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História Memórias Rasgadas - Capítulo L


Escrita por: Imagination

Notas do Autor


Obrigada pelos comentários, mensagens, favoritos e a todos os que acompanham a fic!
Peço desculpa mais uma vez pelo atraso na atualização, mas tenho tido pouco tempo para escrever mas espero que isso se resolve em breve T.T

Capítulo 50 - Capítulo L


Capítulo L

 

As cerimónias fúnebres nunca seriam um evento fácil na vida de ninguém. Porém, se fosse comparar com o que teria ocorrido aquando da despedida de Erwin, aquela que agora presenciava, conseguia ser quase tão dolorosa. Na altura, os rostos à sua volta demonstravam uma sombra, uma tristeza que em alguns casos chegava a deslizar na forma de pequenas lágrimas. Foi sem dúvida uma grande tristeza, mas uma dor mais contida e possivelmente, isso se devesse a que muitos dos seus amigos tenham tentado tornar também as coisas menos desoladoras para os olhos inocentes de Bianca. Outras pessoas presentes podiam não ter a mesma consideração, mas sendo de estratos sociais em que a aparência ditava tudo, também contiveram bem a sua tristeza ou o fingimento desse sentimento.

Levi recordava as lágrimas, os murmúrios e acima de tudo, o grande silêncio pesado entrecortado apenas com as palavras da figura religiosa que guiava a cerimónia.

Contudo, se por um lado a família de Connie recordava-o desse dia pela atmosfera semelhante, por outro lado, a parte dos familiares de Oluo frisava como a dor podia ser sentida de várias formas. Umas que até incluíssem o não ser capazes de conter tamanho sofrimento. Era uma família extensa com vários irmãos mais novos que se agarravam aos pais, tios e outros familiares a chorar e a questionar por que razão Oluo não podia voltar. O choro mais alto, as lamúrias, o desmaio de uma senhora que veio a descobrir depois que era a avó do segurança, acentuaram o aperto no peito. Queria tanto poder fazer algo para atenuar aquele sofrimento, mas não havia absolutamente nada que pudesse fazer ou dizer.

 

Flashback

Assim que passou a entrada do cemitério de mão dada com a filha, sentiu uma mão no ombro. Sem deixar de andar, olhou de soslaio e viu que se tratava de Mike.

– Entendo que possas pensar que tens responsabilidade nisto, mas essa expressão de sentimento de culpa não tem razão de existir.

– Será que não tem mesmo? – Questionou o homem de cabelos negros, distanciando-se enquanto ouvia o choro mais alto dos familiares que aguardavam pelo início da cerimónia de luto.

Fim do Flashback

 

Aquela explosão não era para Oluo, Connie, Sasha e Estela… era para ele. Quiseram pôr um termo à vida dele. Não só a vida dele, mas possivelmente de Bianca também.

Há anos atrás, Levi diria sem qualquer hesitação que preferia ter morrido no lugar deles. Perante a injustiça de tudo, de ver outras vidas perdidas enquanto a vida inútil dele se salvava, teria feito mais do que uns cortes. Não descansaria sem uma tentativa de suicídio bem-sucedida.

No entanto, por mais egoísta que uma parte dele pudesse dizer que era, ele lamentava a perda daquelas vidas, mas não desejava perder a vida dele e muito menos a da filha. Durante tantos anos, sentiu-se atraído pela ideia de morrer e agora temia por esse dia, sobretudo se esse dia chegasse e Bianca acabasse sozinha. Racionalmente, sabia que a filha jamais ficaria abandonada porque se alguma coisa lhe acontecesse a ele, os amigos que eram até mais do que isso, eram como família, iriam acolhê-la, protegê-la e ajudá-la a crescer.

Não obstante a consciência disso, Levi queria permanecer ao lado da filha. Queria vê-la crescer, ensinar-lhe tudo aquilo que um pai ou mãe deve ensinar ao seu filho e permanecer ao seu lado tanto tempo quanto lhe fosse possível.

Em segundo plano, pois a sua filha era a prioridade na vida dele, o empresário também queria fazer outras coisas na vida dele. Lugares que queria visitar, coisas que ainda queria aprender ou fazer… e no meio de disso, talvez a segunda prioridade na sua vida fosse dar-se ao luxo de ser feliz ao lado da pessoa que amava e fazer essa mesma pessoa feliz, rodeado dos amigos.

Descobriu tantas razões para viver e apreciar a vida que se recusava a aceitar que houvesse quem quisesse arruinar tudo isso, através de ganância, maldade e outros motivos que nunca seriam bons ou justificáveis.

– Um deles detetou o que pode ser uma arma. – Murmurou Hanji ao seu lado.

Olhou pelo canto do olho e viu que todos estavam absortos no velório. Os caixões baixavam lenta e cuidadosamente para os locais abertos na terra perante as lágrimas e lamúrias. Eren do lado oposto de onde se encontrava Hanji acabava de passar a mão nos cabelos de Bianca. A menina estava bastante silenciosa e os olhos cinzentos do empresário encontraram Eduardo. Este pareceu confuso por alguns momentos antes de ver o que Levi lhe murmurava devagar para que fosse capaz de entender o que dizia.

Em seguida, o homem de cabelos negros colocou duas luvas pretas nas mãos.

– A Historia também não aprova o que vamos fazer. – Murmurou Hanji.

– Faz com que todos entrem na capela como combinado. – Respondeu o empresário, vendo que já não havia risco de que os caixões caíssem desamparados pelos momentos que se seguiriam. Usou um dos dedos da mão direita para premir o centro da palma da mão e o efeito foi imediato.

O som de uma forte explosão soou e assim como previsto, os seguranças ora espalharam-se pelo local, tentando guiar os presentes para o interior da capela para que ficassem num local seguro.

Levi largou a mão da filha, empurrando-a para Hanji antes de trocar mais um olhar com a amiga e afastou-se rapidamente. Ouviu a pequena chamar por ele e viu que Eduardo tinha entendido o que lhe disse, pois logo o viu segurar o braço de Eren, impedindo-o de segui-lo.

O som do disparo seguiu-se. O que de certa forma surpreendeu-o, pois pensava que diante do falhanço do alvo, fosse ele quem fosse, não surgisse nenhum disparo. No meio da confusão era mais provável cometer um erro, mas o disparo passou curiosamente perto dele.

Continuando a correr para fora do cemitério, ouviu outro disparo que passou igualmente perto dele e moveu os dedos dentro das luvas, ouvindo claramente os aparelhos aproximarem-se. Colocando outro dedo na palma da mão, outro engenho explodiu noutro local onde sabia que não atingiria qualquer inocente e o fumo criaria uma cortina ideal para a menor visibilidade do atirador.

Contudo, assim que cruzou o portão, uma bomba de fumo rebentou à frente do empresário que ainda assim, golpeou duas pessoas diferentes que tentaram segurá-lo. Esperava o terceiro atacante, mas não o que se seguiu. Quando a terceira pessoa agarrou-o pelas costas, colocando o braço no pescoço não tardou em reconhecer o movimento e sabia exatamente o que fazer. Porém, antes que o pudesse fazer, um daqueles que tinha caído no chão ainda possuía outro tipo de arma. Algo que não esperava e que mudava o que tinha previsto que podia acontecer. Um choque elétrico intenso percorreu-o, fazendo-o perder a força não só nos braços, como sentia toda a inutilidade do corpo que se recusava a obedecer.

Lutou por manter a consciência, tentando mover um dos dedos mas naquele momento não lhe era possível e começou a ser arrastado para o interior de um veículo. Empurraram-no para o banco de trás, trancando as portas. Entre alguns disparos no exterior, gritos de seguranças a alertar para o veículo suspeito e o fumo, o carro onde estavam, arrancou.

Levi ficou atordoado e dolorido com o choque forte de antes provocado por algum taser ou stun gun, uma arma imobilizadora utilizada pelas forças policiais para paralisar temporariamente o alvo.

 

Flashback

– Estou a programá-los para que sejam capazes de reconhecer qualquer objeto que se assemelhe a uma arma de fogo.

– Achas mesmo que quem quer que seja que está por detrás de tudo isto, escolheria um velório para…?

– Hanji, já mataram o Connie e o Oluo num casamento. Eu não acho que olhem a meios para atingir os objetivos. – Disse de olhos colados no ecrã ao passo que as mãos se moviam sobre o teclado com rapidez. – Alguns destes aparelhos que vou equipar nos drones, vão também produzir flashes de luz ou ruídos ensurdecedores, mas todos sem exceção, vão ter um código corrompido para que expludam, se for necessário.

– Isso pode ser perigoso, Levi. Podes ser apanhado no meio ou apanhar outros inocentes.

– Um de nós vai ficar para trás e deixo-te o controlo de alguns.

– E se alguma coisa sair do previsto? E se te conseguirem levar ou qualquer outra coisa acontecer?

– Tenho que saber, Hanji. Tenho que ver quem está por detrás disso e se me deixar levar por alguns quilómetros é uma possibilidade, então vou correr esse risco.

Fim do Flashback

 

Ainda bastante dolorido, fez um esforço para virar o rosto. Precisava ver quem estava sentado nos bancos da frente. Tentou ser tão discreto quanto possível para que não se arriscasse a mais alguma tentativa de o deixar inconsciente. O cenário à sua frente continuava um pouco embaçado e com claros tons de desorientação. Também não havia troca de palavras entre os ocupantes dos lugares da frente e mesmo que existisse, Levi tinha algumas dúvidas de ser capaz de entender o que poderia ser dito.

Tentou mais uma vez mover alguma parte do corpo e assim que o braço se moveu um pouco, sentiu a pequena agulha querer perfurar o seu braço.

 

Flashback

– Aqui tens o que pediste. – Falava a amiga, abrindo uma pequena maleta. – Mas fica sabendo que não concordo com tantos riscos. – Começou a passar um algodão embebido em álcool no braço do amigo. – Tens a certeza que queres colocar uma coisa destas?

– Posso precisar, Hanji. É só mais uma precaução.

– Quando dobrares o braço, vai injetar diretamente. – Explicou. – Em poucos segundos, vais sentir os efeitos da adrenalina e embora tenhas pedido mais do que uma, quero que me prometas que no máximo não ultrapassas a segunda dose. É bastante perigoso mesmo para alguém que seja saudável.

Fim do Flashback

 

Foi mais uma precaução, desta vez, com possíveis efeitos adversos. Hanji apenas colocou aquelas pequenas agulhas pouco antes de saírem de casa e desde então, teve bastante cuidado com movimentos bruscos e nem pôde segurar em Estela ou colocar Bianca nos braços. Qualquer uma dessas ações entre outras poderia injetá-lo com uma das doses cuidadosamente colocada pela amiga e por isso, Estela estava nos braços de Farlan e Bianca esteve sempre ao seu lado de mão dada.

Fechou os olhos por breves instantes e abriu-os de novo, vendo as imagens mais focadas. Havia dois ocupantes. Falavam, mas num tom bem baixo e tanto quanto conseguia perceber, os rostos estavam cobertos. Não sabia há quanto tempo o carro estava em andamento, mas os efeitos da descarga elétrica que recebeu antes, começavam a desaparecer. Pelos vistos, os dois ocupantes estavam muito seguros de si mesmo, pois nem se deram ao trabalho de prender os pulsos dele ou as pernas. Também havia a possibilidade de terem muita pressa para abandonarem o local e daí que não tomaram as devidas precauções ou quem sabe, pensassem que a descarga elétrica teria efeitos prolongados o suficiente para que pudessem chegar ao destino.

Levi podia arriscar e fingir um pouco mais para ver até onde o levariam, mas quando teve a certeza de reconhecer a voz de um dos ocupantes, mudou de ideias. Não podia arriscar. Dobrou um dos braços e sentiu a agulha perfurar a pele. Em poucos momentos, assim como Hanji tinha previsto, sentiu uma diferença considerável no seu estado físico e sem querer dar oportunidade de reação dos ocupantes, sentou-se rapidamente, colocando o braço oposto contra o pescoço do ocupante ao lado do condutor que logo se tentou debater.

– Eu logo vi que esta conversa de choques elétricos não era uma boa ideia. – Comentou. – Como vai a vida, sobrinho? Julgando pela aparência, muito bem, diria eu. Nem pareces o mesmo menino nascido no lixo. – Retirou o lenço que levava no rosto, atirando-o para o banco do lado onde o colega continuava a agonizar para tentar libertar-se.

– Kenny, o que estás aqui a fazer? Para quem é que estás a trabalhar?

– E por que razão, eu estaria a trabalhar para alguém?

– Nunca vieste atormentar a minha vida antes, não penso que te tenhas lembrado disso agora. Quem é que te está a pagar? Não fazes nada que não seja por dinheiro.

– Não estava a tentar acertar em ti, mas infelizmente acho que tiraste o meu alvo da frente. – Respondeu descontraidamente como se não tivesse a ser seguido por outros veículos.

– Para quem é que estás a trabalhar?! Responde! – Exigiu saber e vendo o tio sorrir de lado, mas mesmo esse fez um ar um pouco surpreendido ao ouvir o gatilho de uma arma que Levi encostou à cabeça do outro que mantinha imobilizado. – Sei que tu não queres saber se ele vive ou não, mas como deves imaginar, vou rebentar a tua cabeça a seguir.

– Ó… será mesmo que és capaz? – Provocou. – Não vais começar a tremer como antes quando simplesmente te falava em espancar alguns filhos da puta que mereciam por não pagarem o que devem?

– É a minha família, os meus amigos que estão em jogo.

– E uma ida para a cadeia?

– Quem é que está a ser ingénuo agora? – Questionou Levi. – Tu sempre me disseste que os ricos não conhecem a cadeia porque podem manipular o jogo todo a favor deles. Para todos os efeitos, só há dois cenários possíveis agora: um cadáver e um culpado que nunca serei eu e sim, o fugitivo da justiça ou dois cadáveres e o argumento de autodefesa. – Continuou a ver uma expressão descontraída no tio. – Muito bem… se não queres falar assim, então quanto é que queres para dizer aquilo que eu quero saber?

– Passamos ao suborno. – Falou divertido.

– Vamos, diz! Ninguém neste caralho de cidade pode pagar mais do que eu!

– Quem te viu e quem te vê… – Comentou antes de fazer uma curva bem acentuada, que serviu não só para perder algum dos veículos que os seguiam, mas também para fazer com que Levi deixasse cair a arma, mas apertou suficiente o pescoço do outro ocupante do carro para que este não ficasse consciente. – Sabes, meu querido sobrinho, o teu problema é que assim como toda a gente, tu tens algo a perder. Sendo rico tens muito mais do que outros.

– Por que razão não queres aceitar o meu dinheiro?

– Porque eu também pensava que o dinheiro cobria tudo, mas vendo a desgraça que a tua existência trouxe à minha irmã, eu não penso que dinheiro algum possa pagar o gosto que vou ter quando colocares uma próxima e última vez, uma lâmina contra o teu pulso.

– Nada do que tu digas me fará acreditar de novo que não mereço estar aqui.

– Espera até perderes a pirralha porque não soubeste ouvir os conselhos do teu tio...

Levi estendeu os braços e teria agarrado Kenny, se este não tivesse feito mais uma manobra arriscada. Uma curva violenta ao ponto de atirar Levi contra uma das portas do veículo.

– Toca na minha filha e és um homem morto.

– Vais chorar por outros cadáveres primeiro e nenhum desses brinquedos te vai ajudar até porque este carro também já está no seu limite... – Ao dizer isso acelerou antes de abrir a porta do condutor e atirar-se para fora do veículo em andamento.

De imediato, Levi reagiu e procurou travar o carro com o travão de mão.

Contudo, assim que tocou no travão, pareceu-lhe sentir qualquer coisa de anormal que o fez usar mais um dos aparelhos ligados à luva que ainda levava na mão. Isto porque as portas dos bancos de trás estavam trancadas e não tinha a certeza de sair em segurança, simplesmente tentando sair pela mesma porta que Kenny tinha utilizado. Portanto assim que ouviu o aparelho aproximar-se da porta do lado oposto, encostou-se o mais que conseguiu à outra porta antes de ativar a opção de explosão. Assim que o fez, sentiu como era projetado para fora do carro e embateu num muro com alguma força antes de ver que o carro correu só mais uns metros antes de explodir por completo.

Apenas teve tempo de fechar os olhos devido ao clarão que se gerou e por algum tempo que não conseguia quantificar, esteve encostado ao muro até ver o rosto de Reiner e também de Bertholdt.

– O que estás a…? – Ia perguntar, mas sentindo a adrenalina ainda bastante presente nele, ergueu-se mais preocupado com a vibração da outra mão que lhe indicava que os outros dispositivos ainda estavam ativos. Esperava que esses conseguissem seguir o rasto de Kenny e de outros capangas que tentassem escapar da rede de segurança que formou com a colaboração também da polícia em torno do velório. A polícia que se mostrou cética quanto à necessidade de um cordão de segurança tão intenso, mas agora via que não era apenas um capricho, mas uma necessidade real.

– Sr. Smith precisamos voltar para…

– Preciso de um computador. – Falou Levi, vendo que o telemóvel teria caído algures e por isso, não poderia enviar as coordenadas corretas de uma forma mais rápida.

– Não, escuta Levi. – Reiner segurou os braços do empresário. – Estás com a respiração agitada e eu não acredito que fizeste uma coisa destas sem falar comigo primeiro. Tens noção do perigo que correste? Se o Bertholdt não tivesse aparecido para ajudar, não sei…

Os olhos cinzentos desviaram-se para o outro segurança, mas insistiu em não focar-se nas coisas erradas. Precisava que alguém enviasse aquelas coordenadas atualizadas para a polícia e outros seguranças.

– Vou voltar com o Bertholdt para junto da minha filha, mas preciso que me emprestes o teu telemóvel, Reiner e que depois as sigas e orientes os restantes.

– Levi…

– É preciso capturar um deles, Reiner. O meu tio não vai falar, mas um deles tem que abrir a boca e eu sei que tu podes conseguir.

Ainda um pouco contrariado e irrequieto com a aparência do empresário, o loiro hesitou por breves momentos, mas optou por obedecer. Sendo assim, entregou o próprio telemóvel e viu o homem de cabelos negros adulterar vários códigos no aparelho antes de o entregar novamente.

No ecrã, além de um mapa com coordenadas de diferentes locais, se selecionasse um deles podia ver imagens em direto.

– Então os drones eram para isto?

– Vai, Reiner. – Disse Levi, vendo o loiro assentir e sair rapidamente na direção indicada e preparando-se para dar informações a outros. – E quanto a ti… já que decidiste aparecer por cá, vamos voltar para perto da minha filha.

– Apenas fiz o que achei melhor. – Respondeu Bertholdt. – E ainda bem que o fiz, arriscou demasiado, Sr. Smith. – Caminhava ao lado de Levi que apesar da respiração acelerada, mantinha um passo igualmente rápido e anormal para quem teria sofrido um embate violento anteriormente. – Se calhar, devíamos chamar um veículo e aguardar para…

– Eles já não estão atrás de mim. – Cortou Levi. – Mas sim, arranja um carro rápido para voltarmos, já que o Reiner levou o outro.

Quando regressaram ao local que estava mais fortemente protegido, Levi quase empurrou um dos seguranças e polícias até encontrar o local onde estavam reunidos não só as famílias de Connie e Oluo, mas também os amigos que vieram logo ao seu encontro ao vê-lo. Dos mais agitados e claramente nada contentes com o que tinha acontecido era Eren e pior ainda era Bianca que correu na direção dele, abraçando-o enquanto chorava. Ele segurou-a forte nos braços, aliviado por vê-la bem e tentava acalmá-la do choro.

– O pai está bem… – Repetia. – Não chora, princesa.

– Ele está bem, Eren. Bom, pelo menos está inteiro. – Dizia Eduardo que recebeu mais um olhar pouco amigável do moreno.

– Não tinhas o direito de me manter aqui.

– Fui eu que lhe pedi. – Disse Levi, acariciando os cabelos da filha e teve que abaixar-se, pois enquanto a segurava no colo e tentava lidar com as perguntas dos amigos, começou a sentir alguma fraqueza e dores pelo corpo.

– Levi? – Chamou Mike. – Não sei o que aconteceu, mas não achas que devias ser visto por um…

Armin aproximou-se, abaixando-se diante do amigo e segurando um dos pulsos dele.

– Quantas doses tomaste? – Perguntou Hanji preocupada. – Mais do que uma? Levi, eu avisei que…

– Doses? – Perguntou Nina. – Do que estão a falar?

– Tu deste-lhe alguma coisa? – Perguntou Eren entre a preocupação e irritação.

– Não foi nada de especial. – Respondeu o empresário.

– Por que é que estás a esconder-nos coisas, Levi? – Quis saber Isabel. – Hanji, tu sabias disto e deixaste que…?

– Este agora não é o momento. Um de vocês chame a uma ambulância. – Pediu Armin, colocando uma das mãos no pescoço de Levi, massajando uma área em específico. – Estás com os batimentos cardíacos muito acelerados e estou a tentar diminuí-los um pouco, mas precisas de tratamento num hospital antes que entres em paragem cardiorrespiratória.

– Paragem cardiorrespiratória… – Eren repetiu assustado, abaixando-se perto do homem de cabelos negros que tinha uma das mãos no peito enquanto respirava como se estivesse cada vez mais cansado.

Mike foi o primeiro a fazer a chamada à medida que Levi dizia que não estava assim tão mal. Nem o próprio acreditava nisso, mas não queria preocupar mais a filha que insistia em permanecer ao lado dele.

 

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– E se algum deles for apanhado e falar? – Perguntou a mulher de cabelos loiros.

– Só um deles sabe exatamente quem estava a pagar pelo serviço, os outros limitaram-se a cumprir ordens de um chefe sem rosto. – Respondeu, encostado a uma parede, vendo alguma agitação no entra e sai de pessoas no hospital. – No entanto, as coisas não correram como esperado. Falaste-me do dispositivo policial, mas não de todos aqueles brinquedos pelo ar. Se fossem só drones com câmaras de filmar não seria tão preocupante, mas aquelas merdas explodiam, espalhavam fumo, entre outras coisas que não deviam estar autorizadas ou programadas para fazer. Mas como sempre, ter dinheiro faz com que alguns privilegiados possam passar por cima das regras e mesmo das leis.

– Não entendo o que pretendias, atacando-os durante o velório. Devias ter imaginado que ele não seria tão ingénuo para não precaver-se. – Comentou Dina com um longo suspiro. – Bom, pelo menos suponho que alguns dos familiares queiram processá-lo por todo o circo que aconteceu.

– Não me parece.

– Então de que serviu exatamente o que aconteceu?

– Era suposto terem-se preparado para enterrar mais um deles, mas com estes imprevistos talvez tenha eu que diretamente escolher a dedo e retirar uma das pedras no caminho.

– Eu achava que devias tirar aquela intrometida da advogada. – Comentou Dina. – E depois eu encontraria onde ela escondeu o que sabe até agora. Tem que estar em algum suporte digital.

– É um risco que não estou disposto a correr, sobretudo se o que sabe puder chegar às mãos de algumas pessoas. – Olhou para o relógio no pulso.

– E já viste o Grisha? Ainda está a tratar do Levi?

– Não, o filho da puta daquele médico oxigenado não deixou que o teu marido ou qualquer outro médico se ocupasse dos tratamentos dele.

– E tu não interferiste?

– Não podia fazer nada sem levantar suspeitas. Não pensei que aquele Armin fosse responder ou fazer frente ao Grisha a outros médicos que já têm mais tempo de casa neste hospital, mas o teu filho disse que ia tentar pelo menos “visitar” e ver o que se passa. Ainda demoras muito a chegar?

– Estou quase. – Respondeu. – Vou acabar de me preparar mentalmente para me mostrar preocupada com o Sr. Smith… e também a pirralha que gosta tanto de mim.

– É… eu apostaria nisso.

– Nisso o quê?

– Aproxima-te mais da pirralha porque se alguma coisa fugir do meu controlo, a pirralha vai ser a forma mais fácil e rápida de meter a mão na fortuna dele. – Disse e pouco depois desligou a chamada porque percebeu que tinha outra em espera. Assim que atendeu e reconheceu a voz… – Posso saber por que merda paguei por uma morte que não aconteceu?

– O combinado não incluía ter que lidar com brinquedos pelo meio e nem com a polícia demasiado perto.

– E no que é que revelares-te para o teu sobrinho ajudou no meio de tudo isso?

– Paranoia. Não disseste que querias paranoia? Ele conhece-me o suficiente para saber que quando se trata de cumprir promessas terríveis, eu sempre tenho palavra. – Ouviu o som de carros a passar e em seguida, veio novamente a voz. – Ah e continuo sem saber para onde levaram os teus amigos. Começo a achar que a Sra. Jaeger tem razão porque tu sabes perfeitamente que a polícia não teria tomado as devidas precauções para mover aqueles dois para algum local de alta segurança. Aquilo tem mão daquela advogada.

– Pode ter sido o Smith.

– Eu vi-a a sair da esquadra onde deveria estar o tal Thomas, mas não o encontrei. Cá para mim, estás a querer atormentar a pessoa errada. Esse Eren pode esperar para os teus joguinhos depois, eu começaria por preocupar-me com a advogada.

– Sou eu quem toma as decisões e o teu trabalho é segui-las, uma vez que és pago para isso.

– Lembrando sempre que serei o primeiro a saltar do barco, se alguma coisa der errado.

 

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Quando os olhos cinzentos se abriram, sentia-se aliviado por notar como a respiração estava bem mais tranquila. Porém, a iluminação fraca do quarto indicava que teriam decorrido algumas horas desde do momento que perdeu a consciência. O que se bem recordava, teria sido algures após a chegada ao hospital com Armin sempre do lado dele a insistir que seria ele a tratar de qualquer procedimento médico necessário.

Pelo silêncio do quarto, deduziu que a hora das visitas já tivesse terminado mas que possivelmente, Eren, Bianca e alguns dos amigos ainda estivessem por perto a tentar quebrar essa regra. Conhecendo Hanji, por exemplo, até podia imaginá-la a entrar por uma das janelas do quarto e abrir a porta para os restantes.

Sorriu um pouco, fechando os olhos por breves momentos antes de questionar-se como teriam corrido as coisas para Reiner e os restantes. Teria ele sido capaz de capturar alguns dos cúmplices no ataque? Esperava também que a família de Oluo e Connie não estivessem ainda mais abalados depois do que aconteceu. Tinha que saber quanto tempo teria passado e como estavam as coisas e por isso, começou a tentar sentar-se na cama mas logo notou que tinha os braços e os tornozelos presos. O que o deixou logo num estado de alerta, pois a última vez que esteve numa situação semelhante tinha sido quando estava a ser tratado por Mike e teve um dos muitos surtos durante a noite. Imobilizaram-no dessa forma várias vezes para que não provocasse ferimentos a ele próprio, mas isso estava no passado e por isso, não era compreensível que isso estivesse a acontecer no presente.

Ouviu a porta do quarto e isso fez com que a sua atenção se voltasse para esse lado e viu uma figura conhecida entrar e fechar a porta atrás dele.

– Como te sentes, Levi?

– Por que é que me prenderam à cama? Eu entrei aqui com um problema respiratório e não…

– Precaução apenas.

– Precaução? – Perguntou confuso. – Precaução de quê, Zeke?!

– Desse teu temperamento. Não te preocupes, quando acordares de novo daqui a umas horas já não terás essa precaução aqui. – Comentou calmamente, caminhando pelo quarto com uma seringa na mão. – Eu estava bastante preocupado com o que aconteceu hoje. O meu pai ofereceu o melhor tratamento que este hospital pode dar e mesmo assim, ele e outros médicos receberam uma imensa falta de respeito por parte do Dr. Arlert.

– Zeke?

O médico parou ao lado da cama dele e encostou a agulha ao braço do empresário, empurrando o conteúdo da seringa para o interior do corpo dele.

– Não é nada de grave. Apenas para te ajudar a ficar calmo e a descansar que bem precisas. Ouvi dizer que não tens descansado como deverias.

– Por que é que estás aqui? Por que é que estás a dizer-me estas coisas?

O outro sentou-se na cama, debruçando-se sobre o empresário.

– As coisas só vão piorar daqui em diante e era tão mais fácil e simples, se me escolhesses a mim em vez de insistires numa nova história desastrosa com o meu irmão. Tenho a certeza que te vais lembrar desta conversa mais tarde e vais querer reconsiderar… pensa só, tudo pode terminar de repente e ficar tudo bem.

Levi lembrava-se de ter insultado Zeke, de ter tentado libertar-se da cama, mas a uma velocidade vertiginosa, sentiu-se ser empurrado para a escuridão de um sono que foi tudo menos calmo. O médico podia não ter feito parte dos pesadelos que se seguiram, mas a lembrança de se ter cruzado com o tio, fez com que várias recordações fizessem parte daquelas horas de sono agitadas.

Quando pensava que tentaria acordar mais uma vez para encontrar mais algum cenário doloroso, os olhos abriram-se ao mesmo tempo que se sentava na cama e apercebia-se que os braços e pernas não estavam presos. Teve mesmo que desviar o lençol que havia sobre ele e regular a respiração agitada.

– Levi acordaste. – A voz do moreno fez com que olhasse de imediato para encontrar o outro bem perto, colocando a mão no rosto dele.

– Eren… – Murmurou, segurando na mão dele. – Onde está a Bia? A Estela? Os outros? Viste o Zeke?

– Ahm… a Bia foi com a Hanji comer qualquer coisa. A Estela foi levada para a casa do Farlan e da Isabel. Os dois concordaram que não era uma boa ideia continuar com a pequena por aqui. – Explicou Eren. – A Nina está com a Annie. As duas foram ver a Sasha e quanto ao Zeke… por que é que queres saber do meu irmão?

O empresário desviou a mão do rosto do moreno e começou a observar a cama, procurando os elementos que o deixaram preso à cama na noite anterior. Porém, foi com uma imensa angústia que não encontrou qualquer evidência disso.

– Levi?

– Não há nada nesta cama que me possa ter prendido aqui? As enfermeiras vieram tirar alguma coisa? Há quanto tempo é que estás aqui? Onde está o Armin?

– Hei, calma. – Disse Eren, sentando-se na cama e segurando nas mãos do outro. – Não estás nem nunca estiveste preso aqui. Por que pensaste isso? O Armin foi chamado para as urgências durante a noite, mas eu, a Bia, a Hanji e a Petra praticamente acampámos por aqui. Nem sempre dentro do quarto, mas sempre vimos quem entrava ou saía. Sabes como é, aquela treta do horário de visitas.

– O Zeke não esteve aqui?

– Não. Quer dizer, eu acho que ele esteve em atendimento de urgência a certa altura, mas não prestei muita atenção. Porquê? – Perguntou o moreno. – Estavas a ter algum pesadelo, não é?

– Não era pesadelo! – Falou irritado.

– Ah… Levi, escuta precisas de…

– Não, eu tenho a certeza que… – Passava a mão pelo rosto e em seguida lembrou-se de verificar o braço e teria continuando a tentar arrancar os pensos ou ligaduras de alguns dos arranhões do dia anterior, não fosse Eren segurar nos braços dele.

– Pára! Levi, não faças isso! Está tudo bem, ok? Seja o que for que sonhaste, foi só mesmo isso, um pesadelo e nada mais. Está tudo bem. – Abraçou o empresário que um pouco trémulo, acabou por se deixar envolver pelo gesto de carinho, tentando confiar nas palavras de Eren e não tanto naquelas imagens tão vívidas que não pareciam ter sido fruto de um pesadelo.

 

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– Não deixa qualquer vestígio? – Perguntou Dina, bebendo um pouco de chá e vendo o filho retirar a bata branca, pois tinha acabado de chegar do hospital.

– Não e se me acusar de qualquer coisa, só tenho que fazer como todos os outros que irão pensar que está um pouco perturbado com os últimos acontecimentos. Mas conta-me… esperava ver-te com a Bianca.

– Pois, essa é outra história que está a deixar-me aqui a pensar se terá acontecido alguma coisa. A pirralha gostava tanto de me ver mas ontem no hospital…

 

Flashback

– Vim assim que soube o que aconteceu. Meu Deus, que terrível tragédia! – Dizia com um tom angustiado. – Como está o pai da pequena?

– Está estável. – Respondeu Nina sem grandes detalhes.

– E tu, minha pequena como estás? – Abaixou-se na frente de Bianca que estava de mãos dadas com Hanji e virou o rosto. – Não queres sair um pouco comigo? Podemos ir comprar qualquer coisa para o teu papá comer quando acordar e assim conversamos um bocadinho.

– Quero ficar com a minha madrinha, o Eren e os meus amigos. – Respondeu, puxando o braço de Hanji que logo entendeu o gesto e deu colo à pequena.

– Ela está muito bem aqui connosco. – Disse Hanji num tom seco. – Já veio aqui mostrar a sua suposta preocupação, agora acho que todos concluímos que está aqui a mais.

Fim do Flashback

 

– Podia estar transtornada pelo que aconteceu. – Comentou Zeke num tom cansado. – Ela é a única de quem tenho pena… o pai vai acabar internado por loucura de novo e ela…

– Ela devia estar nas nossas mãos, mas aconteceu qualquer coisa.

– Impressão tua, mãe.

– Não, não é impressão minha. – Insistiu a mulher. – Estou certa de que alguma coisa aconteceu.

– Não fiques com ideias, mãe. Já disse que estou disposto a muita coisa, mas nada que a coloque em risco. Não gosto quando começas a pensar que tudo é suspeito e inimigo.

– Já viemos muito longe para ter crises de consciência agora, Zeke. Mas não te preocupes, não penso fazer mal à pirralha. É só que… era bom saber o que aconteceu para ter aquele tipo de reação dela.

 


Notas Finais


Até ao próximo capítulo!


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