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História Memórias Rasgadas - Capítulo XLIV


Escrita por: Imagination

Notas do Autor


Obrigada pelos comentários, mensagens, favoritos e claro, a todos os que acompanham a fic!

Um pouco menor que o habitual, mas cá está o novo capítulo!

Capítulo 44 - Capítulo XLIV


Capítulo XLIV

 

À medida que regressavam da área onde se encontrava o lago, Eren não podia deixar de sentir um frio na barriga ao ver que Levi continuava sem largar a mão dele. Caminhava com confiança e com um leve sorriso que esboçava ocasionalmente na direção dele, causando com que o frio na barriga fosse mais intenso. Um casal veio na direção deles e Eren mal podia esconder a tensão, que não melhorou muito depois de o empresário largar a mão dele para apertar a mão de quem o veio cumprimentar.

Contudo, não esperava que em seguida a mão regressasse. Não para segurar a mão dele de novo, mas para que o braço ficasse em torno da sua cintura, aproximando-os mais. Entre o rubor e a incredulidade com que Levi continuava a falar, ignorando os olhares do casal para aquele gesto, o moreno deu por si a baixar ligeiramente o rosto. Só que assim que o fez, pensava no voto de confiança que o empresário estava a tentar transmitir naquele momento ao não esconder aquele gesto de carinho na frente dos outros. Aliás, ele nunca fez questão de esconder coisa nenhuma e não havia um traço de incómodo no rosto dele sempre que recebia os olhares dos outros.

Tão diferente do rapaz que conheceu há uns anos atrás e que se encolhia diante dos olhares, procurando ser o mais invisível na multidão. Ele tinha mudado e não queria ser o único a experienciar isso. Estava a tentar passar-lhe a mensagem de que podia fazer o mesmo. Não de uma vez como Mike também afirmara, mas um passo de cada vez. O importante era dar um primeiro passo e assim que ergueu ligeiramente o rosto, viu o psiquiatra mais adiante de olhos fixos nele a acenar com a cabeça. Acenava positivamente, dizendo que sim, que o que estava a fazer era o correto e ergueu um pouco mais o queixo para mostrar que Eren devia imitar o gesto e sorriu ao ver que o moreno seguia aquela indicação silenciosa.

Um passo de cada vez”, repetiu a si mesmo e encontrou os rostos que o julgavam, mas para os quais encontrou coragem de olhar de frente. Não era fácil. Sentia como se o quisessem forçar a olhar para baixo novamente. Como se dissessem apenas com o olhar que ele não devia ter o descaramento de os encarar de frente.

Eren engoliu em seco, mas manteve o olhar firme. Lutava contra cada um daqueles fantasmas que lhe diziam para sair dali, para baixar o rosto, para pedir desculpa e para fugir. Tentava não escutar as pequenas vozes que o questionavam.

Como é que tens coragem de estar aqui?

Não tens vergonha de os olhar de frente depois de tudo o que fizeste?

Como é que podes achar que tens o direito de estar aqui?

Quando pensava que acabaria por quebrar e ceder, o casal afastou-se e repentinamente, sentiu a mão de Levi puxar pelos colarinhos dele e aproximar os lábios dos dois. Era como magia, a forma como aquelas vozes, aqueles tremores que possivelmente o outro sentiu e toda aquela ansiedade sumia com aquele gesto. E até mesmo com a expressão que lhe mostrou em seguida, acariciando a face dele com cuidado.

– Se sentires tudo isso de novo, basta olhares para mim e eu tiro-te de onde estiveres. Só preciso de um sinal ou uma palavra e eu estendo-te a mão e saímos.

– Às vezes não tenho a certeza que mereço ter alguém como tu na minha vida. – Murmurou o moreno, recebendo mais um beijo.

– Mereces sim, agora vem antes que a Isabel envie a Hanji de novo e aquela louca diga mais alguma coisa inconveniente. – Puxou Eren pela mão e foram em direção ao grupo que se ia juntando enquanto a noiva esperava que todos estivessem preparados para tentar apanhar o buquê.

Levi deixou que Annie e Petra empurrassem o moreno para o meio delas enquanto ele ia ao encontro de Mike, Nina e Armin que comia um pedaço de bolo e tentava não rir de Connie que estava pela vigésima vez a afastar a mulher da mesa dos petiscos. O que não era uma tarefa fácil, visto que ele estava com Estela nos braços.

Bianca estava com Eduardo que cortou mais um pedaço de bolo e trouxe a pequena para junto do grupo, enquanto Reiner ia observando de perto os movimentos em torno da família Smith e também de outros convidados.

– Não vais lá para o meio, pai?

– Huh? Por que haveria de ir? – Perguntou o empresário, acariciando os cabelos da filha que comia o bolo.

– Não és casado. – Apontou a pequena.

– Ela tem razão. – Comentou Eduardo. – Aumentavas as tuas hipóteses.

Levi arqueou uma das sobrancelhas enquanto os amigos riam.

– Eu não vou para o meio de pessoas que estão com vontade de se matar entre elas por um conjunto de flores. – Disse.

– Mas podes casar de novo, pai. – Insistiu Bianca.

– Eu sei que posso, mas o pai não precisa de apanhar o buquê para fazer isso. – Explicou Levi e abaixou-se para colocar a filha nos braços.

Ao fazê-lo virou as costas à contagem decrescente da noiva, que em seguida atirou ao ar o buquê. Várias mãos se estenderam entre os gritos entusiasmados, esperando ser as felizardas que iriam conseguir o “passaporte” para mais um casamento feliz.

– Olha, pai!

Os homem de olhos cinzentos viu uma pequena sombra momentos antes de levantar o braço num ato reflexo para não deixar que o que quer fosse, batesse na filha. No momento, não pensou e em seguida, ponderou que fosse alguma decoração da festa que tivesse caído, mas abriu os olhos surpresos ao ver o que era.

– Vais ter que atirar de novo, Isa! As pretendentes estavam aí perto e não aqui atrás. – Disse, mas os amigos apenas conseguiam rir.

– Nem pensar! – Respondeu a noiva, colocando a língua de fora. – É teu! Estava destinado a ir para as tuas mãos!

– Não és um homem comprometido, portanto, aproveita para pensar nas escolhas da tua vida! – Acrescentou Farlan.

– É agora que já podes pedir o Eren em casamento, pai? – Perguntou Bia entusiasmada.

O rubor no rosto do empresário aliado aos risos dos amigos não ajudou definitivamente a que recuperasse a compostura tão rápido como gostaria. Além disso, viu o sorriso divertido de Eren que se aproximou, dizendo:

– Posso começar com as piadas também?

Por breves momentos, Levi pensou em responder a primeira coisa que veio à sua cabeça, mas depois optou por outra estratégia que lhe pareceu bem mais apetecível. Olhou para Eren de cima abaixo em silêncio antes de dizer:

– Vais ficar muito bem de branco. Eu pessoalmente gostaria de ver um vestido, mas contento-me só com a cor branca.

Ver o rubor intensificar-se no rosto do moreno e mais risos dos amigos, fez com que Levi concluísse que tinha optado pela melhor resposta. Acabou por deixar a filha com o ramo de flores e viu Hanji fazer-lhe sinal, indicando que provavelmente Isabel e Farlan iriam sair dentro de pouco tempo. Afinal de contas, ainda tinham um avião para apanhar.

Contudo antes de ir ao encontro da amiga, Annie que tinha acabado de passar perto da mesa onde se encontravam vários presentes, perguntou:

– Reparei que um dos presentes tinha o nome da Ymir e da Historia, mas elas não vieram.

– As duas têm dificuldades em ter férias juntas, sobretudo devido ao trabalho da Historia. – Explicou Nina. – Já tinham estes dias marcados há meses e por isso, pediram desculpa por não poder estar cá, mas enviaram o presente.

– Mas nem por isso erraram no palpite sobre quem poderia acabar com o buquê nas mãos. – Acrescentou Hanji divertida e puxou o amigo. – Anda, eles têm que sair daqui a pouco e os dois querem falar um pouco contigo antes de se despedirem de todos.

– Ok, ok estou a ir. – Respondeu o empresário, deixando-se levar pela amiga.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

 

Sasha voltava de mais uma visita a uma das mesas e viu que Levi estava parado uns metros mais à frente. Um leve sorriso no rosto dele ao ver que Eren estava com Estela nos braços. Connie não parava de elogiar a filha e foi apenas quando Bianca pediu também para ver a bebé, que Eren se sentou, dividindo a atenção entre as duas crianças e os elogios intermináveis de Connie.

– A pensar em aumentar a família depois do casamento? – Brincou Sasha, oferecendo um copo de vinho ao empresário.

– Obrigado, Sasha. Na verdade, estava só a apreciar a cena, mas o futuro é uma coisa incerta.

– Eu e o Connie queremos uma família grande. – Sorriu. – Acho que a Bia ia gostar da ideia de ser irmã mais velha, sobretudo vendo como o pai está tão apaixonado.

– É bem possível que goste da ideia. Ela perguntou sobre isso...pouco antes do acidente do Erwin. – Bebeu mais um gole de vinho.

Seguiu-se algum silêncio entre os dois. Sasha apenas conheceu Levi através de Connie, visto que este trabalhava no departamento de marketing da Survey Corporation. Ela imaginou o CEO como um homem de negócios, distante e calculista. Ainda que nas raras vezes que o viu, por exemplo acompanhado do falecido esposo, a atmosfera entre os dois era diferente. Profissional quando necessário e de uma cumplicidade visível aos olhos de qualquer pessoa pela forma como trocavam olhares. Mesmo que tivessem trocado poucas palavras naquela altura, ela convenceu-se que o que havia entre os dois era um sentimento muito especial que trazia luz à vida um do outro.

Foi um choque quando Erwin perdeu a vida e curiosamente, foi a partir dessa data que numa das visitas a Connie, ela trocou as primeiras palavras mais pessoais com Levi. Ele na altura mostrou um sorriso triste, mas agradeceu as palavras. Não foi a figura profissional, o CEO ou empresário que viu naquela ocasião. Viu a pessoa que estava a tentar ser forte depois de perder o marido. Viu vulnerabilidade e ao mesmo tempo uma força incrível para levar a vida para a frente.

Mais tarde, Sasha engravidou e em tom de brincadeira, Connie disse que Levi seria o melhor padrinho de todos, já que foi ele um dos responsáveis para que conseguisse aquele trabalho na Survey Corporation. O empresário sorriu e disse que seria uma honra e um gosto ser padrinho do filho deles e a relação que já era de amizade, ficou ainda mais próxima.

Levi não era o típico empresário frio e que mal sabia os nomes das pessoas que trabalhavam para ele. Pelo contrário, ele sabia até mais do que os nomes e preocupava-se com o bem-estar dos seus funcionários. Graças a isso, Connie passou a ter horários mais leves com o avançar da gravidez de Sasha para que pudesse estar mais presente no dia-a-dia da esposa. Nada disso afetou o salário e ainda por cima, o funcionário estava também a ter direito a uma licença paternal para poder acompanhar os primeiros meses de vida da filha.

Sasha via nessas coisas e em outros pequenos gestos, um coração que com certeza atraiu Erwin. Depois da morte deste, a mulher desejou que Levi encontrasse alguém merecedor daquele coração. Queria muito que alguém assim fosse feliz porque também tinha a certeza que quem ficasse com Levi também seria bastante afortunado.

– Acho que o Erwin te diria para seres feliz de novo.

– Sim, ele teve essa conversa comigo. – Confirmou.

– Então não esperes muito mais. A felicidade está ao teu alcance e eu acho que a devias agarrar. – Incentivou Sasha.

– Acho que tens razão. – Concordou, mantendo um sorriso leve.

– E outra coisa, eu estive a falar com a Bianca e de como esperava vê-la no começo das aulas. – Viu um semblante mudar para um mais carregado. – Sei que é a tua filha e és tu que deves tomar as decisões que achares mais acertadas, mas como mãe acho que te devia dizer... Nós sempre vamos querer proteger os nossos filhos de tudo o que lhes cause tristeza, dor e sofrimento. É o normal. Preferimos mil vezes que isso nos atinja a nós do que a eles, mas a vida não nos permite ficar para sempre num mundo de cristal e se eles não lidarem com aquilo que de mal a vida tem para oferecer, nunca vão crescer. Se ela não chorar, não cair, não vai aprender a levantar-se. Não tens que a deixar entregue a si mesma, mas tens que a deixar crescer pouco a pouco. Diz-lhe que é difícil, mas que ela é mais forte do que pensa e que qualquer coisa, tu estás lá e outras pessoas também podem estar.

Levi escutou as palavras em silêncio e vendo a filha rir de qualquer coisa que Eren teria dito.

– Tudo o mais quero é que ela seja feliz, que nunca tenha que passar por nada daquilo que eu passei...

– Levi, ela vai ter que cair várias vezes mas tu vais estar ali para dizer exatamente o que ela precisa de saber. Ela tem muita sorte por te ter como pai. Ela nunca vai ter dúvidas sobre isso.

– Não é fácil tomar as decisões certas...

– Nunca é e se estiver a ser fácil, então estamos a fazer algo de errado como pais. – Brincou um pouco.

– Tens razão. – Concordou Levi com um ligeiro sorriso. – Obrigado, Sasha.

A amiga sorriu e os dois reaproximaram-se do convívio que já ia longo e com várias brincadeiras. Por vezes, podia ser interrompido por alguém que não fosse do círculo de amigos, mas de conhecidos. Usualmente era Levi, a pessoa mais requisitada para conversas que ele se habitou a ter, mas que se pudesse escolher, preferia ficar mais entre o convívio com a filha e os amigos.

Depois da ida de Farlan e Isabel para o aeroporto alguns convidados também começaram a ir embora e pelo avançar da hora também Sasha, Connie e a pequena Estela preparavam-se para ir para casa. Assim como tinha prometido, Levi decidiu emprestar-lhes o carro mas Reiner insistiu em permanecer perto da família Smith e por isso, Oluo que estava também a cuidar da segurança no local, acabou por ser o condutor escolhido.

– Pode confiar em mim, senhor Smith.

– Eu sei que posso. – Assegurou Levi. – Obrigado pelo bom trabalho de sempre e quando os deixares em casa, podes trazer o carro só amanhã sem problema. É fim de semana, acho que vou aproveitar para estar em casa.

– Com certeza, senhor Smith. Até amanhã então.

– Até amanhã. – Respondeu, vendo o condutor entrar no carro e sorriu para Bianca que acenou de volta antes de ir a correr novamente ao encontro de Nina e Mike que estavam a ajudá-la a imitar uma cena de casamento entre ela e Kuro.

– O próximo jantar é em nossa casa como agradecimento. – Disse Connie já dentro do carro, mas sentado ao lado de Oluo.

– Já tenho ido várias vezes a vossa casa. – Comentou Levi. – Desta vez, venham vocês ver-me a mim e à Bia. Prometo que também sei cozinhar.

– Aquela lasanha maravilhosa seria ótimo. – Acrescentou Sasha sonhadora.

– Uma lasanha maravilhosa a caminho. – Brincou o empresário que em seguida, passou a mão na cabeça da bebé que dormia. – Até depois, pequena.

– Até amanhã, padrinho. – Disse Sasha, fazendo uma voz mais infantil e ele sorriu enquanto acenava ao casal.

O carro começou a afastar-se, assim como o empresário que viu Reiner vir ao seu encontro descontraidamente. O segurança ia dizer-lhe algo quando um barulho persistente cortou o raciocínio do momento, fazendo o loiro retirar um pequeno aparelho do bolso. Os olhos azuis mostraram confusão e em seguida, pânico ao olhar para o carro.

– Oluo! Pára o carro!

– Reiner, o que foi? – Perguntou Levi apreensivo.

O loiro pegou no telemóvel.

– Sai do carro, Oluo! Saiam todos desse carro!

O som do aparelho tornou-se mais insistente e Levi reconheceu o que era. Era um dos dispositivos de segurança criados na Survey Corporation que dava alerta para qualquer problema no carro ou qualquer objeto suspeito que pudesse… Sentiu um arrepio terrível.

Virou-se na direção do carro, mas antes que pudesse começar a correr, Reiner puxou-o e atirou os dois ao chão antes de uma forte explosão. Usou o corpo proteger o homem mais baixo dos estilhaços que apesar da distância ainda se espalharam a ponto de atingir várias pessoas. Porém, Levi foi o primeiro a querer mover-se, forçando Reiner a sair. O loiro ainda estava um pouco atordoado e ligou o intercomunicador.

– Gunther! Eld! Afastem as pessoas e chamem os serviços de emergência agora!

Esses seguranças e outros procuraram distanciar o máximo possível as pessoas, à medida que outros começaram em busca de mais algum engenho perigoso que pudesse existir. Claro que essa ideia causou o pânico entre os convidados e Reiner sentiu-se gelar ao ver Levi correr na direção do veículo em chamas.

– Sr. Smith é perigoso!

Contudo, o empresário recusou-se a ouvir tal aviso. Aproximou-se da viatura em chamas, pedindo por tudo o que fosse mais sagrado por um milagre. Queria tirá-los de lá. Queria ser capaz de tirá-los de lá. Estava muito calor, demasiado calor mas abaixou-se na frente do veículo em chamas. Não pensou duas vezes antes de olhar para o interior do mesmo, mas soube que seria mais uma daquelas imagens que dificilmente sairia da sua mente. Com a força do explosivo, o carro chegou a capotar e por isso, viu a posição demasiado perturbadora dos ocupantes, mas logo notou o que devia ser a sua prioridade. Envolvida no pequeno cobertor e os braços da mãe, estava a pequena bebé que Levi esticou os braços, ignorando a temperatura alta para começar por retirá-la de lá.

– Sr. Smith não pode ficar aqui, ainda não é…

Quando conseguiu retirar a criança, viu as próprias mãos tremerem ao procurarem qualquer indício de que a criança respirava.

– Eu não sei se ela está a…

Reiner puxou o empresário mais para atrás para distanciar-se e repentinamente, deu de caras com Zeke que quase de imediato, retirou a criança das mãos de Levi. O médico depressa começou a verificar os sinais vitais e o homem de cabelos negros sentiu como se estivesse a ter tonturas e não sabia ao certo se era pelas altas temperaturas ou se pelo facto de ver o médico fazer massagens cardíacas. Não era só impressão dele, a bebé não estava de facto a respirar e pelo que tinha visto, Connie parecia ter o pescoço numa posição muito estranha, mal conseguiu reconhecer Oluo e Sasha… ela parecia ter menos sangue que os restantes, mas não tinha a certeza se a conseguiria retirar do carro.

Ouviu as sirenes de fundo e a voz preocupada de Reiner a tentar falar com ele, quando isso se cortou com o choro da bebé. Viu também o alívio no rosto de Zeke que lhe devolveu a criança, mas ao reaproximar-se para ver o interior do carro, afastou-se pouco depois.

– Temos que nos afastar daqui. – Disse o médico.

– Mas eles ainda estão lá dentro! – Relembrou Levi com uma voz trémula. – Reiner segura na Estela, eu vou…

– Não! – Negou o segurança, puxando o empresário e também Zeke. Em seguida, teve que empurrar também Armin ao ver que vinha aproximar-se. – Ninguém se aproxima daquele carro, entendido? Não é seguro!

– Mas eles estão… o Oluo, o Connie, a… – Ia dizer Levi.

– Escuta, a Sasha vai precisar de ajuda para sair, aliás os três vão precisar de ajuda porque estão encarcerados. – Explicou Zeke, mas parecia também um pouco em choque. – Sobre ela não tive tempo de tirar conclusões, mas o Connie estava… eu lamento dizer, mas eu não acho que…

– Onde está a Bia? – Perguntou Levi com a bebé nos braços que tinha a pequena manta ensanguentada e ainda não tinha parado de chorar.

– A Nina, a Annie e a Hanji levaram-na depois de o Eren as mandar sair dali. – Armin respondeu. – O Gunther e o Eld foram com elas. Não acho que a Bianca tenha entendido o que aconteceu.

– É melhor assim. – Comentou Reiner.

Entretanto, Eren estava quase paralisado pelo cenário. Ainda se ouvia pessoas em pânico a correr ou a gritar. Os serviços de emergência acabavam de chegar e tentavam lidar com as chamas da melhor forma possível. Porém, notou que no meio daquela confusão em que até Grisha prestava algum auxílio a pessoas que tinham sido atingidas por estilhaços, Dina permanecia no mesmo lugar, observando as chamas. Não como alguém que estivesse em choque, mas era como alguém que estivesse a assistir a algum espetáculo.

A certa altura, ela apercebeu-se que estava a ser observada e olhou para o moreno e… sorriu. Não o tipo de sorriso simpático e falso que lhe dirigiu durante a festa, mas um que reconheceria não importa quantos anos passassem. Sentiu um arrepio, mas ao mesmo tempo um impulso motivado pela raiva.

– Foste tu, puta de merda! – Falou e a mulher simplesmente manteve o olhar pouco impressionado de quem já estava habituada a ver aquelas explosões de raiva.

No entanto, ele não teve tempo de aproximar-se dela. Eduardo que também não sabia bem o que fazer e esteve parado em choque ia agarrar o braço do moreno, mas foi Mike que interveio. O psiquiatra agarrou Eren, pedindo que se acalmasse e o moreno então notou que Dina virava as costas e voltava para a falsidade que lhe era tão familiar, fingindo preocupação pelas pessoas.

Eduardo ia perguntar se podia ajudar quando notou num rosto conhecido entre a confusão. Alguém que não tinha sido convidado e deixando que Mike se ocupasse de acalmar Eren, foi atrás do rosto familiar que parecia virar costas e ir embora do local. Correu para o alcançar e assim que o fez…

– O que estás aqui a fazer? – Perguntou. – Não foste convidado.

– Precisava de vê-lo.

– Vê-lo a quem? – Perguntou Eduardo confuso e viu que os olhos do outro focaram-se num grupo em concreto. Atirou ao ar a primeira coisa que lhe veio à cabeça. – Estás a falar do Levi? Espera, tu… – Sentiu um golpe forte na cabeça antes de perder os sentidos.

– Combinámos que irias vê-lo só de longe, Tiago. – Disse o responsável pelo golpe e com roupas escuras.

– Eu sei, mas foi mais forte do que eu. – Respondeu. – Não lhe faças mal. Ele até é…

– Desde quando é que conheces este filho da puta? Espera, não respondas. Às vezes, esqueço-me que abrias as pernas a qualquer um. – Disse o outro. – De qualquer das formas, pode causar-nos problemas agora que te viu… não posso fazê-lo desaparecer como gostaria, mas preciso pelo menos de retirar-lhe alguma credibilidade.

– O que vais fazer?

– Aprende, Tiago. Observa e aprende. Agora vamos embora porque como te disse, não podemos ser vistos aqui.

 

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

– Parece que irei ter que encontrar o Nile para o relembrar o que lhe pode acontecer se interferir desta forma. – Dizia Dina enquanto pousava a mala sobre a mesa.

– E a tua fonte tão confiável que com certeza, ajudou-o naquele espetáculo. – Comentou Grisha. – Nem vale a pena olhares assim para mim, Dina. Nós os dois sabemos que não foi o Nile que colocou aquele explosivo lá. Alguém fez aquilo por ele. A tua fonte tão confiável que aparentemente ao ver dinheiro, esquece a quem deve obediência.

– Eu desse trato depois. – Comentou, vendo o filho parado perto da porta da sala. – Zeke? O que foi?

– Não posso fazer isto…

– Fazer o quê? – Perguntou Dina confusa.

– Podíamos ter matado uma criança, um bebé! – Disse exasperado perante a indiferença dos pais. – Eu não posso fazer uma coisa destas. Não posso ir tão longe a este ponto!

Grisha revirou os olhos.

– Este não é o momento para teres crises de consciência.

– Tu concordas com isto?! – Perguntou Zeke incrédulo.

Dina fez um gesto para o marido sair e este suspirou, mas resolveu obedecer. Assim que o fez, a mulher aproximou-se do filho, que estava bem mais abalado do que ela pensava. Não era comum vê-lo perder a compostura, mas infelizmente conhecia a razão por detrás disso. Graças aquele casamento falhado do filho com uma mulher que além de insuportável, não deu o que ele tanto queria: uma família; Zeke podia ter muitos pontos fortes e qualidades, mas havia certos objetivos ou sonhos dele que Dina considerava uma fraqueza. Era óbvio que a história de perder um filho o tinha afetado mais do que o Zeke alguma vez iria admitir e ver que quase colocaram o fim à vida de uma criança, pode ter remexido com velhas memórias de novo.

Nunca foi intenção dela que algo assim acontecesse. Não imaginava que Nile fosse cometer a loucura de tentar matar a família Smith. Sim, se as coisas tivessem corrido como aquele homem desprezível esperava, ele teria muito provavelmente assassinado tanto Levi como Bianca naquele carro. Nile tinha perdido o rumo das coisas e agiu por puro ódio, colocando em causa os planos de Dina. A mulher sabia que teria que dar uma lição inesquecível para que uma coisa dessas não acontecesse de novo. Ainda que fosse verdade que a intenção dela era que tanto Levi como Bianca desaparecessem, assim que ela conseguisse pôr Zeke naquela família. Bom, talvez Bianca pudesse viver mais um pouco, mas depois seria um incómodo com o dinheiro quase todo a ir para as mãos dela quando atingisse a idade certa.

Bom, não tenho tempo para pensar nisso agora. Preciso de resolver isto primeiro”.

– Zeke, tu sabes que nem eu nem o teu pai estamos por detrás do que aconteceu. – Explicou num tom calmo, passando a mão no braço do filho.

– Mas estão a falar disto como se não significasse nada e…

– Eu não imaginava que o Nile pudesse ir tão longe e desculpa se parece que estamos a ser insensíveis, mas sabes que eu e o teu pai sempre tivemos esta forma de lidar com as coisas… parece mais fácil, se não estivermos todos em choque ou deprimidos pelo que aconteceu. – Explicava.

– Mãe, acho que vou voltar ao hospital. – Respondeu, distanciando-se. – Não posso ficar aqui sem fazer nada.

– Faz o que achares melhor. Lamento pelo que aconteceu e com certeza, farei o Nile pagar por isso. – Disse e recebeu um beijo no rosto do filho.

– Até logo.

– Até logo. – Disse, vendo o filho sair.

Hum… parece que terei que ter uma longa conversa com ele. Odeio quando fica tão sentimentalista, mas isto até pode jogar a nosso favor. Afinal de contas, ele não vai para lá fingir interesse porque está mesmo preocupado”, sentou-se no sofá, retirando os sapatos, “Além disso, o Levi parecia bem perturbado no momento… perturbado, significa bem mais vulnerável e pergunto-me se o posso continuar a fazer sentir-se dessa forma sem ter que recorrer a métodos extremos como este que o Nile utilizou. O Erwin pode ter feito muita coisa, mas uma pessoa perturbada psicologicamente sempre será uma pessoa danificada por dentro. É só preciso que vá quebrando… quebrando até chegar essa coisa que não faço ideia como saiu do lixo”.

 


Notas Finais


Até ao próximo capítulo!


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