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História Memórias Rasgadas - Capítulo XLIX


Escrita por: Imagination

Notas do Autor


Obrigada pelos comentários, mensagens, favoritos e a todos os que acompanham a fic!

Capítulo 49 - Capítulo XLIX


Capítulo XLIX

 

A mulher de cabelos loiros caídos sobre os ombros e de olhos fixos em alguns depoimentos antigos, apesar da hora avançada da noite, era incapaz de pensar em dormir. Depois de tanto tempo com mais respostas do que perguntas, as peças do puzzle começavam a encaixar e revelavam várias histórias diferentes e pessoas com vários interesses no desfecho da história.

Tudo tinha começado com o caso que lhe deram como uma piada, uma vez que era a nova estagiária. O seu supervisor da altura entregou-lhe um daqueles processos empoeirados e no qual ninguém queria pegar. A razão? Colocava suspeitas em pessoas muito influentes de Sina devido a dinheiro, homicídios, acidentes mal explicados, muitos interesses e um labirinto sem fim de advogados do outro lado que tornavam a tarefa de resolver aquele mistério quase impossível.

O seu supervisor não esperava que ela conseguisse fazer nada. O objetivo era somente fazê-la perder tempo e ver como se preocupava com um processo sem solução à vista. Aliás, a solução dizia ele, era a mais óbvia: deixar o Estado assumir o controlo da fortuna e esquecer todas as especulações em torno da morte do magnata dos diamantes, Lohan Andrade.

Historia teria que confessar que em diversos momentos fechada no escritório mal iluminado e escutando as piadas dos colegas, ela pensou que o melhor seria encarar aquilo como uma brincadeira de mau gosto e não insistir naquele processo. Seria tão mais fácil pedir que a libertassem daquela espécie de castigo e esperar que lhe dessem um processo em que realmente pudesse trabalhar. O supervisor chegou a dizer que aquilo serviria de lição porque aos olhos dele, Historia era apenas mais uma cara bonita que se serviu do charme e boa aparência para conseguir terminar o curso de Direito. Pensava que ela escolheu aquele curso apenas pelo prestígio e não porque possuísse alguma vocação na área.

Durante a vida dela várias portas ora se abriram ou se fecharam por opiniões semelhantes. Porém, ela recusava-se a aceitar que a rebaixassem. Não deixaria que a sua carreira de sonho desde dos tempos criança, se transformasse numa piada nos olhos dos outros que se recusavam a reconhecer a sua vocação e gosto pela profissão.

Alimentada por essa ideia e também por ser contra desistir somente porque tinha uma dificuldade pela frente, na altura a jovem advogada começou a ler, mais uma vez, o longo processo cheio de interrogações. Tirou apontamentos, procurou informações em bases de dados ou outras fontes que não incluíssem numa primeira fase falar com ninguém. Só depois chegou à conclusão de que depoimentos seriam necessários ou pelo menos, alguns testemunhos informais. Ela gostava de chamar testemunhos informais àqueles momentos em que se servia de alguma desculpa ou charme para conseguir falar com algumas pessoas. Só que naquele caso, conseguia apenas chegar a alguns indivíduos, dado que outros não se deixariam iludir por palavras ou sorrisos bonitos.

Com a exceção daqueles que se recusavam a falar sobre a vida do magnata dos diamantes, fosse por razões de sigilo exigidos pelos advogados ou simplesmente porque não queriam estar envolvidos num caso desses, Historia conseguiu um momento de sorte. Uma entrevista com uma antiga empregada de limpeza que trouxe um elemento novo àquele processo. Um aspeto importante que o advogado que começou por tratar daquele processo ignorou por incompetência ou propositadamente. A advogada acreditava mais na segunda hipótese, pois segundo as palavras da senhora com quem conseguiu falar, Lohan estava a ter um caso com uma mulher fora do casamento. A empregada tentava justificar isso com a frustração do patrão com um casamento assente nas aparências e que apesar do empenho dele, não deu o filho homem que tanto ele desejava. Um casamento repleto de frustrações, aparências e incompatibilidade de personalidades fez com que aquele homem poderoso procurasse outra pessoa. A identidade dessa nova mulher não era clara, mas a empregada revelou outra coisa surpreendente. Dizia que numa das vezes, o motorista que levava Lohan ao local dos encontros, comentou que a empregada nunca acreditaria de quem se tratava. Sugeriu várias vezes que seria uma mulher que levava uma vida, onde não era possível descer mais baixo.

A partir desse momento, Historia concluiu que Lohan estaria muito provavelmente a encontrar-se com alguma prostituta. Talvez tivesse sido como tantos outros homens que caíam uma vez na tentação e por vezes, alimentavam a ilusão de que a prostituta os amava. Usualmente era mais fácil cair nessas ilusões quando existia um desespero por ser amado por alguém. Por ter aquilo que não tinha em casa. Era um cenário bem plausível, só que apresentava outras questões.

Deduzindo que ele se encontrava de facto com uma prostituta, por que razão após a morte dele, ela não apareceu e tentou ficar com alguma parte do dinheiro dele? Até porque o motorista aparentemente teria comentado sobre a suspeita dessa mulher da vida ter engravidado e daí que o patrão estivesse tão mais contente nos últimos tempos. A ser verdade, a mulher poderia ter conseguido uma boa quantia. Por que não se revelou? Será que os advogados dele não a encontraram? O filho não era dele? Seria possível ela não saber quem ele era de verdade? Pouco provável, embora não fosse impossível. E a criança? Existiu de facto? Nasceu e ainda estaria viva? Seria menino ou menina? Se fosse menino, o testamento deixado para trás não seriam as palavras de um homem louco, mas as palavras de um pai a querer deixar praticamente a maior parte da fortuna ao único filho homem. Em momento algum, Lohan excluiu a mulher com quem estava casado ou as filhas do dito testamento, mas muitos consideraram que a referência ao filho que herdaria a maior parte, só podiam ser devaneios de um homem doente. A mulher atestou durante muito tempo após a morte do marido, que Lohan não era quem todos julgavam, mas sim um homem bastante desequilibrado com graves perturbações mentais. Havia algum fundo de verdade nisso ou eram apenas palavras de uma mulher que sentia humilhada por ter sido trocada por uma prostituta que podia ter dado a Lohan, o que ela nunca conseguiu?

Um filho homem. O maior desejo de Lohan.

O processo estava cheio de buracos e perguntas que não foram colocadas ou investigadas, mas aquele depoimento da empregada ajudou a abrir novas portas. Infelizmente, após alguns encontros com a senhora Eva, esta adoeceu pouco depois acabando por falecer. Ficaram as palavras dela registadas tanto em papel como numa gravação que teve o cuidado de fazer e guardar com várias cópias em locais diferentes. Quanto mais via as ligações de Lohan com outras pessoas, mais paranoica ficava sobre a sua própria segurança e por isso, decidiu sempre fazer cópias de novas informações que obtivesse e guardá-las em formatos e locais diferentes. Às vezes, pensava que se alguma coisa lhe acontecesse, gostava que alguém desse continuidade e não deixasse aquele caso cair no esquecimento. Não queria que optassem pelo mais simples e entregassem a fortuna ao Estado apenas porque era mais fácil fazer isso do que procurar respostas que pelos vistos, não interessavam a várias pessoas.

Historia tentou sem sucesso encontrar a mulher misteriosa com quem Lohan se envolveu e ao mesmo tempo, procurou conhecer mais de Lohan. Queria uma avaliação psicológica dele. Queria saber se de facto, o homem que se mostrava à imprensa e de vida até bastante reservada, era tão diferente assim. Queria algo que confirmasse ou não se o homem possuía algum distúrbio e para isso era preciso falar com amigos próximos, pessoas que o conhecessem longe dos olhares dos outros. O problema era que essas pessoas se moviam em meios que os protegiam com dezenas de advogados ou se decidiam falar, não acrescentavam qualquer informação nova.

Lohan também nunca tinha consultado um psicólogo. Pelo menos até onde conseguiu descobrir e por isso, Historia optou por consultar um especialista e pedir que baseado na informação que ela tinha reunido até ao momento, a ajudasse a traçar a personalidade do magnata dos diamantes.

 

Flashback

– Então, o que pretende é que ajude a traçar o perfil psicológico de alguém? – Concluiu o homem do outro lado da mesa, que parecia analisar cautelosamente cada palavra que a advogada dizia.

– Sim. Penso que será importante para entender o que aconteceu e retirar algumas acusações injustas acerca da instabilidade psíquica do meu cliente.

– O cliente que pelo que entendi, está morto. – Apontou.

– Ouvi dizer que é o melhor na sua área, Dr. Zacharias. Peço também que compreenda que se trata de um caso bastante sensível e daí que não possa dar-lhe tanta informação. Se isto se mostrar tão útil como eu acredito que seja, talvez possa falar um pouco mais do caso que tenho em mãos.

Fim do Flashback

 

Foi dessa forma que conheceu Mike e pouco depois Erwin, pois Historia não podia deixar passar a oportunidade de falar com um dos empresários que embora não fosse um amigo chegado de Lohan, privou com ele um par de vezes e estava disposto a falar sobre o tema sem um advogado por perto. O que não deixava de ser surpreendente, mas ao que parece Erwin mostrou-se interessado na persistência e dedicação dela num caso que Mike já tinha deduzido que lhe foi atribuído por ser uma causa perdida e sem solução. No entanto, Historia insistia que iria desemaranhar aquela teia e descobrir o que havia por detrás de todas as perguntas.

Sem nunca revelar quem estava a investigar ou pormenores importantes, Historia concluiu que Lohan não podia ser aquela pessoa que a mulher descreveu. Essa que acabou por ser internada após matar as três filhas e foi diagnosticada com vários distúrbios psicológicos. Que Mike tivesse tratado desse caso também era uma sorte e o psiquiatra foi bastante direto quando falou que não acreditava na reabilitação para aquela mulher que matou a sangue frio as três filhas.

Historia não acrescentou nada a esse comentário, mas também acreditava que por ciúmes, vingança e mais ideias maldosas na cabeça daquela mulher desequilibrada, ela também tivesse matado o marido. Lohan não encaixava na pessoa que morreria num acidente, sobretudo numa altura tão crítica como seria aquela em que supostamente estava feliz porque ia ter um filho e falava em deixar a mulher.

 

Flashback

– Eram mais os meus pais que falavam com o Lohan. Ele era alguém bastante reservado relativamente à sua vida privada. – Comentava Erwin pensativo. – Como disse, falei apenas um par de vezes com ele e na altura, estava acompanhado pela minha mãe.

– Ela não comentou nada de diferente acerca dele? – Perguntou Historia.

– Pelo que entendi, ele para ti era uma espécie de conhecido. – Comentou Mike pensativo. – Mesmo não o conhecendo muito bem, ele pareceu-te diferente da última vez que se falaram?

– Sinceramente não me recordo. – Admitiu Erwin. – Embora a minha mãe tenha dito algo como… que ele parecia mais feliz do que antes, mas eu era novo, nem sempre prestava atenção a essas coisas. Ainda estava muito focado naquilo que se iria transformar na minha carreira.

Historia sorriu enquanto escrevinhava no papel.

– Acho que ambos já concluímos que estás com o caso do Lohan nas mãos. – Falou Mike e a advogada decidiu não negar. – Mas só não entendo por que razão te interessa um caso em que muito provavelmente o dinheiro irá para o Estado. As filhas foram assassinadas e a mulher está internada.

– Quero respostas aos buracos que há neste processo. – Limitou-se a dizer sem referir as outras coisas das quais já tinha conhecimento. – Será que conseguiria falar com o Nile Dok ou com alguns dos Jaegers? É bastante difícil contactá-los sem passar por uma teia de advogados.

Os dois homens trocaram olhares.

– Se levares uma saia curta talvez convenças o Nile. – Disse Erwin e Mike riu.

– Não aconselhes essas coisas. – Advertiu Mike.

– Ah, então é esse o tipo de pessoa. – Falou Historia com um ar de desagrado. – Pensava que ele só tinha ar de pervertido nas fotos, mas afinal é mesmo esse tipo de criatura…

Fim do Flashback

 

No fim, o depoimento de Nile foi apenas desagradável e inútil.

O certo é que anos depois, como se quisesse testá-la, Erwin acabou por passar alguns processos para as mãos da advogada que deixou ótimas impressões. Tanto que depois de surpreendê-la com a presença de Levi ao lado dele, Erwin pediu que tratasse do processo que dizia respeito à família Ackerman. Novamente, uma fortuna com um herdeiro sem nome mas que naquele caso com as informações que Erwin já tinha, foi mais fácil ligar as coisas a Levi. Um caso que se resolveu com mais facilidade do que pensava, mas que a fez olhar várias vezes para algumas informações. Era quase uma tentação ligá-las ao outro processo, mas com tantos buracos pelo meio, havia muito espaço para especulação e coincidências estranhas. Ela não podia assentar as coisas sobre isso. Teria que ter factos e não especulações.

O certo é que acabou por ter que deixar isso um pouco de lado com o trabalho que conseguiu na faculdade a tirar-lhe tempo e depois veio o acidente misterioso e trágico de Erwin. Mais uma investigação que não queriam abrir ou preferiam deixar com várias perguntas no ar, mas Historia não aceitou uma coisa dessas e apoiada por Mike, ainda tentava encontrar respostas para o que tinha acontecido.

Encontrou novos becos sem saída, mas sempre que conseguia avançar em alguma direção, o certo é que alguma coisa nova acabava por acontecer. A tentativa de rapto de Bianca e agora a explosão no casamento de Isabel e Farlan. Muitos não veriam qualquer ligação entre os acontecimentos, mas Historia reparou que sempre que esteve perto de alguma coisa importante, acontecia outro evento que a sobrecarregava com mais trabalho, com mais perguntas e menos respostas.

Contudo, desta vez teve novamente um momento de sorte. Reiner tinha sido atacado na suposta casa vazia de Nile que estava em parte incerta e a ser procurado pelas autoridades. Era difícil não associar esse desaparecimento com os acontecimentos recentes, sobretudo quando aparentemente teriam drogado Reiner e deixado uma mensagem nas costas dele.

Quando Levi lhe pediu que acompanhasse Eren à esquadra para apresentar queixa, Eduardo estava presente e forneceu-lhe mais informação que desconhecia. Tiago, alguém com quem Levi manteve uma relação antes e parecia não estar a aceitar o fim das coisas, esteve presente num casamento para o qual não foi convidado. Obviamente manipulado por alguém, tentou convencer Eduardo a juntar-se a ele e a mais outro ou indivíduos ainda encobertos pelo desconhecido.

Historia tinha a certeza, iria encontrar respostas nessas pessoas. Não todas as respostas, mas uma grande parte.

Só espero conseguir isso antes que mais alguma coisa se descontrole…”, pensava a advogada, acabando de escrever as novas informações.

– Loirinha. – Chamou a voz ensonada da mulher que se debruçava sobre a loira, abraçando-a. – Vem dormir.

– Já vou, Ymir. Estou mesmo a acabar. – Respondeu Historia com um sorriso.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

Eren não conseguia dar muita atenção ao enredo do filme que decorria na televisão. A cabeça dele ainda estava na tarde em que teve Historia regressou à casa de Levi e pediu que a acompanhasse até à polícia para apresentar queixa. Era um acontecimento previsível e ao mesmo tempo inesperado para o moreno, pois ao mesmo tempo soube que aquilo iria acontecer, só que quem sabe, não esperasse que fosse já no dia seguinte.

Contudo, assim como Historia explicou, ele não podia adiar aquilo até porque teriam que ir ao hospital primeiro para ter um relatório médico que documentasse as agressões recentes. Mesmo que fosse evidente que a presença negativa de Thomas não fosse uma coisa recente. O que mudava agora era o acrescentar das agressões físicas. A perseguição, a violência psicológica também foram outros fatores em que a advogada insistiu. Essa que vendo a expressão ainda adoentada de Eduardo acabou por saber também o que lhe tinha acontecido.

Por alguma razão que o moreno desconhecia, Historia ficou bastante interessada no que Eduardo tinha para dizer e insistiu que também ele fizesse novas análises. O moreno ainda tentou argumentar que com certeza Grisha teria medicado o amigo com alguma coisa para apagar possíveis pistas que conduzissem a ele.

 

Flashback

– Não confias mesmo nada no teu pai. – Comentou Historia.

– Se fosse a ti também não confiaria. – Aconselhou o moreno.

– Não te preocupes. Faço questão que sejam vistos por outro médico e relativamente às análises, há coisas que nem mesmo o Grisha pode alterar. Não quero análises ao sangue, Eduardo por isso, vou pedir que os deixes retirar alguns fios de cabelo.

– Por mim não há problema.

Fim do Flashback

 

O dono de olhos verdes que não era grande apreciador de idas ao hospital diria que se sentia estranhamente calmo lá e a razão disso seria muito provavelmente pela presença de Eduardo. Todavia, nem mesmo as palavras de conforto e encorajamento do amigo ajudaram Eren a ficar menos nervoso quando se viu diante de agentes de autoridade. Um deles ao ouvir Historia explicar qual era o tema da denúncia, deixou escapar um sorriso jocoso. Ver essa mesma reação de novo, fez o moreno encolher-se um pouco na cadeira. Concluiu que não estava nem um pouco preparado para ter aqueles que deviam prestar-lhe auxílio, rir na cara dele. Já esperava até algum comentário sobre se não era homem suficiente para se defender ou mesmo qualquer insulto homofóbico. Não seria o primeiro e infelizmente, sabia que também não seria o último.

 

Flashback

– Se no decorrer do depoimento do meu cliente vir no seu rosto mais algum sorriso desse ou ouvir sequer algum comentário desrespeitoso, serei obrigada também a instaurar um processo a cada um de vocês que participar deste triste espetáculo. – Historia cortou o que o agente ia dizer e todos pararam para olhar para a loira, inclusive Eren que até então havia escutado um tom de voz bem calmo e doce de parte da mulher, que agora parecia bem mudado. – O que vamos denunciar é um crime e o mínimo que deviam demonstrar é respeito. Aconselho também a que tratem disto com seriedade e alguma celeridade também. – Cruzou as pernas. – Acredito que ninguém aqui quer ficar do lado errado quando sou a mandatária oficial do Sr. Smith. – Viu alguma tensão nos homens da sala.

Fim do Flashback

 

A atitude da loira surpreendeu um pouco Eren e sem dúvida, passou uma mensagem muito clara aos agentes. Só que mesmo com o profissionalismo, expor o que tinha acontecido e que a perseguição de Thomas era recorrente não foi fácil. Havia provas que o moreno nem imaginava que Historia tivesse acesso, mas antes de ir ao seu encontro, a loira pediu e teve acesso a registos de chamadas telefónicas e mensagens.

No fim do que Eren disse, a advogada não aceitou que ainda fossem analisar a situação, insistindo que não havia nada que justificasse a liberdade de Thomas. Mencionou alíneas do código penal sem dar oportunidade dos agentes de autoridade ripostarem e venceu, acabando por quase obrigá-los a executar o mandado de prisão. Ao que parece alguma argumentação, uma ou outra menção do nome Smith e era possível ter um juiz ao telefone a autorizar o mandado de prisão e a concordar que Thomas deveria aguardar o julgamento em prisão preventiva.

– Desculpa… – Murmurou Eduardo que tinha batido contra o ombro do moreno e este entendeu que ao contrário dele, o amigo estava com bastante sono.

– Podes dormir, Eduardo. – Comentou Eren.

– Não… o Armin e a Annie perderam a luta, mas eu não quero que fiques acordado sozinho. – Bocejou. – Sei que ainda estás a pensar no depoimento e sei que não querias preocupar com o Levi com essas coisas e por isso, resolveste ficar cá em casa, mas…

– Não estou a convencer ninguém, não é?

– Não. – Concordou o amigo. – Disseste que não falas com o Mike há uns dias, se calhar com isto tudo que está a acontecer, conversar com ele fosse uma boa ideia.

– Eu sei, depois do enterro… vou deixar mais um dia ou dois passar e depois vou lá.

– Eren…

– Ele também tem direito a fazer luto. – Apontou o moreno.

– Ele deve gerir melhor essas coisas do que qualquer um de nós. Só apoio que não fales com ele já amanhã, mas depois acho que ele iria entender.

– Isto se conseguir olhar para a cara dele… – Murmurou o moreno

– Porquê?

– Não perguntes. – Disse Eren, cobrindo o rosto com as duas mãos. – Bom, tens razão. Vamos juntar-nos ali ao casal maravilha.

Tinham afastado a mesa de centro da sala e com almofadas e cobertores, improvisado um local para dormir. Os amigos diziam querer ficar mais confortáveis debaixo dos cobertores e inicialmente, Eren disse que se quisessem fazer outras coisas que fossem para o quarto. Não queria ter que relembrar aos loiros que tanto ele e Eduardo estavam logo ali no sofá e não queriam ver nada do que quisessem fazer debaixo dos cobertores.

Felizmente as suspeitas de Eren eram infundadas e os amigos acabaram por adormecer depois de algum tempo a ver o filme entediante. A intenção era ficarem acordados até o moreno ter sono. Todos perceberam como estava ausente e menos conversador. Ao que parece apenas Eduardo conseguiu seguir a missão, mas mesmo esse lutava contra o sono e já com pena do amigo, o moreno decidiu que seria melhor deitar-se e tentar dormir para que Eduardo também seguisse o exemplo.

– Sabes quem também não está a dormir a esta hora? – Perguntou Eduardo quando já estavam deitados lado a lado.

– Quem?

– O teu mais-que-tudo. O Levi. – Respondeu divertido.

– Mas ele devia descansar… – Murmurou Eren. – Também não quero ligar agora para que caso ele esteja a dormir, acabe por acordar. Se calhar devia ter voltado para a casa dele e prendê-lo à cama, se fosse necessário.

– Não acho que ele se fosse opor a ser preso na cama por ti. – Brincou Eduardo e o moreno ficou um pouco ruborizado.

– Não foi isso que quis dizer….

– Mas pensaste agora.

– Eduardo não compliques os meus pensamentos. – Reclamou o moreno, escondendo o rosto atrás dos lençóis.

– Certo, desculpa. – Disse, mas Eren não acreditava que estivesse de facto arrependido daquela brincadeira. – Escuta, a verdade é que pelo menos, um de vocês devia descansar para que amanhã possas ir lá cedinho e obrigá-lo a descansar antes da hora do enterro. Acredita, ele pode não querer mas vai agradecer depois.

– Acho que tens razão… – Murmurou o moreno. – Obrigado por saberes sempre o que dizer…

– Agora e sempre, Imhotep.

Eren afastou o lençol e sorriu.

– Anck-Su-Namun. – Fez uma voz fina e os dois riram.

– Hei, não me roubes o papel. Sou eu que tenho que fazer a voz fina. – Brincou Eduardo.

Eren tinha insistido para que o amigo também ficasse ali em casa com eles, pelo menos para que também Armin observasse o amigo de perto. O moreno estava preocupado com a aparência adoentada e que felizmente, foi desaparecendo com o passar das horas.

Se bem que agora também estava contente por ter feito Eduardo ficar porque como sempre, falar e estar com ele tinha aquela capacidade estranha de o deixar sempre de bom humor e colocar até sorrisos divertidos no rosto. E em momentos desses tinha a certeza que não queria perder alguém como ele por perto.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

– Tinhas a obrigação de dizer, Bertholdt! – Dizia Reiner irritado, caminhando pelo quarto onde momentos antes, o outro estava a convencê-lo a tirar as roupas e esquecer por algumas horas o mundo fora dali.

– Com tudo o que está a acontecer, achavas mesmo que devia dar prioridade ao Jaeger?

– Quando o Levi souber, é bem capaz de fazer mais do que repreender-te! Vai acabar por te despedir, Berth! Será que não entendes? Eu falei-te desse Thomas e disse que se ele pisasse o risco, devias interferir e levar o Eren logo à polícia.

Sentado na cama, Bertholdt observava a agitação do parceiro. Não era assim que tinha tencionado passar algumas horas da noite, mas Reiner estava furioso. Pelos vistos ficou a saber aquando da ordem de prisão de Thomas, que Bertholdt teria ocultado o que aconteceu em vez de levar Eren a apresentar queixa.

– O Eren concordou e no momento, achei que seria o melhor. Com a morte do Connie e do Oluo e o estado crítico da Sasha… – Ergueu-se da cama, acariciando as costas do loiro que parou de andar, mas ainda não queria aceitar aquilo. – Achei que não devia perturbar mais o Sr. Smith. Não foi por mal, Reiner. Sabes que não o fiz com más intenções. Tentei agir no melhor interesse dele, mesmo que o Sr. Smith nem sequer me tenha autorizado a regressar ao trabalho quando estavas no hospital. Eu quis ajudar, quis ver-te. – Abraçou o loiro. – Ele nem ao menos deixou-me visitar.

– Não deixou? Porquê?

– Continua a não querer ver-nos juntos, seja profissionalmente ou até em circunstâncias extremas como estas. – Passou para a frente para encarar o loiro. – Não achas um pouco injusto? Eu só queria estar ao teu lado. Ter a certeza que estavas bem e ajudar no que fosse necessário, mas ele nem quis ouvir-me. – Beijou os lábios do loiro. – Depois dessa quase discussão com ele ao telefone, eu acabei por pensar que não seria uma boa ideia sobrecarregá-lo com mais nada e… posso ter agido mal com a situação do Eren.

Reiner suspirou, mas colocou uma das mãos no rosto do parceiro e beijou-o.

– Vamos ter que explicar-lhe a razão para não teres levado o Eren à polícia. – Murmurou o loiro. – Acho que pode compreender se explicarmos bem.

– E quanto ao não deixar que te fosse ver? Não achas que na situação em que estamos, ele estaria bem mais seguro connosco a trabalhar em conjunto em vez de dias diferentes ou separados? – Questionou, beijando o loiro e abrindo as calças dele com as duas mãos que foram descendo lentamente.

– Entendo o que queres dizer, mas…

– Reiner, sabes que estou certo. – Disse, abaixando-se um pouco para descer as calças e boxers do loiro. – Precisamos de estar juntos… – Beijou as coxas do parceiro, sentindo a mão dele agarrar os cabelos negros. – Quero se capaz de proteger-te, de estar contigo…

– Ah! – Reiner gemeu mais alto ao sentir a boca do outro.

 

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Farlan estava mais uma vez a tentar entender por que razão Estela não parava de chorar. Eduardo e Eren tinham saído com Historia e a única pessoa por perto era Eld, que ainda assim estava na parte de fora do quarto. Sempre que o segurança de cabelos loiros espreitava, Bianca estava com algum pincel na mão a colorir uma tela. Ocasionalmente, passavam outros seguranças e ela sabia que o pai devia estar mesmo preocupado que algo pudesse acontecer.

Vendo que Farlan iria demorar, a menina de cabelos negros decidiu limpar as mãos e pegar no tablet que estava como sempre bem perto dela. Procurou numa das gavetas de um dos móveis uns auriculares e assim que os encontrou, selecionou um dos arquivos no ecrã e dessa vez, escolheu sentar-se numa pequena mesa com folhas e lápis de cor. À medida que pintava, escutava a gravação. Por vezes, passava a mão no ecrã que acabava por mostrar-lhe algumas das câmaras que havia pela casa. Só queria confirmar onde estava Farlan para não ser apanhada de surpresa. Sabia que ele e outros adultos não iriam aprovar que estivesse a ouvir aquilo, mas Bianca estava cansada que sempre tentassem dizer-lhe que estava tudo bem ou que fossem conversar para longe dela. Era sempre muito nova para tudo e para entender o que estava a acontecer.

A determinada altura teve que parar de desenhar, escutando com atenção as palavras de Eren e Eduardo.

 

Flashback

– Porquê, tia Hanji? Não é justo que os adultos escondam tudo. – Tentava argumentar.

– Não é, mas um dia vais entender que só o fazemos por te querer proteger. – A mulher acariciava os cabelos da pequena. – O mundo tem coisas muito bonitas, pessoas muito boas mas também tem oposto e nós… nós queremos ser um pouco egoístas e por enquanto, não permitir que penses muito sobre isso.

Fim do Flashback

 

Mas isso fazia com que ela não soubesse como são as pessoas de verdade. Não todas porque ainda confiava na família e amigos que tinha à sua volta, mas havia outras…

Outras que querem fazer mal ao meu pai e eu quero saber quem são para o poder ajudar. Para poder proteger o meu pai. Não quero que mais ninguém vá embora…”.

Limpou uma lágrima e o ecrã que ia mudando a imagem de fundo, mostrava mais uma das muitas fotos que tinha armazenada no aparelho. Erwin tinha a filha sobre um dos ombros e apontava na direção da câmara que estaria a tirar a foto enquanto Levi tentava chegar a tempo, mas teria posto o tempo incorreto no temporizador e então, simplesmente virou-se a meio e sorriu para a câmara.

A menina gostava de ver aquelas fotos que agora se misturavam com outras mais recentes em que Erwin não estava presente. Cada vez que olhava para as fotos em que Erwin estava, via sempre como ele parecia fazer Levi sorrir em todas as fotos. Eles estavam sempre tão felizes e Bianca sabia que isso foi possível porque o loiro sempre parecia bastante protetor do mais baixo.

O papá Erwin não está, mas eu também quero ajudar a proteger o pai e a não deixar as pessoas irem embora”, pensou, selecionando uma das opções no ecrã e logo esperou por algum tempo, à medida que ouvia o som da chamada a ser feita.

– Quem?

– Bianca Smith. – Repetiu. – Eu queria falar com o meu amigo Nelson.

– Ah… senhora…? – Era uma voz feminina a chamar outra e a menina esperou, olhando mais uma vez para a porta, confirmando que Farlan ainda estaria ocupado. – Sim? Disse que era da residência Smith?

– Quem está a falar agora? – Perguntou Bianca confusa. – É a mãe do Nelson? – Tentou arriscar.

– Sim, mas...

– Eu queria que o Nelson viesse cá, mas o Edu já não trabalha aí e não o pode trazer.

– O Eduardo não era a pessoa mais indicada para…

– Pode trazer o Nelson cá ou vou ter que chamar o meu pai para pedir? – Perguntou e assim como em outras ocasiões, a parte de ‘vou chamar o meu pai’ parecia fazer as coisas acontecerem de outra forma. E desta vez não era diferente.

Bianca sabia que Eren teria feito coisas más antes. Aliás, o moreno falou nisso logo no princípio quando ele ficou a tomar conta dela. Nunca dizendo exatamente o quê, mas Bianca não tinha qualquer dúvida que ele estava arrependido e assim como o pai, ela perdoou o que quer que fosse. No entanto, pelo que tinha percebido ainda havia várias pessoas a querer fazer mal, a culpá-lo pelo passado, a tratá-lo mal e a menina não compreendia isso. Não entendia e nem queria aceitar. Muito menos que isso acabasse também por deixar Eduardo triste e o separasse do Nelson. Portanto, ela decidiu fazer o que parecia mais fácil, trazer Nelson de volta.

Quando Nelson chegou, Farlan foi apanhado desprevenido e de surpresa, mas ainda conversou um pouco com a mãe do menino que veio logo na direção de Bianca. Ela levou-o para a sala onde podia passar horas a brincar e assim ficaram longe dos comentários alheios. Se bem que a menina notou que ver Farlan abrir a porta também surpreendeu a mãe de Nelson que se mostrou bem mais simpática. Bianca não podia deixar de pensar no que teria acontecido se fosse Eren por exemplo, a abrir a porta. Como não queria que tratassem mal o moreno ou mesmo Eduardo, preferiu que os dois ainda estivessem fora de casa para não se cruzarem com aquela mulher.

– A mãe disse que não íamos brincar mais.

– Porquê? – Perguntou Bianca.

– O Edu foi embora. – Disse desanimado.

– Ela disse porquê?

– Porque ele… – Fez um ar pensativo como se estivesse a tentar recordar as palavras corretas. – Disse que se dava com gente… indecente? – Acrescentou confuso. – Não sei o que é indecente.

– Também não sei o que é. – Falou Bianca igualmente confusa. – Seja o que for, parece mau e o Eren não é mau.

– Eu também gosto do Eren. – Concordou e olhou para a amiga que colocava os lápis de cor sobre a mesa para os dois. – Mas tu ‘tás triste.

– Há muita gente a querer fazer mal ao meu pai e ao Eren… gente que eu pensava que era boa. Por que é que as pessoas fazem mal umas às outras? O meu pai sempre ensinou a não fazer mal aos outros.

– Se não fizeres mal, não tens coisas.

– Huh?

– É o que a mamã diz. – Explicou, encolhendo os ombros. – Se não fores mau, não tens coisas.

– A tua mãe não pode ensinar isso. Isso é mau. É errado. Quando és mau, fazes mal aos outros e fazes mal a ti também. Não és feliz. – Disse, passando alguns lápis a Nelson. – Quando és bom para os outros, os outros podem ser bons para ti e és feliz. Tens muitos amigos e muitas coisas. A tua mamã é feliz?

– Acho que não. Está sempre irritada. – Disse, começando a pintar. – Mas querem fazer mal ao teu papá? Bateram nele?

– Não, acho que não. Mas as pessoas estão a mentir, estão a fingir e eu quero dizer para ele ficar longe delas. Eu quero proteger o meu papá.

– Não digas a verdade já…

– Huh? Queres que minta também? Isso não se faz, Nelson.

– Mentir não, guardar um bocadinho. E se essas pessoas descobrirem que sabes? Vão fazer mal a ti também. Vão fazer mal para não falares. – Explicou. – É o que acontece lá em casa. Se eu descubro, guardo segredo até a minha mãe ver que é verdade.

– Já bateram em ti? – Perguntou preocupada.

– Às vezes. Quando faço coisas mal.

– Quem?

– A minha mãe, outras pessoas. A nova menina que está comigo não gosta de mim. – Parou de pintar. – Tenho saudades do Edu. Ele gostava de mim, não é? O Eren também gostava.

– E ainda gosta e eu também. – Apressou-se a dizer. – O meu pai não bate em mim. Mesmo se eu fizer alguma coisa de mal. Ele fica triste, mas não bate em mim.

– Tens sorte, Bia. – Disse. – Toda a gente gosta de ti, se calhar é por isso que não batem.

Bianca ficou sem saber o que dizer. Em casa nunca a trataram mal, mas na casa de Nelson tudo parecia tão diferente. Ela nunca estava sozinha e sempre tinha com quem falar, brincar, a quem pedir um abraço, mas na casa do amigo as coisas não aconteciam assim.

Quando ainda estava a pensar sobre isso, Eren e Eduardo voltaram e a reação de Nelson foi de imediato ir ao encontro do antigo babysitter. Este que apesar de perplexo não hesitou em receber o pequeno nos braços e frisar várias vezes que também sentia a falta dele.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

– Está terminado. – Murmurou Levi com um ar bem cansado na frente do computador e viu que ao lado dele na mesa, Hanji já tinha adormecido na frente do computador.

Esticou os braços por alguns momentos e em seguida, procurou qualquer coisa que pudesse colocar sobre a amiga. Preferia que ela fosse descansar para um dos quartos, mas não queria acordá-la, pois devia estar exausta assim como ele.

Bocejando, abriu a porta do gabinete e mal teve de erguer o rosto, pois recebeu um beijo. Um pouco atordoado com a ação não tardou em reconhecer de quem se tratava e relaxou naquele contacto e nas carícias nas costas dele e nos seus cabelos. Sentia o cheiro de champô e perfume, mas pela pouca claridade do exterior, teria que concluir que o moreno teria saído bem cedo de casa para estar ali.

– Bom dia, meu amor. – Disse Levi, interrompendo o beijo. – Não que eu não goste da surpresa, mas o que estás a fazer aqui tão cedo?

– Eu é que devia perguntar o que estás tu a fazer acordado a esta hora, mas é óbvio que não dormiste a noite toda assim como o Eduardo disse. – Comentou o moreno, entrelaçando a mão dele com o outro que correspondeu ao gesto, deixando-se levar. Pequenos gestos como aquele colocavam um frio na barriga de Eren que sorria, pensando como toda a ansiedade do dia anterior sumia com coisas tão simples.

– O Eduardo ficou em casa contigo?

– Comigo, com a Annie e o Armin. – Especificou. – Já passou a fase de que gostavas dele e agora estás novamente com ciúmes?

– Depende. – Respondeu à medida que subiam as escadas na direção do quarto. – Ele dormiu na vossa casa?

– Acampámos na sala. – Começou por dizer, esperando até acabar de subir as escadas para acrescentar. – Dormimos ao lado um do outro.

– Tens razão, não quero que vocês voltem a ser amigos. Prefiro que ele esteja longe.

Eren riu um pouco, continuando a guiar o outro até ao quarto.

– Não sei para quê tantos ciúmes. – Falou, fechando a porta do quarto e empurrando o outro até que se sentasse na cama. – Eu já disse que sou apaixonado por ti. – Abaixou-se na frente de Levi com um pequeno sorriso. – Mas neste momento, acho que vou deixar o romantismo de lado e deixar-te ainda mais exausto para dormires bem nas poucas horas que tens para descansar.

– Eren, eu não tenho tempo para…

– Shh. – O moreno colocou dois dedos na frente dos lábios do outro. – Hoje vai ser um dia complicado e tu como qualquer pessoa tens que descansar. Se não o fazes voluntariamente, então terei que te ajudar com isso. – Abriu o fecho das calças. – Queres mesmo recusar o que tenho em mente para te fazer dormir profundamente por algumas horas?

– Vais dormir comigo também?

– Depende… – Respondeu Eren, passando a língua sobre o tecido e logo viu a mão de Levi agarrar nos cabelos dele. – Vamos ver se também me deixas cansado.

– Não provoques… – Sussurrou, puxando os cabelos castanhos e arrepiando-o quando viu Eren gemer contra o membro dele, fechando os olhos.

– Ajuda-me a tirar estas tuas calças que estão a atrapalhar o que quero fazer… – Disse o moreno e o outro assentiu, levantando-se um pouco. Ajudou dessa forma a livrar-se das calças e boxers para logo ter o moreno de volta sem muita oportunidade para pausas. Não se ficava pelas simples provocações, mas envolveu-o totalmente com a boca mal teve a oportunidade.

Levi teve que morder o lábio para não deixar escapar o gemido mais alto. O companheiro continuava um ritmo bem rápido e intenso de vai e vem. O empresário sentia-se tocar no fundo da garganta do outro e teve que fechar os olhos para não ver os orbes verdes fixos nele, analisando cada uma das suas reações e tirando prazer do descontrolo que se apoderava dele.

Sabia que estava a prender dolorosamente os cabelos castanhos numa das mãos, mas Eren não o impedia e chupava com cada vez mais avidez. Ouvia os sons obscenos ecoarem no quarto. Os gemidos abafados de Eren e os dele que tentava conter. Se estivessem mesmo sozinhos em casa, queria dizer-lhe tantas coisas. Queria deixar de prender dolorosamente cada elogio, cada palavra suja que lhe passava pela cabeça quando via Eren engoli-lo tão deliciosamente.

Quando estava prestes a atingir o limite, viu o moreno distanciar-se com um meio sorriso. Limpava a saliva que lhe tinha escapado da boca com uma das mãos e retirava a própria roupa.

– Cruel parares agora… não achas? – Questionou Levi com a respiração descontrolada depois daqueles minutos tortuosos, mas quentes que Eren lhe tinha proporcionado.

– Quem disse que ia parar? – Perguntou, atirando a camisa para o chão e começando a abrir as próprias calças.

– Vens cavalgar de novo, bebé? – Estendeu a mão, tentando alcançar a cintura de Eren para puxá-lo para perto dele, mas o moreno deu dois passos atrás.

– Hum, não. – Respondeu, continuando a tirar a roupa.

– Não me tortures desta forma, Eren. Vem cá. – Chamava com uma das mãos. – Quero chupar também, embora não tenha a certeza que te consigas controlar tanto quanto eu, relativamente ao ruído.

– Ah sim? Parece que isso, não saberemos. – Respondeu. – Pelo menos não hoje. – Terminou de tirar a roupa e caminhou até uma das mesinhas de cabeceira para retirar o lubrificante da gaveta e entregá-lo a Levi.

– Eren?

O moreno não respondeu com palavras, segurando na mão do outro para levantá-lo da cama e beijaram-se por mais alguns momentos. As línguas tocaram-se, provocando mais arrepios entre os dois, ao passo que as mãos percorriam a pele um do outro, ocasionalmente deixando alguns arranhões.

Eren foi o primeiro a separar-se, vendo a saliva que ficava entre os dois à medida que se distanciavam e com um meio sorriso, virou as costas para Levi enquanto subia para cima da cama.

Assim que fez isso, apoiou o rosto nalgumas almofadas e afastou um pouco as pernas.

– Vem… hoje quero assim. – Disse Eren. – Não posso ser eu sempre a fazer o trabalho todo.

Puta que pariu… – Murmurou, abrindo o frasco do lubrificante e passando numa das mãos.

– Não preciso de muita preparação. – Falou o moreno. – Digamos que tomei um banho mais demorado a pensar em ti…

– Gostava de ter visto, bebé. – Disse, decidindo que ainda assim prepararia um pouco o companheiro para garantir que a dor não fosse sequer uma hipótese. O desconforto seria sempre normal inicialmente, mas o que Levi queria sem dúvida evitar seria qualquer dor. Não quando Eren estava ali tão exposto para ele e demonstrando tanta confiança.

Ngh… ah!

– Rosto contra as almofadas. – Lembrou. – Não queremos qualquer interrupção, pois não? – Viu o rosto do moreno acenar negativamente contra as almofadas. – Isso mesmo. Puta que pariu, Eren se soubesses o tesão que me dá ver-te assim…

Mesmo sabendo que o moreno se teria preparado previamente a chegar ali, Levi dispensou alguns minutos para garantir que Eren não sentiria mais do que vontade de gemer de prazer. A voz mesmo que abafada contra as almofadas estava a deixar o corpo do empresário cada vez mais quente.

Quando por fim entrou dentro do moreno, este estremeceu e ambos gemeram. Levi teve que morder o próprio lábio enquanto o moreno optava por morder uma das almofadas. Acariciou as costas e coxas do moreno, aguardando por mais algum sinal positivo. Apenas quando viu os olhos verdes encararem-no com uma expressão tomada pelo desejo, segurou a cintura do moreno com mais força antes de iniciar os movimentos.

– Está bom assim? – Perguntou Levi que assim como Eren tinha uma respiração bastante errática.

– Hum, hum… – O rosto do moreno voltou a esconder-se contra a almofada para mais um gemido e para incentivar o empresário, começou também a mover os próprios quadris.

A mensagem tornou-se bem evidente e com umas investidas um pouco mais rápidas, Levi acabou por ouvir que o outro queria mais rápido. E ainda que não tivesse a certeza de conseguir adiar por muito mais o seu clímax, o homem de cabelos negros respondeu aquele pedido que pela voz desesperada do moreno já soava mais a uma exigência. A certa altura, transformava-se até num pedido desesperado, entrecortado pelos gemidos abafadas, os espasmos do próprio corpo, as mãos que tentavam apoiar-se na cama, apertando os lençóis.

– Eren… Eren… – Dizia entre as investidas que ecoavam pelo quarto.

O moreno iria sem dúvida ficar com as marcas na pele. Principalmente na área da cintura, onde as mãos o apertavam com cada vez mais força. Quando sentiu a mão do empresário masturbá-lo quase ao mesmo ritmo das investidas, Eren perdeu a força nos braços e já só podia gemer contra as almofadas.

Aquilo acabou por ser o suficiente para ambos que acabaram arrebatados por um clímax demorado e intenso. Eren perdeu a força nas pernas e Levi acabou por deitar-se de imediato ao seu lado com a respiração tão agitada como a dele. À medida que se tranquilizavam, os olhos verdes observaram os cinzentos desaparecerem atrás das pálpebras.

Eren sorriu ao ver que o outro acabava por cair no sono e aconchegou-se perto dele, decidindo fazer o mesmo. O dia seria longo e sentiu a falta do empresário depois da ida à esquadra para apresentar queixa. Sentiu falta das palavras, do conforto, do toque dele. Queria que aquela sensação de que tudo estava bem durasse por um tempo indeterminado.

– És o meu porto seguro… quero tanto ficar do teu lado. – Murmurou, abraçado ao empresário que já dormia e acabou por guiar o moreno pelo mesmo caminho.

Contudo, como tinha conseguido descansar algumas horas em casa, Eren acordou primeiro. Sorriu um pouco ao ver que o outro continuava a dormir sem interrupções e saiu da cama. Assim que colocou um pé no chão, quase perdeu o equilíbrio e teve que apoiar-se na mesinha de cabeceira. Acabou por empurrar sem querer um candeeiro e com o barulho claro que acordou o outro.

– Eren?

– Desculpa não te queria acordar… – Murmurou, ouvindo a voz de Bianca no exterior.

– Porquê? – Perguntava a criança.

– Ora porque o teu pai está com o Eren e os dois… provavelmente estão a namorar. – Ouviu Farlan explicar.

O moreno passou a mão na cara e Levi sorriu divertido.

– Se é assim, vou deixar namorar mais. – Ouviu Bianca dizer. – Quando namoram, os dois ficam contentes depois, não achas Farlan?

– Concordo perfeitamente. – Ouviu o loiro dizer enquanto as vozes se distanciavam.

– Vamos tomar um duche os dois?

– Eu queria que descansasses mais. – Comentou Eren, vendo que tinha derrubado também uma pequena caixa preta que se abriu e mostrava algo que Levi já não usava há algum tempo. Pelo menos, que Eren tivesse reparado. – Tens mantido guardado na caixa?

– O quê? – Perguntou um pouco confuso, mas já sentado na cama.

– As alianças. – Murmurou Eren ainda sentado no chão ao lado da cama. – Tua e do Erwin. Usavas sempre ao pescoço, mesmo que estivesse por dentro da roupa.

– Sim. Sentia como se ele ainda estivesse aqui e isso dava-me uma sensação de conforto. – Falou, vendo que o moreno continuava a olhar para a caixa, que entretanto tinha fechado. – A morte dele abalou-me e embora, o Mike e todos me tenham ensinado como seguir em frente depois de uma perda, eu sentia como se precisasse de sentir que ainda o tinha por perto. – Fez uma pequena pausa. – Mas agora não sinto esse vazio que ele deixou para trás. Não preciso de apoiar-me só em memórias e imaginar que ele ainda está aqui. Ele sempre terá um lugar especial dentro de mim, mas agora sei que se precisar de falar com alguém, de algum conforto, de desabafar, de contar qualquer coisa boa ou má acerca do meu dia, se tiver dúvidas… sei que posso estender a mão e encontrar-te, Eren. – Os olhos verdes finalmente fixaram-se nos dele. – Só consigo imaginar o resto da minha vida contigo ao meu lado.

O olhar do moreno desviou-se, mas Levi viu algum rubor.

– Pronto, ah… é melhor irmos para o chuveiro. – Disse e era evidente o embaraço no rosto de Eren, o que apenas aumentou o sorriso da parte do outro que saiu da cama antes que o moreno se desequilibrasse de novo.

– Eu ajudo. Parece que fui um pouco mais brusco do que pensava.

– Espero conseguir andar decentemente depois do banho, Levi. Já chega de momentos de vergonha na minha vida.

– Mas eu gosto de te ver assim. – Falou, dando algum apoio ao moreno para caminhar.

– Claro que gostas. – Ironizou.

Depois de um duche que teria sido mais rápido na opinião de Eren, se algumas mãos não tivessem sido tão indiscretas, os dois por fim saíram do quarto com roupas de tom escuro. O moreno tinha vindo prevenido, avisando também os amigos antes de sair de casa que iria direto da casa de Levi para o funeral.

– Bom dia, pai! – Bianca veio abraçar o empresário que a colocou no colo, deixando um beijo no rosto da criança sorriu. – Bom dia, Eren! Então, já namoraram tudo?

Eren ficou ruborizado diante dos sorrisos de Farlan, Isabel e também de Hanji e Petra.

– Sim, querida. – Confirmou Levi. – Onde está a Estela?

– A dormir. – Respondeu Farlan. – O Mike disse que nos encontrávamos na entrada do cemitério.

– Vamos sentar para comer, princesa?

– Posso ficar no teu colo, pai?

– Claro. – Confirmou, sentindo um novo abraço. – Está tudo bem, querida? Se quiseres, não precisas de ir. Eu arranjo forma de…

– Não, eu quero ir mas quero um abraço, pai.

Levi de imediato correspondeu ao pedido um pouco preocupado. Será que seria uma boa ideia levá-la? Mike argumentaria a favor de não esconder coisas como aquelas. Até porque a pequena esteve presente aquando do enterro de Erwin. O psiquiatra era a favor de não tornar a ideia da morte algo tão aterrador ou triste. O empresário acabou por concordar, mas diante daquele comportamento começava a pensar se seria mesmo o certo a fazer.

– Posso ficar contigo em casa, se quiseres. – Ofereceu Eren a Bianca que acenou negativamente.

– Quero ir. – Insistiu Bianca.

– Se é assim, vens connosco. – Disse Levi. – E depois conversamos sobre ontem, principalmente como é que conseguiste fazer com que o Nelson viesse cá. O Farlan ainda não me soube explicar essa história.

– Eu depois conto, pai. Depois também quero falar de outra coisa sobre o Nelson.

– Algum problema, querida?

– Depois, pai. Depois. – Respondeu. – Primeiro vamos desejar boa viagem ao Connie e ao Oluo até às estrelas. O papá Erwin agora vai ter gente conhecida com quem falar.

– É verdade. – Concordou Levi, acariciando os cabelos negros da filha. – Embora eu não ache que o papá Erwin se sinta sozinho. Ele sempre fez amigos com facilidade. Vai acabar é por apresentar novos amigos ao Connie e ao Oluo.

Bianca sorriu e à mesa ninguém tinha coragem de ir contra aquela ideia inocente do que significava a morte. Até era melhor imaginar as coisas daquela forma. Tudo se tornava um pouco menos doloroso.

 


Notas Finais


Até ao próximo capítulo ou possivelmente uma surpresa, se conseguir postar amanhã *


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