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História Memórias Rasgadas - Capítulo XXXIV


Escrita por: Imagination

Notas do Autor


Muito obrigada de coração pelos comentários, mensagens, favoritos e a todos os que acompanham o enredo!

Capítulo 34 - Capítulo XXXIV


Capítulo XXXIV

 

A mulher de cabelos loiros mais longos na parte trás, observava a troca de acusações entre os dois homens à sua frente. Os olhos castanhos de uma tonalidade clara não se focavam completamente na troca de palavras, mas antes divagavam um pouco. Não havia tensão na postura relaxada contra o cadeirão e na mão que segurava com elegância a taça de vinho na mão direita.

Ela dir-se-ia até um pouco surpreendida com a perda de calma do marido, dado que mesmo este sempre acabava por ver uma nova solução. Até mesmo o filho que não herdara a estatura mais baixa e delicada dela, parecia irritado e diferente do comportamento controlado.

– Será que os dois podem parar com esta troca de palavras inútil? – Pronunciou-se ao fim de vários minutos de silêncio.

A aparência da mulher de traços femininos graciosos podia causar algum espanto entre outras pessoas, visto que poucas palavras dela chegavam para que tanto o marido como o filho se silenciassem. Os dois detetaram um ligeiro tom de impaciência e não quiseram provocar o que podia se transformar em raiva.

– Concordas comigo, não é mãe? – Questionou o filho após um pequeno silêncio tenso.

– Desta vez, tenho que concordar com o teu pai, Zeke. – Afirmou a mulher, movimentando o vinho na taça que segurava na mão. – Não podias ter aparecido na residência Smith daquela forma com o intuito evidente de provocares o teu irmão e por tabela, conseguiste quebrar a pouca confiança que havia em ti. – O marido ia pronunciar-se, mas ela ergueu a outra mão, indicando que ainda não tinha acabado de falar. – No entanto, esta discussão de atribuir culpas não é útil e nem pertinente neste momento.

– Não vamos voltar à conversa do tablet, pois não? Mãe, não é muito lógico que… – Zeke parou de falar diante do olhar da progenitora.

– Eu sei o que vi. Nada me tira da cabeça as linhas e linhas de código que correram naquele ecrã durante o evento de caridade há uns meses atrás. Desde então, tanto tu como o teu pai têm ignorado esse aspeto e focado na conquista pouco inteligente. – Falou num tom cansado. – Agressividade nunca foi a chave. Apesar de tudo, aquele Ackerman age na base da confiança. Se tu, Zeke, tivesses conseguido a confiança dele, não estaríamos sequer a ter esta conversa. No entanto, vocês os dois agem como se estivesse tudo perdido.

– Dina, eu não acho que o Zeke vá conseguir alguma coisa. – Disse Grisha não escondendo o mau humor que aquela conversa tinha provocado.

– Há outro evento de solidariedade dentro de duas semanas. – Comentou a mulher.

– Achas que ele vai? – Questionou o filho.

– Claro que vai. Ele nunca falta a nada que defenda os desafortunados. – Não conteve alguma ironia. – Além disso, o Erwin deve ter ensinado a importância de manter uma vida social ativa e presente entre pessoas influentes que decerto, também estarão presentes. – Olhou para o filho. – Quero que aproveites a ocasião para te desculpares, dizer que agiste fora da linha e basicamente, que sejas o cavalheiro que consegues ser. Ele não vai confiar de um momento para o outro, mas poderá pelo menos, irá ver que soubeste reconhecer que estavas e errado e soubeste desculpar-te.

– Não vais participar no evento comigo e com o pai?

– Claro que vou. – Respondeu. – Não perderia a oportunidade por nada.

– E achas que vais conseguir aproximar-te dele? – Perguntou Grisha um pouco cético. – Que eu saiba, vocês falaram-se poucas vezes. Não têm afinidades.

– Ó querido, nós de facto somos como simples conhecidos distantes. Afinal de contas, antes de esse Ackerman entrar na vida do Smith, era a mim que o Erwin pedia auxílio na programação dos softwares da empresa dele. – Recordou aos dois homens que a observavam. – Erwin era muito bom no que fazia, mas tenho que admitir que aquele Ackerman é um génio. Tive a oportunidade de trocar emails com ele e trabalharmos em conjunto, apenas mantendo esse contacto puramente profissional através de emails e poucas chamadas enquanto trabalhávamos num dos programas. Na altura, mesmo que jovem e com o recente retorno à Faculdade, pude ver que já escrevia linhas e linhas de código com bastante destreza e acima de tudo, com uma encriptação impressionante. Isso faz com que hoje em dia, eu não possa arriscar em explorar os softwares atuais sem correr o risco de ser apanhada numa das redes de segurança.

– Não sei se devias elogiar tanto alguém que saiu daquele buraco. – Comentou Grisha.

– A mente dele é fascinante, não nego mas todo o resto está cheio de falhas. – Disse a mulher. – Com o Erwin por perto, seria quase impossível chegar até ele, mas sem aquela mente desconfiada e calculista por perto? Temos tudo a nosso favor. As peças todas sobre a mesa e só vocês é que não as sabem usar.

– Ainda estás a falar daquele Tiago com quem alegadamente aquele Ackerman se encontrava? – Perguntou Grisha. – Mas mais uma vez, o Zeke não soube ser suficientemente persuasivo. – Recebeu um olhar pouco amigável do filho.

– Ele tem um outro amigo desagradável com quem não consegui falar, um Thomas. – Comentou Zeke.

– Não, esse para já não interessa controlar ou persuadir para coisa alguma, mas o outro amigo sim. Esse que nenhum de vocês deu o uso expectável, mas que eu mostrarei o valor que tem já durante esse evento. – Disse Dina pensativa. – Ele é um pouco instável, assim como o Nile já nos alertou, mas trabalha para quem oferecer mais.

– O Nile também nem sempre é de confiança. – Apontou Zeke.

– Sim, mas com esse lidamos bem. Afinal de contas, o Nile também tem o seu ódio pessoal pela família Ackerman e ver como as coisas apesar de tudo, fizeram com que o herdeiro que resta ficasse na frente da maior empresa de Sina, não deve ser fácil de engolir para ele. No fim, todos concordamos que aquele lugar não lhe pertence e assim que começarmos a explorar cada uma das fraquezas que tem, ele com toda a certeza vai cair.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

Eren – Mensagem:

Boa sorte no exame de hoje, Ankh-su-namun ;)

Saudações da parte de Anúbis.

 

Eduardo – Mensagem:

Ahahaha que o deus da morte também me envie saudações não sei se é bom sinal para mim.

De qualquer das formas, obg, Imhotep :p

Se não sobreviver, sei que farás de tudo para ressuscitar-me.

 

Eren – Mensagem:

Nem duvides, o nosso amor é eterno <3

 

Eduardo – Mensagem:

Imhotep (lê com voz fina) <3

P.S – Provavelmente, devia parar de fazer vozes ou rir-me sozinho, mas não dá.

 

Eren – Mensagem:

Ahahaha

Compreendo o sentimento ;)

Depois diz-me como correu.

 

Eduardo – Mensagem:

Darei novidades nem que seja do além :p

 

Eren sorriu divertido antes de bloquear o ecrã do telemóvel e mudar a música que estava a tocar no MP3. No dia anterior, não trocou muitas mensagens com Eduardo, que também só deu sinal de vida ao fim do dia, dizendo que já não podia olhar mais para os livros, mas que ainda estava vivo. Trocaram mensagens durante algum tempo antes do moreno de olhos verdes dizer que o outro precisava de descansar para estar com a mente preparada para o exame do dia seguinte.

Depois da noite no bar Wicked, a manhã seguinte, Eren acordou um pouco desorientado e com um peso sobre o peito dele. Levi continuava a dormir e aquele momento podia ter perdurado mais um pouco, se Bianca não tivesse entrado repentinamente no quarto. Foi como uma espécie de furacão com demasiada energia de manhã que saltou para cima da cama, acordando também Levi que ainda estava um pouco desnorteado e com algumas dores de cabeça. Evidentemente, a criança interpretou aquela situação com uma única explicação possível e nenhum dos dois convenceu-a do contrário. Claro que Nina também não ajudou a desmentir nada e Mike apenas sorria.

Aliás, as poucas palavras que o psiquiatra dirigiu ao moreno foram durante o pequeno-almoço que tomou antes de voltar para casa. Essas palavras foram sobretudo perguntas sobre o que Eren queria comer. Somente antes de deixar a hospitalidade e simpatia que havia na casa de Nina e Mike, este último entregou-lhe um pequeno cartão com o contacto e morada do gabinete dele, dizendo que gostava que um dia Eren aparecesse lá. Ele agradeceu a atenção, mas para dizer a verdade não se sentia muito inclinado a fazer uso daquela sugestão. Não era só o preço que devia estar associado às consultas, mas acima de tudo a ideia de ter que falar com um “desconhecido” sobre tudo o que o atormentava. Por muito que as coisas estivessem a tomar um rumo mais positivo, Eren era consciente de todas as vezes em que o medo ou tristeza quase irracional irrompiam pelo dia dele e faziam com que quisesse ficar deitado e dormir, esperando que isso resolvesse o problema.

Às vezes queria recuperar um pouco dos traços de personalidade que antes o fariam sair, procurar o que fazer e passar o tempo, mas quando se lembrava que no passado isso significou sobretudo as más companhias e tudo o que fez de errado, Eren acabava por ter medo de ceder à tentação de novo.

Em Sina estavam todas as tentações e para dizer a verdade, a autoestima dele também não era o mesmo de antes para sequer ter coragem de enfrentar muitos dos conhecidos de rosto erguido. Na maioria das vezes, acabava por baixar o rosto e pedir em silêncio que o ignorassem e fizessem de conta que ele não estava ali. O que nem sempre acontecia e depois era obrigado a ver os risos e a forçar-se a ignorar os comentários.

Sendo assim, o único tempo de qualidade que acabava por ter era na companhia de Bianca e também dos amigos, Armin e Annie. Se bem que agora que também podia passar mais tempo com Levi e também ao ter conhecido Eduardo, as coisas estavam a melhorar aos poucos. Só que ainda assim, ele continuava a prender-se aquele receio de que tudo desmoronasse de repente.

E se isso acontecer nem posso dizer que não mereça”.

Se os amigos soubessem até onde iam os pensamentos acerca do que pensava sobre ele próprio, provavelmente iriam preocupar-se ou até culpar-se por não fazer o suficiente para mudar isso.

Mas agora as coisas até estão bem, pode ser que até continuem e esta sensação de medo que tudo possa correr mal, acabe por ficar menos frequente. Sei que o Mike e mesmo o Levi aconselharam-me com boas intenções, mas eu não quero falar disto com ninguém”.

Saiu do metro com outras pessoas e olhou para o telemóvel, vendo que ainda tinha tempo mais do que suficiente para chegar à casa de Levi. Portanto, caminhou calma e distraiu os seus pensamentos com música até que ao virar numa das esquinas…

Merda! O que estás aqui a fazer? – Perguntou Eren, retirando um dos fones ao encontrar Thomas.

– Bom dia, Eren. – O outro sorriu. – Vim ver-te, já que deixaste de responder às minhas mensagens.

– Já pensaste que se calhar, deixei de responder porque não quero falar contigo?

– Não estás a ser justo comigo. – Tentou argumentar. – Estás a crucificar-me depois de um erro da minha parte. Erro pelo qual já pedi desculpa e admiti que agi mal e no entanto, tu não me dás a mínima oportunidade de nos entendermos novamente.

– As tuas conversas duram dois minutos antes de começares com declarações e frases copiadas da Net. – Ironizou o moreno. – Dizes que queres pelo menos ser meu amigo, mas não estás mais de dois minutos sem falar que sou o grande amor da tua vida.

– Porque é verdade. – Insistiu o loiro.

– O facto de dizeres isso com tanta facilidade…

– É porque não tenho vergonha de admitir o que sinto. – Avançou um passo na direção do moreno.

– Não. – Distanciou-se. – Significa que não entendes que quando disse que acabou, acabou mesmo. Eu estava a aprender a confiar em ti e tu estragaste tudo. – Falou num tom cansado. – Agora tenho que ir porque vou trabalhar, Thomas.

– Só quero um pouco da tua atenção. – Pediu, colocando-se na frente do moreno e impedindo a passagem dele. – Uma oportunidade de verdade. Por que não aceitas sequer beber um café comigo?

– Porque não quero e que eu saiba, tenho o direito de dizer que não. – Respondeu incomodado com a insistência e sentindo um frio na barriga, mas num mau sentido. A ansiedade estava a subir de nível.

– Se tens tempo para fazer novos amigos, com certeza tens tempo para mim também. – Falou e ao estender a mão, o loiro surpreendeu-se ao ver que o outro bateu na mesma e a respiração estava bem mais agitada.

– Eu disse que não! – Falou mais alto e com a voz um tanto trémula.

Com uma expressão compreensiva, Thomas recuou, dizendo:

– Desculpa, é só que…

Mas não teve de concluir a frase, pois Eren assim que viu que o outro lhe dava espaço, saiu rapidamente. Não olhou para trás e com passos acelerados, quase correu até à casa de Levi, onde iria passar o resto do dia com Bianca.

Quando estava acompanhado por alguém, usualmente amigos, era mais fácil manter a ironia e uma postura até desafiante perante Thomas, mas sozinho era diferente. Sozinho fazia-o pensar que qualquer coisa podia correr mal a qualquer momento e ninguém iria ver, provavelmente mesmo se vissem, seria um desconhecido que nada faria. Havia uma vulnerabilidade que o amedrontava e agora até dificultava a passagem de ar para os pulmões.

Quando parou na frente do portão da casa de Levi, não tocou à campainha. Não podia entrar daquela forma. Não podia ser visto assim sem levantar questões às quais não queria responder, das quais não queria falar. Encostou uma das mãos ao portão, baixando o rosto e tentando regularizar a respiração. Dizia a si mesmo que nada do que tinha acontecido era grave, que era só mais paranoia da cabeça dele e que apesar dos defeitos, Thomas não era exatamente como…

– Hei, estás…?

A mão no ombro provocou um choque no corpo de Eren que empurrou de imediato quem se tinha aproximado. Os olhos da outra pessoa mostraram surpresa com o gesto e palavras que soavam fortes, mas com traços inegáveis de um receio quase irracional.

– Não coloques as mãos em mim!

– Hei… ah, calma. – Pediu o outro. – Sou eu, o Reiner. Estava aqui perto do carro à espera do Sr. Smith e vi-te chegar e parar aí… não parecias bem.

Quanto mais ouvia o Reiner, mais Eren se envergonhava da própria reação exagerada. Era somente o segurança que se preocupou com ele e nada mais. O loiro que até se explicava, quando não havia necessidade disso, dado que à vista de todos seria o moreno que parecia desequilibrado.

– Desculpa, Reiner. É só que…

O loiro olhou na direção de onde o recém-chegado tinha vindo, mas não via ninguém.

– Alguém vinha atrás de ti? Aconteceu alguma coisa? Queres que trate do problema?

– Ah…

– Uma das minhas especialidades é assustar pessoas indesejáveis. – Explicou. – Acredita que já o fiz várias vezes, sobretudo com jornalistas e alguns curiosos que às vezes lembram-se de querer aparecer aqui. Como também trabalhas aqui, o mínimo que posso fazer é…

– Obrigado. – Interrompeu Eren. – Não é nada. Noite mal dormida. Acho que ainda não estou bem acordado e estou meio paranoico.

– Tens a certeza? Queres que peça que te tragam um copo de água? O Berth está lá dentro.

– Não, agradeço a preocupação, mas estou bem. – Recusou o mais educadamente possível e forçou um sorriso. – E por favor, não comentes com ninguém que… me viste assim. É só mesmo uma noite mal dormida e não quero…

– Ok, assunto teu, eu entendo. – Disse o segurança. – Queres que abra o portão ou queres acalmar-te mais um pouco antes de entrar? Podemos falar sobre o tempo se te ajudar a distrair.

Eren sorriu um pouco, desta vez algo mais sincero do que antes.

– Obrigado.

De facto, Reiner acabou por criar conversa e não sobre o tempo porque disse que não tinha muito a dizer sobre isso antes de voltarem a um silêncio desconfortável. Portanto, o loiro optou por contar que começou a trabalhar na residência Smith pouco antes da chegada de Levi e tendo em conta que este último quase não falava quando chegou, o loiro explicou que outras das suas especialidades era inventar temas de conversas. O resultado seguiu duas vias: ou a conversa não passava de monólogo ou então Levi farto de ouvir coisas estranhas, acabava por não conseguir segurar algum comentário nem que fosse um pouco rude. O que aparentemente não incomodava o segurança porque dizia que se riu várias vezes com as reações do agora patrão dele.

– Um dia pus-me a contar a história sobre como quase bebi água do copo, onde estava a dentadura da minha avó.

– Credo, Reiner não lhe contes isso. – Era a voz de Levi que acabava de sair pelo portão. – Ninguém quer perder o apetite o resto do dia. – Olhou para Eren. – Não o deixes contar histórias. São todas estranhas.

– Já viu o que ele irá pensar de mim, Sr. Smith? – Perguntou Reiner divertido.

– Que me preocupo com a sanidade mental dele. – Respondeu e viu que o loiro mantinha a expressão animada enquanto se dirigia para o carro. – Pensei que te fosses atrasar hoje pela primeira vez.

– Ah… desculpa, distrai-me a falar com o Reiner.

– Era uma brincadeira, Eren. É cedo. – Levi sorriu um pouco, observando o moreno. – Não sei dizer, mas pareces um pouco estranho. Talvez seja só impressão. Eu estou a sair um pouco mais cedo para que depois possas levar a Bia para almoçar comigo.

– Ok. – Eren assentiu e viu que os olhos cinzentos continuavam a observá-lo.

– A propósito, estás a usar base? – Perguntou num tom divertido e ia passar mão no pescoço do moreno que se distanciou rapidamente.

– Não tires! Não imaginas os comentários que tive que ouvir da Annie para que me ajudasse a esconder as marcas. – Disse um pouco irritado. – Já basta a tua filha ter visto ontem e tu teres inventado que tinha sido atacado por mosquitos.

Levi riu.

– Foi a primeira coisa que me ocorreu. Tens que me dar um desconto pelo sono e ressaca. – Respondeu. – Tenho que ir agora. Vemo-nos na hora do almoço. – Piscou o olho antes de sair na direção do carro, onde Reiner já o esperava.

Aquela troca de palavras com Reiner e também Levi ajudaram sem dúvida, a que se acalmasse e fosse mais fácil retornar ao normal. Ver como Bianca também o recebeu pouco depois, trouxe de volta uma tranquilidade de que precisava depois daquela pequena crise de ansiedade que teve com a presença de Thomas. Eren esperava também que Reiner de facto, não comentasse nada sobre o estado dele quando chegou à casa de Levi.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

Era bem mais difícil do que pensava e mesmo assim, estava a fazer aquele esforço sem entender sequer a razão. Seria porque não queria dar o braço a torcer e admitir que estava destroçado por dentro? Ou seria por que apesar de tudo, recusava-se a querer causar mal a alguém que lhe deu muito nos últimos tempos? Deu aquilo que nunca entendeu como era importante até perder. Até entender como estava faminto por aquele carinho e atenção de alguém. Uma coisa desprovida de interesses complicados e corrompidos. Algo que fosse sincero e o sentisse não só pelas palavras, mas pelos gestos e mesmo pela forma como era observado. Como se fosse uma coisa frágil de que deviam cuidar. Agora olhava para cada recanto e encontrava o vazio.

Atravessar aquela porta com a primeira dose de cafeína da manha não lhe trazia o mesmo frio na barriga. Era um soco no estômago sempre que entrava e notava uma distância que nunca viu antes.

Não que Levi estivesse a tratá-lo de forma fria. Nada disso. Ele ainda sorria, agradecia pelo café e fazia uma curta conversa de circunstância. Migalhas. Tudo o que lhe restavam eram aquelas migalhas de atenção e possivelmente, pena. Sim, quem sabe fosse pena o que ainda fazia com Levi não o ignorasse por completo.

Sinceramente, Tiago não saberia o que fazer quando esse dia chegasse. Quando fosse só mais um rosto entre as outras dezenas e dezenas que trabalhavam na Survey Corporation.

Por enquanto, estava a tentar manter a rotina, os mesmos hábitos, as mesmas conversas com os colegas, mas continuava a faltar o essencial. Aquele frio na barriga, aquela sensação de poder esquecer tudo lá fora quando estava nos braços de Levi. A forma como os olhos cinzentos tornavam impossível prestar atenção em outra coisa que não fosse na beleza que havia neles. Quando fechava os olhos recordava as carícias que exalavam carinho, o desejo de o ter e não querer mais ninguém.

Tiago tentava não pensar nisso, mas se no trabalho ironicamente a mente dele não tinha tanto tempo para divagar, em casa a história era diferente. Às vezes, quando reparava já várias lágrimas estavam a cair e nem se tinha apercebido em que momento exato elas tinham começado. Os soluços vinham depois e após o primeiro momento de vergonha por estar nesse estado, seguia-se uma dor no peito que o fazia chorar desalmadamente. Quase não conseguia parar. Era como se fosse sufocar se não deitasse tudo para fora e ao mesmo tempo, parecia que nunca chorava o suficiente para que toda a tristeza saísse.

Quando pensava nisso, temia que porventura aquela tristeza e dor nunca sumissem por completo. Logo ele que nunca acreditou naquelas coisas que considerava ridículas. Isso de sofrer por amor. Ele não sofria por ninguém. Ele escolhia quando e como queria alguém. Eles podiam até rastejar por ele. Sempre teve as cartas nas mãos. Sempre manipulou a todos a quem um dia virava as coisas quando se cansava. E agora? O que podia dizer a si mesmo perante o estado patético em que estava?

Chegou a ponderar que o melhor seria deixar aquele trabalho. Ir para longe, mas para onde? E ficar sozinho? Não, mesmo com as economias que tinha, ele sabia que não encontraria um trabalho tão bom e bem remunerado como aquele. Além disso, pensar em ir para algum lugar em que soubesse de Levi apenas pelas notícias e nada mais, causava-lhe uma má sensação. Uma que lhe tirava o sono de noite. Não o podia ter, mas não queria ir para longe. Não queria perder o pouco que lhe restava e que eram aquelas poucas migalhas.

Ao tentar afastar esses pensamentos e pensar que podia encontrar rapidamente alguém, que o quisesse sustentar em troca daquilo que melhor tinha para oferecer, sentiu ânsias de vómito. Antes não pensava duas vezes em levar para a cama quem quer que fosse, se isso servisse algum propósito. Se isso lhe desse alguma vantagem, por que razão não o faria? Fez tantas vezes. Teve tantas coisas graças a isso e agora, a simples ideia de deitar-te com outra pessoa, nauseava-o. As lágrimas voltavam e o ciclo deplorável regressava.

Sabia que devia ir, mas não queria.

Sabia que devia procurar outra pessoa, mas não queria.

Sabia que alguma coisa teria que mudar, mas não queria nada diferente. Só desejava o de antes. Pior, possivelmente desejasse mais do que tinha antes e isso sim, era um delírio.

– Olá Eren, olá bonequinha!

A voz de Petra fez com que parasse a meio do corredor e olhasse na direção do local, onde a secretária costumava estar e agora recebia as visitas que tinham chegado para almoçar na companhia de Levi.

– Olá Petra! – Ouviu a voz infantil.

– Chegámos muito cedo?

– Não, Eren. O Levi deve estar quase a sair. – Informou Petra. – Eu posso ir levando os dois para a mesa.

– Não ficas connosco? – Perguntou Bianca.

– Não, querida mas a tua madrinha vai estar lá.

– Eu pensava que irias querer… – Ia dizer Eren arqueando uma sobrancelha, mas vendo o ar envergonhado de Petra não continuou com a frase. – Bom, então vamos indo para a mesa esperar pelo teu pai?

Tiago podia ter saído do corredor e continuado até ao gabinete onde devia entregar os documentos que tinha nas mãos, mas não se moveu até ver que os três caminhavam na direção do corredor. Bianca estava de mão dada com Eren e falava quase sem parar enquanto tanto o moreno como Petra sorriam perante a animação da criança.

– Olá Tiago!

– Olá Bianca. – Respondeu quase automaticamente e sorriu como estava habituado a fazer.

– Não te esqueças que estão à espera desses documentos, Tiago. – Lembrou Petra e ele assentiu.

Nesse momento, notou os olhos verdes fixos nele por alguns instantes. Pensou que Eren pudesse inventar qualquer razão para ficar para trás ou até mesmo mudar a expressão nem que fosse por breves momentos. Porém, ele desviou o olhar e continuou a andar com Bianca e Petra ao lado dele.

Tiago ainda olhou para trás e esperava algum comentário ou até mesmo algum sorriso de escárnio. Afinal de contas, ele tinha basicamente esfregado na cara dele que estava com Levi e que não seria trocado. Ironias do destino.

Será que não fez ou disse nada por estar acompanhado? Ou porque simplesmente quer provar que está num patamar acima de mim?”, questionava-se, amachucando os papéis que tinha nas mãos.

Tentou distanciar-se desse rumo de pensamentos e optou por dar continuidade ao seu trabalho. Tentou de facto, concentrar-se mas não resistiu à curiosidade. Ainda insistia em não acreditar que Levi o teria trocado por Eren. Chegou a pensar que fosse uma piada de mau gosto de Thomas, ainda que esse não fosse o único a dizer-lhe isso.

Precisava de ver e então, espreitou discretamente para o local onde Levi sempre fazia as refeições na companhia de amigos e colegas de trabalho. Em dias em que a filha vinha, o número de pessoas à mesa era mais limitado e por isso, apenas estava o empresário, Hanji, Eren e Bianca sentados à mesa. Observou em outras ocasiões de longe, como Farlan e Isabel também partilharam aquela mesa com o empresário, a filha e a madrinha da pequena. Nada parecia diferente, embora Tiago estivesse à procura do mínimo sinal e de repente, viu Levi colocar a mão sobre a perna de Eren que olhou de imediato para o empresário. Este parecia ter uma expressão preocupada enquanto perguntava qualquer coisa num tom mais baixo e não chamando a atenção de Hanji e Bianca que disputavam a sobremesa entre elas.

Viu Eren sorrir ligeiramente e dizer qualquer coisa. Quem sabe, palavras que pretendessem dissipar aquela preocupação, mas Tiago não conseguiu permanecer onde estava e saiu em outra direção. Aquele tipo de gesto e atenção que viu tantas vezes dirigido a ele, agora era dedicado a outra pessoa.

– O que é que queres, Thomas?! – Perguntou irritado ao atender a quarta chamada que recebia, mas recusou-se a atender as anteriores.

– Não é o Thomas, mas de facto respondeste a uma das minhas perguntas voluntariamente.

– Será que me podem deixar sozinho? – Pediu num tom cansado. – Eu não quero alinhar nos vossos joguinhos em que se divertem às minhas custas e querem ter vantagens com isso.

– Não me confundas com o Thomas. Desde da nossa conversa, eu dei-te espaço e deixei que lidasses com essa tua depressão ridícula sem interferir ou insistir. Vejo que essa fase ainda não terminou e não me interessa falar contigo enquanto estiveres a ver as coisas de forma tão irracional.

– Queres que te mande à merda ou já sabes ir sozinho?

– Sei que não és nenhum santo, mas com certeza não és esse Jaeger, que de putinha que se oferecia ao primeiro que lhe pagasse uma bebida, repentinamente quer passar por pessoa mudada e inocente que até toma conta de crianças. Se não fosse tão patético, até me daria vómitos.

– O que é que isso interessa? Os rumores não…

– Rumores? E se eu tivesse provas físicas? Coisas que fizessem o teu queridinho repensar as suas escolhas amorosas? Podes ter feito muitas merdas, mas fazias com um propósito, querias vantagens. Não penso que sejas o género de pessoa que pise em alguém a troco de nada.

– Estás a tentar elogiar-me?

– Não, estou a dizer-te a verdade porque apesar de tudo, nunca pisaste ninguém só por diversão, para passar o tempo, para ter o gosto de ver o mundo de outra pessoa cair. Sem qualquer objetivo, simplesmente porque bateu a vontade e meteste na cabeça que aquela pessoa merecia.

– O que queres dizer com tudo isso?

– No fundo tu sabes. Não és tão baixo e por isso, mereces algo melhor. – Uma pausa. – Já pensaste que ele merece coisa melhor? Sei que não queres admitir, mas gostas dele e mesmo com isto tudo, continuas a querer o melhor para ele, não é? Por que razão o melhor tem que ser uma puta sem escrúpulos que agora se quer passar por santo? Sabias que no passado o teu querido Levi quase se suicidou e a culpa era desse Jaeger? – A pergunta fez com que Tiago prendesse a respiração. – Os relacionamentos entre eles nunca terminaram bem. Queres correr o risco de ver isso acontecer? E se desta vez…?

– Pára! – Falou mais alto. – Como é que podes saber essas coisas? Aliás, como é que eu sei que não estás a mentir? Que não estás a inventar tudo isto só para me provocar?

– Eu disse que sabia várias coisas e posso provar que não estou a mentir. Tens a certeza que não queres saber?

– Eu… – Sentia o coração bater rápido e até parecia suar frio. Podia ser uma mentira, havia uma forte probabilidade de não ser verdade, mas e se… – Eu não sei. Tenho que voltar ao trabalho. Eu…

– Depois falamos quando estiveres mais calmo.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

Desde de manhã quando viu Eren parado na frente do portão a falar com Reiner, o empresário da Survey Corporation teve a sensação de que alguma coisa teria acontecido. Como se o sorriso que recebeu fosse forçado e quem sabe, fosse só impressão mas o moreno pareceu-lhe apreensivo. Este disse-lhe que estava tudo bem e apesar de qualquer coisa dizer o contrário, Levi forçou-se a acreditar. Não resistiu em perguntar a Reiner se tinha notado algo estranho, mas o segurança sorriu e disse que não.

A chegada à empresa e volume de trabalho não deixou que os seus pensamentos se encaminhassem por aí e nem mesmo teve tempo de questionar Petra, se tinha conversado com Hanji. Aparentemente, a amiga insana depois da noite passada com a secretária ao despertar disse que tinha sido uma boa noite e esperava que pudessem repetir. Ao que parece isso não terá sido o melhor comentário para se fazer, dado que Petra saiu rapidamente e envergonhada, recusando-se a dizer o que quer que fosse.

Levi desconfiava que estaria relacionado com o facto de poder ser a primeira vez que Petra passava a noite com uma mulher. Aliando essa possível primeira experiência a outro fator, como ao facto de experiências sexuais terem um significado mais profundo para a secretária, podem ter provocado aquela saída repentinamente e que nem sequer olhasse para ele quando se falaram durante o dia.

Devido ao amor pelo trabalho, por aquilo que fazia, Hanji não era capaz de manter relacionamentos ou melhor ninguém queria disputar a atenção dela com o trabalho. A escolha usualmente era sempre a mesma. A doutora Zoe colocava sempre o trabalho como prioridade e os relacionamentos, apenas como uma necessidade física que às vezes, sentia vontade de dar resposta. Encontrava sempre alguém que quisesse o mesmo e assim iam as coisas.

Porém, Levi sabia que para Petra as coisas não seriam assim e tendo em conta, que Hanji podia ser muito inteligente mas não entender coisas dessas e Petra estava a morrer de vergonha e provavelmente confusa, ele via-se quase na obrigação de interferir. Queria que elas pelo menos conversassem, mas durante aquele dia não teve a oportunidade de falar com elas.

Não quis trocar a hora do almoço com a filha e durante esse momento, veio novamente a preocupação por Eren. Como se apesar de lhe ter sorrido, houvesse mais qualquer coisa que não conseguia entender, mas estava lá. Com isso em mente, perto do fim da hora do almoço, pediu ao moreno que ficasse em casa para acabarem de ver a série 13 Reasons Why.

Na verdade, queria usar a série também como um pretexto para dissipar as dúvidas. Se de facto, estivesse tudo bem com Eren, ótimo. Caso contrário, queria convencê-lo a falar do assunto.

Contudo, os episódios finais da série foram mais intensos e fortes. Com outra cena que trouxe de volta o semblante perturbado e postura tensa. Desta vez, nem mesmo segurar na mão do moreno tranquilizou-o por completo e nesse momento, Levi quis sugerir que ficassem por ali, mas Eren insistiu que queria ver até ao final.

Puta que pariu alguém devia despedir este psicólogo! – Falou o homem de cabelos negros perante o comentário que parecia querer desvalorizar por completo aquilo pelo que Hannah teria passado. Começando por questionar o consentimento e como é que alguém dizia a alguém vítima de abuso sexual, que devia seguir em frente e pensar que pelo menos no ano seguinte já não teria que ver o seu abusador?

Ainda estava irritado com a cena e olhou de soslaio para Eren que continuava em silêncio e só sentiu os olhos verdes nele, quando veio a cena do suicídio. Talvez os dois pensassem que a cena não fosse ser transmitida e fosse apenas deixada a ideia do que tinha acontecido implicitamente. O que aconteceu foi o contrário e no momento em que os cortes eram feitos, os olhos verdes desviaram-se na direção de Levi.

Para os dono dos olhos cinzentos ver aquela cena trazia algumas das suas próprias lembranças, fechado no quarto, rasgando a pele, uma e outra vez. Era impossível não recordar, mas essas recordações sombrias traziam outras que Erwin criou com ele. Era como se ainda pudesse sentir o toque do loiro nos braços dele, as carícias nos cabelos e escutasse as palavras, dizendo que o iria libertar daquela dor e tudo o que tinha que fazer, era permitir que isso acontecesse.

O mundo dele não se transformou subitamente. Nada melhorou de um momento para o outro, mas Erwin, Mike, Hanji, Nina e a certa altura, até mesmo Farlan e Isabel ajudaram a não procurar conforto na dor, mas no carinho deles. Eles estiveram sempre lá e ao contrário do que acontecia com a personagem daquela série, não o deixaram sozinho e impediram o pior. Hoje podia dizer que não se arrependia de ter ficado e realmente, havia muito mais que o mundo e as pessoas lhe podiam oferecer, diferente daquilo com que cresceu.

Enquanto se confortava com os próprios pensamentos, os minutos finais deram lugar a um desfecho da série, que indiciava que aquela não seria a única temporada.

– Acabou assim… – Murmurou Eren, olhando para as mãos sobre os joelhos.

– É um final aberto porque só agora os pais dela receberam aquilo que os pode ajudar a descobrir a verdade. – Comentou, espreguiçando-se um pouco.

– Todos eles estavam a mentir e não houve consequências reais, exceto alguns com peso de consciência, mas todos estavam a defender um violador.

– Eren, isto é só uma série que trata problemas sérios, mas… – Tocou no ombro do moreno. – Escuta, já tentaste falar com o Mike? Hoje pareces um pouco diferente e não sei dizer porquê, mas parece que estás a reagir um pouco mais a série hoje do que da última vez que…

– Falar com um psicólogo ajudou imenso, como pudemos ver.

– Nem todos são assim. O Mike…

– É por isso que conseguiste ver aquela cena dela a cortar-se sem sequer desviares o olhar? Porque te tornou apático a essas coisas?

– O quê? – Questionou apanhado de surpresa com a alteração emocional cada vez mais evidente no moreno. – Não, não me tornou apático apenas…

– Aprendeste a seguir em frente? – Eren levantou-se. – Era o que devia fazer? Pensar que por ele já ter morrido, eu tenho que encarar tudo com normalidade? Que tudo está bem só porque ele já não está aqui? Que a única consequência que teve, foi ter morrido? É nisso que devo encontrar conforto?

– Eu não disse nada disso. – Disse calmamente e levantou-se também do sofá. – Eren, o que aconteceu? Não quero acreditar que estás a reagir dessa forma só pelo que acabámos de ver.

– Exato porque depois de ver isso, uma pessoa normal deve ficar o quê? Bem? Deitar-se na cama e dormir de consciência tranquila? – Ironizou. – Foi isso que te ensinaram a fazer?

– Eren, senta-te um pouco e vamos…

– Não, Levi. – Disse, recuando ligeiramente. – Não quero conversar porque ao contrário do que te possam ter dito, não resolve coisa nenhuma.

– Vou perguntar de novo: aconteceu alguma coisa hoje?

– Aconteceram várias coisas ao longo do tempo, mas parece que não devo ser assim uma pessoa tão boa se só tenho crises de consciência de vez em quando. – Disse, passando os dedos entre os cabelos. – Fiz coisas terríveis e quem sabe, até tive aquilo que merecia.

– Não! – Cortou o dono dos olhos cinzentos. – Não mereceste o que aconteceu! Não te atrevas a pensar uma coisa dessas!

– Por que não, Levi? Ambos sabemos que fui eu que acabei por te empurrar mais do que uma vez para o suicídio porque esse é o tipo de pessoa que eu sou. Quem sabe se não matei mesmo alguém e simplesmente não sei? Não me lembro da cara de mais de metade das pessoas a quem humilhei por isso…

– Escuta, tu precisas mesmo de falar com o Mike. – Levi agarrou os braços do moreno, forçando-o a olhar para ele. – Eu próprio fiz várias coisas das quais não me orgulho no passado, mas não posso e nem tu podes viver com esse peso eternamente. Tens que aprender com isso. São cicatrizes que têm lições e eu já disse que te perdoava pelo que aconteceu antes.

– Não devias…

– Mas perdoei e está feito. Não podes mudar isso. – Insistiu Levi.

– Assim como nem tu nem ninguém pode mudar o que aconteceu.

– Não podes viver assim com esses sentimentos de culpa, com todo esse…

– Larga os meus braços, Levi.

– Estou a pedir que por favor, fales com…

– Larga-me! – Falou mais alto e o homem de cabelos negros assim o fez de imediato, vendo o outro recuar.

– Desculpa, Eren. Eu só queria…

– Se começares a ter problemas em também ouvir ‘não’ da minha parte, asseguro-te que nunca mais vês a minha cara. – Disse, procurando as sapatilhas que tinha descalçado e em seguida o casaco. – Não venhas atrás de mim! Quero estar sozinho! – Avisou antes de sair.

– Vais voltar sozinho a esta hora?

A porta fechou-se com um estrondo e Levi hesitou sobre se deveria ou não respeitar aquela vontade do moreno em estar sozinho. Por muito que não quisesse piorar mais a situação, o empresário sabia que não ficaria descansado, sabendo que o moreno estava a sair aquela hora sozinho e transtornado.

Portanto, pediu aos seguranças Eld e Gunther que tivessem atenção à casa enquanto ele se ausentava por alguns minutos. Os dois confirmaram que viram Eren passar por eles e parecia muito agitado. Após essa confirmação, saiu de carro e felizmente, não demorou muito a avistar o moreno.

– Eren…

– Disse para me deixares sozinho.

– Não vou dizer mais nada, mas deixa que te leve a casa. – Disse num tom calmo. – Por favor, Eren. Prometo que não te digo nada durante o caminho todo. Nem te toco ou faço nada. Só não quero que vás sozinho para casa.

O tom de voz ou mesmo as palavras fizeram o moreno sentir-se um pouco culpado porque ele sabia que Levi não lhe faria mal. Nunca o fez, nem mesmo quando ele mais mereceu e agora não seria diferente. Não quis explodir daquela forma na casa de Levi e o receio de que pudesse encontrar alguém na rua àquela hora, também o estava a deixar bem tenso.

Portanto, escolheu aceitar a sugestão do outro que pareceu quase suspirar de alívio e fiel à sua promessa, manteve-se em silêncio durante todo o percurso. Só que Eren sabia que não podia sair do carro sem deixar algo bem claro. Ele tinha exagerado e dito coisas injustas, inclusive na direção do outro.

– Desculpa, Levi… – Murmurou. – Sei que exagerei e não queria ter dito aquelas coisas e muito menos, ter insinuado que não posso confiar em ti.

– Desculpa se piorei a situação, mas gostava que pensasses no que te disse. – Disse Levi num tom cauteloso.

Eren apenas assentiu e começou a sair do carro, mas antes de fechar a porta disse:

– Sei que pode não parecer depois do meu comportamento de hoje, mas… eu continuo a gostar muito de ti, Levi.

Dito isso, fechou a porta do carro e saiu sem esperar por uma resposta que sabia que não seria a que queria ouvir. Ao entrar em casa, Eren ficou satisfeito por ver que tanto Annie como Armin já deviam estar deitados. Tratou da higiene pessoal, mudou de roupa e caiu na cama vendo que tinha algumas mensagens. Várias de Thomas entre os pedidos de desculpa e declarações e melosas e…

 

Eduardo – Mensagem:

Desculpa não ter dito mais nada o resto da tarde.

Tive que ir com o Nelson ao médico. Sim, no meu dia de folga porque a mãe parece estar muito ocupada a comer o irmão jardineiro.

 

Eren não queria e momentos antes nem tinha vontade de rir, mas não resistiu antes de continuar a ler as mensagens.

 

Eduardo – Mensagem:

Parece que está bem. Nem febre tinha, mas o médico perguntou o porquê da inflamação na garganta e sobretudo porque estava lá eu e não a mãe ou o pai.

Brinquei e disse que tinha raptado a criança.

O médico não conhece a ironia e por isso, acabei a ouvir o médico e a minha patroa a berrarem comigo sobre o meu sentido de humor de merda.

Pelo menos, o Nelson está bem :)

Hoje estás a ter muito trabalho? Achas que nos vemos amanhã no parque?

Desculpa as mensagens todas >.<

 

Com um sorriso no rosto, apesar da hora avançada não quis deixar o outro sem resposta.

 

Eren – Mensagem:

Ainda conseguiste manter o teu trabalho?

Se calhar, passo no parque à tarde ;)

 

Eduardo – Mensagem:

Meu deus egípcio, Imhotep! Estás vivo!

 

Eren – Mensagem:

Ahahaha sabes que não morro com facilidade.

Não te queria preocupar, Ankh-su-namun <3

Ainda estás acordado?

 

Eduardo – Mensagem:

A acabar um projeto que tenho que entregar amanhã :/

Confessa que estiveste a rir da minha desgraça :p

 

Eren – Mensagem:

Impossível não rir, mesmo que hoje não tenha muita vontade.

 

Eduardo – Mensagem:

Dia mau?

Não precisas de dizer. Amanhã se apareceres no parque, eu e o Nelson alegramos o teu dia.

Vou pedir assistência também da Bianca.

Não tens hipótese.

Vais sorrir e rir :p

 

Eren – Mensagem:

Contigo por perto parece algo garantido.

O Nelson não estava doente? Tens a certeza que é boa ideia saíres com ele amanhã?

 

Eduardo – Mensagem:

A mãe quer comer o jardineiro e por isso, não posso estar em casa com o filho dela.

#Incestoforever <3

 

Eren – Mensagem:

Ó meu Deus ahahaha

Não devia rir-me disto.

 

Eduardo – Mensagem:

Ri e junta-te a mim no inferno :p

Só de saber que tiveste um dia mau, mereces que te faça rir a noite toda, mas infelizmente o projeto está atrasado e acho que amanhã vais encontrar-me em momento Walking Dead.

 

Eren – Mensagem:

Ahahaha

Não devias pedir folga amanhã? Devias descansar : /

 

Eduardo – Mensagem:

Tranquilo, o café é eterno assim como nosso amor <3

 

Eren – Mensagem:

Ahahaha

Wtf?

 

Eduardo – Mensagem:

Prometo pôr o descanso em dia depois, mas amanhã queria ver-te a ti e à Bianca.

Vou levar uma coisa para todos fazermos amanhã.

É arriscado porque podemos acabar com o Nelson nas urgências a tentar tirar mais qualquer coisa que tente comer, mas estou disposto a arriscar ;)

 

Eren – Mensagem:

Não arranjes problemas ;)

 

Eduardo – Mensagem:

O meu segundo nome é problema.

Minto, na verdade é Filipe.

Agora tenho que voltar ao trabalho, mas amanhã prometo que me dedico mais a fazer-te rir.

 

Eren – Mensagem:

Não precisas ;)

Vá, bom trabalho e vê se arranjas tempo para descansar.

Até amanhã, Ankh-su-namun :D

 

Eduardo – Mensagem:

Até amanhã, Imhotep :D

 

Deixou o telemóvel cair ao seu lado e fechou os olhos. Era disso que precisava naquele momento. De alguém que não lhe exigisse nada e ainda conseguisse como bónus arrancar-lhe sorrisos e a vontade de rir.

Contudo, também não afastava totalmente os pensamentos que por muito que tivesse encontrado alguém como Eduardo, parte dele insistia em dizer que pessoas assim, deviam ficar longe dele. Parte dele não acreditava que merecesse ter pessoas assim na vida dele. Nem ele, nem Nina, ninguém que estava a conhecer agora e acima de todos eles, Levi, a quem já tinha estragado tanto a vida.

E ainda assim, gostando tanto dele não sou capaz de afastar-me e continuo a ter a esperança de que me ame também e que… queira ficar comigo mesmo depois de tudo, mesmo sabendo ele, o monstro que posso ser”.

  


Notas Finais


Até ao próximo capítulo!


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