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História Memórias Rasgadas - Capítulo XX


Escrita por: Imagination

Notas do Autor


Obrigada pelos comentários, mensagens, favoritos e a todos os que acompanham a fic!

E como foi decidido em opiniões deixadas no capítulo anterior, irei escrever a oneshot na época dos titãs que será postada no 14 (exceto se tiver algum imprevisto com o tempo, mas em princípio devo conseguir terminar até lá).

Capítulo 20 - Capítulo XX


Capítulo XX

 

Eu devia saber que as coisas não estavam bem. Devia ter voltado antes. Ele estava muito estranho e eu mais uma vez não estive atenta. Sempre concentrada no meu trabalho, esquecendo o mundo à minha volta”, recostou a cabeça no assento do avião.

A estudante só conseguia pensar em como nunca deveria ter deixado o melhor amigo a viver sozinho. Desejava regressar atrás para recusar aquela bolsa de estudo em Sina e ficar ao lado de Levi, que na altura quando soube da notícia sorriu e disse que estava contente por ela. Ainda recordava perfeitamente esse momento, pois ela ainda hesitou, mas ele insistiu para não desperdiçar aquela oportunidade e usar isso para ir atrás dos sonhos dela.

Parte dela quis escutar egoísmo da parte do amigo. Queria ouvi-lo dizer que não queria ficar sozinho, que queria que ela ficasse, mas ela já devia saber… ele não era assim. Levi abdicava facilmente de algo, se isso beneficiasse outra pessoa. Portanto, para que ela não se sentisse culpada, sorria e dizia que tudo ia ficar bem. Mesmo que no fundo, os dois soubessem que isso não era verdade.

Ela sempre soube que isso não era verdade e ainda assim, não permaneceu ao lado dele.

Recordava bem o abraço apertado que trocaram antes de se separarem no aeroporto e de ter olhado para trás e o amigo acenou discretamente com mais um sorriso, que lhe pareceu uma despedida verdadeira. Quando ela pensou em recuar, viu que ele já tinha virado as costas e seguia o seu caminho. Convenceu-se então que era somente fruto da sua imaginação e que era normal, pois desde que se conheceram na escola nunca mais se tinham separado daquela forma. O que ela estava a sentir era normal e tudo o resto eram paranoias da cabeça dela.

E se não fossem? E se de facto aquela fosse a última vez que se viram?

Agitou ligeiramente a cabeça, negando esse tipo de pensamentos. Erwin estava com o amigo e com certeza, faria com que o mesmo aguardasse por ela.

 

Flashback

Antes de conversarem pela primeira vez, Hanji já tinha notado o adolescente de longe. Ela tinha acabado de chegar à escola e vi-o perto do portão a passar. Como era bastante extrovertida e sempre teve uma grande vontade de conhecer pessoas, lembrava-se de ter acenado na direção dele para o cumprimentar. Contudo, o rapaz não só não levantou o rosto cabisbaixo, como seguiu em frente sem dar-lhe atenção a ela ou a qualquer outra pessoa. Como se estivesse com pressa em entrar e ignorar qualquer pessoa.

Lembrava-se da confusão que isso lhe causou, mas não insistiu. Encolheu os ombros e inocentemente julgou que o rapaz estivesse a ter um mau dia ou fosse daquelas pessoas que acordavam mal-humoradas pela manhã. Não deu importância e distraiu-se a cumprimentar outras pessoas.

O episódio repetiu-se, mas noutras ocasiões notou que o adolescente em questão trazia fones nos ouvidos, o que também podia explicar a razão para não ouvir ninguém. Mais uma vez, Hanji não fez de imediato as perguntas certas e focou-se mais na nova escola, na sua curiosidade por aprender mais até que se cruzaram na sala de aula e trocaram as primeiras palavras. Daí em diante, foi incapaz de ignorá-lo, mas ao questionar outros colegas acerca do rapaz não esperava as respostas que teve. Foi a primeira vez que se apercebeu que ele estava sozinho. Sempre esteve.

Hanji não compreendia a razão por detrás de toda aquela maldade dirigida a alguém. Aliás, chegou também a concluir em vários momentos que nem mesmo os responsáveis pelas brincadeiras ou comentários cruéis sabiam por que motivo faziam essas coisas. Deixavam-se levar pelo que a maioria fazia e não paravam sequer por cinco segundos para refletir nas consequências disso.

– Mas não podes deixar que te tratem assim. – Argumentava a rapariga de cabelos castanhos enquanto via o amigo limpar a alça da mochila que estava suja por sumo que atiraram na direção dele minutos antes. – A maioria desses idiotas nem tem um cérebro para se perguntar por que fazem estas coisas.

– É simples.

– Simples? – Indagou com incredulidade.

– Ninguém quer estar deste lado, Hanji. – Respondeu ao fechar a torneira de água e constatar que tinha feito o possível para limpar e já não podia fazer mais nada. – É mais fácil fazer parte do grupo que tem vantagem porque se passares para o outro lado, corres o risco de tornar-te um alvo também.

– Mas isto não está certo! Tu não podes aceitar uma coisa dessas!

– Não é uma escolha. – Olhou para a amiga. – Eu nunca tive escolha desde do princípio.

Em conversas como aquela, Hanji podia ver como o rapaz desde daquela altura, encontrava-se cético quanto à capacidade dos outros mudarem aquilo que para ele estava pré-determinado.

Todavia, ela recusava-se a aceitar que as coisas fossem assim e que aqueles se julgavam mais fortes pisassem os que consideravam fracos, apenas porque sentiam vontade ou porque acreditavam tinham direito de o fazer. Consequentemente, a atitude amigável dela relativamente aos outros começou a mudar e graças a isso, envolvia-se em várias discussões, chegando inclusive algumas vezes ao físico.

Quando Levi soube, veio a primeira discussão séria entre eles e ele afastou-a. Nessa altura, Hanji não entendia que esse era um mecanismo enraizado nele. Ela não compreendeu que Levi se odiava ao ponto de não acreditar que merecesse ajuda e por isso, ele jamais aceitaria que alguém se prejudicasse por culpa dele. Ela não sabia, mas ele via a culpa dele em tudo.

Hanji cometeu o erro de distanciar-se por não saber o que fazer, por não compreender até onde ia o desprezo que Levi sentia por ele próprio. Esse distanciamento entre eles aconteceu na mesma época em que Eren surgiu.

Num primeiro momento, Hanji quis sentir-se feliz porque Levi estava a deixar que outra pessoa se aproximasse dele, mas isso foi antes de ela conhecer a verdadeira natureza do moreno. As histórias que não eram somente rumores, mas um conhecimento geral de que o filho do Dr. Jaeger nunca teve um comportamento decente e brincava com todos ao seu redor. Porém, quando quis alertar Levi sobre isso, descobriu que já era tarde. O amigo estava mais do que envolvido pelo moreno. Levi estava apaixonado. Não era preciso que ele dissesse. Hanji viu-os juntos algumas vezes e podia ver no comportamento, na postura, na troca de olhares e nos sorrisos que Eren conseguia tirar dele.

Essa conclusão fez com que chorasse, o que de certo modo até a amedrontou. Como adolescente, os sentimentos muitas vezes são confusos e teve medo que estivesse a sentir por Levi mais do que uma simples amizade e daí que aquelas lágrimas caíssem. Só que quando se acalmou, percebeu que não havia pontadas de ciúmes, que não havia atração que justificasse aqueles medos e que chorava porque conseguia ver o quanto aquilo iria destruir Levi.

Então Hanji decidiu que não recuaria na sua insistência para Levi abrisse os olhos, ainda que uma pequena parte dela tivesse desejado estar errada e que o amigo conseguisse ser feliz. Porém, veio o dia que jamais sairia da sua memória.

Ler acerca das atrocidades e crueldade da humanidade era uma coisa, testemunhar à sua frente como todos se uniam para cobardemente destruir uma só pessoa era outra coisa totalmente diferente. Ela teve que agir, permitir que Levi saísse daquele circo de horrores que formaram em torno dele. Mais tarde, o pânico cresceu novamente dentro dela porque pensou não voltasse a ver o amigo. Foi a primeira vez que realmente parou para se perguntar o seguinte:

“E se ele tiver pensamentos suicidas?”.

Era uma questão terrível, mas que não era descabida. Pouca gente suportaria tanta maldade constante sem que algo dentro deles começasse a quebrar. E se o que quebrasse fosse a vontade de viver? Recordou cada olhar trocado entre eles. A falta de brilho nos olhos cinzentos, o desânimo permanente e as mangas longas, independentemente da temperatura que estivesse. Como se as peças encaixassem num cenário doloroso isso levou-a a procurá-lo durante horas a fio, não querendo aceitar que tinha sido tão cega e que por causa disso, podia não ser capaz de ajudá-lo. Não conseguia explicar por palavras o que sentiu quando o encontrou e pôde dar-lhe aquele abraço que queria ter dado desde do princípio.

– Obrigado… – Murmurava Levi ao fim de algum tempo quando já em casa de Hanji com roupas limpas e estômago cheio, deixava-se levar pelo sono enquanto a amiga acariciava os cabelos dele.

– Podes parar de agradecer, eu é que estou contente por ter encontrado. – Respondeu, mantendo o tom de voz baixo, pois o rapaz parecia ter adormecido.

Claro que ela sabia como Levi se sentia ao viver na casa dos pais dela. Ele não gostava da ideia de depender de outras pessoas, mas Hanji pensou que os pais ajudassem a dissipar esse tipo de pensamento. Inicialmente, apoiaram bastante mas com o passar do tempo e algumas questões económicas sobre a mesa, os pais deixaram de acreditar que deviam fazer a coisa certa e que Levi era uma responsabilidade a mais. Ela discutiu com eles e faria tudo de novo. A relação com os pais nunca mais foi a mesma, embora nunca tenha deixado de falar com eles.

– Vais sair daqui porque um homem que tem idade para ser teu pai deu-te dinheiro em troca de nada? Vamos pensar nisto por 10 segundos!

– Hanji, ele não é o meu pai e nem nenhum predador sexual. Já conversámos sobre isto. – Disse, revirando os olhos enquanto arrumava a mala para sair na manhã seguinte.

– Conheceste-o numa aplicação que inclui palavras: Sugar Daddy! Não me podes pedir para simplesmente aceitar que ele…

– O nome dele é Erwin e como o próprio já me disse “O dinheiro é dele, é justo que use com quem quiser”. Eu sinceramente estou farto de argumentar contra isso e desta forma, vai ser melhor.

– Isto também é por causa dos meus pais, não é?

Ele parou de mexer na mala e olhando para a amiga, disse:

– Nunca fui uma responsabilidade deles para começar, mas mesmo assim não sinto mais do que gratidão pelo que fizeram por mim. Devias mostrar-te agradecida por teres uns pais compreensivos e compreender o lado deles.

– Mas…

– Vou ficar bem, Hanji. Além disso, vamos continuar a ver-nos todos os dias. – Sorriu um pouco.

Erwin surgiu de repente e Hanji preocupava-se com as reais intenções do empresário. Ela informou-se acerca daqueles encontros com Sugar Daddies e era muito raro não existir uma troca de favores sexuais. Já lhe bastava Marco como má influência e companhia, ela não queria pensar na hipótese de ter que lidar com outra pessoa que podia causar vários problemas.

Contudo, as evidências iam contra aquilo que julgou inicialmente. Erwin afastava Levi das más companhias, das saídas à noite, do álcool, do consumo de substância ilícitas e dos encontros casuais. Ela queria encontrar suspeitas, mas nas vezes que os encontrava, os dois estavam sentados à mesa de algum café a conversar ou simplesmente a trabalhar na companhia um do outro.

E também não podia negar outra coisa…

– Lembras-te daquele museu de que falaste? – Perguntou Levi que tinha acabado de voltar ao apartamento que agora os dois partilhavam, dado que Hanji acabou também por sair de casa quando entrou na Universidade. – Aquele que foste visitar numa das visitas de estudo em que não pude ir. Da exposição do pintor…

– Sim, sei. – Interrompeu com um sorriso. – Esse foi o passeio de hoje?

– Sim. – Sorriu um pouco de volta. – Acho que quer mostrar-me todos os museus que há por cá e diz que os de Sina são ainda mais impressionantes, mas as pinturas que vi hoje apesar de um pouco perturbadoras, não deixavam de ser incríveis.

– Parece que gostaste bastante da exposição.

– O Erwin conhece o pintor, perdemos até a noção do tempo com alguns quadros. – Dizia já sentado ao lado da amiga. – Há tanta coisa que não vi… tanta coisa que pensava que não iria ver ou conhecer. – Sorriu de novo na direção de Hanji. – Ele disse para a próxima devias vir connosco. Ele vai viajar em breve.

– Não quero atrapalhar o vosso encontro. – Provocou divertida e ele revirou os olhos.

– Há dias em que dizes que ele pode ser o meu pai e outros em que dizes estas coisas, tens que te decidir e parar de pensar em tanta asneira. – Suspirou e repentinamente, foi abraçado pela amiga.

– Mas assim não me divirto com os teus comentários. – Riu enquanto ele tentava empurrá-la.

– Larga-me, Hanji! Cheiras a quem não toma banho há dias!

– Ups, realmente sou capaz de ter estado um pouco ocupada com…

– O quê?! Larga-me, Hanji! – Agarrou o braço da amiga. – Banho! Agora!

Hanji gostava de cada momento que passavam juntos. Mesmo que incluísse Levi a encher uma banheira de água excessivamente quente enquanto dizia todos os palavrões conhecidos pela humanidade. Ele podia reclamar, mas tentava garantir que a amiga fazia as refeições, descansava e claro, mantinha a higiene em padrões aceitáveis. Hanji chegou a dizer que viver com ele era como viver com uma mãe e isso valeu-lhe alguns objetos atirados na direção dela. Ela simplesmente ria e aproveitava cada momento em que a postura e expressão de Levi mudava para outro tipo de emoções e pensamentos.

Só que o passado e as pessoas cruéis não desapareciam de um momento para o outro. Mesmo que durante bastante tempo, Hanji tenha conseguido por fim, afastar um dos problemas do amigo.

– Como é que podes dizer que queres o bem dele? – Questionava a rapariga diante do rapaz que encostado à mota, fumava o seu segundo cigarro.

– Não fosse por mim, já podias ter perdido o teu amigo. – Respondeu e brincou ligeiramente com o piercing que tinha na língua. – A razão para que as nossas conversas nunca nos levem a lugar nenhum é porque tu também sabes isso, Hanji. Sabes que entre todas as opções, eu sou a que permite que o gatinho não caia de vez.

– Estás a destruir a vida dele na mesma!

– Lentamente. – Concedeu. – Bem mais lentamente e mais doseado do que tu farias. Não podes curar aquilo que vai dentro dele só com abraços. – Deitou o cigarro para o chão e passou a mão nos cabelos negros. – Nem sei se alguém pode curar aquilo que vai dentro dele e eu não quero vê-lo morrer, mas entre ver como se atira de uma ponte ou sentar-se ao meu lado a fumar, eu prefiro a segunda.

– Se tens um pingo de consideração por ele vais deixá-lo em paz, entendes? Vais desaparecer e deixar que eu e o Erwin fiquemos do lado dele.

– Por quanto tempo pensas que isso vai funcionar?

– Por favor, Marco. Estou a pedir-te por favor que o deixes em paz, que me dês uma oportunidade de provar que estás errado e que posso ajudá-lo.

Após uma silenciosa troca de olhares entre eles, o rapaz sorriu um pouco abanando a cabeça e segurou no queixo de Hanji que manteve o ar desafiador.

– Boa sorte, bebé. Vais precisar, sobretudo quando ele voltar a procurar-me de novo e vais perceber que fui eu que o segurei por mais tempo, porque quando não estiver cá, eu não tenho tanta certeza que mesmo tu sejas capaz de o impedir. – Largou o queixo da rapariga que manteve o olhar fixo nele enquanto Marco subia para cima da mota e pouco depois desaparecia.

Fim do Flashback

 

Vou provar que estás errado, Marco. Eu ainda posso fazer qualquer coisa por ele”.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

– Eren! – Chamou Grisha mais uma vez, mas o filho continuava a sair do restaurante depois de ter olhado para umas das televisões e ter visto a notícia acerca de Mikasa. – Nós ainda não acabámos de conversar! – Insistiu já no exterior do restaurante.

– Como é que podes querer conversar depois de ver essa notícia?! – Questionou incrédulo. – É a Mikasa!

– O que achas que vai mudar se saíres daqui assim? Se aceitares, podemos ir hoje mesmo para Sina.

– Vai à merda, Grisha! – Respondeu de volta, apressando os passos sem saber muito bem para onde ir. Ao ver a notícia, teve vontade de correr até Sina mas isso não era possível e depois de imediato, veio à mente dele a amiga, Annie.

Infelizmente, demorou mais do que pretendia a encontrar o apartamento onde vivia a amiga, visto que foi lá poucas vezes. Como quase não tinha dinheiro com ele e precisou de apanhar pelo menos dois transportes públicos, num deles entrou sem pagar aproveitando a confusão. Só que a paranoia de ser apanhado não tinha tempo de ocupar a mente dele, visto que só conseguia pensar na morte de Mikasa e procurar segurar as lágrimas.

Os dois podiam ter um relacionamento complicado, mas eram amigos. Mesmo com todas as palavras azedas e discussões, eles eram amigos. Sempre foram desde pequenos e custava-lhe assimilar as notícias. O que passou na televisão não era suspeita de homicídio e sim, suicídio.

Nenhum deles era feliz, mas tirar a própria vida? Será que Mikasa estava pior do que imaginava?

Pensar sobre isso, recordava-o inevitavelmente de Levi e como esse também tinha dito algo que ia nas linhas de “ninguém vê até ser tarde demais”.

Será que fiz isso com ela também? É verdade que não nos víamos tanto como antes, mas eu devia saber, não é? Eu devia saber quando uma amiga de infância está a pôr suicídio como uma hipótese”, repetia a si mesmo.

Quando de madrugada chegou à casa de Annie depois de andar perdido em ruas por demasiado tempo, não esperava ver a pessoa que lhe abriu a porta.

– O que estás aqui a fazer? – Perguntou o moreno ao ver Armin.

– Eren? – Ouviu a voz feminina atrás do rapaz loiro.

– Sim, sou eu. – Disse, passando pelo outro sem insistir em perguntas e assim que viu a amiga, esta levantou-se para abraçá-lo enquanto chorava visivelmente perturbada com as notícias.

Passaram longos momentos em que Eren esteve sentado ao lado de Annie. A loira a certa altura apoiava a cabeça no ombro do moreno que segurava numa das mãos dela. As lágrimas já corriam com menos intensidade, mas a tristeza ainda era palpável no ar e Armin também se mostrava abatido, sentado numa cadeira. Porém, não quis interferir com o momento dos dois.

Só quando o clima ficou um pouco mais calmo, Annie explicou que Armin tinha ido visitá-la e que depois das notícias, ela pediu que ele ficasse.

– Não queria deixá-la sozinha depois do que aconteceu, embora mesmo com as aulas canceladas na Universidade, eu soubesse que teria que sair pelo menos pela manhã. – Disse o loiro.

– Aulas canceladas? Por causa de…? – Perguntou Eren confuso.

– Tu não sabes? – Perguntou Armin. – Viste as notícias sobre a Mikasa, mas não sobre…? Bom, suponho que as notícias não se foquem tanto nos acontecimentos locais, mas sim nas estrelas da televisão.

– Do que estás a falar? – Quis saber Eren subitamente nervoso com o que o loiro ainda não tinha explicado.

– As aulas foram canceladas porque a polícia está na Universidade. Pelo que se percebe nas notícias e nas redes sociais encontraram... – Fez uma pequena pausa. – O Marco a esvair-se em sangue numa rua com sinais de ter recebido um tiro e um ataque com uma faca no estômago e pouco depois, encontraram o corpo… – Fez novamente outra pausa, olhando para Annie que assentiu, indicando que Armin devia contar. – Encontraram o corpo do Jean numa das salas da faculdade de Filosofia. Pensam que as duas coisas possam estar relacionadas, pois havia sangue de outra pessoa na sala, mas ainda não há certezas. Já recebi uma chamada a pedir para prestar depoimento amanhã e pelos vistos também outras colegas que conheço como a Ymir, por exemplo, visto que ela comprava coisas do Marco.

– Estás bem, Eren? – Perguntou Annie, olhando para o rosto apreensivo do amigo.

– Sim… – Murmurou ainda a digerir as notícias mais recentes.

Talvez fosse normal sentir um certo alívio, agora que sabia que não teria que reencontrar-se com Jean novamente, mas Eren ainda questionava se não devia sentir qualquer coisa diferente. Afinal de contas, não sendo um relacionamento exemplar, ele e Jean foram próximos. Só que dentro dele parecia não existir espaço para a tristeza. Não podia dizer que fosse totalmente indiferente, mas não queria verter qualquer lágrima por ele.

Tentar compreender o que teria acontecido também ajudou-o a focar-se em outra coisa que não fossem os sentimentos tóxicos por Jean. Marco também tinha morrido e Armin tinha afirmado que as duas coisas estavam relacionadas.

– Se Marco também estava ferido isso significa que os dois discutiram e as coisas acabaram daquela forma? – Murmurou pensativo.

– Conhecias o Marco? – Questionou Annie, considerando que embora o tema não fosse o mais agradável, seria bom tentar concentrar-se em outra coisa que não fosse continuar a chorar sem parar por Mikasa.

– Sim de vista, de trocar poucas palavras com ele. – Disse ainda pensativo.

– Será que o Jean também consumia? – Arriscou Armin.

– Não. Não dessa forma. – Respondeu Eren e repentinamente, um só cenário veio à sua cabeça, recordando o comportamento de Marco quando falou com ele pela primeira vez. Pensar nisso, arrepiou-o porque segundo a postura de Jean, só existia uma possibilidade. – O Marco disse-lhe que não…

– O quê? – Perguntaram os loiros confusos.

– O Jean não lidava bem com a rejeição e o Marco com certeza que da mesma forma que me disse que não, terá feito o mesmo com o Jean. – Concluía com uma expressão de inquietação.

– Estás a dizer que o Jean terá tentado forçar alguma coisa e o Marco reagiu em defesa própria? É isso? Que as coisas fugiram do controlo? – Supôs Armin.

– Esperem, estou a perder alguma coisa pelo meio? – Perguntou Annie. – Como é que os dois parecem ter chegado a essa conclusão? Eren, o que raio aconteceu com o Jean? Foi por alguma merda dessas que o vosso namoro acabou?

Eren mostrava-se reticente em responder àquelas perguntas. Não queria falar e nem sequer era o momento adequado e lançou um olhar de ódio, quando Armin disse:

– Eu não nasci ontem, Eren. Posso supor várias coisas a partir disto e por isso, ou falas ou digo eu o que penso que terá acontecido e que não deve andar longe da verdade.

– Não tens o direito de te meter em…

– Vais precisar de falar e melhor que seja com a tua amiga. Se quiseres saio, mas aconselho-te a que eu esteja presente. – Interrompeu o rapaz de cabelos loiros.

– Ah sim e porquê? Eu não tenho nada para…

– Porque vais ser chamado a depor por teres mantido uma relação com o Jean e por teres-te cruzado com o Marco. Vais ter que contar a verdade e não é que mereças, porque não mereces mas eu pelo menos, posso aconselhar-te sobre como deves expor isso perante a polícia. Sabes que basta dizeres a palavra errada e a polícia não te vai largar durante uns bons tempos, portanto, colabora e começa por contar a verdade agora para que eu tenha tempo de pensar naquilo que deves ou não dizer quando sairmos. – Explicou Armin.

– O que é que ganhas com isto?

– Possivelmente nada, mas eu gosto da Annie e tenho a certeza que ela não te quer ver na cadeia só porque não queres falar ou porque disseste a coisa errada.

– Exijo saber do que estão a falar! – Interveio Annie cada vez mais apreensiva.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

– Sabe por que razão a chamamos para dar este depoimento, certo? Tem que responder com verdade e…

– Oiça, eu não tenho interesse em mentir, ok? – Interrompeu a rapariga com sardas no rosto, expressão contrariada enquanto brincava com alguns fios do cabelo. – Querem saber se conheço o Marco e o Jean? Sim, conheço. Um melhor do que outro, mas conheço. Pouca gente não conhecia o Jean e o seu complexo de Deus que o fazia acreditar que podia ter quem quisesse na cama.

– E o Marco?

– O Marco, oiça vamos ser sinceros, ele vendia bom material. – Disse, vendo o agente de autoridade erguer uma sobrancelha com a sinceridade. De certo modo, esperava que a estudante universitária tentasse desmentir o consumo de substâncias ilícitas, mas esse não parecia ser o caso de Ymir. – E em época de maior stress ou de festas toda a gente sabia quem procurar, mas ele era boa onda.

– Boa onda?

– Boa gente. Não havia qualquer problema com ele se cumprisses a tua parte do negócio. – Explicou sumariamente.

– Mas e se houvesse um problema com o pagamento? Diria que o Marco Bott seria capaz de algum ato mais violento?

– Sei que estão à procura de culpar o Marco por toda a cena que aconteceu, mas eu sinceramente acredito mais na idiotice do Jean, que muita gente também sabia que andava a perseguir o Marco com técnicas tristes de conquista. O meu palpite é que o Jean não sabia escutar um não e que infelizmente, aquele merdas levou o Marco com ele. Agora a quem é que vou comprar?

O agente aclarou a garganta.

– Vamos controlar a linguagem e focar-nos no importante. Nós não podemos basear a investigação em palpites, portanto, tenha cuidado com as afirmações que produz durante este depoimento. Antes de continuar a questioná-la acerca desses dois, gostaria também de saber se confirma que conhece o Levi Ackerman. Segundo algumas pessoas, ele foi visto com o Marco várias vezes.

– A sério que o querem meter nisto? O Dom Juan provavelmente quis mais do que podia ter e só porque é de boa família, acham que os pobres é que são os culpados?

– Por favor, esqueça esses juízos de valor e responda às minhas perguntas.

 

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– Nenhum dos meus eram maus alunos por isso, lamento se não posso ser de muita ajuda. – Forçou um sorriso, mas ainda assim viu o agente que estava a interrogá-la corar um pouco.

– Sim, mas como lhe expliquei também gostávamos de saber a sua opinião acerca do aluno Levi Ackerman e esse frequentava as suas aulas de Direito. Segundo nos foi dado a entender, ele era uma pessoa bastante isolada e…

– E portanto estão a assumir que um dia entraria na Universidade com uma arma? – Concluiu a professora, colocando uma mexa de cabeça atrás da orelha e mantendo uma postura que desse a entender que se encontrava num estado fragilizado.

Não que a morte de duas pessoas na Universidade me seja indiferente, mas enoja-me saber como em vez de focarem as perguntas no Jean, querem saber de alguém que nem estava no local quando aconteceram as coisas. As câmaras de vigilâncias provaram isso mesmo. Ele nem sequer cruzou os portões. Não estava na Universidade como o Pixis me alertou e disse que passou as fitas às autoridades, mas claro como tem familiares com um registo criminal sujo, automaticamente querem meter a culpa nele”.

– Não queria colocar dessa forma, mas já que a Professora Reiss formulou dessa forma, pensa que seria uma possibilidade?

– Desculpe, mas é que vemos cada notícia que falei sem pensar. – Disse, forçando uma voz trémula e teve que conter o revirar de olhos ao ver o agente procurar qualquer coisa nos bolsos e deduziu corretamente que se tratava de um pacote de lenços. – Obrigada, é bastante amável. – Agradeceu, aceitando o pacote de lenços e tocando propositadamente de leve na mão do agente que corou ainda mais.

Os homens são tão fáceis que provavelmente é por isso, que prefiro mulheres”, ironizou.

– Não queria perturbá-la, mas sabe que estas perguntas são necessárias.

– Claro, eu quero ajudar no que puder, mas mesmo que não conhecesse um dos envolvidos neste terrível incidente, sinto uma culpa terrível cá dentro. – Disse, mantendo o papel frágil. – Não prestamos atenção suficiente às pessoas à nossa volta.

– Ó por favor, não se culpe. Nós não podemos controlar tudo o que os miúdos fazem, não é?

Não, não podemos controlar, mas podemos ser menos filhos da puta e deixar de olhar apenas e só para o nosso próprio umbigo e ver que se calhar há coisas que podíamos estar a fazer pelos outros”.

– Pois, mas sempre fica a sensação de que não cumprimos bem o nosso dever quando estas coisas acontecem. – Disse, passando um lenço perto de um dos olhos que lacrimejavam ligeiramente.

Deviam oferecer-me um óscar por estas coisas. O Pixis disse-me que devia empatar o máximo que pudesse sem dar-lhes muito conteúdo. Ele disse-me que o Sr. Smith trataria de defender o Levi, mas que estes filhos da mãe estão à procura da mínima migalha para distorcer a verdade e prejudicar a parte mais fraca para encerrar este caso com uma desculpa esfarrapada, nem que para isso tenham que colocar um inocente na prisão.”

– Tenho a certeza que a Professora Reiss faz o melhor que pode. – Sorriu.

– Bom, respondendo à sua pergunta acerca do Levi Ackerman… – Passou mais uma vez o lenço no rosto. – É verdade que era reservado, mas era um aluno excecional e das poucas vezes que falámos, pareceu-me bem ajuizado, independente e segundo alunos meus, chegaram a vê-lo com um adorável gatinho adorável nos braços. Ninguém com gatinhos adoráveis pode ser má pessoa, não acha? Eu mesma gostava de ter um, mas neste momento o meu trabalho não permite tal luxo.

– Ah pois…eu sou mais uma pessoa que gosta de cães. – Começou por dizer meio atrapalhado depois de ver mais um sorriso tímido da professora. – Mas sim há gatos bonitos. – Acrescentou rapidamente. – A minha filha queria ter um.

– Se decidir ter um não se vai arrepender, mas não compre, tente adotar. Tenho a certeza que terá um bom coração para considerar algo assim.

– Ah sim…

Tão idiota… Não é suposto ter formação para saber conduzir um interrogatório? Tenho alunos nas minhas aulas mais competentes do que este idiota. Bom… apenas facilita o meu trabalho”.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

Depois de dormir poucas horas e passar grande parte a expulsar o conteúdo do estômago, o jovem de olhos cinzentos ainda teve que se forçar a comer após a insistência de Erwin antes de saírem. Quer fosse em pesadelos como na triste realidade, ele não deixava de rever uma e outra vez o rosto ensanguentado de Marco e as palavras dele. Tudo ainda se intercalava com os seus sentimentos de culpa e acontecimentos do passado. Como se tudo gritasse que devia colocar um ponto final a tudo antes que piorasse. Antes que por culpa dele mais alguma coisa ou vida se perdesse.

Eventualmente, escutou de Erwin que também Jean tinha morrido e que a morte dos dois mostrava fortes indícios de que estivessem relacionadas. A morte de Jean não lhe causava tristeza, mas questionava-se em algum canto da mente dele, se também não devia sentir alguma coisa a não ser desprezo.

Levi desejava tanto desaparecer e no entanto, viu-se acompanhado de um advogado diante de um agente da autoridade a responder quase mecanicamente às questões colocadas. Erwin aguardava por ele no exterior da sala onde era interrogado, confiando tudo ao advogado que muitas vezes impedia a que respondesse a algumas questões, que considerou inadequadas.

Mesmo estando fechado naquela sala, todas as palavras pareciam tão distantes e sem qualquer significado. Não queria estar ali. Com o passar do tempo, o sentimento claustrofóbico parecia mais intenso e mesmo que o advogado tenha referido que deviam fazer uma pausa para comer, esse não era o desejo dele. Ele não queria uma pausa. Ele queria sair dali. Queria deixar de se sentir tão preso à podridão que o afundava a cada dia que passava. Queria ir para longe de tudo aquilo e aceitava cada vez menos que o forçassem àquela situação.

– Sabias que se fingires ter algum arrependimento, podem atenuar a tua pena?

– O meu cliente também não tem que lidar com esse tipo de insinuação. – Interrompeu o advogado. – Até agora ele não fez mais do que cooperar com este interrogatório tendencioso e desrespeitoso acerca de uma investigação que está claramente a ir na direção errada.

Deixou de escutar o resto da troca de palavras. A sua mente despertou somente para recolher aquele fragmento de informação que ameaçava colocar um travão à sua busca pelo fim. Ser preso? Existia a possibilidade de ser preso por algo que não fez? Essa seria mesmo uma das maiores ironias que faltava acontecer na vida dele. Já tinha sido culpado várias vezes por coisas que não fez. Até mesmo chegou a ser castigado, mas ser preso? Era nisso que ia terminar? De que adiantou todas as vezes que tentou fazer a coisa certa? Dizer a verdade? Ou tentar passar despercebido? Por que razão tudo na sua vida parecia correr sempre da pior forma?

Talvez nunca tivesse uma resposta para isso, mas não esperava o que se seguiu. O advogado conseguiu com que saísse da sala do interrogatório, visto que conseguiu argumentar que a presença e testemunho dele não podiam contribuir mais para o rumo das investigações.

Antes de saírem do hotel e mesmo a caminho, Levi não deu muita importância ao facto de Erwin desligar a televisão do quarto mesmo que este último gostasse bastante de ver as notícias e mesmo durante o percurso até à esquadra onde esteve a prestar depoimento, não viu o telemóvel nas mãos do empresário. Ignorou esses sinais estranhos de alguém como Erwin tão preocupado em estar sempre atualizado, mas que parecia estar a evitar propositadamente qualquer meio de informação.

Foi enquanto Erwin conversava com o advogado que numas cadeiras viu Annie, Armin e Eren. Este último levantou-se ao vê-lo. Só que a atenção dele focou-se pouco tempo nos olhos verdes e reparou na televisão que havia um pouco atrás e que dois polícias observavam de pé as imagens. Em letras grandes falavam da morte de um famoso. Não falavam obviamente de Marco ou Jean, mas uma terceira pessoa que ele não fazia ideia que tinha morrido.

– Mikasa… – Murmurou.

Falei com ela há umas horas atrás…”, aproximou-se, ignorando os restantes presentes para ler o que havia no rodapé da televisão, “Suicídio. Deixou-se cair da janela do hotel onde estava alojada para uma gravação que acabaria em poucos dias. Caiu da janela… durante a chamada eu ouvi o som exterior ficar mais alto sem explicação e pensei que ela estava na rua”.

 

Obrigado por teres escutado e até breve.

 

Aquelas tinham sido as últimas palavras dela e isso fez com que recuasse, batendo sem querer em Annie que se tinha acercado para falar. A loira disse-lhe qualquer coisa, assim como Armin, Eren e mesmo Erwin notou que ele tinha visto as notícias.

Então era isso que ele não queria que visse? Não queria que soubesse que mais alguém morreu… por minha causa…eu devia ter… eu não a impedi. Eu devia ter reparado. Eu não fiz nada. Ela escolheu-me a mim para falar e eu não fiz nada”, bateu na mão de Eren e empurrou Erwin antes de sair a correr para o exterior.

Na saída de imediato foi interpelado por Gunther que ouviu a voz do patrão dizer-lhe para não deixar o jovem passar, mas antes que o motorista e segurança pudesse reagir, Levi desferiu um golpe na barriga dele. Em seguida, rasteirou-o para que caísse e continuou a correr pela rua.

Nem mesmo a chuva que caía naquele dia atrasava os passos dele e se tivesse menos focado em sair dali a correr, teria notado no táxi que acabava de chegar à esquadra e que passou mesmo ao lado dele. Só que Levi não queria estar ali. Não queria ver ninguém. Só queria desaparecer…

Preciso desaparecer antes que mais alguém acabe assim por minha causa… eu nunca devia ter nascido. Nunca devia ter entrado na vida deles. Nunca devia acreditado que valia a pena insistir”.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

– Não o podemos deixar sair assim! – Disse Erwin alarmado e saindo da esquadra, onde pouco depois encontrou uma Hanji apressada a sair do táxi e perante a expressão perturbada do loiro, concluiu:

– Tu já não estás com ele…

Entretanto, ignorando a alteração de vozes, um outro advogado acabava de entrar na esquadra e encontrou o cliente que iria defender, rodeado por dois jovens que o incentivavam a sair dali.

– O meu cliente não irá a parte alguma.

– O seu cliente? – Questionou Armin. – Ele não veio aqui com nenhum…

– Estou aqui por indicação do teu pai, Eren. – Informou o advogado.

– O meu pai? O meu pai chamou um advogado depois de o ter mandado à merda na noite passada? – Perguntou incrédulo.

– A única informação que recebi é que deveria assegurar-me da tua defesa durante o depoimento para que possamos sair daqui de consciência tranquila, embora ajude se pudermos conversar sobre um álibi, caso tenhas estado perto da cena do crime.

– Ele não precisa de inventar um, basta dizer a verdade. Esteve connosco. – Retrucou Armin. – Mas nada disso importa agora… – Olhou para Eren. – Tu não podes ficar aqui depois de ele ter saído daquela forma.

– E muito menos aceitar a ajuda desse filho da puta! – Indignou-se Annie. – Tu não podes aceitar a ajuda de alguém que claramente só te está a procurar agora porque tem algum interesse, Eren! Depois do que disseste ontem, depois de teres ouvido a ti mesmo a noite passada tu achas mesmo que o teu lugar é aqui? Achas mesmo que podes deixar o Levi sair daqui assim?! Será que não tens um pingo de consciência aí dentro?! – Empurrou o moreno. – Eu no lugar dele nem sequer te teria aceitado em minha casa depois de tudo o que aconteceu! Como é que podes ser assim? Como é que podes ser tão egoísta e não fazer o que é certo uma vez na vida? Nós vamos sair daqui agora e procurar por ele, entendeste?! Se vieres connosco, eu ainda vou acreditar que tens alguma decência, mas se decidires ficar aqui com este… – Olhou para o advogado. –… este tipo não te preocupes em procurar-me outra vez, Eren porque tu não vales nada e eu não quero ninguém assim na minha vida. Não quero alguém que é capaz de descer tão baixo e não mostrar qualquer arrependimento pelas coisas terríveis que fez! Vens ou ficas?

Entretanto no exterior Hanji entrava no carro com Erwin.

– Tens ideia para onde possa ter ido? – Perguntou o loiro.

– Assim de repente… – Murmurou, tentando acalmar o mau pressentimento que havia dentro dela para que dessa forma, pudesse puxar pela parte racional. – O que raio aconteceu para ele sair assim? Disseste que ele estava bem, na medida do possível, quando chegaram aqui. Enviaste-me uma mensagem nem assim há tanto tempo a dizer que nos íamos ver e chego na hora em que…

– Viste as notícias acerca da morte da Mikasa?

– Quem é que quer saber dessa vaca? – Perguntou irritada. – Eu às vezes, nem queria acreditar que ela tinha laços familiares com o Levi. – Fez um ar confuso. – Eles nunca se relacionaram antes, estás a dizer-me que…?

– Por alguma razão, momentos antes de cometer suicídio ela ligou para ele e falaram durante algum tempo. Nada do que ele tenha dito incentivou o suicídio, pelo contrário segundo um especialista e amigo meu, a Mikasa já devia estar decidida mesmo antes da chamada.

– Mas o Levi…

– Exato, ele culpa-se por tanta coisa sem sentido que acho que…

– Não, não. – Murmurou cada vez mais preocupada.

– O Eld acaba de informar-me que perdeu o sinal de localização do Levi. – Disse Gunther, reduzindo a velocidade do carro. – Encontrou o casaco caído na rua e lá dentro estava o telemóvel. Ele chamou o Oluo para cobrir mais terreno, juntamente com outros colegas mas é uma área um pouco abrangente. O que fazemos, Sr. Smith?

– Hanji tenta lembrar-te. Tem que haver um sítio…

– A ponte. – Murmurou, sentindo um arrepio ao recordar-se de uma das conversas com Marco, quando este lhe contou como conheceu Levi. – Rápido! Vai até à ponte! Com este tempo pode ser muito difícil…

– Acelera, Gunther!

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

Finalmente perdi-os de vista”, olhou em volta e escutava somente o som do vento gélido a atravessar a rua e a levar os fragmentos de ar quente que escapavam da boca dele após o tempo que esteve a correr. Começou a tossir um pouco devido também ao frio que se fazia sentir e cobriu a boca enquanto o fazia, apenas para sentir algo molhado na mesma. Assim que olhou, viu a cor avermelhada e familiar do sangue que o fez esboçar um sorriso amargo, “Ótimo, até mesmo o meu corpo está a dar-me sinais de que não devia ficar aqui. Já era tempo… consumi tanta merda nos últimos tempos, alguma coisa teria que me estragar mais por dentro. Quero ir sem a hipótese de voltar”.

Caminhou mais um pouco, retirando as ligaduras dos braços que com todos aqueles movimentos desprenderam-se ligeiramente e deixaram de proteger tanto os ferimentos causados pelos inúmeros cortes. Essas feridas também sem tempo de sarar, deixavam escorrer mais sangue que sentia pingar dos seus dedos e manchar a camisola cinzenta que levava.

É uma pena não ter uma lâmina comigo. Podia apunhalar-me antes de cair da ponte…”, avistou o local que pretendia, pois apesar de ter utilizado um caminho mais longo, finalmente chegava a destino que queria, “Agora também não importa. Já perdi bastante sangue, as drogas estão a mexer com o meu estado de saúde e esta chuva, este vento está a aumentar o movimento das águas do rio que já posso ouvir daqui. Vou afogar-me, morrer de hipotermia… o que vier primeiro, mas ninguém vai tirar-me isto”.

Não havia ninguém por perto, visto que com a proximidade das festividades e como era um local habitualmente mal frequentado, não havia quem se aventurasse muito por ali. Era quase fim de tarde e só nesse momento, também foi consciente de todo o tempo que desperdiçou na esquadra a prestar depoimentos sem qualquer vontade.

A chuva já tinha ensopado as roupas e já na ponte também descalçou-se para facilitar a tarefa de subir e sentar-se na ponte como já tinha feito há anos atrás. Naquela ocasião não chovia, era apenas uma noite gelada.

Desta vez a chuva e as temperaturas baixas aliavam-se para provocar tremores no corpo cansado e ajudavam a manchar o local onde se sentou em tons de vermelho. Olhou para o céu, respirando fundo enquanto as gotas de frio cortante caíam sobre a pele que já parecia tão dormente, que já não se apercebia da dor daquele momento.

Finalmente… finalmente isto tudo vai acabar”, pensava com um alívio a percorrer todo o corpo e ouviu o som de um carro, que fez com que pressionasse as mãos ao seu lado e pensasse se não devia deixar-se cair naquele preciso momento.

– Levi!

Reconheceria aquela voz em qualquer lado, mas com receio de que ela se aproximasse demasiado, ergueu-se sem muito cuidado, ficando de pé sobre aquela espécie de barra onde esteve sentado na ponte. Era um espaço pequeno e com o vento a soprar não era fácil manter o equilíbrio, mas sabia que ao vê-lo assim, Hanji hesitaria em encurtar mais a distância.

– Fica onde estás. – Falou entre os lábios cortados pelo frio.

– Escuta, Levi será que não podes sair daí para conversarmos? Eu queria… eu queria dar-te um abraço. – Falava a jovem com a voz trémula, deixando também a chuva molhá-la por completo.

– Não há mais nada para conversar. – Respondeu e ao ver Erwin sair também do carro sem qualquer proteção, sorriu com alguma tristeza. – Não queria que tivessem que ver isto, mas vieram porque quiseram e não têm o direito de impedir-me. – Viu Erwin murmurar algo a Gunther e ele falou um pouco mais alto para eles o ouvirem. – Não tentes planear nada, Erwin! Mais uma palavra e eu salto neste preciso momento!

– Não, calma! – Pediu Hanji. – Ele só quer ajudar, nós só te queremos ajudar.

– Ninguém pode ajudar-me.

– Dá-nos uma oportunidade, Levi. – Desta vez era o homem de cabelos loiros que pedia. – Nunca me deste uma oportunidade real para tentar…

– Fiquem os dois onde estão. – Avisou ao ver que tentavam dar passos discretos para se acercarem. – Eu não quero mais oportunidades. Não quero mais acreditar no que quer que seja porque no fim, nada resulta e eu acabo inclusive por tirar a vida dos outros…

– Não te podes culpar pelo que aconteceu! – Exaltou-se Hanji com lágrimas nos olhos. – Tu sabias o estilo de vida que o Marco levava por isso, és consciente que mais cedo ou mais tarde algo assim podia acontecer! E a Mikasa? Ela já estava decidida de qualquer das formas. Não te podes culpar pelos erros ou atos de outras pessoas! Tenta pensar racionalmente nas coisas!

– Pensar racionalmente nas coisas?! – Respondeu de volta e com o movimento mais brusco quase perdeu o equilíbrio, mas forçou-se a manter-se sobre a ténue barreira que o separava do rio furioso que corria debaixo dos pés dele. – Tentei bem mais do que deveria, mas diz-me como é que explico esta podridão que corre cá dentro?! – Bateu no próprio peito. – Só porque vocês não aceitam que isto acabou, eu tenho que acordar e viver com isto todos os dias? Consegues sequer imaginar como é acordar todos os dias, desejando que isso não acontecesse? Implorar para que as memórias não voltem, mas elas estão sempre lá? Sempre estão lá a cortar-me uma e outra vez por dentro todos os dias! Eu não tenho que continuar a torturar-me todos os dias por vossa causa!

– Por nossa causa? – Perguntou Hanji desolada. – Levi, a gente gosta de ti, quer ajudar-te mas tu tens que deixar. Tens que ser sincero quando as coisas não estão bem e…

– Nunca estiveram bem desde do princípio! – Cortou. – Só me enganei dizendo que podia suportar, que podia forçar mais um sorriso para que vocês não se sentissem culpados mesmo que um dia viessem a descobrir que nada mudou. Não podem mudar o que já está morto por dentro.

– Isso não é verdade. – Interveio Erwin. – Não podes colocar sobre a balança apenas tudo o que de errado aconteceu na tua vida e esquecer que existiram outros momentos, Levi. Existiram outras coisas que tu próprio admitiste que valeram a pena. E se houver outras coisas que valem a pena? Vais desistir sem nem sequer tentar?

– Eu tentei, Erwin! Não me acuses de não tentar porque eu tentei mais do que muita gente suportaria, mas não serviu de nada! Pensas o quê? Que posso simplesmente colocar na minha cabeça que amanhã o dia será melhor ou dizer para esta tristeza passar e isso resulta? Achas mesmo que dizer que tenho que ter uma atitude mais positiva muda alguma coisa?

– Não foi isso que eu disse, Levi. – Ripostou o loiro. – Escuta, isso já passou os limites da tristeza e da miséria há bastante tempo. Eu sei disso.

– Sabes? – Ironizou, deixando cair várias lágrimas. – Ninguém sabe. Nem tu nem ninguém faz ideia do que senti toda a minha vida! – Falou bem mais alto, deixando várias lágrimas caírem e era um choro sofrido e que parecia ter segurado durante demasiado tempo.

Era doloroso até para quem via, pois tanto Hanji como Erwin sentia como se estivessem a cravar algo no peito deles. Era impossível ficar indiferente aquele choro sofrido.

– Estás doente, Levi.

– Erwin! – Repreendeu Hanji.

– E nada do que eu diga, nada do que a Hanji faça pode mudar isso.

– Ah… então é isso? – Perguntou o jovem de olhos cinzentos com um sorriso amargo. – Eu sabia que tu eras inteligente o suficiente para concluir que eu não tenho solução.

– Precisas de mais do que pessoas que te amem ao teu lado, precisas de tratamento, mas…

– Afinal não és assim tão inteligente. – Interrompeu com uma expressão mais seca. – Isto não tem solução. Por muito bom que sejas naquilo que fazes, tens que aceitar que há problemas que não têm solução e eu sou um deles. – Ouviu mais passos e por entre a chuva viu que surgiam mais três pessoas. – Quase tenho vontade de rir, mas não acho que seja capaz disso agora.

– O que é que estás aqui a fazer?! – Perguntou Hanji ao ver Eren. – Sai daqui! A culpa disto é toda…

– Não, não é toda dele. – Interveio Levi. – A minha vida já não prestava antes. Já havia gente suficiente na minha vida a desejar que eu estivesse morto, mas ele… – Olhou para o moreno. – Tu foste aquele que me fez acreditar na maior mentira que alguma vez me contaram. Ou talvez pessoas como nós não sejamos capazes de sentir esse sentimento. É o mais provável.

– Eu…

Desviou o olhar do moreno para olhar novamente para Hanji e Erwin.

– Toda a gente tem um limite e o meu, racionalmente falando, já passou há muito tempo. Eu não queria que vissem isto, mas se vieram até aqui não posso fazer nada. – Uma corrente de ar soprou mais forte e desta vez, o jovem não fez qualquer esforço para manter o equilíbrio e deixou-se cair para trás em direção às águas furiosas que corriam debaixo dos pés dele.

– Levi!

– Sr. Smith espere!

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

Durante aqueles dias, além do pessoal médico que entrava e saía a determinadas horas do dia, somente duas pessoas eram permitidas dentro do quarto. Ordens expressas de alguém que podia fazer aquele tipo de exigência num hospital privado, onde usou o argumento de várias doações no passado que tinha realizado para passar por cima de alguns regulamentos. Graças a isso, apenas ele e a jovem que quase se arrastava com o passar do tempo, podiam entrar no quarto. Nenhum deles queria outra pessoa presente e após mais um descontrolo de Hanji com mais uma visita inesperada, desta vez da parte de Carla Jaeger, tornou-se evidente que ninguém seria permitido dentro do quarto. Ninguém, à exceção deles os dois. Como se existisse um pacto silencioso entre eles para não perturbar o ocupante.

O telemóvel estava desligado sobre uma das cómodas do quarto de cores claras. Há horas que devia estar sem bateria, mas não queria receber ligações e deixou as responsabilidades com outra pessoa. Alguém da sua confiança para conduzir os negócios na sua ausência. Não estava em condições de fazer coisa alguma naquele momento e apesar de também ter recebido cuidados médicos quando entrou no hospital, nada se comparava ao estado do jovem de aparência bem pálida, deitado na cama.

Era mais um dia silencioso e com prognósticos pouco animadores, sem respostas concretas e ele entrava novamente no quarto, após a rapariga de cabelos castanhos e olheiras demasiado pronunciadas sair, murmurando algo sobre ir comer qualquer coisa devido a tonturas. Ele sabia que devia dar mais atenção ao estado dela, mas ele próprio não estava a alimentar-se adequadamente. Como podia dar o exemplo?

Entrou no quarto e como em tantas outras vezes, sentou-se ao lado da cama com uma expressão quase de luto, ombros descaídos e os olhos, nessa noite, fixos na mão imóvel já não ensanguentadas, mas ele jurava que ainda podia ver todo o sangue daquele dia. Uma memória que estava a corroê-lo por dentro, assim como a ideia de que se esgotava aquilo que podia fazer. Estendeu a sua mão e tocou na mão fria e sem qualquer reação, implorando mais uma vez ao desconhecido que não deixasse que aquele fosse o desfecho e que lhe desse mais uma oportunidade. Desejava tanto aquela oportunidade que parecia uma piada cruel como os acasos do destino permitiram-lhe retirar Levi das águas, mas não com bons augúrios de que pudesse despertar.

Ele não queria aceitar que aquele era o fim de linha. Sem uma oportunidade real de fazer diferente, mesmo que tivesse cometido o erro de esperar demais. Devia ter sido mais persistente e agora, repetia a si mesmo que se lhe fosse dada a dádiva de tentar de novo, que faria mais e melhor.

Baixou o rosto com uma respiração difícil pela vontade de chorar que queria segurar, quando como um choque ouviu.

– Er… Erwin?

– Levi? – A voz soou-lhe diferente da sua e rapidamente, debruçou-se sobre o rosto do jovem cujo os olhos estavam abertos, embora a expressão fosse bastante confusa. – Consegues ouvir-me? Estás a sentir alguma coisa?

– O que…? – Ia perguntar com a voz bem rouca, mas parou por alguns momentos para observar o rosto próximo ao dele com lágrimas nos olhos. – Erwin… – Repetiu de novo. – Estás a chorar? – Ia erguer a mão, mas apercebeu-se que não podia e desviou o olhar lentamente e viu que tinha os pulsos e tornozelos presos na cama.

– Desculpa, mas tiveram que tomar precauções. – Disse o homem distanciando-se um pouco para se sentar novamente, mas desprendeu uma das mãos do jovem para segurar nela. – Finalmente acordaste.

– Não… não, eu não queria… – As lágrimas enchiam os olhos cinzentos. – Não tinhas o direito.

– Tu é que não tinhas o direito de fazer isto comigo! – Falou um pouco mais alto do que pretendia, surpreendendo o jovem, notando a força com que o outro segurava na mão dele e tentava esconder o rosto contra a mesma, enquanto lágrimas caíam. – Pensei… pensei que nunca mais te fosse ver. Pensava que sabia o que era o medo, mas só soube o que era de verdade quando te vi cair naquele rio que quase te tirou de mim, da Hanji, das pessoas que se importam contigo.

– Erwin, eu não…

– Sei que disse que tinhas ao teu lado um amigo, mas… – Ergueu o rosto para encarar o jovem que o observava ainda com uma expressão desgostosa por ter acordado. – Os meus sentimentos passaram essa fase há bastante tempo.

– Não, não digas isso… tu não podes…

– Estas coisas não se controlam e o facto de eu admitir que tenho outro tipo de sentimentos por ti, não significa que tenhas que retribuir coisa alguma. Só que eu não quero continuar a guardar isto cá dentro e que um dia me arrependa de nunca ter dito a verdade.

– Esse tipo de sentimento matou o Marco, vai acabar por…

– Não, não podes culpar-te por nada disso. Eu não vou permitir que continues a culpar-te por nada disso. – Disse num tom de voz mais confiante. – Desta vez, vais deixar-me ajudar, ok? Preciso que confies em mim. Não vou oferecer-te o trabalho feito, ou seja, as coisas não vão melhorar por magia ou amanhã. Mas quero oferecer-te uma oportunidade real que se agarrares com todas as tuas forças, eu acredito de verdade, que possa mudar este mundo terrível que vês nos teus olhos.

– Colocar dinheiro sobre os problemas não vai resolver, Erwin.

– O dinheiro é uma parte sim, quero que tenhas conforto mas não é o mais importante. Quero que venhas comigo para Sina e aceites ser tratado por alguém da minha confiança e um amigo de longa data que é de certa forma, responsável por nos termos encontrado. – Disse sem desviar o olhar do jovem que não se sentia totalmente confortável com aquela insistência, mas não podia mentir que existia alguma curiosidade. Ainda que a pequena voz pessimista continuasse a murmurar-lhe coisas como “Nada vai funcionar. Só vais perder tempo de novo”.

– Como assim é o responsável por nos termos encontrado? – Perguntou Levi, procurando aclarar a garganta que impedia que a rouquidão saísse da voz dele.

– Foi ele que me deu a ideia de conhecer pessoas através de outros meios que não os encontros sociais que muitas vezes tinha em jantares da empresa, reuniões, etc.

– Ele sugeriu-te que usasses aquela aplicação?

Erwin sorriu um pouco.

– Confesso que inicialmente, pensei que ele estivesse a contar uma piada ou que me quisesse colocar na cadeia porque vários inscritos eram claramente menores de idade. – Começou por explicar. – Enfim, ele dizia-me que faltava na minha vida uma conexão nova e diferente daquelas com quem me relacionada no dia-a-dia. No princípio, além de estudantes universitários a oferecer-me favores sexuais, eu não entendia o que é que ele queria que eu encontrasse num meio tão caricato. No entanto, ele insistiu que devia abranger outro local que não Sina. Procurar conexões distantes, diferentes e no meio de todos estavas tu. Vi logo que tinhas mentido acerca da idade assim que te vi e por momentos, temi o pior porque não queria aproveitar-me de uma situação. Só que assim que começámos a conversar, percebi que estava ali qualquer coisa diferente. – Sorriu de novo. – Sem querer e por casualidade, sem acreditar muito no que estava a fazer repentinamente encontrei essa conexão nova e diferente. Alguém diferente das pessoas com quem conversava normalmente. Encontrar-te foi a melhor coisa que podia ter-me acontecido num momento em que as conversas com o meu amigo e terapeuta já não eram suficientes para distrair-me dos sentimentos de tristeza.

– Terapeuta…

– Sim, vamos chamar-lhe assim até que o possas encontrar. Na verdade, ele está à espera que volte para Sina na tua companhia. Por favor, Levi tens que deixar-me tentar. Eu também já estive doente, bem doente e souberam da verdade, mas procurei ajuda e hoje não me arrependo de estar aqui neste preciso momento. Fico feliz por ter tomado as decisões certas que me levaram a seguir com a minha vida e a conhecer-te. Não és capaz de imaginar o impacto que tiveste na minha vida e eu queria mostrar-te que isso também pode acontecer contigo. Mas primeiro preciso que aceites que tens um problema, que precisas de ajuda e que me vais deixar ajudar. – Estendeu a mão até tocar no rosto do jovem.

– E se não resultar, Erwin? – Murmurou com a voz fraca porque por mais que quisesse sentir forças para acreditar em alguma coisa, não encontrava mais do que dor dentro dele. – E se eu for um beco sem saída?

– Eu não acredito nisso e acredito que um dia também serás capaz de olhar para trás e pensar que valeu a pena seguir em frente e que isto aqui, por mais triste que seja, também vai valer a pena se tomares uma decisão que pode mudar tudo.

– Eu queria que fosse verdade…

– Então, deixa-me ajudar a tornar isto realidade. – Pediu e embora visse Levi claramente indeciso e em conflito com os seus fantasmas, sentiu um frio na barriga ao ver o jovem olhar mais uma vez para ele enquanto deixava cair mais lágrimas antes de assentir. Ver aquele gesto trouxe um grande alívio e teve que limpar também as próprias lágrimas à medida que tentava controlar as emoções, procurando um tema de conversa que trouxesse também mais conforto ao rapaz. – A Hanji deve voltar daqui a pouco. Ela tem estado sempre aqui. A Annie e o Armin também têm ligado para ela… e mesmo a Nanaba tentou visitar-te, mas por um erro de comunicação não a deixaram passar, mas amanhã garanto que a deixamos entrar se a quiseres ver.

Repentinamente, a atenção dos dois voltou-se para uma das janelas ao ouvir um miar.

– Um gato? – Murmurou Levi confuso. – Parece o miar do…

– Ah, sim. A Nanaba até pode não ter entrado, mas há uns dias que tens tido um visitante especial que a Hanji de vez em quando deixa entrar. – Erwin foi até à janela para abri-la. – Olá Kuro. De novo com as visitas? – Sorriu ao ver o gato entrar e saltar de imediato para cima da cama. – A Hanji disse-me que ele é mais um gato teu do que a Nanaba, acho que isso significa que teremos mais companhia em Sina, não é?

 


Notas Finais


Até ao próximo capítulo *


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