas estivessem um pouco melhor.

– E desde quando consigo manter alguma coisa sem estragar? – Perguntou, retirando o doce da boca.

– Será que é mesmo assim? – Questionou Marco e observando a expressão do outro teve uma ligeira suspeita do que podia ter acontecido. – Estiveste com outra pessoa?

– Tenho traidor escrito na testa? – Perguntou num tom abatido.

– Tens “culpa” escrito na cara. – Respondeu Marco, recuperando o doce e desta vez partiu em pequenos pedaços na boca antes de deitar a parte de plástico no lixo. – Conheço a forma como lidas com o que estás a sentir. – Apoiou as mãos ao lado das pernas de Levi que estava sentado sobre a mesa. – Vens até mim, consideras acabar com a vida, tomas qualquer coisa em casa… – Uma das mãos de Marco passou no braço que Levi que o afastou de imediato. – Fazes cortes e acaba também por voltar a vontade de resolver as coisas, colocando o sexo na equação de coisas destrutivas.

– Quase que podes fazer um livro com os meus vícios.

– Pensei que o Armin pudesse ajudar, mas pode ser que ainda seja muito cedo.

– É mais fácil deduzir que eu estou estragado. – Ripostou Levi sem desviar os olhos do outro.

– Não acredito nisso. – Afagou o rosto do jovem de cabelos negros. – Dizem que precisamos de gostar de nós mesmos antes de amar outra pessoa.

– Sabes que sempre me odiei e ainda assim…

– Pois, eu sei. – Beijou o rosto de Levi.

– Marco, eu não sei se… – Mostrou alguma hesitação com toda aquela proximidade.

– É melhor terminares tudo com o Armin. – Murmurou sem criar uma distância entre eles. – Eu posso cuidar de ti.

– Huh?

– Não como namorado, gato. – Esclareceu. – Apenas como aquele amigo colorido como nos bons velhos tempos. – Piscou o olho. – Nós não somos do tipo que namora. Pelo menos eu não tenho cura nesse departamento, mas quero que encontres formas mais saudáveis de lidar com o que sentes e enquanto não encontras a tal pessoa especial, eu faço os possíveis para ocupar o teu tempo.

– O que te faz pensar que alguma vez isso vai acontecer? Sabes bem que não acredito nisso.

– Mas se este mundo ainda tem pessoas como tu, então não pode estar tão podre ao ponto de não reverter as coisas a teu favor. – Respondeu.

– Estás muito otimista.

– Só tenho a ganhar. Mantenho sexo selvagem por algum tempo e se encontrares a tal pessoa especial, tenho o privilégio de te ver feliz. – Beijou os lábios de Levi e retirou o que pareciam ser pequenos comprimidos de um dos bolsos. – Dois por dia. Não mais do que isso. Tens aqui o suficiente para esta semana e depois vemos como estás.

– Obrigado, Marco. – Disse, tomando dois comprimidos. – Quanto te devo?

– Digo depois. – Sussurrou, acariciando uma das coxas de Levi e a outra mão começou a puxar o zíper.

– Ainda tenho que falar com o Armin… – Murmurou sem negar mais um beijo entre eles.

– Gato o que tu precisas neste momento é de parar de pensar tanto nos outros e concentra-te naquilo que te vou fazer sentir. – Lambeu os lábios. – Ser egoísta, às vezes, só te faria bem.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

Flashback

Era possivelmente o quarto ou quinto confronto em que se envolvia em tão pouco tempo desde que tinha chegado àquela escola. Mais uma vez os pais queriam-no o mais longe possível de casa e por isso, veio a ideia absurda de o enviar para uma escola pública. O pai não concordou totalmente, mas Carla que tinha expulsado o marido de casa pela centésima vez, decidiu que aquilo era o melhor para o filho dos dois.

Eren não acreditava nisso. Considerava que fosse só mais uma forma para que nenhum dos dois tivesse que olhar para a cara dele. Com o pai de facto não queria contacto a menos que fosse para acabar numa troca de insultos. Porém, nem ficando do lado da mãe, esta última queria vê-lo.

Eren queria confortá-la, mas mais uma vez, ela enviava-o para longe.

A única forma de ter os pais à sua frente era quando provocava confusão suficiente para que os dois fossem chamados à escola. Fora isso, os dois ignoravam-no em casa. Ignoravam o que pensava, o que queria, o que sentia… era como se não existisse a menos que os incomodasse. O moreno começou com coisas pequenas até porque sentia que estava a desiludir a avó.

Contudo, a avó já não estava ali para repreendê-lo ou tentar fazer com que acreditasse em dias melhores. A avó já não estava ao lado dele para esconder a podridão que havia à volta dele. As pessoas não eram aquilo que ela dizia.

O mundo não estava feito para confiar ou acreditar.

Todos queriam alguma coisa. A grande maioria das pessoas à sua volta não estava ali por vontade própria. Eram pagas para isso ou queriam algo em troca. Fingiam preocupação e se cometesse o erro de desabafar com a pessoa errada, posteriormente ouviria os cochichos, os olhares de pena fingida ou até alguns risos mal disfarçados.

Afinal de contas os problemas dele eram um exagero. Pessoas que têm tudo não têm problemas. Nada que o dinheiro não resolva. O dinheiro compra todas as aparências, mas não a realidade.

Portanto isso explicava o porquê de se encontrar sozinho naquela enfermaria com os joelhos e punhos com ferimentos e as lágrimas no rosto que não era capaz de segurar. A enfermeira tinha saído com um claro desdém no olhar. Informou-o que iria ligar para os pais e falar novamente com o diretor. Não cuidou dele ou fingiu preocupação. Apenas fez um daqueles comentários que estava farto de ouvir.

– Não tens vergonha de ser tão mimado? Essas tentativas de chamar a atenção são ridículas.

Ridículas? O que diria se soubesse que aquela era a única forma de ver os pais por mais de cinco minutos? Provavelmente diria para não se queixar porque tinha dinheiro e havia gente com problemas mais graves. E então? Isso significava que não tinha o direito de sentir-se mal? Ter dinheiro, privava-o do direito de sentir tristeza? De se sentir sozinho? Ele tinha o direito de ser egoísta. Ser o contrário nunca trouxe nada de bom.

Ouviu movimento na enfermaria e pensou que tivesse sido imaginação até que ouviu passos. Não tinha reparado, mas havia mais alguém ali. Possivelmente na outra cama, mas como não prestou atenção, surpreendeu-se ao ver um rapaz da idade dele parar ao seu lado.

– Ela saiu sem tratar de ti primeiro?

A pergunta apanhou-o de surpresa. Os olhos verdes olharam com mais atenção para o rapaz de cabelos negros que tinha um penso no rosto, uma mancha negra perto do queixo e um ar exausto.

– Se estás a pensar em ir contar a toda a gente que me viste a chorar, juro que tão cedo não vais sair desta enfermaria. – Ameaçou o moreno.

– Não tenho ninguém a quem contar nem interesse em fazer uma coisa dessas. – Afirmou num tom de voz tão vazio que chegava a ser perturbador. Em seguida, os olhos cinza do outro observaram os ferimentos. – Mas devias limpar essas feridas.

– Não quero saber. – Falou ainda com o tom ríspido.

– Podes ter uma infeção. – Virou as costas, indo até uma dos armários de onde retirou vários objetos. – Posso ver os germes a devorar-te ou limpar isso. – Informou, olhando para o moreno.

– E isso interessa-te porquê?

– A enfermeira não devia ter saído sem cuidar de ti primeiro.

– É porque eu tenho dinheiro? – Insistiu.

– Porque ninguém merece este desprezo e também porque é pouco profissional da parte dela. – Respondeu e Eren apenas o observava com desconfiança. – Posso?

O moreno encolheu os ombros. Optou por ver até onde o desconhecido estava disposto a ir. Pensou que aquilo pudesse ser uma piada e estava pronto a reagir de acordo com isso, mas o rapaz desconhecido demonstrou cuidado e concentração na tarefa. Não fez qualquer comentário sobre as lágrimas nos olhos verdes, embora Eren estivesse à espera de qualquer observação nesse sentido. Aquele silêncio tornava-se cada vez mais sufocante.

– Nem umas palavras de conforto? – Perguntou Eren com uma certa ironia. – Normalmente estariam a dizer-me que vai ficar tudo bem e que estou a exagerar.

– Queres que minta? – Os olhos cinza encararam os verdes. – Eu não sei o que aconteceu e nem tens que dizer, mas ninguém tem o direito de dizer se tens ou não o direito de chorar.

– Eu…

De todas as respostas aquilo não era o que esperava.

– Tenta mudar os pensos uma ou duas vezes por dia. – Disse, começando a arrumar as coisas e deitando outras fora.

– Espera… qual é o teu nome?

– Levi.

– O meu… bem, tu já deves saber mas é Eren. – Disse, limpando o rosto mais uma vez.

– Se quiseres ficar sozinho, posso sair. – Disse, começando a distanciar-se. – E não te preocupes, não vou dizer nada a ninguém.

– Ah… Levi?

– Sim? – O jovem de cabelos negros parou perto da porta.

– Será que… hum… podes ficar? É só até…

Sem dizer uma palavra, Levi voltou até ao lado de Eren e dessa vez, sentou-se ao lado dele na cama. Havia um silêncio estranho entre os dois e sobretudo o moreno tentava compreender a razão para ter feito aquele pedido. Talvez porque Levi fosse o tipo de pessoa que já não encontrava há muito tempo. Preocupava-se aparentemente sem uma razão e a desolação nos olhos dele diziam que não havia qualquer razão interessada para estar ali. Ninguém que parecia tão fustigado pela tristeza, teria tempo para mentir.

– Sei como é. – Ouviu Levi dizer. – Às vezes é bom ter alguém que veja a nossa tristeza.

Isso foi o suficiente para que um soluço escapasse da boca do moreno. Ele não tinha pedido a Levi para ficar só porque o outro o tinha surpreendido com o comportamento e palavras, mas porque também não queria chorar sozinho de novo. Queria que alguém visse e reconhecesse que a tristeza dele era real.

Fim do Flashback

 

Os olhos verdes abriram-se e além da dor nas costas teve que limpar também as lágrimas. Graças àquele sonho, aquela lembrança antiga vieram à superfície aquelas sensações que sempre sufocava dentro dele. Nem sabia a que propósito recordou o primeiro encontro entre eles.

Pelo menos isso foi o que pensou até se sentar em dificuldades e ver a encomenda que tinha chegado da parte de Mikasa. Era exatamente o que tinham combinado para tornar toda a situação credível e tendo em consideração os cuidados médicos de que precisava, não havia qualquer dúvida de que a mãe o aceitaria de volta.

O pacote chegou perto da hora do almoço e desde então, Eren somente confirmou o conteúdo e enviou uma mensagem a Mikasa para avisar que já tinha recebido o que lhe pediu. Teve mais do que tempo para pôr o plano em marcha, mas em vez disso decidiu dormir e deixar tudo para mais tarde. Adiou por cansaço e nada mais. É claro que não estava a hesitar.

Pediu o favor a Mikasa assim que soube do namoro entre Levi e Armin. Na altura estava com mais raiva do que agora. Não que quisesse poupar o loiro sobretudo depois das provocações, aliás fazia questão de acabar com o relacionamento e ver Armin a chorar pelos cantos.

Contudo, havia o outro lado. A história da seringa e drogas podia arruinar a vida de Levi e Eren não sabia se estava disposto a ir tão longe. Se fosse antes de tudo o que aconteceu com Kuro e o apoio no hospital, Eren sabia que não pensaria duas vezes.

Penso melhor sobre o que fazer quando voltarmos da visita ao Kuro”, concluiu ao sair do sofá e depois de confirmar as horas, viu que ainda era cedo para que o companheiro de apartamento chegasse. Sabia que não devia teimar com a ideia de meter-se debaixo do chuveiro, mas decidido a cuidar um pouco da higiene ligou o esquentador e iniciou a odisseia.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

Quando Levi chegou a casa encontrou Eren encostado ao sofá, abotoando os botões de uma camisa e a julgar pela água próxima da casa de banho, só podia concluir uma coisa.

– Não acredito que fizeste isto. Molhaste as ligaduras?

– Tive cuidado de só lavar da cintura para baixo. – Disse com uma expressão de dor enquanto pegava na camisola que pretendia pôr sobre a camisa. – Ainda bem que existe o desodorizante porque tomar banho assim é uma merda.

– Não vais melhorar se continuares a fazer movimentos que não deves. – Disse, deixando suas sacas na banca da cozinha e aproximando-se do moreno. – Deixa-me ajudar antes que piores a situação.

– Se soubesse teria esperado para me ajudares a vestir os boxers e as calças.

– Vais rebentar os pontos, Eren. – Disse, ignorando a malícia no comentário do outro. – Temos que voltar ao hospital se isso acontecer.

– Sempre desmancha-prazeres. – Comentou, seguindo os gestos silenciosos de Levi que o ajudaram a vestir-se. – Só queria tomar banho e pôr roupa limpa antes de sair.

– Sair? – Indagou confuso.

– Vamos ver o Kuro, lembras-te?

– Eren talvez seja melhor esperar mais uns dias. – Distanciou-se para ir preparar comida.

– Mas tu disseste…

– Não confirmei nada. – Recordou. – Além disso, tenho que preparar comida decente para que não passes o resto dos dias a comer bolachas.

– Podemos ir depois do jantar. – Falou sem intenção de deixar o assunto parar ali.

– Eren…

– Vá, prometo que vamos devagar e tenho cuidado. – Falava com um tom frustrado. – Fiz tudo isto para ver o Kuro e agora estás a dizer-me que não?

– Eu vou vê-lo e digo-te como está. – Disse num tom cansado.

– Eu quero ir. – Insistiu.

– Eren.

– Não me faças sentir ainda mais culpado! Pelo menos deixa-me ir vê-lo!

Os olhos cinzentos olharam para o moreno que claramente tinha deixado aquelas palavras escaparem, mesmo que essa não fosse a sua intenção inicial. Viu algum embaraço da parte do outro, mas também a determinação de que não pretendia receber um “não” como resposta. Mesmo que não fosse o mais aconselhável para a recuperação do moreno, Levi acabou por concordar em ter companhia para visitar Kuro. Só depois dessa confirmação, Eren deixou de ser tão persistente e assim pôde preparar a refeição apenas com o som do MP3 como fundo, dado que o moreno parecia entretido com o telemóvel. Até mesmo durante a refeição não largou o aparelho e numa das vezes em que Levi viu o ecrã, teve a impressão de ver o nome de Annie.

Mantiveram o silêncio confortável, cada um ocupado com o que via no seu ecrã até que Levi disse que teriam que sair pouco depois do jantar para que não regressassem muito tarde.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

Eren esperava várias coisas, entre elas, uma clínica veterinária. Em vez disso pararam diante do que parecia ser um velho armazém com uma placa na frente que dizia “Amigos de 4 patas” e com umas letras mais pequenas “Centro de Acolhimento”. Intrigado pelo local, viu Levi empurrar uma porta enferrujada e ainda que o interior fosse mais acolhedor e com uma aparência mais apelativa, o moreno ainda estava um pouco confuso.

Repentinamente uma mulher de cabelos loiros bem curtos, calçando uns chinelos e com um roupão vermelho com várias riscas pretas apareceu. Esboçou um sorriso rasgado ao ver o jovem de cabelos negros, cumprimentando-o com um abraço. Ao ver o moreno manteve a mesma simpatia, excluindo somente o abraço, visto que não se conheciam.

O interior do armazém possuía várias divisórias e era possível ouvir de fundo os animais, o que deixava Eren com vontade de pedir para os ver. Aliás não descartou essa hipótese, mas queria começar por ver Kuro que se encontrava na casa da mulher, Nanaba. Ela vivia mesmo ao lado do local e por isso, acabaram na sala onde se encontrava uma pequena cama. O gato de cor preta miou ao ver Levi e este abaixou-se de imediato.

– Não te mexas muito. – Murmurou, acariciando o queixo do gato que ronronava.

– Podes ir ter com ele. – Disse Nanaba a Eren com um sorriso.

– Ah… ele nem sempre gosta muito de mim e não quero que se magoe mais ao tentar arranhar-me. – Respondeu o moreno.

Nanaba riu um pouco e disse:

– É, ele sempre teve um certo temperamento. Mas quando gosta de alguém, é o que vês.

Eren sorriu um pouco ao ver como o pequeno gato parecia contente por ver Levi.

– Como é que ele tem estado? – Perguntou o jovem de cabelos negros.

– Não tem muito apetite, mas é normal. – Comentou Nanaba. – Fora isso, tenho que ter o olhar bem atento para que fique a maior parte do tempo deitado. É até bom que esteja comigo porque com as tuas aulas e trabalho não seria fácil vigiá-lo.

– Então não o podemos trazer para casa? – Perguntou Eren um pouco desanimado.

– Não é o melhor, mas podem visitá-lo sempre que quiserem. – Afirmou a mulher, mantendo a expressão tranquila e simpatia.

– Obrigado Nanaba. – Agradeceu Levi. – E tens razão, infelizmente não posso dar a atenção que ele precisa.

A certa altura, Levi pediu para voltar ao armazém e disse a Eren que podia ficar com Kuro, pois não pensava que o gato fosse atacá-lo no estado em que estava. Foi só depois de o outro sair que o moreno se aproximou com cautela e depois abaixou-se com alguma dificuldade. Aqueles movimentos ainda eram bastante dolorosos, mas o jovem queria tocar no gato que o observava com atenção. Ainda que não tivesse a certeza absoluta de que era seguro, Eren estendeu uma das mãos. Com cuidado tocou na cabeça do animal que permaneceu imóvel e de olhar fixo.

O jovem de olhos verdes experimentou tocar somente com dois dedos e esperando não ser atacado, deixou a mão acariciar o animal.

– Espero que melhores depressa. – Murmurou e quando parou de mover a mão, o focinho do gato roçou de leve na pele dele. O gesto surpreendeu o moreno e Nanaba sorriu perante a expressão do jovem que parecia ter recebido um presente valioso. – Quem é o menino bonito, quem é?

– Parece que afinal gosta de ti. – Comentou Nanaba sentada no sofá.

Diferente do que ela tinha visto antes, agora havia um sorriso genuíno no rosto de Eren. Esse tipo de comportamento recordava-a de Levi que também só sorriu daquela forma numa situação semelhante.

– Mesmo que goste só um bocadinho, eu já fico contente. – Disse Eren, mantendo os olhos no pequeno animal que parecia desfrutar os gestos de carinho. – Posso perguntar o que é aquele armazém ao lado? É tipo, uma associação de animais?

– Algo assim. – Respondeu Nanaba. – Só que não temos qualquer apoio da Câmara Municipal ou do Governo. Vivemos do bom coração das pessoas que apoiam a nossa causa.

– Então… – Eren olhou para a mulher. – O que as pessoas fazem é dar donativos? Não há pessoas a trabalhar aqui? Eu pensava que isto era outro trabalho dele.

– Como disse antes, sobrevivemos graças à bondade das pessoas que doam comida, mantas, às vezes medicação, etc. – Sorriu com alguma tristeza. – Gostava de poder ter gente a ajudar e pagar em conformidade, mas como expliquei o que temos é somente o suficiente para sobrevivermos.

– Ele trabalha de graça? – Indagou incrédulo.

– O Levi chama de voluntariado. – Nanaba sorriu. – Às vezes não sei o que faria sem ele. É verdade que temos donativos, mas poucas pessoas têm tempo ou condições para ajudar no trabalho que há aqui. É necessário tratar da alimentação, higiene, cuidados de saúde, mas também recolher animais das ruas. O Kuro é um desses casos. O pequeno podia ter morrido.

– O que aconteceu? – Perguntou o moreno curioso.

– Muitas vezes as pessoas não esterilizam os animais e em resultado disso, quando há filhotes e não querem ou podem cuidar deles, escolhem abandonar ou matar. Infelizmente a prática de afogar gatinhos ou cães recém-nascidos não é tão incomum.

– Quem caralho faz uma coisa dessas?! – Perguntou o jovem de olhos verdes perplexo.

– Mais gente do que gostaríamos e o Kuro teve a sorte de ser encontrado por Levi que ouviu o miar dentro de um balde de água tapado. Os outros dois gatinhos morreram e mesmo eu duvidei que o pequeno fosse sobreviver. Felizmente, ele venceu todas as contrariedades e porque Levi foi o responsável por ter salvado a vida dele, penso que o Kuro ganhou um carinho especial por ele. Assim que melhorou, começou sempre a fugir para ir ao encontro dele.

Eren continuou a acariciar Kuro em silêncio por bastante tempo, antes de dizer:

– Esse é o tipo de pessoa que ele é… nesse aspeto, sou mais um hipócrita que gosta de animais, mas não faz nada de concreto por eles. Não digo que quero ser vegetariano até porque gosto de carne.

– Eu também. – Nanaba riu. – Mas nunca é tarde para passar das palavras à ação e não me refiro ao tornares-te vegetariano.

– Eu sei. – Murmurou. – Sempre gostei de animais e queria ter um em casa, mas nunca pude. Só que se realmente gostasse deles, teria feito como o Levi. Talvez não voluntariado, mas pelo menos doar dinheiro enquanto o tive.

– Não te agrada a ideia do voluntariado, pelo que estou a ver. – Disse com um sorriso divertido.

– Por um lado quero admirar, mas por outro lado… tanto trabalho a troco do quê exatamente?

– Vem comigo, Eren. – Pediu Nanaba e mesmo que um pouco confuso, o jovem de olhos verdes ergueu-se novamente em dificuldades e não se recusou a seguir a mulher. Esta que apesar das respostas dele, não estava a julgá-lo. Não costumava ter muitas conversas com adultos que não acabassem em discussões e por isso, teria que admitir que Nanaba era bem tolerável. Seguiu a mulher até ao armazém e a certa altura, ela encostou o dedo aos próprios lábios. O gesto pedia silêncio de Eren que assentiu e após passarem um corredor, diante deles estava um salão com camas, brinquedos, jaulas abertas e no centro estava Levi sentado no chão. À sua volta dois gatos que tentavam disputar a atenção dele com cães de pequeno e médio porte que lambiam o rosto dele que sorria, pedindo que se sentassem porque tinha mimos para todos.

– Em várias ocasiões quis dar-lhe algum tipo de remuneração e ele disse-me que isto não tem preço.

– Será mesmo recompensador dar tanto sem esperar nada em troca? – Perguntou sem desviar o olhar do que via a alguns metros. – Aqui pode funcionar, mas lá fora é diferente.

– Alguém dar tudo de si mesmo sem esperar nada em troca pode ser triste, mas também representa uma beleza sem igual dentro dessa pessoa. Se fôssemos todos um pouco assim, não achas que o mundo seria um pouco melhor?

– Talvez, mas essa não é a realidade. – Afirmou e Nanaba podia ver mesmo de soslaio uma expressão de ressentimento. – Pessoas como ele são pisadas.

– Eren…

– A minha avó era assim. Ela tentou convencer-me que vale a pena dar o que temos de melhor sem esperar nada em troca. Disse-me que a vida tem formas misteriosas de equilibrar as coisas e que um dia, quando menos esperássemos, viria uma recompensa de uma forma que nunca imaginámos que fosse possível. – Disse pensativo. – Ainda hoje penso que ela dizia isso para se convencer a si mesma disso. – Olhou para Nanaba por breves instantes antes de voltar a olhar para Levi rodeado pelos animais. – Eu conheci-o antes, reencontrei-o agora e a sensação que tenho é que ele não mudou. Nada mudou. Ele devia ter feito como eu.

– E o que foi que fizeste?

– Sempre fui bom a imaginar diferentes cenários. Algo diferente do que estava a viver, como se reescrevesse a minha história. Depois da morte da minha avó aprendi algo melhor. Há memórias que não quero ter. Há dor e mentiras que escolhi mais do que reinventar, escolhi rasgar. Afogar essas memórias com tudo o que pudesse fazer para as tirar de mim. – Olhou para Nanaba. – Um psicólogo disse que sou doente, que tenho algum trauma porque ninguém normal é capaz de simplesmente destruir memórias ou negar que elas existem. Bom, acontece que ele não sabia o quão persistente posso ser.

– E isso ajudou? – Perguntou a mulher com uma expressão preocupada. – Negar que as memórias existem?

– Quando tinha dinheiro podia comprar tempo para não pensar nessa resposta.

– Podes rasgar memórias, Eren mas não penso que possas eliminar os fragmentos que ficam. – Tocou de leve nas costas do moreno. – Escuta, eu não acredito que por mais terríveis que as memórias possam ser, que seja certo esquecê-las. Cada uma delas, boa ou má, ajudaram-nos a crescer, a construir a pessoa que somos hoje.

– E se essa pessoa não presta? – Perguntou.

– Somos todos muito precipitados quando se trata de ver os nossos defeitos. Podemos apontar dezenas com facilidade, mas e as qualidades? Por que é tão difícil vê-las? Mesmo que tu não as vejas, tens coisas boas e reconheces que há coisas nas quais deverias mudar ou melhorar. E se tentares? E se essas memórias que te preocupas tanto em manter rasgadas te ajudarem a encontrar um caminho diferente? E se deixares que elas influenciem aquilo que gostavas que o mundo fosse? – Perguntou e Eren olhou para ela.

– O mundo não é o que queremos, apenas por desejarmos que assim seja.

– Mas o mundo não muda se acreditarmos que não passa disto. As estações mudam, as pessoas envelhecem, os frutos amadurecerem… Eren por que razão o resto não pode mudar? Porque já está condenado a ser assim? Ou porque cada um de nós esquece que tem um papel nessa mudança? Mudar não depende só dos outros. Mudar depende de nós também.

– Não é tão fácil.

– Nunca disse que era fácil, mas pessoas como ele… – Apontou para Levi. – Tentam remar contra a maré todos os dias. Sendo pisados e humilhados como dizes, mas no fundo ele não deixou de acreditar que há coisas que são o certo a fazer e por isso, continua assim mesmo quando o colocam para baixo. Ele podia fechar-se em casa. Ele escolheu isto. Trazer um pouco de bondade, de carinho e atenção mesmo quando lá fora lhe oferecem o oposto. Não devia ser assim e por isso, eu tento ajudá-lo como posso. Ele tem uma ótima amiga que o apoia muito. Será que posso contar contigo para que não repitas o mesmo de antes?

– A senhora sabe o que aconteceu. – Deduziu um pouco espantado.

– Não com detalhes, mas eu ouvi o teu nome antes. Eu vi nos olhos dele a reação a esse nome e gostava de acreditar que seja qual for circunstância que vos colocou de novo no mesmo caminho, que desta vez podes deixar uma marca diferente na vida dele.

– Não sei se sou capaz de deixar uma marca diferente na vida de alguém…

– Não sabes se não tentares, Eren.

As memórias não passavam de fragmentos confusos que por vezes, surgiam na forma de sonhos ou imagens repentinas. Ele lutou tanto para não deixar que alcançassem a superfície, mas agora que as distrações eram diminutas, o silêncio era impiedoso. Todas as horas sozinho naquele apartamento estavam a desmoronar aquilo que sempre manteve durante tanto tempo. O pouco que recordava e sobretudo depois da visita a Kuro, deixou claro para Eren que não seria capaz de ir adiante com o plano que Mikasa tinha inventado. Mesmo que não fosse claro por que razão fez de tudo para apagar Levi das suas memórias. Talvez ele até tivesse culpa no que tinha acontecido no passado. Porém, aquele era o presente e naquele momento, Eren não considerava justo arruinar a vida do companheiro de apartamento. Por muito que ainda lhe custasse acreditar nos benefícios de dar tanto aos outros, as palavras de Nanaba deixaram-no mais abalado do que queria admitir.

Ele acreditava que pessoas como o Levi estavam condenadas a sofrer e talvez fosse por tantos outros acreditarem no mesmo, que o mundo se tornava um lugar insuportável.

– O que ganhas em ser tão bom com as outras pessoas? – Perguntou já de volta ao apartamento e com Levi a ajudá-lo a vestir o pijama.

– O que ganhas sendo um filho da puta com toda a gente? – Questionou Levi. – Parece que nenhum de nós ganha alguma coisa. É um jogo viciado de perdedores.

Depois de ajudar o moreno a vestir-se, o jovem de cabelos negros arrumou as roupas na mala aberta perto do sofá e notou que Eren ainda parecia bastante silencioso e pensativo depois de terem voltado da visita a Kuro. Passou pouco tempo e Levi despedia-se com um “boa noite” quando ouviu o moreno chamar o nome dele.

– Tenho dores.

– Não posso dar-te mais medicação. Eu disse que caminhar não era uma boa ideia. – Parou na frente do sofá. – Deita-te com cuidado e…

– Há mais do que uma forma de lidar com a dor. – Cortou Eren e após um curto silêncio, Levi respondeu:

– Sim há e estás a pensar novamente com as hormonas. Se continuares persistente desta forma, vão pensar que realmente estás interessado em mim, um nerd patético sem qualquer interesse.

– Impressão tua. – Respondeu, mas não conseguiu evitar um certo rubor no rosto quando Levi se aproximou mais, acabando por sentar-se sobre as pernas dele. – Podem pensar o mesmo de ti.

– É como disseste, há várias formas de lidar com a dor. – Murmurou. – Estou a escolher ser egoísta e não querer saber se é certo ou errado. Penso que estás familiarizado com essa ideia, não é?

– Hoje o teu namorado, não importa?

– Não há dias em que só estás cansado e não queres saber o que os outros vão pensar? Aproveita que estou num desses dias e não te queixes. – Falou antes de beijar Eren. – Avisa-me quando estiver a ir muito longe.

Eren sorriu, abanando um pouco a cabeça antes de procurar os lábios do outro para mais um beijo. Por muito que Levi quisesse, o moreno podia ver em pequenas afirmações como aquela que o outro não conseguia ser totalmente egoísta. Se fosse capaz, não iria querer saber até que ponto o moreno estava ou não confortável com a situação. Mas ele queria saber e o mais surpreendente é que Eren não duvidava que Levi parasse, se lhe pedisse naquele preciso momento.

Era tão estranho estar com alguém assim.

Depois do que tinha acontecido com Jean, talvez o normal fosse que não quisesse contacto físico com ninguém. Em teoria realmente não sentia vontade de ter ninguém a tocar nele. Ninguém, exceto Levi. Exceto alguém que demonstrava aquele tipo de cuidado e carinho a que não estava habituado. Alguém que parecia tão quebrado por dentro e ainda assim era capaz de fazer com que sentisse qualquer coisa. Qualquer coisa que não tinha nome, mas era bom.

 


Notas Finais


Até ao próximo capítulo!

Não tenho a certeza se consigo postar o próximo capítulo antes da passagem de ano porque não vou estar em casa, mas vou tentar atualizar antes da viagem.


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