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História Memórias Rasgadas - Capítulo XXV


Escrita por: Imagination

Notas do Autor


Agradeço mais uma vez pelos comentários, mensagens, favoritos e a todos que acompanham o enredo!

Capítulo 25 - Capítulo XXV


Capítulo XXV

 

Na frente dele, todos os seus colegas de trabalho, onde também se incluía a chefe Nifa, sorriam e aparentavam aceitá-lo como mais um companheiro. O ambiente não o excluía, dado que conversavam com ele sobre temas que não envolvessem necessariamente o trabalho que estavam a executar. Mesmo que os temas até pudessem rondar coisas a que ele já não tinha acesso ou assistia na televisão e/ou computador por falta de tempo, Eren não se sentia colocado à parte. Contudo, era como se todos tivessem um papel a desempenhar na frente dele e isso empurrava-o para as inevitáveis memórias da casa imensa e vazia, onde todos os empregados cumpriam as suas tarefas quase sem perder tempo a olhar para ele. Onde cada casa ou festa onde ele parecia, todos deixavam o seu próprio mundo por alguns instantes, apenas para atuar na frente dele.

A cada dia que passava em Sina, recordava a revolta que sentiu no passado por não encontrar nada de genuíno nas pessoas que o rodeavam. Essas que ajudaram a plantar dentro dele aquela semente de maldade que feriu tanta gente, incluindo ele mesmo. Quem semeia ventos, colhe tempestades. Não é somente um ditado popular, mas uma verdade que Eren julgou que seria capaz de enganar. Onde estavam os dias em que se considerou inatingível? Longe e enterrados dentro dele. Não se arrependia de o ter feito, mas gostava que alguma coisa tivesse ficado. Nem que fosse um pequeno pedaço para lhe dar forças para ignorar, rasgar de novo o que não queria sentir dentro dele.

– Hoje perguntaram-me mais do que uma vez se era mesmo o filho do Dr. Jaeger que estava a servir as mesas.

– E o que disseste?

– Tive que confirmar porque a velha não se calava. A sério, o que não falta é gente que o reconheça e queira vê-lo. Eu nem sei como ele teve coragem de voltar a este sítio em que cada velho e velha rica o conhece e quer rir da cara dele.

– E ele disse alguma coisa?

– Vai para lá como otário, serve as mesas e ouve aquilo tudo sem comentar. – Encolheu os ombros.

– Mesmo assim é um bocado mau que nunca o convidemos para sair connosco. Da última vez, o Sérgio chamou a todos e nem olhou para a cara dele.

– Trabalhamos juntos, mas não temos que passar o resto do tempo com ele. Já imaginaste a vergonha? Não íamos poder ir a lado nenhum sem que aquilo se transformasse num circo em que ele é a aberração principal.

Encostado a um dos cacifos na área dos vestiários, Eren escutava escondido dos olhares dos colegas e em silêncio os comentários que já tinha escutado ao longo dos últimos dias. Ele sabia perfeitamente o que pensavam sobre ele. Não era qualquer mistério, pois embora os colegas de trabalho disfarçassem, outras pessoas com quem se cruzou em Sina nos últimos dias, fizeram questão de obrigá-lo a parar, apenas para rirem. Chegaram a tirar fotos porque nem queriam acreditar que Eren Jaeger estava a virar o rosto e não estava a falar como se estivesse por cima de todos eles. Eren Jaeger já não era uma fonte de admiração e alguém com quem todos queriam ser associados, mas uma fonte de chacota e entretenimento.

Fora de Sina também sabiam quem era o pai dele, mas como Shadis que lhe deu o emprego no restaurante, a maioria não se importava com isso, desde que o trabalho aparecesse feito. As pessoas não davam importância a essas coisas e podia andar com tranquilidade na rua, mesmo que essa estivesse mal iluminada e muitas vezes suja.

No entanto, numa cidade onde as sombras eram ofuscadas pelas luzes de uma cidade que não dormia e as ruas encontravam-se limpas, Eren não sentia que podia andar de cabeça erguida por mais que quisesse ou tentasse. Quando recordou que Levi deveria ter passado por algo semelhante na época em que ele não fez perguntas, Eren deu por si a limpar várias lágrimas do rosto. Antes, naquela altura ele não compreendia o que era aquilo. O que era sentir como se cada pessoa risse dele e inclusive, desejasse que ele ali não estivesse.

Agora o moreno podia ver, sentir na pele um pouco dessa sensação e não imaginava como alguém podia ter forças para lidar com algo assim durante anos a fio.

Mais vale tarde do que nunca”, dizia a si mesmo.

Mesmo que entender um pouco daquilo pelo que Levi passou, não mudasse nada do que estava a acontecer no presente, pelo menos Eren podia sentir-se menos ignorante do que antes.

Nunca sabes como é, até sentires na pele”.

Levi disse-lhe isso quando partilharam o apartamento. Num dos momentos em que estavam sentados naquele sofá infernal do qual teve e às vezes, ainda tinha saudades, Eren recordava essas palavras que vieram na sequência de uma série que estavam a ver no computador e existia uma cena de bullying em que uma personagem tinha um momento de monólogo interior. Muitas das palavras para o moreno naquela altura soaram como um exagero, mas aquele comentário de Levi e mesmo a expressão que tinha aquando desse momento, mostraram aquilo que Eren devia ter visto, mas ignorou em prol do seu egoísmo.

Teve tantas oportunidades de fazer diferente, de tentar dizer a coisa certa, de enveredar por outro caminho e nunca o fez. Talvez fosse essa uma das razões pelas quais, depois de sair do trabalho não foi para casa e em vez disso, passou numa florista. Comprou um pequeno ramo de caminhou em direção a um sítio que deixou de visitar há muito tempo por achar que a pessoa que amou tanto quando era pequeno, não iria querer receber a visita da pessoa em que ele se tinha tornado.

Contudo antes de chegar a essa sepultura, passou por outra que nunca visitou antes e teve que parar e retirar algumas das flores para colocar também sobre aquela campa.

– Sei que devia ter vindo mais cedo. – Murmurou. – Desculpa Mika…

Em seguida, ainda com o nó na garganta, prosseguiu entre as inúmeras campas daquele cemitério vazio e progressivamente mais sombrio pelo avançar da hora. Já não percorria aquele local há muito tempo, mas a memória de cada passo continuava presente. Daí que em pouco tempo, Eren se encontrasse diante da sepultura, onde durante muito tempo teve vergonha de voltar e agora deixava a maior parte das flores. A fotografia continuava intemporal, mostrando o mesmo sorriso doce que sempre recordaria da avó. Até ao último instante, ela olhou-o sempre com um carinho imensurável e infelizmente, na opinião dele, deixou-o cedo demais. Às vezes, imaginava como teria sido, se ela tivesse vivido mais ou se ela ainda estivesse ao lado dele. Dificilmente seria capaz de cometer tantos erros, de causar sofrimento a tanta gente porque ela… ela mostrou-lhe tanta coisa que o fez acreditar num mundo diferente e ele lamentava não ter mantido aquela chama que ela deixou dentro dele. Sobretudo quando a via atuar e ela mesmo com o avançar dos anos, não deixou aquela chama morrer dentro dela e enfeitiçava a todos que a viam, como se fosse sempre a primeira vez. Nunca esqueceria o entusiasmo, a alegria que sentia ao vê-la com os gestos mais fluídos, naturais e belos que viu em toda a sua vida. Ela alimentou tanto dos sonhos dele…

Às vezes, Eren desejava com todas as forças que tivesse sido ele e não ela a perder-se naquele acidente. Só que como sempre, ela estava lá para o proteger e naquele dia, como desde da primeira vez que o recebeu nos braços, a avó não falhou e não hesitou em oferecer o seu corpo como proteção.

Se fechasse os olhos, recordava os braços apertados da avó em torno dele, como ela o escondeu contra o seu peito, impossibilitando que visse e sentisse todo o impacto que se seguiu.

Mesmo perante o corpo ensanguentado e a vida que sumia, ela sorriu na direção dele com lágrimas de alegria genuína por ver que ele estava bem, enquanto na sua inocência enquanto criança, questionava se ela iria ficar bem e se iam voltar juntos para casa. E ela o que fez? Manteve o sorriso como se quisesse gravar eternamente aquela imagem tão triste e ao mesmo tempo, tão em paz consigo mesma na memória do neto a quem não disse palavras de despedida. O tempo correu muito rápido e ela fez a única coisa que podia. Deixou-o com uma memória que o deixava com sentimentos divididos dentro dele.

– Disseste-me sempre que a vida era tão preciosa e tão mais bonita do que me tinhas mostrado. Eu não acreditava que isso era possível porque para mim eras o meu porto seguro, a pessoa mais bonita que tive naqueles tempos que podiam ser de tanta solidão e falsidade à minha volta. No entanto, eu não cumpri uma das muitas promessas que me pediste. Disseste que devia ficar ao lado da minha mãe porque ela também sofria muito com os erros do teu filho, o meu pai e eu… eu tentei, mas não tentei o suficiente. – Abaixou-se diante da sepultura. – Consegui estar com ela nos últimos tempos e ela falou-me de ti. Perguntava se tu a perdoarias por não te ter cuidado com o respeito e carinho que merecias, afinal de contas, os erros eram do meu pai e não teus. Tu nunca o defendeste e tentaste proteger-nos aos dois e vendo que ela se recusava a aceitar a mão estendida, ela escolheu dar-me todo o amor que podia. A minha mãe reconheceu isso e é eternamente grata por isso e eu… eu disse-lhe que com certeza, não partiste com qualquer rancor e que se ainda cá estivesses a perdoarias sem hesitar. – Uma lágrima caiu pelo rosto dele. – Esse é o tipo de pessoas que eras e eu não sei onde foi que me esqueci de tudo isso e enchi-me de tanto rancor, ódio e desprezo. Enchi-me de tudo aquilo que tu não me ensinaste. – Caíram mais lágrimas. – Quando encontrei outra pessoa que me recordava da beleza que tinhas por dentro, eu deixei que tudo de errado estragasse isso e eu não vi como o mundo estava a sufocá-lo, a maltratar, a humilhar e magoar alguém que sem dúvida, guarda algo que tu tinhas. Acho que depois disso… sim depois disso perdi a coragem de te visitar porque te desiludi… porque deitei fora aquilo que de bonito o mundo poderia ter para me oferecer e acima de tudo, porque embora me tenhas ensinado o contrário, eu não fiz o bem por ele nem por ninguém. Não fiz nada de bom. Fui o monstro que tantos me acusam de ser. – Respirou fundo, deixando cair mais algumas lágrimas. – Mas depois de ter perdido a minha mãe, de ter desperdiçado mais uma vez a oportunidade de fazer a coisa certa pela pessoa que… pela pessoa que ainda… – Hesitava em deixar as palavras sair com um nó cada vez maior na garganta. – Eu tentei estes últimos anos fazer diferente e ser aquela pessoa que a minha mãe quis ver e aquela a quem deste tanto carinho e ensinaste tanta coisa. Ainda estou a tentar, mas está tão difícil e eu sei que não tenho o direito de reclamar. Sei que mereço tudo isto que tenho escutado nos últimos tempos e que até mereço pior, mas… dói mesmo muito e eu… – Deixou cair mais lágrimas. – Queria poder abraçar-te agora, queria que me dissesses que as coisas vão melhorar, que sorrisses para mim como antes e me fizesses ter coragem para não fugir porque é isso que tenho vontade de fazer.

– Pelo menos és consciente de que mereces isso que estás a sentir.

A voz colocou-o em alerta e ergueu-se, vendo a mulher de cabelos castanhos, roupas de tons escuros e uma expressão que não podia descrever com exatidão. Não havia afabilidade alguma, mas ainda assim, talvez fosse apenas uma ilusão da parte dele, faltava todo o rancor do outro dia. Quem sabe isso estivesse parcialmente ocultado pela surpresa de o encontrar ali.

– Estás a seguir-me?

– Não dês mais crédito do que aquele que tens, Jaeger. – Veio a resposta seca de Hanji. – Também tenho pessoas a visitar aqui, mas confesso que não esperava encontrar-te aqui. Também não era a minha intenção ouvir parcialmente uma conversa privada, mas não pude evitar. Não é todos os dias em que posso ouvir qualquer coisa que parece arrependimento e/ou sofrimento verdadeiro da tua parte.

– Sei que não estás nem um pouco comovida com isso. – Apontou o moreno.

– Não, não estou. – Confirmou. – Dificilmente posso comover-me com alguma coisa que envolva a pessoa que não sendo o responsável de todo o mal na vida do Levi, com certeza não ajudou.

– Vou ter que ter medo a cada passo que dou? Nem sequer estou a falar com ele. Não estou sequer no mesmo lugares que ele e…

– Não vou e nem tenho intenções de perseguir-te, a menos que me dês razões para isso. – Interrompeu a mulher, ajeitando os óculos que deslizaram um pouco pelo nariz. – O Levi pediu-me que confiasse nele e é isso que vou fazer, mas o meu conselho é que continues a manter a distância e que… fales com os teus amigos porque por muito libertador que uma conversa com um familiar sepultado possa ser, é óbvio que devias falar com alguém que te possa dar algumas das respostas que procuras e o conforto de que precisas. Tenho a certeza que a Annie e o Armin estariam dispostos a fazer isso. O tempo não volta e… – Olhou para a sepultura perto da qual Eren ainda se encontrava. – A tua avó pode apreciar a visita depois de tanto tempo, mas não deve desejar que continues a depender dela para procurar conforto e respostas. Lamento que uma pessoa como ela já não esteja ao teu lado.

O moreno não respondeu e iniciou o percurso em direção à saída do cemitério. Não queria prolongar a troca de palavras com a mulher que parecia ter ouvido bem mais da conversa privada do que queria ter dado a entender. Ele concluiu que teria que escolher outro dia para aquele tipo de visita e quem sabe, observar atentamente o espaço ao seu redor para se assegurar que se encontrava sozinho.

Era muito fácil para Hanji dizer para ele recorrer aos seus amigos, mas eles já lhe tinham dado bastante. Não podia pedir ou exigir mais nada. Os dois foram como irmãos nos últimos anos e não havia nada que pudessem fazer naquele caso em concreto. A solução mais óbvia seria deixar Sina e deixar os dois seguirem a sua vida. Possivelmente, fosse isso que acabasse por fazer.

Quando ia atravessar a entrada, parou abruptamente ao ver Levi entrar depois de fazer um gesto ao motorista e segurança para voltar ao carro. Eren reconhecia-o do evento, dado que foi outra pessoa que o avisou para manter a distância.

– Eren? – Levi falou surpreso ao vê-lo e o segurança virou-se de imediato para ver de quem se tratava, mas depressa a expressão adornada pelos olhos cinzentos mudou de surpresa para inquietação. – Aconteceu alguma coisa? Sei que a Hanji já cá deve estar, ela disse-te alguma coisa?

– Não. – A resposta saiu curta, mas difícil.

Hanji não era o problema. Na opinião do moreno, ela tinha razão para agir daquela forma e as palavras que trocaram antes, seriam das mais civilizadas entre eles os dois. Porém, o que causou o aperto no peito e sentimento de culpa foi ver a preocupação nos olhos de Levi. Ele sabia que não devia alimentar isso e sobretudo que não tinha o direito de desejar que Levi notasse o que havia dentro dele e quem sabe…

Não, não… eu não tenho o direito de fazer isto de novo. De ser egoísta e querer ficar, quando devo distanciar-me”, concluiu e abaixando ligeiramente o rosto, passou por Levi para ir embora.

Parte dele ainda esperou mais alguma questão ou que o outro o chamasse, mas nada disso aconteceu e ele continuou a andar sem parar. Não viu a hesitação do outro que ia chamá-lo, mas desistiu no último momento e que também que momentos antes, estendeu a mão quando Eren passou ao seu lado, mas não foi a tempo de tocá-lo. Ou quem sabe, também tenha desistido de o fazer no último instante.

Levi ainda olhou por alguns momentos na direção que o moreno seguia e foi a questão de Reiner que o fez retornar à realidade.

– Quer que o chame ou vá buscar?

– Não, Reiner. Obrigado. – Respondeu e com as flores que trazia nas mãos adentrou no local, deixando em primeiro lugar, um pequeno ramo sobre a campa de Erwin. Parou apenas por breves instantes antes de prosseguir até ao local onde encontrou Hanji. – Desculpa, queria ter chegado um pouco antes.

– Não tem importância. – Respondeu com um sorriso. – Isto não tem exatamente hora marcada e eu já fico feliz que tenhas vindo. – Acrescentou, vendo o melhor amigo colocar flores sobre as campas dos pais dela que morreram com pouco de espaço de tempo entre eles.

Os dois amigos permaneceram longos minutos em silêncio até que convicta que o homem jovem de olhos cinza ter-se-ia cruzado com Eren, decidiu quebrar aquele silêncio que não era tão confortável. Não o era porque ela sabia que o amigo estava a evitar a pergunta para não interromper um momento que devia ser importante para ela.

– Imagino que te tenhas cruzado com o Eren na entrada do cemitério. Ele saiu pouco tempo antes de chegares, portanto, dificilmente não se terão visto.

– Não queria trazer esse assunto agora, mas já que tocas no assunto tenho que perguntar, Hanji.

– Eu não o ameacei ou coloquei no mesmo estado de pânico da última vez. – Respondeu sem esperar que a questão fosse colocada pelo amigo e Hanji ergueu o rosto na direção do céu estrelado da noite que entretanto, já cobria toda a cidade. – Talvez tenhas razão, Levi. Sou uma pessoa que não esquece facilmente os rancores e por isso, não fui capaz de perdoar os meus pais antes que eles partissem e sinto que com o Eren pode acontecer o mesmo. Será que sou mesmo esse tipo de pessoa que vive o resto da vida com rancor?

– Estou certo que os teus pais não levaram essa preocupação com eles, até porque no fundo entenderam por que razão ficaste do meu lado. – Tocou no braço da amiga para que esta olhasse para ele. – Sempre dizes para escute os teus conselhos e ideias, Hanji, mas será que podes aceitar aquilo que também te disse acerca desse rancor? Acerca de guardares todas essas más memórias aí dentro?

– E falar com o Mike? – Abanou a cabeça. – Ele não…

– Não é o Mike que vai resolver ou faz magia. – Disse num tom que tinha dificuldade em esconder a ironia. – E se tentares fazer diferente? Um passo de cada vez? Não estou a pedir que te tornes melhor amiga do Eren ou das pessoas de quem não gostas, mas ser capaz de estar no mesmo espaço que elas com uma postura de respeito e tolerância seria bom. Isso não significa que esqueçamos o que aconteceu, significa apenas que aceitamos e seguimos em frente. Só isso.

 

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Quando Eren chegou a casa, sabia que as lágrimas mesmo que secas, ainda tinham deixado marcas para trás como por exemplo, os olhos inchados. Porém, julgando que poderia inventar qualquer desculpa para escapar das perguntas dos amigos, entrou em casa. O que não esperava era encontrá-los com visitas em casa, mais concretamente um casal que o moreno recordava ter visto no evento acompanhado de mais uma surpresa. Essa sim que ele não esperava.

– Eren enviámos mensagens, mas como não respondias, começámos a comer pensando que estarias com horas extras. – Disse Annie, levantando-se para pôr mais um prato na mesa.

– Desculpa lá começarmos sem ti! – Acenou o tipo que se Eren não estava em erro, tratava-se Connie enquanto a esposa acenava de boca cheia e tentando possivelmente saudá-lo, mas era impossível entender o que dizia com comida na boca.

– Olá Eren! – Cumprimentou a menina de cabelos negros e olhos azuis que sorria na direção dele e que claramente era quem mais chamava a atenção dele.

– Estavam como babysitting hoje e por isso, vieram acompanhados. – Explicou Armin ao ver o ar confuso do moreno. – Diz-lhe olá, Eren.

– Boa noite. – Disse a todos. – Podem continuar sem mim, eu não estou com muito apetite. Com licença. – Ainda ouviu os amigos chamarem-no, mas não olhou para trás.

Pouco lhe interessava se tinha aparentado um pouco rude na forma como saiu. Não estava com vontade de ver ninguém e muito menos aparentar simpatia pelas visitas, quando só sentia vontade de cair na cama e dormir. Subiu as escadas em direção ao quarto, onde fechou a porta. Descalçou-se, deixando os sapatos caídos de qualquer forma antes de deixar-se cair sobre a cama.

Não devia ter voltado para Sina”.

– Vou eu lá em cima. – Disse Armin. – Peço que o desculpem, ele…

– Sem problemas, Armin. – Tranquilizou Connie. – Todos nós temos dias menos bons.

– Se ele comesse, aposto que resolvia parte do problema. – Acrescentou Sasha.

– Vou preparar qualquer coisa para levar. Ele normalmente não é assim. – Falou Annie e os olhos voltaram-se para a pequena que descia da cadeira.

– Posso levar a comida ao Eren?

– Querida, eu acho que ele… – Ia dizer Annie, mas a criança interrompeu.

– Por favor, tia Annie. Quero dizer olá e fazer ele vir comer connosco ou comer lá em cima. Ficar sem comer é mau e eu não deixo nem o meu pai fazer isso, mesmo que tenha muito trabalho.

Os adultos trocaram olhares entre eles até que Sasha batendo um pouco na mesa, disse:

– Eu aposto tudo na baixinha. Ela conseguiu convencer o Reiner a usar batom e uma saia, eu já acredito em tudo.

Todos riram.

– Vamos fazer assim, vou preparar o prato e ajudar-te a levar, mas se ele não quiser mesmo conversar, tens que prometer não insistir muito. O Eren é complicado. – Disse Annie.

– O meu pai também. Eu consigo, tia Annie. – Disse com convicção.

Ao fim de alguns minutos, acompanhada por Annie ao seu lado que apenas foi até à porta para abri-la e depois entregou a bandeja a Bianca, que insistiu que não queria mais ninguém com ela. Annie teria que admitir que a pequena herdava sem dúvida a teimosia dos pais.

Eren estava quase a cair no sono quando ouviu a porta abrir-se e preparava-se para expulsar Annie ou Armin, quando viu a amiga loira desaparecer e fechar a porta depois de deixar entrar a criança que equilibrava com bastante cuidado a bandeja. Com um ar decidido, ela aproximou-se da cama e parou na frente de Eren em silêncio.

– Ajudas ou não? – Perguntou ao fim de algum tempo e suspirando o moreno levantou-se para pegar na bandeja e colocá-la sobre a mesinha de cabeceira.

– Agradeço o serviço de quartos, mas podes sair, três palmos.

– Trouxe comida para comeres, não para ficar aí. – Disse, colocando as mãos na cintura. – Tens que comer. Não se deita comida fora.

– És um bocadinho, mandona. – Comentou, arqueando a sobrancelha.

– É por estares triste que não queres comer? Tia Sasha diz que ajuda. Comer ajuda sempre.

– Viva à diabetes e obesidade… – Ironizou. – Escuta, três palmos…

– O meu nome é Bianca. – Corrigiu a menina. – Estás triste com o namorado?

Eren arqueou uma das sobrancelhas.

– Por que razão teria que ser namorado?

– Eu explico, se tu explicares primeiro. – Sorriu.

Sendo verdade que podia limitar-se a expulsar a criança do quarto, o moreno hesitou porque no fundo, sabia que não era justo despejar tristeza misturada com raiva e frustração numa criança. Os olhos azuis da menina continuavam atentos e expectantes, quando Eren deixou escapar um suspiro e um murmúrio.

– Não acredito que vou dizer isto. – Olhou para Bianca. – Tive um dia mau no trabalho e fui ver a minha avó.

– E não ajudou? – Perguntou inocentemente e Eren deixou um sorriso triste escapar.

– Fui visitá-la ao cemitério. – Esclareceu e por instantes, pensou que a criança pudesse não reconhecer a palavras, mas isso caiu por terra em poucos instantes. Afinal de contas, não foi apenas o reconhecimento nos olhos dela. Ele recordou que ela teria que saber, pois tinha perdido um dos pais.

– Vamos à varanda, Eren? – Pediu.

A questão apanhou o moreno desprevenido e um pouco confuso, saiu da cama e seguiu a pequena que empurrou a janela do quarto que dava acesso a uma pequena varanda. Os dois saíram para o exterior, onde corria uma brisa primaveril. Vendo-a de costas, Eren viu uma pequena mochila em forma de um pequeno coelho castanho que ela levava.

– Estás a ver? – Perguntou a menina.

– O quê? – Indagou confuso, tentando perceber o que a criança queria que ele visse. – As luzes da cidade? Que é de noite? O céu?

– Dás-me colo?

Os dois encararam-se em silêncio por breves momentos antes de Eren não ver problema em ceder àquele pedido para alegria da pequena, que então apontou para o céu.

– As estrelas, Eren. Vês como são tantas?

– Sim… – Respondeu confuso, olhando na direção indicada. – E o que é que isso interessa?

– A tua ‘vó está lá com o meu papá Erwin. – Disse, sorridente. – As estrelas são tão bonitas, não são?

– São. – Respondeu, decidindo não argumentar contra aquela ideia. – Quem é que te disse isso das estrelas? O teu pai?

– Não, o tio Mike contou-me a história das estrelas. – Respondeu enquanto os dois mantinham os olhos fixos no céu estrelado. – Quando tenho saudades, olho e vejo que é tão bonito que não posso ficar triste e tu também não devias ficar, Eren. Sorri porque não há estrelas tristes.

O moreno olhou para a menina que tinha nos braços e diante daquelas palavras, daquela forma tão inocente e bonita de ver as coisas, ele recordou como um dia também se permitiu acreditar nessas coisas, mesmo que à sua volta, sobretudo em casa, tudo ameaçasse essa visão singela.

Contudo, Eren sabia que aquele não era o caso dela e que de facto, Bianca estaria a crescer num ambiente e rodeada de pessoas que ajudavam a manter aquele sorriso e expressão repleta de sonhos e possibilidades. Ele sentia como se tivesse a ter contacto com algo que não devia, mas de que sentia falta.

Ficaram mais alguns momentos antes que Bianca recordasse que o moreno devia comer e pelos vistos, não havia forma de argumentar contra a vontade da criança que depois sentou-se ao lado dele na cama, enquanto ele fazia a refeição.

– Ainda não me explicaste aquela parte do namorado. – Comentou Eren. – Porquê namorado e não namorada?

– Eu vi-te no evento, Eren. A tia Annie e tio Armin mostraram fotos do melhor amigo e eu vi-te.

– Isso não explica o porq…

– Não paravas de olhar para o meu pai. – A pequena riu ao ver Eren tossir um pouco, pois tinha acabado de beber um pouco de sumo. – Eu reparo em toda a gente que olha para o meu pai. Também queres casar com ele?

– Claro que não! – Negou rapidamente. – Muita gente deve olhar para ele e nem toda a gente quer casar com ele. Além disso, eu não era a única pessoa no evento.

– Hum. – Ela observava o moreno. – Não eras, mas olhaste muito para o meu pai que eu vi, mas pronto, todos os muggles olham.

– O quê? Muggles? Aquelas cenas do Harry Potter? Pessoas que não têm magia, não é?

– Também conheces Hogwarts? – Perguntou entusiasmada. – Nós estamos a ver em casa e eu descobri que o meu pai não é muggle. Ele fez magia, Eren. Cria mundos como o meu papá Erwin, mas não te preocupes. Podemos ser amigos na mesma, mas tem que prometer guardar o nosso segredo. Prometes?

 

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– Não pudemos recusar o pedido de jantar, Levi e trouxemos a Bia connosco. – Disse Sasha que tentava levantar-se do sofá e tanto Connie como Levi estenderam as mãos para ajudar a mulher grávida.

– Não há problema algum até porque estão a fazer-me um favor importante.

– Nunca é favor nenhum. A Bia é um anjo e uma possibilidade de praticar. – Disse Connie.

– Queres que vá chamá-la lá em cima? – Perguntou Annie. – Ela está com…

– Posso ir buscá-la. Não demoro. – Disse Levi, olhando para o relógio e vendo que mais uma vez, o dia tinha sido bem longo e que infelizmente, não tinha passado muito tempo com a filha. Queria assegurar-se que apesar do avançar da hora, ainda passava algum tempo a falar com ela antes de dormir.

Ainda que esses pensamentos estivessem a cruzar a sua mente, Levi notou nos olhares que Armin e Annie trocaram na direção de Hanji. O casal sabia com quem Bianca estava, mas ele tinha a certeza que a melhor amiga não diria nada e além disso, seria uma coisa rápida.

Antes de bater na porta de onde ouvia a voz da filha, Levi ainda ouviu risos da pequena.

– Com licença.

– Pai!

A menina desceu da cama e correu para os braços de Levi que a recebeu e deixou um beijo no rosto dela.

– Desculpa só aparecer agora, mas o pai disse que tinha que ir com a tia Hanji a um sítio depois do trabalho.

– Sim, eu lembro. – Sorriu. – Mas foi divertido estar com o tio Connie e vir jantar cá. Olha pai consegui fazer o Eren rir também.

– Imagino que sim. – Olhou para o moreno que parecia um pouco sem jeito. – Espero que ela não te tenha incomodado. Às vezes sei que ela pode ser um pouco… intensa.

– Tudo tranquilo. Só estivemos a conversar. – Respondeu o moreno.

– Se é assim, fico contente. – Olhou para a filha. – Vamos para casa?

– Posso voltar mais vezes?

– Quem sabe. – Respondeu.

– Adeus, Eren! – Acenou na direção do moreno que retribuiu o gesto e mesmo antes de sair, Levi disse:

– Se te fez sorrir ainda bem. Pelos vistos, estavas a precisar.

Depois de ter saído do quarto não viu a perplexidade nos olhos de Eren e para dizer a verdade, Levi admitia que não tinha ouvido grande parte da conversa da filha. Não gostava daquela sensação que o distraía, mas regressou para o meio de todos e manteve uma conversa normal. Aparentemente, ninguém viu a sua distração e se alguém poderia ter notado, teria sido Hanji que também não comentou nada fosse diretamente ou mesmo por mensagem depois de deixar a melhor amiga em casa.

Levi cumpriu a sua rotina de conversar e ler um pouco para a filha antes de dormir. Felizmente, Bianca também pareceu não perceber a distração dele e como tinha tido um dia com bastantes atividades que também deviam ter esgotado Connie, a pequena adormeceu em pouco tempo.

 

Levi – Mensagem:

Preciso falar contigo. É pedir muito para apareceres aqui ou preferes que passe eu em tua casa?

 

Como já era habitual, Mike que tinha ficado até mais tarde na clínica devido a mais algum caso sensível que estaria a tratar, não se incomodou de passar pela casa de Levi, que ficava a caminho da residência do homem de elevada estatura. Assim que chegou, os dois amigos dirigiram-se até ao escritório, onde o mais baixo fechou a porta e não esperou para desabafar sobre a razão que o tinha levado a enviar aquela mensagem. O outro escutou num primeiro momento sem dizer nada, até que a certa altura, na sequência de uma pausa mais demorada, resolveu intervir.

– Pensas que faria mal à tua filha?

– Claro que não, Mike. – Respondeu ligeiramente irritado. – Queria que o meu cérebro ainda fosse capaz de raciocinar sempre assim, mas por alguma razão, quase disse essa estupidez. Por que razão me terá passado uma coisa dessas pela cabeça? Eu sei que ele não faria mal à Bianca ou a qualquer criança, julgo eu.

– Mas por alguma razão, quase disseste à Bianca que seria melhor não se aproximar muito do Eren. Escuta Levi…

– É estupidez, Mike. Eu consegui lidar bem com ele, como até cheguei a comentar contigo, não senti nada do que sentia antes ao vê-lo. Tivemos uma conversa normal e civilizada. – Passou a mão pelos cabelos, desalinhando-os. – Não fui hipócrita quando disse que desejava que ele fosse feliz, então por que raio terei pensado numa coisa dessas?

– Tendo em conta, o fluxo de trabalho dos últimos dias desde da apresentação do software que ambos sabemos que tem perturbado as tuas horas de descanso, não me surpreende que estejas exausto tanto a nível físico como mental. – Explicou Mike calmamente. – Quando estamos nesse nível de stress e sem o descanso adequado, é normal que te sintas mais vulnerável. Isso não diz nada sobre quem és, apenas acerca do teu estado de cansaço. Todos trabalhamos menos eficientemente quando expostos a uma situação de stress e exaustão.

– Então, não sou uma pessoa terrível?

– Quando o viste agora à noite, sentiste qualquer tipo de vontade semelhante a que experienciaste antes? No sentido de querer evitar, esconder, não enfrentar de frente?

– Não.

– Falaram normalmente, certo?

– Sim, quer dizer também não falámos grande coisa. Foi uma troca de palavras curta.

– A Bianca queixou-se de alguma coisa?

– Não.

– Então, não há qualquer problema, Levi, exceto a necessidade de descansares. – Falou Mike, mantendo o tom tranquilo. – A menos que estejas a esconder-me mais qualquer coisa.

– Como o quê? – Perguntou de braços cruzados. – Se for o que estou a pensar, vou repetir o mesmo que disse à tua mulher, a história entre mim e ele terminou.

– Braços cruzados, postura defensiva. – Apontou Mike, vendo o outro arquear a sobrancelha.

– Estou de braços cruzados para não esmurrar a tua cara. – Explicou e o outro riu.

– Pronto, estás com o “bom” humor do costume. Estás de boa saúde. – Ergueu-se do cadeirão e colocou a mão sobre o ombro de Levi. – Vais ver que depois de algum descanso, isso tudo não passa de paranoia da tua cabeça. Não há nada de anormal em adotares uma postura mais defensiva, quando te sentes mais vulnerável. É a natureza humana, ok? Pessoalmente, prefiro defensiva do que agressiva.

– Acho que preferimos todos. – Replicou, conseguindo mais um sorriso divertido do amigo.

– Vá, agora aconselho-te muito seriamente a descansares. Por que razão não tiras uns dias?

– Agora? Impossível. Vou ter uma pequena viagem este fim de semana e…

– Tens que tirar uns dias, Levi. Caso contrário, espalho a todos o real estado de cansaço em que te encontras e sabes que a Nina ou a Hanji serão das primeiras a raptar-te.

– Não quero acordar outra vez num bar com strippers à minha volta. Juro que até hoje não faço ideia como me conseguiram levar até lá. A última coisa que me lembro era estar no meu escritório a falar com a Isabel e de repente… – Fez um ar pensativo. – Nada, absolutamente nada.

Mike riu.

– Eu tentaria manter a ignorância. Os teus amigos gostam muito de ti, mas também são bastante perigosos quando querem.

– Isso é suposto tranquilizar-me e fazer com que durma bem de noite?

Mike riu novamente.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

– Está alguém lá em baixo à tua espera. – Disse um dos colegas de Eren à medida que este, acabava de vestir o casaco, preparando-se para sair.

– Sabes quem é? – Questionou o moreno, pedindo em silêncio que não fosse mais algum conhecido que quisesse fazer perguntas indiscretas sobre o novo status social dele, ou seja, basicamente alguém que quisesse rir do ponto até onde ele tinha descido.

– Não, é uma preta qualquer.

E dizem que fui eu quem desci de nível. Neste lugar, todos enchem a boca para dizer que estão acima dos outros, mas a educação claramente não é importante”, suspirou e decidiu que não iria obter uma resposta decente dos colegas de trabalho, “Vou ver quem é e se for mais alguém que queira fazer com que perca tempo, como estou fora do horário de trabalho, posso ir-me embora sem ter que ficar a ouvir seja o que for”.

Pouco depois saiu dos vestiários e assim que atravessou a porta que dava acesso ao exterior, confessava-se um pouco perplexo ao encontrar a mulher que de facto, tinha enviado várias mensagens nos últimos dias, mas que ele ignorou ou disse que estava ocupado a trabalhar.

– Será que agora tens tempo para mim, querido?

– Eu não acho que tenhamos nada para conversar. – Optou pela sinceridade com a ténue esperança que a mulher desistisse daquilo.

– Pois, eu acho o contrário. – Rebateu, apontando para um táxi que aparentemente esperava pelos dois. – Hoje é o dia em que vou ficar a saber qual é o teu lado em toda aquela história, Eren Jaeger, e lamento informar-te mas não tens escolha. – Viu que o moreno arqueava uma das sobrancelhas. – Vá, querido. Que mal tem? Vamos conversar enquanto jantamos. Podes não admitir, mas precisas falar com alguém. Sei que os teus amigos estão preocupados, aliás os dois estão avisados deste nosso jantar.

– Ok… embora eu ache que não tenho nada de interessante para dizer, Nina.

– Isso sou eu que vou avaliar.

 


Notas Finais


Até ao próximo capítulo!


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