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História Memórias Rasgadas - Capítulo VI


Escrita por: Imagination

Notas do Autor


Obrigada pelos comentários, mensagens, favoritos e a todos os que acompanham a fic!

Capítulo 6 - Capítulo VI


Capítulo VI

 

Se tivesse que ser honesto, Levi diria que ouviu pouco da matéria lecionada naquele dia. Depois da mensagem enviada a Armin, esperava alguma resposta e não o silêncio absoluto. Ele não disse nada o resto do dia e o jovem de cabelos negros temia que a razão estivesse relacionada com Jean.

Pensava que pudesse ver Armin quando estivesse no trabalho e mais uma vez lhe dessem a tarefa ingrata de tratar do lixo. Contudo, nem sinal do loiro no resto do dia e isso deixou Levi bastante preocupado. Nem mesmo a companhia de Kuro ou a música alta, tranquilizou a mente dele. Só conseguia imaginar cenários com fins terríveis e quando bateram na porta do apartamento, ele sabia que o dia não ia melhorar.

Assim como Carla tinha previsto, Eren estava de volta. Com o mesmo olhar arrogante de antes e Levi não quis dar oportunidade ao moreno de sequer iniciar uma conversa. Sabia que não ouviria mais do que ofensas e foi isso mesmo que aconteceu quando o dono dos olhos verdes viu o computador.

Claro que perante a simplicidade do apartamento, aquele computador não parecia encaixar ali. No entanto, Levi sabia que não devia qualquer explicação da vida dele ao moreno e por isso, apressou-se a entrar no quarto. Procurou os fones e ligou-os ao computador, aumentando o volume da música. Queria esquecer a existência do moreno, cuja presença atuava como uma praga nas suas memórias.

Ignorou as batidas na porta e devido ao som elevado da música, nem sequer percebeu o que o moreno tinha dito. Sabia que ele tinha falado, mas não fez questão de entender o discurso. Não queria escutar insultos que invocavam memórias.

 

Ninguém te quer aqui.

Será que não vês como és ridículo?

Por que não te matas?

 

Viu os olhos embaciarem-se um pouco, mas conteve as lágrimas. Continuava com os fones nos ouvidos, mas era evidente que não seria capaz de continuar a concentrar-se nos exercícios do caderno aberto sobre as pernas dele.

 

Obrigado por estares aqui.

 

Engoliu em seco ao recordar aquelas palavras, o sorriso, o gesto em que acreditou e que logo se seguiu pelos risos à sua volta.

 

Acreditaste mesmo que eu iria querer alguém como tu?

 

Ter Eren debaixo do mesmo teto ao mesmo tempo que pensava na situação de Armin, trazia à sua memória demasiadas coisas que queria esquecer e não era capaz. A forma como se deixou manipular para depois ver tudo desmoronar. Ele e tantos outros riram, gargalharam perante a inocência patética que demonstrou. O que era de facto, patético porque não havia qualquer razão para confiar em alguém. Já lhe tinham ensinado isso desde da mais tenra idade, que suspeitar era sempre o melhor caminho.

Quando teve todos os motivos para desconfiar, por que razão confiou? O motivo era simples e ao mesmo tempo, terrivelmente doloroso porque cometeu o erro de apaixonar-se por uma mentira.

As memórias, as vozes, os fantasmas gritavam cada vez mais. A música alta já não era distração suficiente e ao desviar os olhos para o canto do ecrã do computador que indicava as horas, viu que embora fossem quase quatro da manhã, não seria fácil desligar tudo e cair no sono.

De que adiantava sentir-se exausto, se isso não era suficiente para adormecer?

A sua mente nunca estava silenciosa. A dor no peito era intensa e cada palavra maldosa rasgava-o por dentro. Cada repetição proporcionada pelas memórias abria uma nova ferida. Uma das mãos cobriu a boca. Aquele hábito nunca falhava, ainda que ninguém se importasse com as suas lágrimas, com o seu sofrimento que o fazia sangrar por dentro.

Não importava quantos anos passassem, Levi encontrava sempre o mesmo cenário. Ele sozinho a lutar por segurar as lágrimas, a sufocar na própria tristeza e a ser engolido pela solidão.

Quantas vezes teria que passar por isso? Sentir como se a sua existência estivesse permanentemente condenada a regressar aquele beco sem saída. Ninguém ouvia. Ninguém queria saber. Ninguém imaginava que tanto sofrimento pudesse habitar dentro de alguém.

Escondendo o rosto atrás dos joelhos que trouxe contra o peito, o jovem de olhos cinza recordou as palavras da melhor amiga. Se ele lhe ligasse, não duvidava que Hanji atendesse e falasse até que aquela nuvem densa e sufocante desaparecesse. Só que pensar nisso, sabendo como a amiga precisava de descanso, concentrar-se nos estudos e na própria vida, atuava como um impedimento.

Envergonhava-se de querer depender dela. Temia inclusive que um dia ela se cansasse dele.

Quando passas grande parte da tua vida a receber ódio e escárnio dos outros, inevitavelmente encaras um verdadeiro amigo como uma tábua de salvação. Vês nessa pessoa a razão para tentar mais um pouco. Porém, isso não impede de ver as coisas sobre outras perspetivas.

Levi sabia que a sua dor e tristeza sobrecarregavam a amiga. Ela podia ser tão mais feliz se ele não arruinasse o dia dela com o seu negativismo, problemas e fantasmas. O jovem via-se a si mesmo como um peso que a amiga escolhia carregar, mas que não tinha qualquer obrigação de o fazer. Um dia, Hanji podia cansar-se e ainda que ele compreendesse perfeitamente as razões, Levi receava por esse dia em que não lhe restasse mais nada.

Sendo assim, ao recusar-se a recorrer à melhor amiga que opções lhe restavam? A primeira imagem que lhe cruzou a mente fez com que apertasse os próprios braços. Lidar com a dor interior, provocando dor física resultou em várias ocasiões no passado. Quanto mais não fosse por todas as vezes em que perdeu a consciência. Essas imagens foram trespassadas por outras em que despertou com o rosto da amiga repleto de lágrimas, exigindo que prometesse que não o faria novamente. Podia quebrar a promessa? Sim, até porque ela não estava por perto para ver, mas as lágrimas dela causavam-lhe um insuportável sentimento de culpa.

Deixando esse método de lado, os outros trariam outros vícios à superfície e além disso, teria que sair de casa a meio da noite. A ideia de deixar o quarto e cruzar-se com Eren naquele estado emocional fez com que desistisse automaticamente das hipóteses que o fariam abandonar o quarto.

Quando começava a desesperar por uma solução, Levi recordou-se de mais um recurso. Retirou os fones e rapidamente saiu da cama, ajoelhando-se. Esticou a mão até tocar numa pequena mala de metal que puxou sob o olhar atento de Kuro. Ainda ajoelhado, o jovem destrancou o pequeno cadeado e no interior da mala encontrou as dezenas de cores e formatos diferentes misturados. As caixas com nomes confusos encontravam-se abertas e embora, o conteúdo estivesse completamente espalhado, Levi reconhecia cada nome sabia perfeitamente a que caixa correspondia cada comprimido. A grande maioria tinha como objetivo dormir, mas quando esteve no hospital também receitaram outros medicamentos para lidar com a depressão e o que chamaram de distúrbios mentais.

Dizer que escutava vozes enquanto estava desorientado não foi o meu momento mais brilhante, mas pelo menos desta forma, tornaram o meu leque de opções mais extenso”, pegou numa das caixas, “Afinal, a dose recomendada para alguns destes medicamentos quando ultrapassada, pode facilmente matar-me”, deixou a caixa de lado e procurou outros comprimidos “Hum, este ajudou-me a dormir da última vez, mas não penso que um seja suficiente desta vez”.

Um.

Dois.

Três comprimidos caíram sobre a mão dele. Segundo a bula, daquele número em diante, a ingestão tornava-se arriscada. Ainda que apenas um deles já tivesse uma longa lista de efeitos secundários.

Não interessa os outros efeitos. O importante é que consiga dormir”, concluiu, colocando o primeiro comprimido na boca. Engolir cada um deles sem água e somente com o auxílio da saliva não era o ideal, mas como não queria sair do quarto, teve que conformar-se com isso.

Depois de tomar os três comprimidos, guardou os restantes debaixo da cama. Confirmou que tinha colocado o alarme no telemóvel, desligou o computador e à medida que se deitava, sentiu a primeira tontura.

Ótimo. Significa que o meu cérebro já quer desligar-se”, pensou satisfeito e a última coisa que guardou na memória antes de mergulhar no sono induzido pela medicação, foi Kuro a aconchegar-se ao seu lado.

Ser obrigado a acordar mais tarde através do som irritante do despertador, acontecia com raridade. Normalmente, Levi acordava sempre uns minutos antes do maldito som ecoar pelo quarto. Porém, o facto de só ter acordado com o som persistente e ter demorado a desligar o alarme, demonstrava que o efeito da medicação estava bem presente. Se a suspeita inicial não fosse suficiente, as tonturas que experienciou ao erguer-se da cama confirmaram que aquela dose era ideal para dormir, mas deveria ser utilizada sobretudo durante o fim de semana e não durante a semana de aulas. Iria ter problemas em manter-se atento durante as aulas e no dia anterior também já tinha passado pelo mesmo, ainda que a razão fosse a preocupação por Armin.

Ao recordar-se do loiro, procurou o telemóvel e viu mais uma vez o ecrã sem qualquer notificação de mensagem. Suspirou e ligando o Wi-Fi do telemóvel, acariciou Kuro que ronronou antes o jovem erguer-se novamente para procurar qualquer coisa para vestir.

Graças ao efeito sedativo e desorientador dos comprimidos, Levi teve uma luta com o equilíbrio antes de poder começar a escolher o que ia vestir. Acabou por vestir uma camisa preta com efeitos circulares de cor cinza e umas calças azuis-escuras. Passou a mão nos cabelos desalinhados e viu Kuro descer da cama e espreguiçar-se. Aproveitou para arrumar a cama um pouco mais lentamente que o normal, visto que continuava a perder o equilíbrio com facilidade.

Quando olhou para o telemóvel viu que tinha notificações. Esperava mensagens de Hanji, já que não se falaram na noite anterior. Levi tinha inventado a desculpado de que ia estar a ajudar a Nanaba. Ele sabia que a amiga estava com um projeto importante na faculdade e não queria que ela perdesse tempo com os problemas dele. Disfarçar através da troca de mensagens era bem mais simples do que fazer isso através das videochamadas no Skype.

 

Hanji – Mensagem:

Leee já estás com uma chamada por Skype em atraso!

Tenho saudades T.T

Espero que não tenhas chegado muito tarde a casa.

Bom dia, Leeee!

Hoje temos uma chamada mais logo?

 

Eu – Mensagem:

Bom dia *

Não cheguei muito tarde.

Se calhar mais logo, podemos ver mais um episódio da Guerra dos Tronos.

 

Assim que fechou a conversa com Hanji, viu outras mensagens de dois remetentes diferentes. Contudo, não pensou duas vezes em priorizar um deles ao ver o nome de Armin. O loiro enviou-lhe uma mensagem à noite por volta da hora do jantar. Só que como Levi não quis que Hanji desconfiasse da desculpa dele, manteve o telemóvel sem ligação à internet depois de ter saído do trabalho rumo a casa. Não lhe ocorreu a hipótese de que o loiro tentasse falar com ele através de apps.

 

Armin – Mensagem:

Desculpa só responder agora, fiquei sem saldo :/

E como o meu telemóvel é do tempo da pedra, tive que esperar até poder usar dos pcs da faculdade.

Espero que não te importes por ter adicionado o teu contacto ao Telegram.

Obrigado pela mensagem e pela conversa que tivemos de manhã. Talvez tenhas aberto um pouco mais os meus olhos. Mais do que pensas. Mesmo que continue a enfrentar problemas, fico contente por poder contar contigo. Nem que seja para te aborrecer com os meus desabados.

Espero um dia poder ouvir os teus.

Se nos pudermos ver amanhã depois do almoço na biblioteca, ficaria contente mas se tiveres aulas, podemos combinar para outro dia.

 

Depois de ler as mensagens do loiro, Levi sentiu-se bem mais aliviado. Talvez existisse alguma esperança e Armin não se deixasse levar por Jean. Porém, só podia ter mais certezas sobre isso, se fosse capaz de falar com ele. Tendo em conta que as trocas de mensagens estavam fora de questão, optou por responder à mensagem normal e não através da app.

 

Eu – Mensagem:

Bom dia, Armin.

Só vi agora a tua mensagem, mas podemos encontrar-nos depois do almoço.

 

Para encontrar-se com Armin teria que faltar a uma das aulas, mas tendo em consideração que não previa um dia muito produtivo nas aulas, estava disposto a fazer isso. Além disso, era importante falar com o loiro e se possível, diluir a preocupação. Quem sabe, fosse mesmo possível afastá-lo das garras de Jean e fazê-lo enxergar a verdade antes que fosse muito tarde.

Depois de pousar o telemóvel ao lado da mochila que entretanto também pôs sobre a cama, Levi preparou-se para sair do quarto. Hesitou duas vezes com um frio no estômago antes de rodar a chave. Tudo ainda se movia em câmara lenta e deu os primeiros passos na direção do frigorífico da cozinha. Como viu tudo escuro na sala e não perdeu tempo a olhar para o sofá, Levi foi apanhado de surpresa quando uma mão agarrou-o pelos colarinhos e empurrou-o com violência contra o frigorífico. Em circunstâncias normais teria visto a mão na direção dele e provavelmente teria sentido dor com o embate do corpo contra o eletrodoméstico.

Se bem que mesmo sem o efeito de comprimidos, a minha tolerância à dor acabaria por perturbá-lo… estou mesmo zonzo”, pensava de cabeça baixa e não escutando a primeira parte do que o moreno tinha dito.

– (….) frio! Pensas que me podes ignorar ou fugir de mim? Estamos debaixo do mesmo teto por isso, sugiro que sejas mais inteligente e penses duas vezes antes de me contrariar!

Apesar de ter compreendido aquela parte do discurso, Levi não foi invadido pelo medo ou qualquer sensação semelhante a essa. Pensando bem, o medo não deveria fazer parte do universo dele, visto que Eren não poderia destruir mais nada dentro dele. Não havia mais nada que ele pudesse estragar.

No entanto, Levi esperava nutrir raiva para que pudesse afastar o moreno. Só que a ausência de qualquer emoção tangível e identificável, levou-o a concluir que a medicação estava a surtir o efeito esperado. Graças a isso, não teria que ser atingido por nada. O corpo e a mente encontravam-se dormentes e ele não podia ser mais grato. Ainda que parte dele sentisse falta da euforia provocada pelo consumo de…

– Estás a ouvir-me anormal?!

Empurrou-o novamente contra o eletrodoméstico e Levi voltou não sentir coisa alguma. Mesmo assim, optou por erguer o resto e confirmar o quão sedativo podiam ser os comprimidos ingeridos há algumas horas atrás.

Os olhos pintados de um tom cinza, cujo brilho se encontrava apagado devido ao efeito da medicação, encontraram os olhos verdes repletos de fúria.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

Eren considerava que estava a poucos segundos de esmurrar o outro. Essa era a intenção inicial. Teria tido todo o gosto de seguir a raiva acumulada por ter sido obrigado a ficar naquela casa sem internet, deitado no sofá mais desconfortável da história da humanidade com dois casacos vestidos para enfrentar o frio.

A humilhação pela qual estava a ser obrigado a passar, enfurecia o moreno. Acrescia-se o facto de ver a indiferença evidente no rosto à sua frente.

Não obstante, todos esses sentimentos negativos, encarar o outro por breves segundos, provocou um choque. Mais do que isso, sentiu como se tivessem despejado um balde de água gelada sobre ele. A sensação estranha e intensa invadiu-o antes que imagens, pedaços de memória invadissem a mente dele.

 

Flashback

Num parque onde crianças brincavam a vários metros, duas sombras pintavam os grãos de areia debaixo dos pés de duas pessoas. Um dos sapatos eram novos, de cor impecável e uma marca conhecida numa lateral por contraste aos outros pés que calçavam umas sapatilhas velhas, um pouco rasgadas e sujas.

Os dois rapazes sentados nos baloiços, já não os moviam e o olhar dos dois concentrava-se no horizonte com tons vermelhos que decoravam o sol que desaparecia lentamente.

– Sempre pensei que era impossível para mim guardar boas memórias. – Olhou para o companheiro ao seu lado. – Mas quero guardar estes dias para sempre. Quero guardar todas estras memórias desde do dia em que nos cruzámos na enfermaria. – Sorriu sem reservas e após alguma surpresa, viu um brilho nos orbes cinza. Esses que sempre escondiam tanta tristeza acompanharam o primeiro sorriso que viu dele.

– Eu também não quero esquecer, Eren.

Fim do Flashback

 

Quando Eren começava a questionar sobre o quão real eram aquelas imagens e palavras, sentiu algo cravar-se na perna e afastou-se rapidamente ao ver que se tratava do gato que acabava de arranhá-lo e ainda demonstrava agressividade pela forma como tinha os pelos eriçados.

– Hei! Não te fiz nada! – Queixou-se o moreno, mas optando por manter a distância. – Diz-lhe que não me faça nada!

– Parece que não gosta de ti. – Abaixou-se. – Não o posso culpar. – Acariciou o gato que logo deixou a postura agressiva e começou a ronronar como se nada tivesse acontecido momentos antes.

Nunca fiz nada ao gato e ele olha para mim como se fosse demónio”, pensava o moreno, vendo como o animal não deixava de olhar para ele, “Também queria fazer-lhe festas, mas não quero arriscar e aproximar-me daquelas garras”.

Depois de dar mais algumas festas, Levi virou-se novamente para o frigorífico de onde retirou um iogurte líquido que começou a beber de seguida.

– Será pedir muito para saber qual é a senha da net?

Assim que terminou de beber o iogurte, o jovem de cabelos negros respondeu:

– Os primeiros seis números primos.

– Huh?

– Sequências infinitas? – Tentou, questionando-se se estaria tão medicado ao ponto de ter dito algo estranho ou se simplesmente o outro não compreendia noções simples de matemática.

– Não sei de que caralho estás a falar. – Disse Eren irritado com o telemóvel na mão.

– Dois, três, cinco, onze, treze e dezassete.

– Onze e…?

– Treze e dezassete. – Concluiu, deitando o iogurte vazio no lixo.

– Não sabias escolher uma coisa mais simples? Data de aniversário ou… hei! Estou a falar contigo! – Disse, vendo que o tal Levi o ignorava e tinha entrado na casa de banho. Até o teria seguido, mas o moreno começava a ter medo do gato. O animal parecia reagir com uma aura homicida cada vez que falava ou tentava aproximar-se de Levi.

Qual é o problema deste gato? E aquele bateu com a cabeça em algum lado? Sequências de número? Quem é que pensa nisso para pôr senhas? Ainda preciso de falar com este nerd”.

Terminado o momento de higiene pessoal, Levi saiu da casa de banho. Passou várias vezes água na cara, mas sabia que isso não resolveria nada. Precisava de uma elevada dose de cafeína para poder enfrentar o dia que o esperava. Porém, teria que lidar com os restantes efeitos secundários com a boca seca, náuseas, tonturas e visão turva.

– Para onde vais tão cedo?

– Aulas. – Respondeu, caminhando para o quarto.

– Tão cedo? Onde fica a paragem do metro? O que há para comer além da miséria no frigorífico? A que horas chegas a casa? – Perguntou o moreno, tentando seguir o outro, mas teve que parar na porta do quarto quando o gato tentou atacá-lo novamente.

– A Universidade não é perto. Tens que sair cedo e não te aconselho o metro. Vais perder tempo e o autocarro que passa aqui perto pára quase em frente à Universidade. – Respondeu, confirmando os conteúdos da mochila. – Se não queres o que há no frigorífico, não comas. Compra tu algo melhor e hoje devo chegar por volta das sete da tarde.

– E nos outros dias em que chegas mais tarde? Fico na merda? Não me vais arranjar uma chave?

– Não. Isso é problema teu. – Respondeu ao fechar a mochila e sentou-se na cama para se calçar.

– Problema meu? – Perguntou irritado. – Já que vamos ter que dividir este buraco, no mínimo devias facilitar a minha vida para que não tenha que infernizar a tua.

Levi acabou de calçar-se, vestiu um casaco e colocou a mochila sobre um dos ombros.

– Vamos Kuro?

– Kuro? – Questionou confuso até ver o gato miar e saltar para os braços do outro.

– Fecha a porta quando saíres. – Falou o jovem de olhos cinza, depois de fechar a porta do próprio quarto à chave e passar pelo moreno em direção à saída para deixar o apartamento.

– Onde pensas que vais? A nossa conversa ainda não acabou! – Indo até à porta e ao tocar no ombro de Levi, o moreno teve que desviar a mão que mesmo assim, ganhou um arranhão. – Foda-se… escuta, quero que me digas uma coisa antes de saíres. – Acariciava a própria mão. – Eu conheço-te?

Eren testemunhou o mesmo olhar que viu da primeira vez que se encontraram naquele apartamento. Fúria, mágoa e tantas outras coisas que não era capaz de identificar, mas que produziram a mesma reação. Uma porta fechada com força na cara dele.

Qual é o problema dele? Só fiz uma pergunta”, pensava irritado.

Será que realmente podia ser censurado por questionar a seriedade daquelas lembranças? Na primeira vez que se viram naquele apartamento, mesmo que após a breve troca de olhares, pressentiu qualquer coisa familiar. Apressou-se a descartar porque pensou que estivesse a ver os traços familiares de Mikasa. O que seria normal, visto que os dois eram primos.

Contudo, mais do que semelhanças entre dos dois, impuseram-se aquelas imagens estranhas que se comportavam como memórias distantes. Seria possível? Eren frequentou o ensino público apenas durante um ano antes de conseguir ser expulso e dessa forma, forçar a mãe a colocá-lo de novo no colégio privado.

Será que tinha conhecido o primo da Mikasa antes? Aquelas memórias apontavam nesse sentido e sinceramente, não se surpreendia que tivesse suprimido aquelas recordações. Por que raio iria recordar um lugar e pessoas que nada tinham a ver com ele?

Quanto mais pensava nisso, menos compreendia aquelas memórias. Podia ter sido simplesmente alguém com quem se divertiu na altura. Por diversão entenda-se: fingiu amizade até um certo ponto. Não seria a primeira vez que o fazia, visto que gostava de ver o ar chocado dos interesseiros quando descobriam que ele os tinha manipulado.

Aquele Levi não deveria ser a exceção.

Então, por que razão o sorriso que recordava, causava um certo aperto por dentro?

Disparate. Tenho que parar de pensar em tanta estupidez e concentrar-me em descobrir como vou tomar banho naquela casa de banho minúscula”, pensava, olhando com desagrado para o espaço antes de ir até às próprias malas, procurar uma toalha e roupas limpas.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

Só podia ser mais uma brincadeira de mau gosto de Eren, mas o jovem de olhos cinza não deixou de pensar em todas as respostas que poderia ter dado. Imaginar todos os cenários das coisas que poderia ter dito, irritava-o ainda mais por saber que não seria capaz de dizer nenhuma delas. Hesitaria como sempre.

Infelizmente, toda aquela maré de sentimentos conflituosos, também significava que nem mesmo sob o efeito da medicação, conseguiu ignorar o moreno. Enganou-se ao pensar que a dormência e desorientação criadas artificialmente, poderiam ajudá-lo a não ser afetado pela presença do outro.

Porém, era fácil concluir que esse método não funcionaria. Teria que pensar em outra alternativa, mas no momento em que se aproximava da Universidade, optou por resolver outro problema mais prioritário. Não podia entrar na sala de aula como se fosse desabar a qualquer momento. Corria também o risco de não ser capaz de concentrar-se em nada.

Com esse problema em mãos, o jovem dirigiu-se ao café/bar onde trabalhava. Apesar de ser o seu local de trabalho, Levi não costumava frequentar aquele estabelecimento nos tempos livres.

No interior já se encontravam alguns estudantes e vendo um rosto conhecido ao balcão, ele aproximou-se. Do outro lado do balcão, a colega mostrou surpresa ao vê-lo.

– Olá Levi. O que vai ser? – Perguntou Hitch.

– A maior chávena de café que puderes servir. – Respondeu.

– Hum, ok. Nem parece teu aparecer aqui fora do horário de trabalho. – Comentou a rapariga, cobrando o valor de um café normal, embora já tivesse escolhido uma chávena bem grande para servir. – Se querias um daqueles copos ao estilo americano, andavas mais uns minutos e ias ao Starbucks.

– Quero café puro e não café com ouro lá dentro. – Disse, recordando a primeira vez que cedeu à tentação de experimentar o café da concorrência. O problema não era somente o preço, mas também considerava o café bastante fraco e por isso, nunca mais regressou lá.

– Isso é verdade. Cobram uma fortuna. – Concordou, enquanto preparava o café. – Ainda é cedo para a época de exames. Esse olhar é ressaca ou fumaste alguma coisa?

– Preferia ter fumado. – Murmurou, evitando oferecer qualquer resposta à curiosidade da colega que serviu o café pouco tempo depois.

Com receio de que não fosse suficiente, Levi pediu uma segunda chávena semelhante ao primeiro pedido. Hitch ainda questionou se queria mesmo repetir a dose de café e ele confirmou. O resultado não era exatamente o que esperava, pois o sono continuava presente apesar de menos intenso, mas por outro lado as náuseas pioraram.

Ainda assim, Levi foi capaz de estar nas aulas sem ter que pedir para sair e expulsar o pouco conteúdo que tinha no estômago. Porém, nos intervalos, sempre ia à casa de banho para passar bastante água no rosto e ver com desagrado as olheiras bem pronunciadas e a expressão cada vez mais pálida.

O limite para o estômago dele surgiu à hora do almoço, quando ao aproximar-se do refeitório e sentir o cheiro da comida, teve uma nova ânsia de vómito que o fez ficar na casa de banho durante a hora do almoço.

No fim doía-lhe a barriga, sentia a garganta arranhada e apesar da sensação de alívio, o aspeto dele estava ainda mais deplorável. Porém, não existia o risco de que alguém colocasse questões ou se quisesse envolver no problema dele. Já estava habituado ao distanciamento dos outros desde dos tempos de escola e na faculdade arriscava dizer que a sensação de distância era maior. Mesmo que na perspetiva dele, isso até fosse bom, pois era exatamente o que queria: passar despercebido.

 

Flashback

– Mas eu tenho teste hoje. – Disse com a mochila contra o peito e um pouco encolhido perante o tom e postura ríspida da mulher, cujos cabelos negros caíam sobre as costas dela e o roupão de cor preta que vestia.

Puta que pariu, Kenny. Já viste o que fizeste? – Perguntou a mulher irritada.

– Deixa o puto ir. – Respondeu o homem sentado na cozinha com os pés sobre a mesa e um cigarro entre os lábios. – É pior se ele não for às aulas.

– E vai assim? – Apontou para a criança que tinha a face esquerda inchada com uma coloração púrpura. – Não quero receber chamadas da merda da escola! Podias ter batido noutro sítio qualquer e não na cara dele!

– Kuchel, olha bem para ele. – Falou com um escárnio evidente na voz. – Quem é que vai querer saber? Ninguém se importa com esse pedaço de merda que a esta altura já devia ter aprendido qualquer coisa, mas nem tenta defender-se.

O tio tinha razão. Os colegas, na sua grande maioria, apenas riram e os professores ignoraram por completo que o rosto dele, era o de alguém que tinha recebido um golpe bem forte. Se alguém tivesse procurado a verdade, veriam que o rosto não era o único local marcado. Era somente o mais visível.

Fim do Flashback

 

Levi estava a sair da casa de banho quando no meio da confusão de pessoas que deixava o refeitório, viu um rosto conhecido. Com os cabelos dourados desalinhados e roupas com folhas de árvore e terra, indicando que em algum momento, teria caído no exterior. Ao tentar aproximar-se para chamar a atenção do loiro, Levi notou que ele sangrava de um dos lábios. Devido ao som ensurdecedor das conversas e confusão daquele corredor, desistiu da ideia de chamá-lo, mas assim que conseguiu segurar o braço dele, puxou-o para o interior da casa de banho.

– Levi? – Disse assustado.

– Onde pensas que vais? – Ouviu-se uma voz no meio da confusão que se tornou um pouco mais abafada com o som da porta da casa de banho a fechar-se.

Ainda trémulo e apanhado de surpresa, Armin foi empurrado para interior de um dos cubículos com Levi a colocar uma mão sobre a boca dele e fazer-lhe sinal para não fazer barulho.

– Acho que o vi entrar aqui. – Disse uma das vozes.

– Não, não. Ele estava a correr lá para fora outra vez. – Respondeu outro.

– Também acho que o vi a passar lá para fora. – Insistia um terceiro, provocando um alívio tanto em Levi como em Armin.

– Já lá vou ter. Vou só confirmar que não está aqui dentro. – Informou os outros dois e o medo regressou aos olhos azuis.

Perante a impossibilidade de silenciar a respiração de Armin, o jovem de olhos cinza só conseguiu pensar numa alternativa. Foi com os olhos arregalados que o loiro viu o outro ajoelhar-se à frente dele.

Armin corou bastante enquanto Levi esperava ver a sombra do idiota que restava, passar na frente do cubículo. Tal como o jovem de cabelos negros esperava, o outro era persistente o suficiente para se abaixar e espreitar, mas afastou-se logo como se tivesse visto uma praga ao aperceber-se que havia duas pessoas dentro do mesmo cubículo. Diante disso, Levi sabia que o outro já teria retirado as próprias conclusões e isso fez com que saísse rapidamente dali.

– Ótimo… – Murmurou aliviado e levantou-se, encontrando o rosto bem ruborizado do loiro. – Temos que sair daqui. Pode ser que a situação lhe tenha provocado nojo por imaginar que eram dois tipos aqui dentro ou então, vai chamar os amigos para assistir.

– Ah… para onde vamos? Eles podem ver-nos. – Dizia preocupado e ainda com o rosto quente, vendo que Levi continuava a puxá-lo pelo braço. – Eles encontraram-me perto da biblioteca por isso, não penso que seja seguro voltar lá.

– Há várias salas vazias no edifício da minha faculdade. As que ficam nos andares superiores estão quase sempre fazias porque são da área de matemática. – Dizia sem parar de andar.

– Mas as aulas estão quase a começar.

– Quantas pessoas pensas que estudam matemática? – Perguntou Levi e concluindo que a lógica dele fazia sentido, Armin limitou-se a segui-lo.

Assim como o jovem de olhos cinza havia dito, os pisos superiores assemelhavam a corredores fantasmas. Porém, em vez de conduzir o loiro a uma das salas, o outro levou-os até uma das casas de banho.

– Estás bem, Levi?

O jovem de olhos cinza abriu uma das torneiras e arqueou uma sobrancelha.

– Tu é que estás a sangrar e não eu. Passa água na cara e deixa as perguntas desnecessárias.

Armin assim o fez, mas perante a aparência do outro, teve que insistir.

– Estás muito pálido. – Virou-se para Levi. – Pareces ainda mais cansado do que o normal e os teus olhos… – Fez um ar pensativo. – Tomaste alguma coisa?

Surpreendido, o jovem de cabelos negros perguntou:

– Só no segundo ano e já consegues saber se tomei qualquer coisa para dormir?

– Tomaste algum tipo de narcótico forte? – Indagou preocupado. – Ó meu Deus, Levi. Sabes que é preciso bastante cuidado com essas substâncias porque…

– Estou bem, Armin. – Interrompeu. – Tu é que estavas a fugir daqueles três gorilas outra vez e pelo teu aspeto, ainda te apanharam pelo caminho.

Com uma expressão desanimada respondeu:

– Eu sabia que não ia poder fugir para sempre, mas tenho muito medo que também te façam alguma coisa.

– Não te preocupes comigo. – Disse após um suspiro. – Se precisares de ajuda, podes contar comigo. – Recomeçou a passar água no rosto.

Armin sorriu e também passou água no rosto, antes de fechar a torneira e sem olhar para o outro, resolveu colocar uma questão que estava a incomodá-lo há algum tempo.

– Como sabias que… bom… que um dos gorilas ia fugir se… bom, se nos visse na casa de banho? – Questionou, vendo que Levi limpava o rosto.

– A minha amiga Hanji sempre me disse que este tipo de gorilas, que têm um certo prazer em humilhar os outros, também têm sempre complexos com alguma coisa e são limitados perante situações inesperadas. – Deitou o papel que tinha usado para secar a cara no lixo. – Imagino que mexi com o homofóbico dentro dele que acha que se ficar perto, vai ficar com a “doença” ou tem medo de admitir que até estaria interessado em ver. Seja como for, arrisquei e tivemos sorte.

– Obrigado. – Murmurou o loiro.

– Não tens que agradecer. – Disse, suspirando.

Depois de Armin verificar que já não estava a sangrar e retirado e limpado, na medida do possível, as folhas e terra das roupas, os dois jovens foram para uma das salas de aula vazias. Sentaram-se lado a lado e durante algum tempo, nenhum deles falou.

O loiro pensou que após o momento de adrenalina ter passado, que iria começar a chorar. Porém, o facto de não estar sozinho, ajudava bastante. Era confortante ter Levi ao seu lado, assegurando que podia contar com ele. Embora, Armin estivesse preocupado com aparência adoentada de Levi, resolveu deixar isso para segundo plano. Não porque quisesse, mas porque começava a notar um padrão: para que Levi se abrisse um pouco com ele, Armin teria que ser o primeiro a partilhar.

– A tua mensagem de ontem fez-me pensar e tinhas razão. Tive que dizer que não ou melhor, não consegui dizer diretamente, mas consegui escapar a coisas que não quero fazer com o Jean.

– Ele voltou a insistir? – Perguntou Levi apreensivo.

– A mesma conversa de que não devia ter medo ou vergonha daquilo que muitos fazem. – Disse o loiro com um suspiro.

– Do que muitos queriam fazer, mas só têm a mão como companhia. Essa é a realidade. – Corrigiu Levi com uma certa ironia. – Tendo em conta que esse Jean parece do tipo persistente, como fizeste para evitá-lo?

Armin abriu a mochila dele sobre a mesa e do meio dos livros e cadernos retirou uma pequena caixa. Entregou-a a Levi que viu que se tratava de um medicamento indicado para problemas intestinais. Confuso, olhou para o loiro que com um sorriso tímido, disse:

– Disse-lhe que não estava bem da barriga e para o que ele queria fazer, penso que o terá desmotivado.

– Foste buscar isto para sustentar a história?

– Não. A faculdade de Farmácia e Medicina são quase coladas.

– Foste lá tirar isto? – Perguntou espantado.

– Esses comprimidos não são reais. São placebos. – Explicou. – Tive que tomar um na frente dele para que não restassem dúvidas. Essa caixa estava no lote que ia para o lixo. Fazem limpezas em dias específicos e tive a sorte de encontrar esta.

– É um plano bastante engenhoso. – Admitiu Levi. – Embora tenha que dizer que não esperava por uma coisa destas. Pensei que apesar de tudo confiasses no Jean ao ponto de não tomar uma medida tão criativa.

Com uma expressão que transmitia desânimo, o estudante de Medicina confessou que após a conversa entre eles e a mensagem de Levi, começou a questionar-se se poderia de facto, confiar no colega de quarto. Quando ainda estava a processar a suspeita, encontrou aquele que Jean assegurou que era um ex-namorado e que estava tudo terminado entre eles. Jean disse que tinha acabado a relação depois de Pixis lhe ter aberto os olhos no dia em que o ameaçou com a expulsão. Supostamente, esse episódio serviu como base para arrepender-se pelo que aconteceu e terminar tudo com o namorado.

Todavia, o encontro com o moreno de olhos verdes deitou tudo isso por terra. Armin concluiu com amargura que existia uma grande probabilidade de Jean e o namorado estarem a divertir-se às suas custas e por isso, antes de regressar ao dormitório engendrou aquele pequeno plano. Aquilo atuaria como uma desculpa e disfarce para não revelar nenhuma das suas conclusões.

– Não o queres confrontar com a verdade? – Indagou Levi.

– Quero expor os dois. – Respondeu o loiro. – Ainda não sei como, mas se for verdade que quiseram brincar comigo, então quero virar a situação a meu favor.

– Queres vingança? – Não escondeu a surpresa na pergunta.

O jovem de olhos cinza confessava-se pasmo com a atitude do loiro. Não esperava que ele quisesse vingar-se e sim, encontrar uma forma de evitar ou fugir do problema. Quem sabe, resolver a partir da denúncia. Afinal de contas, o jovem de cabelos dourados era bastante criativo, mas demasiado inocente para tentar enfrentar o problema de frente. Ou pelo menos, essa foi a primeira impressão que teve.

– Vingança? – O loiro não negou. – Retribuição. Karma. Sei que quando olham para mim, não parece que seja capaz de matar uma mosca, mas o que me falta em força bruta, faço questão de compensar com isto. – Apontou para a própria cabeça. – Não é a primeira vez que passo pelo bullying ou vejo alguém nessa situação. Podia não ter coragem de enfrentar as coisas em campo aberto, mas consigo fazer coisas a partir dos bastidores.

– Falando assim pareces um génio do mal como a Hanji, embora ela fosse louca ao ponto de também recorrer à força. Não sei se quero que vocês os dois se conheçam.

Armin coçou a cabeça com um pequeno sorriso no rosto.

– Se bem que não fosse por ti, acabaria por desistir e encolher-me de medo. Tive vontade de fazer isso, mas ver como vieste ajudar-me quando precisei, fez-me pensar que se parei situações destas antes, também posso fazer isso agora.

– Eu não fiz nada de especial e além disso, disseste que já tinhas passado por coisas assim antes por isso, já sabias o que fazer.

– Nunca tinha passado por nada nesta intensidade ou crueldade. – Corrigiu o loiro. – Comparado com as situações que passei na escola, isto agora parece-me um autêntico pesadelo e por isso, tive tanto medo de reagir. É assustador pensar como as pessoas podem ser terríveis. É mais fácil lidar com quem mostra abertamente quem é, mas…

– Os monstros que se escondem atrás de sorrisos manipulativos são bem piores. – Completou Levi.

– Exato. – Concordou Armin.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

A viagem de regresso a casa no fim do dia passou como um clarão para Levi. Este ainda pensava na forma como ele e Armin tinham pontos em comum e outros pontos divergentes. O que marcava a diferença entre eles devia estar na forma como Armin encarava a vida em geral. O loiro ainda acreditava que era possível criar um sentimento de karma em todos aqueles que agiam como senhores do mundo e pisavam nos outros. Só que mais do que esperar que a retribuição acontecesse por acasos do destino, Armin acreditava que podia fazer isso acontecer. Ele também acreditava que estava nas mãos de cada pessoa ameaçar e destruir o sentimento de impunidade comum a todos os que pisavam nos outros.

Num mundo justo, onde todos se importavam uns com os outros, seriam pelo menos capazes de se colocar na pele do outro. Porém, o número de pessoas que estavam dispostos a agir e ripostar era muito reduzido.

Era mais fácil juntar-se ao lado opressor ou ignorar do que remar contra a maré.

Levi mais do que não acreditar no karma ou retribuição, também não acreditava nas pessoas e na sua capacidade de aprender com os erros. Não acreditava na vontade de remar contra a maré, embora conhecesse exceções como Hanji e Armin.

Suponho que tudo seja diferente quando realmente queres acordar no dia seguinte. Só que quando já perdeste toda a vontade de sequer existir, a ideia de ripostar soa como um absurdo”, concluiu Levi que subia as escadas do prédio com Kuro nos braços.

Preparou-se para encontrar Eren à sua espera, mas não havia qualquer sinal do moreno por perto. Um pouco aliviado, mas com a certeza de que teria que vê-lo assim que chegasse, o jovem não conseguiu livrar-se do sentimento de ansiedade.

Normalmente, quando entrava em casa, Kuro tinha por hábito saltar para o chão. Porém, quando o fez, Levi estranhou que tenha miado um pouco mais alto, antes de saltar para cima do sofá.

– Kuro? O que foi? – Perguntou confuso até dar mais uns passos em frente e pisar no chão molhado. Reparou então que a água teria saído da casa de banho e inundado a sala. Nenhuma torneira estava aberta e por isso, teve que concluir que o moreno tomou banho, mas sem qualquer cuidado e pior sem sequer se preocupar em limpar depois.

A ansiedade começou a dar lugar à fúria por ver que o moreno tinha encharcado um dos tapetes e a tolha de Levi também se encontrava no chão. O único consolo era saber que as malas de Eren também não estavam totalmente secas, uma vez que nem com isso Eren se preocupou.

Depois de deixar a mochila no quarto e concluir com alívio que felizmente a água não tinha chegado ali, pois seria uma dor de cabeça, lidar com a carpete molhada. Seguiu-se uma longa sessão de limpeza para tirar a água da casa de banho e da sala.

No fim da limpeza, Levi concluiu que iria jantar juntamente com Kuro, mas que depois iria sair de casa para não ter que ver a cara de Eren mais do que necessário. Quando o gato estava a meio da refeição e ele tinha acabado de fritar um bife para juntar ao arroz, ouviu uma batida na porta.

Com um nó no estômago, o jovem de cabelos negros foi abrir a porta e encontrou Eren com uma expressão mal-humorada em que quase o empurrou ao entrar.

– Quase não conseguia voltar para este buraco. Os transportes são uma merda. – Reclamava, atirando a mochila para cima do sofá. – Hum, vejo que já estiveste nas limpezas. É o que mereces depois de saíres sem explicar as coisas. Se bem que não penso que seja possível tomar banho naquela caixa de fósforos que chamas de casa de banho.

Ignorando os comentários do moreno, Levi fechou a porta e reaproximou-se da banca da cozinha, onde tinha deixado o prato com comida com o copo de água ao lado. Pegou em ambos e como o gato também já tinha terminado a sua refeição, seguiu Levi para dentro do quarto.

Depois de fechar a porta com o pé, colocou o prato e copo sobre a secretária, ligando o portátil. Antes de começar a comer, consultou os favoritos e clicou num dos animes sugeridos pela amiga e que ainda não tinha começado a ver. Kuroshitsuji ou Black Butler aparentemente contava a história de um demónio que serve como mordomo a Ciel Phantomhive de 13 anos devido a um contrato entre os dois.

Levi não tinha a certeza de que fosse gostar do anime, visto que a amiga já tinha enviado vários fan arts insinuando que havia uma relação entre os personagens principais.

Também no Tumblr tinha encontrado vários desses fan arts ou até links para fanfictions. O mundo das fujoshis, como Hanji fez questão que conhecesse, assustava-o um pouco. O facto de ser gay, não fazia com que visse casais gays em todos os animes que conhecia. Juntar L e o Kira de Death Note? Assustava-o e não conseguia imaginar, assim como não compreendia o fascínio com Lelouch e Suzaku de Code Geass. Bom, talvez fosse mais fácil ver Shizuo e Izaya de Durarara. Bateu na própria testa, recriminando-se por deixar-se levar pelas loucuras da amiga.

Depois de acabar de ver o primeiro episódio de Black Butler com Kuro comodamente deitado sobre as pernas dele, Levi decidiu deixar alguma música a tocar e levantou-se. Procurou o saco desportivo no guarda-roupa e também a indumentária que normalmente, levava para o ginásio.

Há quase três meses que não voltava lá, mas como precisava de lidar com o nó no estômago e afastar-se de Eren, estava disposto a sair e se tudo corresse como planeado, regressar a tempo de iniciar uma videochamada com Hanji.

Quando saiu do quarto, viu que Eren estava deitado no sofá com fones nos ouvidos e a ver qualquer coisa no telemóvel. Aproveitou que o moreno estava distraído para lavar a loiça e sair, evitando mais conversas com ele. Trancou mais uma vez a porta do quarto. Até teria deixado aberta para Kuro, mas não queria correr o risco de que Eren pudesse entrar no quarto e mexer nas coisas dele. Com o saco desportivo na mão saiu acompanhado por Kuro e não notou o olhar de soslaio de Eren que se manteve em silêncio e aparentemente distraído.

Ir ao ginásio aquela hora da noite era ótimo para evitar confusões e a maior parte dos funcionários também já não estavam particularmente interessados nos clientes. O que era bom, pois não queria que nenhum Personal Trainer viesse falar com ele sobre sessões de treino privadas em troca de pequenas fortunas. Portanto, Levi fez os exercícios com calma depois de um dia em que o seu corpo não estava a aprovar totalmente a opção de acabar o dia com exercício físico. Felizmente, Armin tinha razão quanto ao chá que o obrigou a tomar para aliviar as náuseas e prevenir os vómitos. O loiro insistiu para ajudá-lo e Levi deixou-se levar pela persistência em troca de que Armin não quisesse saber mais do que aquilo que o jovem de cabelos negros estava disposto a dizer.

Apesar do corpo ainda um pouco fraco porque o jantar foi a única refeição que manteve no estômago, Levi fez grande parte dos exercícios acompanhado por apenas mais três pessoas. Duas dessas pessoas, homens a tirar fotos dos músculos após saírem das máquinas e uma rapariga loira, que assim como ele, não parecia muito impressionada com o comportamento dos outros.

Levi dedicou bastante tempo ao banho de água quente no balneário praticamente vazio. Os músculos relaxaram debaixo da pressão e temperatura da água, antes de vestir-se num dos cantos mais recônditos do balneário e sair em direção à entrada do ginásio.

Assim como ele, a rapariga loira de antes também devia ter demorado no banho. Ela seguia à frente dele e mesmo assim, tal como suspeitou durante os exercícios, viu os olhos azuis olharem novamente para ele.

Por que raio estava a olhar para mim?”, perguntou-se já no exterior e dirigiu-se a um multibanco para retirar dinheiro e realizar outra operação. Em seguida, retomou o caminho para casa e estranhou que Kuro não estivesse nas redondezas, “Será que voltou para a Nanaba?”.

O telemóvel tocou e sem olhar para o ecrã, atendeu pois pensava tratar-se da melhor amiga.

– Chego a casa daqui a pouco, Hanji. – Disse e ouviu um tom divertido do outro lado.

– Bem que estranhei teres atendido tão rápido. – Veio a voz masculina do outro lado.

– Ah…

– Não faz mal, Levi. Na verdade ia desculpar-me por ligar sem perguntar se não seria nenhum inconveniente.

– Não estás a incomodar. – Disse um pouco atrapalhado.

– Sei que preferes trocar mensagens do que falar, mas precisava ouvir a tua voz.

– Aconteceu qualquer coisa? – Perguntou curioso e um pouco preocupado.

– Dia complicado, mas não quero falar de mim. – Disse, evitando entrar no assunto. – Conta-me coisas. Não estás em casa e isso é quase surpreendente.

– Fazes soar como se eu fosse um recluso.

O outro riu.

– Não, mas é um pouco incomum, sobretudo quando a Hanji já não está aí para essas aventuras.

– Não é assim tão surpreendente. Estás lembrado que pagaste o ginásio sem eu querer? Hoje decidi ir lá.

– Pagaria outras coisas e terias outros presentes, se me deixasses. – Relembrou o outro. – Foste sozinho?

– Como te disse antes, não sou um recluso. Além disso, prefiro não estar em casa. – Ao acrescentar aquela última parte, arrependeu-se quase de imediato, pois sabia a pergunta que se iria seguir.

– O que aconteceu? Precisas de alguma coisa? Sabes que posso encontrar um apartamento melhor para ti.

– Não. – Negou Levi. – Não quero nada, entendeste? Também não quero falar acerca dos meus motivos e nem me podes censurar porque também não queres dizer o que se passa desse lado.

– Hum, parece que estamos num impasse, mas é justo. Não posso exigir nada, se também não quero ceder. – Disse calmamente. – Também te liguei porque precisava de um favor.

– Um favor? – Perguntou o jovem de cabelos negros desconfiado.

– Mas apenas se isso não interferir com os teus estudos ou tempo livre. – Falou num tom mais sério. – Queria que analisasses três ficheiros Excel.

– Devias pedir isso a alguém formado e experiente na tua empresa.

– Podia fazer isso ou podia confiar na pessoa que corrigiu o meu contabilista quando ainda estava no secundário. – Ripostou. – Os ficheiros estão completos e em princípio na versão final, mas gostava que confirmasses com o teu olhar atento que não existem lapsos. Claro que serás pago pelo trabalho.

Levi suspirou.

– Apenas se fizer correções, caso não tenha que alterar nada, não quero dinheiro.

– Algum valor terei que te dar. Tempo é dinheiro, Levi.

Discutir com o outro muitas vezes era uma perda de tempo e pensando no dinheiro extra que ia receber, Levi concluiu que não podia desperdiçar a oportunidade. Até porque o mês de outubro não ia a meio e não lhe restava muito do salário recebido no fim de setembro. Não pensava tocar no dinheiro que Carla tinha deixado, exceto para dividir as contas, ainda que fosse evidente que ela tinha deixado uma quantia avultada.

Amanhã ou o mais tardar no sábado, tenho que ir ao supermercado comprar comida. Não tenho muito apetite, mas se vou voltar ao ginásio, tenho que comer um pouco melhor. Além disso, não posso correr o risco de ficar doente. Não posso faltar ao trabalho”, dizia a si mesmo ao som da música que colocou no MP3, após ter terminado a chamada que recebeu à saída do ginásio.

Quando chegou a casa, surpreendeu-se ao ter Kuro a saltar para os braços dele. Com cuidado, Levi aconchegou o pequeno gato nos braços e viu Eren sentado no sofá com um rolo de papel higiénico ao seu lado, de onde retirava mais um pedaço de papel para colocar na mão que sangrava.

– Esse gato foi possuído pelo demónio. – Disse o moreno entre os dentes. – Abri-lhe a porta quando o ouvi a miar e é assim que agradece.

– Vai passar a mão por água. – Disse Levi e notou que havia pequenas bolas de papel ensanguentadas no chão. Ainda com Kuro nos braços, dirigiu-se à porta do quarto que depois de abrir, pousou o saco desportivo perto da cama. Deixou o gato sobre a cama e procurou numa das gavetas da mesinha de cabeceira, a caixa de primeiros socorros. Após encontrar o que pretendia, voltou à sala vendo que Eren continuava a insistir em parar o sangramento com pedaços de papel higiénico.

– Não vou pôr a mão outra vez debaixo de água. Dói, sabias?

Levi teve que morder a língua para não perguntar que idade é que o outro pensava que tinha. Em vez disso, decidiu tornar claro a razão pela qual estava ali.

– Isto vai acontecer só porque não quero que sujes a minha casa com papel higiénico ensanguentado. – Disse, acrescentando mentalmente a parte de “e para não teres nenhuma infeção”.

– Isto o quê? – Perguntou, olhando para o outro e vendo a caixa de primeiros socorros. – Eu não…

– Estica o braço e deixa-me ver a mão. – Disse, depois de trazer um banco para sentar-se na frente do sofá e na ausência de reação por parte do moreno, puxou a mão afastando os pedaços de papel.

– Cuidado, caralho!

– Se o Kuro não te suporta porque insistes em aproximar-te?

– Ia fazer-lhe uma festa e depois de abrir a porta, pensei que o gato fosse mostrar agradecimento. – Teria puxado a mão de volta ao sentir o algodão embebido num líquido para desinfetar, mas o jovem de olhos cinza não permitiu que o fizesse. – Faz isso com cuidado!

– Queres correr o risco de ter uma infeção? – Perguntou sem desviar os olhos do algodão que limpava a pele morena.

Levi esperava uma reação brusca ou resposta ofensiva, mas em vez disso, apesar de algumas queixas Eren não respondeu e deixou que terminasse o curativo. Em seguida, à medida que recolhia os pedaços de papel ensanguentados do chão, o jovem de olhos cinza disse que Eren deveria passar na enfermaria da Universidade no dia seguinte. Sem acrescentar mais nada, passou na casa de banho para lavar os dentes e depois fechou-se novamente no quarto.

O jovem de cabelos negros parou então para pensar no que tinha feito. Sendo verdade que não queria que o moreno sujasse as coisas com sangue, ele poderia simplesmente ter deixado a caixa de primeiros socorros com Eren. Em sua defesa, Levi podia argumentar que não queria correr o risco de que o moreno estragasse ou desperdiçasse o material. Além disso, também duvidava que pudesse fazer um curativo decente. Principalmente, se tivesse em conta que o moreno tentou resolver o assunto colocando papel higiénico sobre o ferimento. Era claro que não podia confiar nas habilidades de alguém assim.

Todavia, a parte racional frisava que não tinha a obrigação de cuidar de Eren. O certo seria deixar que o jovem de olhos verdes se desenrascasse sozinho. Nada de bom iria acontecer, se Levi não mantivesse a distância do outro. Ele sabia disso.

Depois de vestir umas calças largas claras e uma camisola de cor cinza, Levi sentou-se na cama com o portátil sobre as pernas, aguardando pela chamada da melhor amiga. Tal não tardou em acontecer e apenas teve tempo de ligar os fones rapidamente, antes de ouvir uma voz estridente do outro lado.

– Leeeee! Que saudades, meu bombom!

– Os meus tímpanos não têm saudades disto.

– Não digas isso. Sei que adoras a minha voz! – Riu ao ver o amigo revirar os olhos. – Conversamos um bocadinho antes de ver a Guerra dos Tronos?

– Já é tarde. É melhor começarmos por ver a série. – Respondeu.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

Eren estava novamente deitado no sofá. Uma das mãos movia os conteúdos no ecrã do telemóvel. Havia várias notificações diferentes e muitas fotos passavam no ecrã, mas ele sentia-se distraído. Ergueu a mão onde estava o curativo e questionava a razão para que Levi se tivesse incomodado em perder tempo com ele. Mesmo sendo certo que a culpa era do gato, essa podia ser a forma de compensar… por que razão o faria? Eren tinha a certeza de que não retribuiria o favor. Não só porque não se ia importar, mas também porque nunca tinha feito isso por ninguém e nem a ele mesmo.

Sempre pediu a alguém e o assunto ficava resolvido. Outros talvez o fizessem por medo de que Eren encontrasse forma de prejudicá-los, caso não cuidassem dele. Existia também quem o fizesse, tendo em vista interesses pessoais. Todos tinham uma agenda escondida e ele sempre descortinava as razões.

Contudo, não sabia o que pensar de Levi. Seriam interesses pessoais? Será que receava que em caso de infeção, acabasse por ter problemas com a mãe dele? Eram cenários possíveis e no entanto, durante os poucos minutos em que Levi se dedicou a tratar da mão dele, o jovem não parecia estar com medo ou preocupado. Parecia-lhe irritado como se de facto, estivesse a lidar com uma criança. Só que mesmo com essa irritação evidente, cada toque e gesto foi bastante cuidadoso.

 

Flashback

– Uau, és melhor do que a enfermeira ou dos que fazem isto em minha casa. – Dizia, olhando para o joelho enfaixado e que apesar disso, não retirava o sorriso do rosto dele. – És muito bom nisto. Quase não senti dor.

– É força do hábito. – Respondeu já de costas, arrumando o material na enfermaria vazia.

– Devias ser médico ou enfermeiro. – Brincou. – Como és tão inteligente e bom em tudo, nem devia ser difícil para ti…

– Eu não sou assim…

Fim do Flashback

 

Eren acordou depois de cair do sofá e bater com o nariz no chão. Devia ter adormecido sem dar por isso e graças a isso, teve mais um sonho estranho. Era como se fossem lembranças, mas todo aquele clima calmo e feliz não fazia sentido. Era tão diferente dele que Eren só podia pensar que se tratava de imagens criadas pela própria imaginação.

 


Notas Finais


Até ao próximo capítulo!


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