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História Memórias Rasgadas - Capítulo V


Escrita por: Imagination

Notas do Autor


Obrigada pelos comentários, mensagens, favoritos e a todos os que acompanham o enredo!

Capítulo 5 - Capítulo V


Capítulo V

 

Os olhos estavam ainda bem inchados devido às lágrimas da noite anterior. Contudo, como tinha um pequeno teste de probabilidades e estatística e não podia faltar. Acabou de vestir o casaco branco com capuz por cima de uma t-shirt preta, que se juntava a umas calças castanhas e umas sapatilhas brancas.

Depois da visita e conversa com Carla, ainda recebeu a chamada habitual de Hanji por Skype e ao ver a cara dele, tornou-se impossível esconder o que tinha acontecido. Contou-lhe tudo acerca da visita, desde da conversa até ao momento em que acabou por dizer que iria tentar fazer-lhe o favor, dado que a mulher parecia quase desesperada. Prometeu que ela mesma iria buscar o filho ali, caso Levi dissesse que não queria continuar com aquela situação. Mesmo com essa espécie de cláusula de salvação, Hanji não estava nem um pouco contente com a situação. Ela tentou fazê-lo ver que possivelmente Carla teria utilizado chantagem emocional para ter o que queria.

Não seria a primeira vez que Levi ouvia uma mentira. Só que mesmo sem provas, ele não acreditava que a mulher tivesse mentido nas palavras e lágrimas que deixou cair. Ele viu uma certa familiaridade nos olhos dela e isso fez com que não fosse capaz de negar aquele pedido, mesmo que isso o fizesse reviver um pesadelo.

Levi tentou atenuar um pouco a conversa com a melhor amiga ao falar-lhe de Armin. Porém, esse assunto também tinha um lado menos agradável e por isso, falou acerca do bullying que o loiro sofria e também fez uma pequena referência ao conselho do companheiro de quarto. Hanji indignou-se com a situação e incentivou o amigo a confrontar o tal companheiro de quarto e exigir que, nas palavras dela “encontrasse o par que lhe faltava entre as pernas” e se fizesse homem para apoiar Armin com bons conselhos em vez de dizer coisas inúteis.

Nessa altura, Levi disse que também não tinha sido muito melhor do que o companheiro do loiro, uma vez que tentou manter-se à margem da situação. Diante dessa afirmação, a amiga irritou-se e disse que não havia comparação, pois ele estava a mostrar mais consideração do que o tal companheiro de quarto.

Hanji acrescentou que só havia duas hipóteses: o companheiro de quarto era um cobarde ou havia qualquer coisa de suspeito nele. Levi nem sabia como a amiga conseguia chegar a essas conclusões, mas disse que tentaria saber um pouco mais acerca do companheiro de quarto de Armin. Se bem que não se comprometeu a confrontá-lo, pois também existia a hipótese de que o companheiro de quarto estivesse na mesma situação e não podia culpá-lo por querer evitar mais problemas.

Por coincidência enquanto pensava na situação do loiro, o telemóvel vibrou ao seu lado enquanto comia os cereais que esperava que se mantivessem dentro do estômago.

 

Armin – Mensagem:

Bom dia, Levi.

Será que nos podíamos encontrar hoje de manhã? Tens tempo livre?

 

Eu – Mensagem:

Bom dia.

Vou ter aulas a manhã toda, mas há aquele intervalo grande de manhã. Podemos ver-nos aí.

 

Armin – Mensagem:

Se não for incómodo para ti…

 

Eu – Mensagem:

Não. Diz-me onde e eu vou ter contigo.

 

Armin – Mensagem:

Nas salas de estudo da biblioteca.

Reservo sempre a n.º 5. Fica do lado esquerdo, perto da secção de biociências.

 

Eu – Mensagem:

Apareço lá um pouco depois das 10h.

Até logo.

 

Armin – Mensagem:

Ok, obrigado :)

 

Podia ter dito que não podiam encontrar-se nesse dia por causa dos horários. Afinal de contas, Levi não estava com vontade de conversar com ninguém, mas as palavras de Armin, como se encontrar-se com ele fosse importante, iriam pesar na consciência caso decidisse ignorar. Podia ter acontecido qualquer coisa e por muito que não pudesse oferecer um grande conforto, seria melhor do que ficar sozinho.

Depois de acabar de comer, terminou a higiene pessoal e preparava-se para guardar Kuro com cuidado na mochila quando bateram na porta.

Levi prendeu a respiração por alguns momentos. Seria possível que Eren estivesse ali já de manhã? Teria a mãe ido falar com ele? Ela não tinha dito isso. Carla afirmou que esperava que em breve, mas não especificou quando, o filho ficasse sem opções e acabasse a bater na porta dele.

Com um nó na garganta, aproximou-se da porta e abriu-a vagarosamente e quase suspirou de alívio ao encontrar o senhorio. Um senhor com uma grande barba castanha que mais parecia um ninho de ratos, careca, que sempre aparecia na porta dele de pijama. Trazia uma caixa nas mãos e um envelope.

– Vieram cá deixar isto ontem de manhã e como não estavas, fiquei eu com a encomenda.

– Ah, obrigado. – Agradeceu e pegou na caixa e envelope que o senhorio lhe entregou.

– A propósito, há duas noites também veio aqui uma mulher toda chique, a mesma que esteve cá ontem. Ela andava a rondar aqui há algum tempo pelo que soube.

Sempre me esqueço que ter vizinhos é equivalente a ter uma equipa de vigilância constante”, pensou Levi.

– Já falei o que tinha a falar com ela. – Respondeu sem vontade de entrar em detalhes.

– Pois, ela veio dizer que queria que o filho dela viesse para cá e decidiu falar comigo porque ter mais inquilino não é a mesma coisa que ter um gato. – Disse e nesse momento, Levi engoliu em seco.

– Eu…

– Sei que disse que não queria animais, mas há mais gente aqui com animais. Se não fizeram barulho ou encherem isto de pulgas, não quero saber. – Disse o senhorio, descartando por completo a existência do gato na casa dele.

– Obrigado. – Murmurou.

– A renda vai dobrar de valor.

– O quê? – Questionou, escondendo mal o choque que sentiu. – Não posso pagar o dobro do que estou a pagar agora.

– A chiqueza já pagou adiantado os três meses. – Esclareceu o senhorio. – Portanto, está tudo acertado. A carta que está aí é a conta da água. Não tens que pagar agora, passo aqui no fim da semana.

– Ok, ah… obrigado. – Respondeu um pouco atordoado pelas novidades que Carla esqueceu de referir na noite anterior. Isso significava que as suspeitas dele tinham fundamento. A mulher tentou contactá-lo antes, aparecendo em dias anteriores, mas devido aos horários erráticos de trabalho não se cruzaram antes.

Levi entrou em casa novamente depois de despedir-se do senhorio e optou por abrir a caixa. Viu o nome conhecido no remetente e sabia que se tratava de mais algum presente. No interior da caixa encontrou um pequeno bilhete, pedindo para fazer bom uso do presente assim que o tempo estivesse apropriado para a ocasião.

Um casaco”, concluiu ao tocar no tecido e retirar o conteúdo da caixa, “Um casaco que nunca poderia comprar”. Longo, quente, com bolsos e capuz que era o estilo de que gostava e de cor cinza assim como vinha especificado no bilhete que comparava a cor aos olhos dele.

Ainda não estava suficientemente frio para usar um casaco daqueles, mas sabia que lhe seria bem útil do que tremer de frio sempre que chegavam os dias de temperaturas negativas. Mesmo assim, ficava sempre um pouco desconfortável com aquele tipo de atenção.

Suspirou e abriu uma das apps do telemóvel para enviar uma mensagem.

 

Eu – Mensagem:

Obrigado pelo casaco.

Dispenso a comparação melosa.

 

Do que conhecia do seu benfeitor, provavelmente iria rir com a mensagem. Depois de guardar o presente no quarto e olhar rapidamente para o conteúdo da conta da água, Levi notou que tinha pouco tempo para conseguir chegar a tempo do autocarro e isso fez com que pegasse em Kuro e saísse a correr com o pequeno gato nos braços.

Contudo, a manhã não estava a correr a seu favor e teve a prova disso quando estava a chegar à paragem e viu o autocarro arrancar mesmo que além dele, outras pessoas tivessem gesticulado e alguns até gritado. Todos os gestos foram ignorados pelo motorista e com receio de chegar atrasado ao teste que teria de manhã, optou por correr e serpentear pelas ruas da cidade. Conseguiu chegar até ao metro, que ajudou em parte do percurso mas ainda assim, chegou mesmo em cima da hora e ao mesmo tempo que o professor estava a entrar na sala de aula.

– Bom dia, Levi.

– Bom dia. – Respondeu, desviando o olhar e indo na direção da mesa onde sempre ficava.

Odiava chegar em cima da hora. Primeiro porque considerava a falta de pontualidade, má educação e em segundo, pelo facto de se tornar o centro das atenções assim que entrava. A sensação de ter os olhos postos nele com os sorrisos jocosos a juntarem-se à imagem, não ajudava a começar o seu dia.

Ao sentar-se fez um ar de desagrado ao ver que transpirava um pouco e a falta de fôlego indicava que deixar de ir ao ginásio tinha sido uma péssima ideia. Se bem que só começou a frequentar o ginásio por insistência de Hanji e sem a amiga por perto, a ideia de ir sozinho não era em nada apelativa mesmo que tivesse as mensalidades pagas.

Se calhar é uma boa ideia voltar ao ginásio”, pensava desanimado, “Não queria atrasar as minhas séries outra vez ou interferir com a minha vontade de não fazer nada com idas para aquele sítio com gente ridícula a tirar selfies a cada cinco minutos”.

Esses pensamentos foram colocados de parte quando o teste foi colocado à sua frente. Nos quarenta a cinquenta minutos que se seguiram, a sua mente preencheu-se de conceitos e cálculos. Fez poucas pausas entre um raciocínio e outro e ainda teve tempo de rever as respostas dadas. Teve dúvidas em duas questões, mas sentia que não podia ou devia fazer mais nada, pois alterar demasiado as respostas não era uma boa ideia.

Levi virou as folhas ao contrário e pegou noutra vazia, entretendo-se com cálculos aleatórios enquanto o professor caminhava mais uma vez pela sala.

– Terminaste, Levi?

A voz provocou um pequeno sobressalto no jovem que logo se recompôs para olhar de soslaio para o professor.

– Sim.

– Sei que sempre relês as respostas por isso, deduzo que já passaste por essa fase. – Viu o aluno assentir. – Se quiseres, podes sair.

– Ah, obrigado. – Agradeceu aliviado por não ter que passar o resto do tempo que ainda faltava, fechado na sala de aula. Dessa forma, também poderia ir para a biblioteca e esperar por Armin em vez de ver os olhares dos colegas e as tentativas de copiarem informações escritas nos pulsos, braços, pequenos papéis nos bolsos, etc.

Assim que saiu da sala confirmou que não tinha recebido qualquer mensagem nova e caminhou em direção à biblioteca. O tempo estava cada vez mais fresco e depois de o corpo arrefecer, Levi sabia que a ideia de se encontrarem na biblioteca era boa. Pelo menos, poderia aproveitar um pouco do aquecimento, visto que a biblioteca era dos poucos locais em que esse existia.

Esfregou um pouco as mãos ao entrar, respirando o ar mais quente e confortável do interior da biblioteca. Seguiu as indicações do loiro e não tardou em encontrar a sala de estudo. Ele não costumava utilizar essas salas, dado que eram sobretudo utilizadas por grupos de estudantes para fazerem algum trabalho, ou seja, falarem e fazerem tudo, exceto o trabalho.

Ao encontrar a sala hesitou, pois a luz estava acesa. Indicando que havia alguém no interior, mas a silhueta indicava que era só uma pessoa. Seria o Armin?

 

Eu – Mensagem:

Estás na sala de estudo ou em aulas?

 

Armin – Mensagem:

Sala de estudo. Já terminaste o teste? :o

 

Esperou alguns segundos antes de rodar a maçaneta e empurrar a porta, entrando na pequena sala com uma mesa e quatro cadeiras. O loiro sorriu ao vê-lo e naquele dia vestia uma camisola felpuda amarela com duas riscas pretas horizontais à altura do peito e luvas pretas sem dedos, mostrando os dedos avermelhados provavelmente consequência do frio. Havia vários livros sobre a mesa e um caderno repleto de apontamentos.

– Chegaste mais cedo do que esperava. – Disse num tom um pouco rouco. – Isso significa que o teste correu bem?

– Sim. – Respondeu, sentando-se na cadeira de frente ao loiro do outro lado da mesa. – Também deixaram que saísse mais cedo e por isso, vim para aqui. Não esperava ver-te aqui. Não tens aulas hoje?

– Não tenho a primeira da manhã, mas depois tenho o horário bastante preenchido. – Respondeu e fez uma expressão preocupada. – Estás bem? Parece que… ah, passaste mal a noite. – Tentou suavizar e não dizer que parecia que não tinha dormido e chorado parte da noite. Vendo o meu desconforto acrescentou. – Mas não precisamos de falar disso, se não quiseres. É só que… não queria chatear-te mais com os meus problemas, se já tens os teus.

– Posso não querer falar do que aconteceu, mas sei que me chamaste aqui por alguma razão e eu… se puder fazer alguma coisa. – Disse Levi.

– Obrigado. – Sorriu. – Lembras-te do meu companheiro de quarto?

– Sim.

Pode ser que obtenha mais informações sobre esse tipo sem sequer ter que fazer perguntas. Assim não terei que ouvir as mil e umas reclamações da Hanji”, pensou Levi satisfeito por ter decidido encontrar-se com Armin naquela manhã.

– O nome dele é Jean e penso que pelo apoio dele sempre que as coisas más aconteciam, deixei que se aproximasse e também porque ele… ah, é atraente, sobretudo sem camisa.

Não sei se gosto o caminho que isto a seguir. Não era exatamente a conversa que esperava”, pensava honestamente surpreendido com o rumo da troca de palavras.

– Ah, querias falar comigo porque gostas do teu companheiro de quarto? – Tentou deduzir.

– Não penso que seja isso. – Respondeu, tossindo um pouco para afastar um pouco o desconforto evidente da garganta. – Atração seria a melhor forma de descrever. Eu nunca tive com um rapaz antes.

– Ok…

– Isso não significa que nunca tenha sentido atração antes pelo mesmo sexo, mas para mim tudo parece muito novo. – Tentava explicar. – Já tinha reparado nisto nos dois últimos anos da escola, mas só depois de vir para a faculdade é que se tornou mais óbvio que se calhar, não era uma coisa passageira. Se bem que continuo a achar as raparigas bonitas.

– Portanto, és bissexual. – Concluiu Levi.

– É provável. – Disse, coçando um pouco os cabelos loiros que lhe caíam ligeiramente sobre os olhos azuis. – É bastante confuso e desculpa estar a falar contigo sobre estas coisas. Sei que mal nos conhecemos, mas… não tenho com quem falar destas coisas.

– Não há problema. – Respondeu Levi, encolhendo os ombros.

– Eu tive uma namorada por pouco tempo. Sentia atração por ela, só que depois também comecei a ver rapazes atraentes. Achas estranho? – Perguntou preocupado. – Isto deve soar estranho para alguém hétero.

Levi arqueou uma sobrancelha.

– Estou muito longe de ser hétero, Armin e não é exatamente uma escolha que fazemos. Simplesmente é assim que somos e não deveria haver tanto alarido para aceitar algo assim.

– És gay? – Perguntou com algum entusiasmo.

– Não tenho escrito na testa ou ando a divulgar, mas sim. – Respondeu.

– Uau, olha para nós a partilhar assuntos bem pessoais como se nos conhecêssemos há anos. – Brincou um pouco. – Mas é bom. Há muito tempo que não conversava assim com ninguém e eu precisava de ter uma opinião honesta porque…o Jean beijou-me ontem e eu pensava que podia ser uma coisa de tirar o fôlego, tipo os filmes?

Levi tentou esconder, mas um sorriso divertido alcançou os seus lábios e o loiro notou isso, sentindo um frio na barriga, pois era a primeira vez que via o outro sorrir na direção dele.

– Os filmes são ficção, Armin. Não vai aparecer fogo-de-artificio de fundo, nem o príncipe te vai pedir para casares com ele após a primeira dança.

– O candidato a príncipe neste caso, pediu-me para chupar depois. – Falou corado e Levi quase teve a sensação de que não podia ter escutado bem, mas perante o rubor evidente do loiro não era de facto, uma brincadeira.

– Era a primeira vez que te beijava? – Questionou um pouco em choque com a informação, pois a ideia que se estava a formar na cabeça dele era cada vez pior. Inocentemente pensou que o loiro estivesse a ficar doente, devido a rouquidão permanente na voz, mas talvez não fosse isso. – Mais importante do que isso, tu querias fazer aquilo?

– Nunca tinha beijado um rapaz e muito menos passado para uma próxima fase. – Suspirou ainda envergonhado. – Mas eu não queria parecer um parolo e virgem inocente que não faz as coisas por medo. A vida é feita de experiências, não é?

– Não, não é assim! – Falou um pouco mais alto do que pretendia, batendo na mesa. – As experiências não devem ser forçadas dessa forma e nem com insinuações baratas de falta de coragem, caso não concordes em fazer o que supostamente todos fazem. É a tua decisão e se não quiseres ou não te sentires à vontade não faças. Ninguém tem o direito de julgar por causa disso e quem o faz, não vale nada.

Armin e mesmo Levi estava um pouco surpreendido com a súbita mudança na atmosfera calma. Porém, escutar que o tal Jean se tinha aproveitado da situação, usando ideias idiotas para forçar o loiro a fazer algo que provavelmente não queria, irritou-o. A ideia de que alguém pudesse ser forçado, enojava-o. Provocava-lhe náuseas e trazia de volta à memória coisas que não queria relembrar.

– Desculpa, tens razão. – Murmurou o loiro, deixando cair algumas lágrimas e Levi sentiu um nó na garganta. Este último levantou-se para sentar-se ao lado do loiro, incerto quanto ao que deveria fazer enquanto via as lágrimas sucederem-se umas atrás das outras. Estendeu a mão, colocando-a no ombro de Armin que subitamente se virou e abraçou-o, apanhando-o de surpresa. – Eu não queria ter feito aquilo, mas… – Soluçou. – Pensei que como sinto atração também por rapazes, deveria aproveitar a experiência, mas não pensei que… quase me obrigasse. – Sentiu os braços de Levi envolverem-no. – Penso que também o fiz porque… porque não queria ser tão inexperiente.

– Não precisas de pensar nessas coisas. A maioria que grita experiência aos sete ventos são os que normalmente passam as noites sozinhos com a mão. – Falou e sentiu Armin rir um pouco ainda com o rosto escondido no ombro dele.

– O Jean é mesmo só uma atração porque eu gosto de outra pessoa… – Disse com a voz abafada.

– Um rapaz?

– Sim.

– Querias fazer boa figura na frente dele e por isso, pensaste que podias usar outro como experiência para começar? – Perguntou e viu o loiro distanciar-se o suficiente para se olharem frente a frente.

– Era assim tão evidente?

– Atirei a hipótese ao ar e por acaso, acertei. – Disse o jovem de olhos cinza, encolhendo os ombros. – Mas não faças isso por ninguém, Armin. Se esse rapaz ou qualquer outra pessoa quiser ficar contigo, vai ficar não por teres alguma experiência ou por seres quem não és, mas porque…viu quem eras e quis ficar. Eu tenho alguém assim na minha vida. Não um namorado, mas uma melhor amiga que ficou mesmo quando eu não acreditava que ninguém quisesse ficar ao meu lado.

Armin sorriu, segurando numa das mãos de Levi.

– Obrigado. Obrigado por estares aqui.

O jovem de cabelos negros desviou o olhar.

– Pois… esqueçamos os sentimentalismos. Está quase na hora de começar as aulas de novo. – Disse ao ver as horas no relógio que havia num dos cantos da sala.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

– Demasiado ocupado para falar comigo?

A voz e pergunta apanhou Jean de surpresa à saída da residência de estudantes. Ao olhar encontrou o namorado de braços cruzados, encostado perto da porta. Apesar do tom seco da questão, Eren parecia bem mais calmo do que da última vez que tinham conversado. Calçava umas sapatilhas pretas, calças brancas com rasgões nos joelhos e uma camisa de malha dividida entre as cores cinzentas e pretas. Numa das mãos segurava um casaco escuro que devia ter retirado depois de chegar, apesar das temperaturas frescas da manhã.

– Também desapareceste sempre que te apeteceu. – Retrucou Jean. – O que te traz por aqui? Novidades acerca da transferência?

– Não, simplesmente vim às aulas. – Respondeu com um encolher de ombros e então, Jean notou na mochila perto dos pés do moreno.

– Vieste às aulas? – Repetiu honestamente surpreso.

– É uma longa história e não quero perder tempo a falar disso. Afinal de contas, também me ignoraste.

– Escuta Eren, não havia nada que pudesse fazer por ti e já estava em problemas suficientes. – Respondeu, desagradado com o tom da conversa. – Além disso, sei que qualquer que seja a situação, sempre acabas por virar tudo a teu favor.

Eren abanou a cabeça com um sorriso. Não um sorriso de alegria, mas um que acabava por expressar várias vezes ao constatar que de facto, as pessoas não se importavam umas com as outras. Ou pelo menos, Jean encaixava perfeitamente nesse lote dado que Annie, mesmo na situação delicada dela tentou ajudar, mas ele não permitiu que ela se prejudicasse.

Contudo, o moreno não podia censurar o namorado pelo comportamento, pois no fim os dois não eram tão diferentes. Ele não podia sentir desapontamento porque o namorado não demonstrou interesse nele nos últimos dias. Provavelmente, Eren encararia o problema da mesma forma e deixaria que o outro se desenrascasse sozinho.

– Onde está o teu brinquedo? – Decidiu perguntar, mudando o rumo da conversa.

– Pensas mesmo que ia sair com ele por aí? Não posso desmotivar outros interessados. – Respondeu Jean com um meio sorriso e aproximou-se do moreno. – Se tivesse saído com ele agora, teria perdido esta oportunidade de te ver logo de manhã. – Colocou a mão na cintura do moreno que retribuiu o sorriso, mas afastou a mão do namorado.

– Não vou chegar atrasado às aulas. – Falou, mantendo o olhar fixo no outro. – Espero que pelo menos neste tempo, tenhas feito avanços com o brinquedo ou continuas simplesmente a dar-lhe palmadinhas nas costas cada vez que volta com medo para o dormitório?

– Estás um estraga prazeres agora de manhã. – Disse um pouco chateado porque o namorado não aceitava os avanços dele, mas tendo em conta os acontecimentos recentes, decidiu que não iria insistir naquela ocasião. Optou por contar até onde tinha chegado com o loiro e também acerca do problema em encontrá-lo durante as horas livres porque aparentemente, os que deviam tratar disso não pensaram em procurá-lo na biblioteca.

– Os três idiotas não colocam a hipótese de um nerd estar na biblioteca? – Perguntou Eren pouco impressionando com a inteligência dos colegas que Jean tinha encontrado para infernizar os dias de Armin. – Pensava que a esta altura, já tivesses o serviço completo do nerd.

– Estou a chegar lá. – Disse com uma expressão pouco amigável. – Estás aí a reclamar, mas não tens feito nada. Tem ficado tudo nas minhas mãos.

– A partir de hoje, irei colaborar. Afinal de contas, vamos encontrar-nos nas aulas.

– São de anos diferentes. – Recordou Jean confuso.

– Sim, mas a Mikasa já esteve com um estudante de Medicina antes e esse comentou que muitas vezes, alunos de diferentes anos partilhavam algumas aulas. Aqui não é diferente.

– Estiveste com a Mikasa? Aquela cobra esteve contigo? – Indagou genuinamente surpreendido. – Foi ela que te ajudou? A troco de quê? Tu e ela…

– Credo, não. – Eren cortou de imediato. – Já disse mais do que uma vez que nada disso acontece entre mim e ela.

– Sei lá, tu chegaste a dizer que dormiram juntos.

– Éramos crianças e já desde dessa altura, eu às vezes tinha medo de não acordar. – Disse, abanando a cabeça. – Sei que tu tens dor de cotovelo porque ela nunca quis nada contigo, nem passageiro.

– Ela é que fica a perder. – Apontou Jean.

– Sim, todos ficam a perder. – Ironizou. – Acredita, se algum vez conseguisses alguma coisa, eu penso que seria como as viúvas negras, serias devorado depois.

– A forma como a descreves assusta-me, sabias?

– Tu próprio já te assustaste com ela algumas vezes. – Disse divertido, recordando algumas das brincadeiras consideradas de mau gosto pelo namorado, mas que Eren não resistia rir ao recordar. – Ainda assim, estar com ela provou ser bastante útil. Mais do que um certo namorado que tenho.

– Vais continuar a atirar-me isso à cara até quando? – Perguntou e aproximou-se novamente. – Talvez esteja na hora de ver até que ponto, consegues manter esse ar arrogante quando… – Foi empurrado pelo moreno que manteve um meio sorriso.

– Não tens sido bom menino o suficiente para te recompense. – Disse num tom sarcástico e abaixou-se para apanhar a mochila do chão. – Faz algo que seja do meu agrado e eu penso no assunto. – Piscou o olho e afastou-se.

Jean odiava quando Eren o dispensava daquela forma. Mesmo com os problemas financeiros recentes, ele continuava habituado a ter o que queria. Isso aplicava-se sobretudo à área “amorosa” da vida dele em que muitos não resistiam à forma como se aproximava e tomava o que queria. Portanto, ter o próprio namorado a rejeitá-lo, mexia com o seu orgulho e boa disposição.

Com as mãos nos bolsos, começou a andar na direção oposta que Eren tinha seguido. Ainda estava a remoer-se por dentro, quando avistou Armin sair da biblioteca acompanhado.

Quem é aquele?”, questionou-se, semicerrando os olhos para tentar ver melhor ao longe, “O Armin diz que está sempre sozinho. Se bem que é verdade que notei qualquer coisa estranha no comportamento dele recentemente. Não está tão em baixo como esperava e isso deve ser por causa daquele tipo”, concluiu com alguma irritação, “Está na hora de ver aquele tipo de perto. Parece outro nerd”.

– Hei Armin!

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

O loiro que conversava ao lado de Levi com um sorriso no rosto, desviou o olhar na direção da voz que o chamou. Também o jovem de cabelos negros olhou um pouco mais discretamente, mas ao ver quem se acercava, sentiu um nó na garganta. De longe, Levi chegou a ponderar que estivesse errado ou a confundir com outra pessoa. Porém, conforme o indivíduo se aproximava, mais evidente se tornava de que era a mesma pessoa que Levi tinha visto a conversar com o grupo que atormentava Armin. Aliás, arriscava-se a afirmar que aquele era o responsável pela situação do loiro.

– Jean. – Acenou o loiro com um entusiasmo bem mais reduzido do que o outro demonstrava.

– Quem é? – Perguntou Levi com um péssimo pressentimento, pois até onde tinha percebido, além dele, Armin só falava com mais uma pessoa.

– É o meu companheiro de quarto. – Respondeu.

Aquilo confirmava a teoria de Levi e também as suspeitas de Hanji. A amiga assim que ouviu a história de Armin pela primeira vez desconfiou do companheiro de quarto. A verdade é que a mesma pessoa que colocou medo e lágrimas nos olhos do loiro, era também a mesma que mais tarde fingia preocupação e oferecia conselhos falsos. Jean estava a enredá-lo em mentiras e como se isso não fosse mau o suficiente, também estava a aproveitar-se disso para forçar o loiro a atos sexuais. A maldade que se escondia por detrás do sorriso falso que mostrava à frente deles, perturbava o jovem de cabelos negros.

Será que Armin acreditaria nele?

Em princípio, o loiro deveria ficar no mínimo com dúvidas acerca das boas intenções do companheiro de quarto. Ainda assim, a tarefa poderia não ser simples, dado que não seria tão evidente acreditar na verdade que se escondia atrás daquele sorriso de plástico. Levi sabia que seriam as suas palavras contra alguém que obviamente dominava a arte de manipular os outros.

Contudo, limitar-se à assistir à forma como Jean iria manipular Armin estava fora de questão. Afinal de contas, mesmo que as circunstâncias fossem outras, Levi sabia o que era ser enganado e manipulado até ao ponto de desejar que a vida acabasse.

– Prazer em conhecer-te, Levi.

O jovem de olhos cinza viu a mão estendida à sua frente, mas apenas observou o outro em silêncio antes de desviar o olhar. Levi viu como ao não retribuir o gesto, Jean parecia irritado, mas apressou-se a colocar mais um sorriso falso no rosto.

– Jean, eu agora… – Ia dizer Armin.

– Vá, acompanho-te até à entrada. – Cortou Jean, colocando o braço sobre os ombros do loiro, que não escondia algum desconforto.

– Arm… – Levi tentou estender a mão e segurar o braço do jovem de olhos azuis e cabelos dourados. Devia ter sido capaz de reagir antes. Se o tivesse feito, talvez Armin não estivesse a distanciar-se com Jean. O loiro não era tão diferente de Levi no que dizia respeito a deixar-se levar pela situação, em vez de tentar falar, negar e colocar um ponto final nas coisas. Guardava em silêncio muito do que queria fazer e dizer e por ser consciente disso, Levi sentia que tinha falhado. Ele devia ter sido forte e impedido que Jean o levasse.

A manipulação podia afastá-los e Levi não seria capaz de continuar junto do loiro. Jean podia claramente impedir que Armin visse a realidade e convencê-lo de que as doces mentiras era tudo o que precisava.

Com isso em mente e mesmo consciente de que não tinha provas tangíveis, apenas a sua palavra contra a de Jean, resolveu semear pelo menos a dúvida na cabeça de Armin.

 

Eu – Mensagem:

Lembra-te de pensar por ti mesmo. Não tenhas medo de dizer que não.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

Os olhos verdes observaram a sala e não tardaram em reconhecer um certo loiro. Este último sentava-se num dos lugares mais próximos ao quadro, onde ficaria o professor. Os olhos azuis encontravam-se fixos no ecrã do telemóvel e por isso, de tão absorto que se encontrava, apenas notou a presença de outra pessoa quando escutou uma mala cair sobre a mesa e a cadeira ao lado dele ser arrastada, produzindo um som estridente.

Os olhos azuis procuraram de imediato quem iria sentar-se ao seu lado, visto que usualmente não conversava muito com os colegas de curso, exceto para alguns trabalhos de grupo. Não que os colegas o tratassem mal, mas como o loiro não se sentia incluído em muitas das conversas, não eram criadas afinidades entre eles.

O moreno divertiu-se com o ar esperançado de ter um colega ao seu lado, ser substituído pelo receio ao reconhecer quem estava ao seu lado. Quase em seguida, Armin agarrou a sua mochila e tencionava mudar de lugar, quando Eren agarrou o braço dele com força e murmurou:

– Segue o meu conselho e senta-te. Ou queres passar o próximo mês a aprender a escrever com a outra mão?

Visivelmente trémulo com a ameaça, o estudante de cabelos dourados sentou-se e Eren fez o mesmo ao lado dele. Enquanto retirava um caderno da mochila, o moreno mantinha o mesmo sorriso divertido.

– Conta-me, Armin. Como foi chupar o meu namorado? Teve que corrigir-te muitas vezes? Usaste os dentes e ele empurrou mais fundo para te ensinar uma lição? – Sorriu ainda mais perante o choque e os olhos marejados do outro que não desviava o olhar da mesa à sua frente. – O que foi? Pensaste que a esta hora ninguém iria saber que estás a praticar para ser a próxima puta da Universidade? As paredes são mais finas do que pensas e por isso, em breve não te faltarão clientes. Pode ser que a partir dessa altura com mais dinheiro nos bolsos, possas vestir uma roupa que não pareça lixo. – Riu. – Queres que te ajude? Vou arranjar-te os primeiros clientes. – Virou o rosto para alguns colegas que conversavam, olhando de soslaio para Eren, visto que era a primeira vez que o viam nas aulas. – Aqui o Armin está a oferecer…

– Pára. – Pediu Armin.

– Nem um por favor? – Ironizou.

– Por favor… – Murmurou num tom choroso.

– Hum, está um pouco melhor, embora não entenda porque não aprecias o meu favor. – Disse, pousando o queixo sobre a mão. – Vamos ver… agora que partilhamos o mesmo namorado…

– O Jean não é meu namorado. – Falou, deixando cair uma lágrima.

– Amigo colorido? – Perguntou Eren sem deixar a ironia de lado. – Enfim, não importa. Se quiseres que os teus dias não acabem assim contigo a chorar pateticamente, sugiro que não me contraries. Estás no segundo ano, não é? – Viu o outro assentir. – Ótimo. Quero todos os teus apontamentos do ano passado, assim como a tua total disponibilidade para fazer qualquer trabalho que surja. Se eu conseguir boas notas, é mais provável que não acabes a chorar. Diz uma palavra disto às pessoas erradas e asseguro-te que não haverá quem te ajude depois. Passas muito tempo sozinho… demasiado tempo para que certas coisas não possam acontecer, por isso faz um favor a ti próprio e fecha a boca. Estamos entendidos?

– Sim… – Veio a resposta fraca.

Eren queria ter atormentado um pouco mais Armin, mais iriam coincidir nas mesmas aulas poucas vezes. Porém, o moreno faria questão de tornar cada momento inesquecível.

No entanto, quantas mais aulas assistiu, mais Eren teve a certeza de que Medicina jamais seria a sua vocação. Não tinha qualquer paciência ou interesse naquilo que era dito e foi a custo que se manteve em todas as aulas. Várias vezes distraiu-se com mensagens ou jogos no telemóvel para poder suportar ficar dentro da sala de aula.

Evitou Jean o dia todo, ainda que tenha ponderado mais do que uma vez, a ideia de lidar com a frustração que sentia nas aulas na companhia do namorado. Só que Eren estava decidido a ignorá-lo por algum tempo, assim como o outro o fez nos últimos dias.

Além disso, se quisesse, o moreno podia facilmente encontrar alternativas. Ele via os olhares que recebia e por isso, não seria difícil encontrar alguém que quisesse passar um bom bocado com ele.

Contudo Eren concluiu que aquele não era o melhor dia, até porque estava na hora de encontrar um táxi e voltar para o buraco de onde tinha fugido. Depois de regressar à pensão onde ficou acompanhado por Mikasa, apenas encontrou um bilhete dela junto a um envelope com dinheiro. Ela tinha saído para apanhar o avião de regresso a Sina, após ter surpreendido o moreno e ter passado a noite com ele na pensão.

 

Flashback

Eren entrou no quarto de t-shirt branca e boxers azuis-escuros, vendo que Mikasa já se encontrava deitada num do lado das camas e ficaria de costas para ele.

– Se estás a tentar manipular-me para ter pena de ti e falar da Annie, volto a dizer que estás a perder o teu tempo e mais do que isso, estás a assustar-me.

– Já dormimos na mesma cama antes. – Respondeu num tom indiferente.

– Éramos crianças. – Suspirou, sentando-se na cama.

– Basta dormires como uma pessoa normal e estás seguro. – Falou ela ainda de costas.

– Sabes que me mexo muito durante o sono. – Disse, deitando-se ao lado dela na cama mas de barriga para cima com os olhos fixos no teto.

– Se me bateres com uma perna ou braço, empurro-te para o chão. Problema resolvido.

– Sempre tão atenciosa. – Disse com sarcasmo e fechou os olhos. – Boa noite, Mika.

– Boa noite, Eren. – Respondeu com a voz abafada pelo lençol, mas o silêncio durou bem menos do que esperava. – Eren?

– Hum?

– A Annie disse que nunca tinha conhecido pessoas assim como nós. Tão sozinhos e sem nos darmos conta disso.

– Não vou falar da Annie, Mika. – Respondeu, abrindo os olhos para fitar novamente a cor branca do teto.

– Será que é verdade?

– Huh?

– Que estamos sozinhos?

– Deixa de pensar nessas coisas e dorme, Mika. – Estendeu a mão e tocou nos cabelos negros da amiga. – A Annie deve ter dito isso no calor do momento.

– Devia sentir qualquer coisa com esse gesto, não achas? – Ouviu um som estranho de Mikasa e virou o rosto na direção dela que continuava de costas.

– Mikasa? – Arregalou os olhos ao ouvir um soluço abafado e aproximou-se da amiga, acariciando o ombro e os cabelos dela. – Hei? Estás bem? Estás a deixar-me preocupado. Aconteceu mais qualquer coisa além da discussão com a Annie? Está tudo bem em casa? No trabalho?

A resposta demorou vários minutos.

– Eren, podes ficar assim?

– Sim, mas…

– Não é nada. – Disse ainda num tom choroso. – Vamos dormir.

– Mika, tens a certe…?

– Boa noite, Eren. – Cortou e o moreno suspirou.

– Boa noite, Mika.

Obviamente, assim como esperava, Mikasa empurrou-o para fora da cama a meio da noite e teve que dormir numa cama improvisada com cobertores no chão. Mas pelo menos, àquela hora, Mikasa já lhe pareceu a mesma de sempre.

Fim do Flashback

 

Será que estava a chorar por causa da Annie? Ou pelo o que ela disse?”, questionou-se com a cabeça encostada ao vidro, “Qualquer um dos motivos é uma estupidez…”.

Pela hora, Eren esperava que não tivesse que sentar-se novamente nos degraus do prédio. Depois de arrastar as malas atrás dele, suspirou de alívio ao escutar música atrás da porta fechada. Aguardou pouco segundos antes de bater na porta, questionando qual seria a melhor abordagem. Deveria colocar o nerd no lugar dele ou ele diria qualquer coisa à mãe dele? Considerando a situação em que se encontrava, talvez o mais seguro fosse não arriscar. Ainda que ser simpático sem razão não fosse o forte dele. Quem sabe, a melhor estratégia fosse simplesmente tolerar a presença do outro.

Assim que a porta se abriu, o olhar do outro manteve-se em Eren por escassos segundos antes de se limitar a entrar em casa, deixando a porta entreaberta. Mais uma vez, o moreno testemunhou o olhar repleto de tanta coisa que não era capaz de decifrar ou entender.

Eren considerava que o único que estava numa posição injusta era ele e não aquele nerd!

Tal como na primeira vez que o viu, o tal Levi levava roupas escuras, incluindo o capuz na cabeça. Esses elementos não permitiam que desvendasse muito acerca da aparência do outro. Não que Eren estivesse interessado.

O moreno entrou com as malas, dizendo:

– Nem um “boa noite”? Pelo menos a cortesia devia ser o mínimo, já que vamos partilhar a mesma casa. – Disse com o sarcasmo evidente na voz e então, reparou em duas coisas. O gato sobre o sofá e o computador nas mãos de Levi, que mantendo-se de costas, caminhava na direção do quarto. – Bonito computador para quem vive neste antro. Quem pagou? A minha mãe? – Perguntou, desistindo imediatamente de uma abordagem menos abrasiva.

Num primeiro momento, Eren ponderou a abordagem tolerante, mas ao ver nas mãos de Levi o computador, depressa concluiu que um deles estava a ter vantagens com a desgraça do outro. Como resposta, após o gato passar à frente de Levi, este último fechou a porta do quarto com força e à chave.

– Pensa o quê? Que vai extorquir dinheiro à minha mãe e agir como se fosse o senhor do mundo? Não sabe mesmo com quem está a lidar. – Disse a si mesmo, fechando a porta de casa e concluindo com desagrado que teria que dormir na sala.

Nem almofadas ou lençóis havia! Como ia fazer? Também não queria ter mais contacto do que o necessário com Levi.

Olhou em volta, recordando com desagrado o tamanho ridículo daquele apartamento. Nem sequer havia uma televisão! Como é que outro se entretinha antes de comprar o computador? Eren sentou-se no sofá que o faria encolher-se ou optar por dormir no chão. Nem sabia o que seria pior.

Felizmente Eren jantou antes de decidir procurar um táxi. Duvidava que fosse encontrar algo decente para comer naquele lugar e mesmo que por milagre encontrasse qualquer coisa decente, o moreno sabia que era inútil. Ele não sabia cozinhar. Nunca precisou de aprender e isso tratava-se de mais um problema que teria que resolver.

Com o telemóvel na mão, encontrou rapidamente Wi-Fi em casa. Contudo, a mesma estava protegida com senha e por muito que pudesse utilizar os dados móveis para fazer o Facebook, Instagram, entre outras apps mais leves, não poderia ver séries ou vídeos muito longos. Arriscava-se a gastar rapidamente a internet disponível através dos dados móveis e não podia correr esse risco. Ora sem televisão para passar o tempo, a internet seria a melhor opção.

Começava a ser um acumular de coisas muito grande para que pudesse continuar a evitar a conversa com Levi. Pelo menos, para poder ter um mínimo de conforto naquele lugar sem enlouquecer.

Eren suspirou e levantou-se do sofá. Dirigiu-se à porta do quarto e bateu.

– Temos que falar. Nem uma TV tens por isso, a senha da net seria o mínimo. Uma almofada e cobertor também seria bom. Este antro é um gelo. – Bateu mais uma vez na porta. – Estás a ouvir-me? Vais deixar-me sem net e a dormir no frio? – Sem qualquer resposta. – Puta que pariu a minha sorte.

Quase lhe saiu pela boca que diria à mãe que o outro não queria colaborar. Porém, esse argumento pareceu-lhe humilhante para usar. Eren podia esperar.

No fim, Levi teria que sair do quarto e Eren faria questão de deixar bem claro que ignorá-lo era um erro.

 


Notas Finais


Até ao próximo capítulo!


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