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História Memórias Rasgadas - Capítulo VII


Escrita por: Imagination

Notas do Autor


Obrigada pelos comentários, mensagens e favoritos!

Capítulo 7 - Capítulo VII


Capítulo VII

 

Quando as pálpebras começaram a separar-se, os olhos verdes demoraram vários segundos a focar-se na realidade. Ouvia os passos na cozinha e só podia concluir que era de manhã. Mais do que isso, também podia concluir que mais uma vez tinha caído no chão durante a noite. Apesar de ter dormido com a dose extra de casacos que felizmente colocou antes de deitar-se no sofá, Eren sabia que aquela situação não podia continuar. Estava com uma dor terrível nas costas e pescoço.

Procurando ignorar a dor e erguer-se do chão, os olhos verdes viram que Levi acabava de preparar uma taça de cereais e tencionava voltar ao quarto.

– Hei, espera! – Viu o jovem de cabelos negros parar. – Será que vou ter direito a uma almofada e cobertor? Não posso continuar a dormir assim. – Queixou-se ao sentar no sofá. – Que horas são? – Perguntou desorientado e procurando o telemóvel.

– Seis e meia. – Respondeu Levi, entrando no quarto.

– É preciso madrugar tanto? – Questionou, seguindo-se um longo bocejo e ainda estava a espreguiçar-se quando viu o dono dos olhos cinza tinha voltado com uma almofada e cobertor nas mãos. Deixou-os ao lado do moreno e regressou ao quarto, fechando a porta.

Será que podia falar comigo mais de dez segundos?”.

No dia anterior teve que andar demasiado para encontrar o metro e várias pessoas tentaram explicar-lhe que estava a perder tempo e que era preferível optar pelos autocarros. Só que cada vez que olhava para aqueles veículos apinhados de gente não sentia qualquer motivação para se juntar aquele filme de terror. Mas e se Levi tivesse razão e aquela fosse a melhor opção? Não queria correr todas as manhãs ou ter que procurar alguém à última da hora para lhe dar boleia. Foi graças ao seu charme natural que no dia anterior não chegou atrasado.

Hum, encontrar alguém em cima da hora pode não ser o mais inteligente. Preciso de alguém naquela Universidade. Alguém com carro e um estatuto decente. A Mikasa disse que devia evitar esse tipo de amizades para tornar tudo mais credível aos olhos da minha mãe, mas será que consigo manter disto por duas semanas?”, questionava-se com uns boxers e a toalha na mão.

Entrou na casa de banho e depois de fechar a porta, suspirou fundo, preparando-se para mais um momento tenebroso. Mais uma vez quando abriu o chuveiro, o moreno foi atingido por jatos de água gelada que o fez dizer vários insultos.

Como estava no interior da casa de banho, ele não viu quando Levi saiu para voltar à vozinha e escutando os insultos, olhou para o cilindro que ficava próximo ao frigorífico e arqueou uma das sobrancelhas. Mal-humorado e questionando se deveria ou não dizer qualquer coisa, Levi decidiu bater na porta.

– Por que estás a tomar banho de água fria?

– Porque é o que há nesta caverna! – Reclamou com a voz afetada pelo frio.

– Tens que ligar o cilindro.

– Ligar o quê? – Perguntou com a voz trémula.

– Cilindro, esquentador. O que lhe quiseres chamar. – Bufou irritado. – Desliga a merda da água por 15 segundos para ligar o esquentador. – Olhou para baixo e viu que a água iria passar novamente por baixo da porta. – Afasta o chuveiro da porta e aproxima-te mais do ralo.

– Sim, há muito espaço aqui! – Foi a resposta carregada de ironia que se escutou do outro lado da porta.

O jovem de olhos cinza bufou outra vez e ouvindo que a água parava de correr, foi até ao esquentador e depois de apertar um botão e aguardar uns segundos, viu uma pequena luz vermelha acender. Em seguida, Levi voltou a bater na porta e avisou que o moreno podia continuar com o banho.

Levi não queria acreditar que o outro não soubesse o que era um esquentador, mas pelos vistos essa era a razão para que o moreno estivesse a tomar banho com água gelada.

Quanto a Eren nem queria acreditar que estava a ter contacto com a água quente. Apesar de ter reclamado do espaço, tentou encolher-se um pouco mais para que água não saísse. Não por consideração por Levi, porque no dia anterior quase partiu algum osso quando esteve prestes a escorregar devido ao chão molhado.

Terminado o banho, Eren saiu e encontrou um pano um pouco molhado perto da porta. Deduziu que Levi tivesse colocado ali para impedir que inundasse a cozinha outra vez. Por falar no outro ocupante, este acabava de lavar e secar a taça de cereais e quando se virou para dizer qualquer coisa, parou por alguns instantes antes de apontar para o cilindro que havia perto do frigorífico.

– Tens que ligar isto a menos que gostes de água gelada.

– Como era suposto saber disso? – Perguntou desinteressado com a toalha na cintura e caminhando até ao sofá onde estavam as roupas.

– Senso comum.

– Senso comum. – Repetiu Eren entre os dentes. – Só se for para ti. Água quente sempre existiu na minha casa sem que fosse preciso ligar alguma coisa. Assim como ar-condicionado e aquecimento central. Coisas que só deves conhecer pelos filmes. Nem uma TV tens por isso, nem sei o que sabes tu acerca do mundo real.

Levi não respondeu e optou por pegar no pano molhado, espremer e estender no pequeno estendal que havia na janela.

– Tenho aqui roupa para lavar. Onde deixo? – Perguntou Eren, acabando de puxar o fecho das calças.

– Não tenho máquina de lavar roupa.

– Não foi isso que perguntei.

– Há uma lavandaria pública a cinco minutos daqui. – Respondeu. – Tem preços acessíveis.

– Uma lavandaria pública? É preciso pagar? Vou usar essas máquinas que outras pessoas como tu também lavam as roupas delas? Não quero estragar as minhas roupas. – Falou com desagrado.

– Podes usar roupa suja. Deve ser mais chique. – Respondeu o outro num tom desinteressado, enquanto limpava a casa de banho e fechou a porta para cortar a continuação daquela troca de palavras.

Eren ainda pensava com repugnância na ideia de lavandarias públicas, onde a sua roupa seria lavada. Além disso, a insinuação de que ficava a cinco minutos significava que teria que andar até lá carregado de roupa suja. Pior, ainda cobravam por um serviço que devia ficar longe de perfeito. O moreno recusava-se a fazer uma coisa dessas. Se tivesse que utilizar aquelas lavandarias, nem pensar que seria ele a deslocar-se até lá. Não iria passar a vergonha de ser visto num local desses. Não se iria rebaixar a esse ponto.

Distraído com os próprios pensamentos, nem reparou quando Levi saiu da casa de banho após higiene pessoal e regressou ao quarto apenas para recolher a mochila, casaco e Kuro que estava nos braços dele.

– Vais sair sem me dizer onde fica a paragem?

– Não vou chegar atrasado por tua causa. – Respondeu, passando pelo moreno que ainda pensou em parar o outro, mas o olhar homicida do gato fez com que mudasse de ideias. Não queria acrescentar mais arranhões ou estragar o curativo que teve o cuidado de não molhar enquanto tomava banho.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

– Já o devem ter visto, certo? Pelos vistos, os dois são muito amiguinhos. – Disse Jean com uma chávena de café à sua frente na mesa, onde estava acompanhado por mais três rapazes.

– Nunca reparei. – Disse um deles.

– Posso ter visto, mas de longe. Não tens uma foto dele? Sabes em que faculdade anda?

– Já vi quem é e vocês também. – Disse o terceiro com um ar divertido. – Ele trabalha aqui, mas raramente o vemos ao balcão. É o que normalmente está nas traseiras com o lixo, lembram-se? Acho que lhe atirámos com umas latas e o idiota nem reagiu.

– Sim, acho que me lembro. Sempre que aparece está com o lixo lá fora.

– É esse otário. – Confirmou. – O nerd oxigenado arranjou um lixeiro como amigo.

Todos riram na mesa.

– Então, aquele empecilho trabalha aqui. Infernizar a vida dele até se vai tornar mais fácil. – Comentou Jean.

– Qual é o teu interesse nos dois parolos?

– Não tenho qualquer interesse pelo lixeiro, mas quero divertir-me com o loiro e esse está a atrapalhar por isso, façam essa coisa ter medo de aparecer no mapa. – Disse Jean terminando de beber o café.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

Armin – Mensagem:

Obrigado outra vez, Levi.

Mas não precisas de fazer isto outra vez. Só não carreguei antes o telemóvel porque tive que fotocopiar alguns livros. Gastei mais dinheiro do que pensava.

 

Eu – Mensagem:

Volto a repetir que não me importo.

Assim não precisamos de perder o contacto e fico a saber se acontecer qualquer coisa.

Queres almoçar na cantina?

Hoje trabalho e tenho menos horas livres.

 

Armin – Mensagem:

Claro! Vai ser bom ter companhia para almoçar.

Boas aulas e até logo :)

 

Eu – Mensagem:

Encontramo-nos perto da biblioteca. Até logo.

 

Na noite anterior quando Levi passou pelo multibanco para levantar dinheiro, aproveitou também para colocar saldo no telemóvel do loiro. Estimou que apesar do modelo antigo, o tarifário fosse um dos que incluía mensagens grátis pelo menos dentro da própria rede e dessa forma, eles poderiam manter o contacto constante. Isso diminuiria a preocupação de Levi.

A primeira aula era uma das opcionais de contabilidade que tinha escolhido por isso, em vez de números, começaria com direito. Mais concretamente, Direito Fiscal. A turma era um pouco mais numerosa do que seria expectável para uma temática como aquela, mas se havia quem mudasse opcionais porque queriam algo mais simples ou qualquer coisa mais prestigiante no currículo, também existia quem o fizesse porque a professora era uma das mais bonitas da Universidade de Trost.

Para Levi esse pormenor era completamente irrelevante e escolheu aquela opcional e outras que no ano anterior foram lecionadas pela mesma professora porque interessava-se por Direito. Além disso, ajudava a enriquecer o seu percurso académico e ele queria aproveitar ao máximo a oportunidade que não pensou que fosse ter.

– Bom dia, meninos. – Cumprimentou a professora de cabelos dourados, olhos azuis vincados pelo lápis preto que os destacava, mesmo atrás dos óculos de haste fina que alimentava várias das fantasias dos alunos.

Apesar da estatura baixa, a professora de Direito usava sempre saltos altos com bastante elegância, acompanhados sempre de um conjunto de roupa formal. Naquela manhã, ela trazia uma saia preta um pouco acima dos joelhos e uma camisa branca de meia manga com um decote bem discreto.

À medida que maioria babava pela professora Historia Reiss, a ala feminina em minoria tentava esconder a inveja atrás de comentários maldosos.

Estão todos a perder tempo”, pensava ele com o caderno aberto à sua frente. 

Não tinha comentado com ninguém, ou seja, nem mesmo com a Hanji mas tinha visto a professora, apelidada como a mais desejada e bonita, a beijar uma aluna enquanto entravam no interior do gabinete. Foi um mero acaso. Ele tinha ido ao Departamento de Contabilidade para requisitar um livro específico e à saída reparou na professora e na cena caricata. Deve ter sido uma distração dela que aparentemente não voltou a acontecer na frente de ninguém indiscreto, caso contrário já teriam arruinado a carreira dela. A tal namorada da professora era alguém que Levi viu várias vezes no local de trabalho. Ymir estava sempre com mais pessoas na mesa, a rir e a fazer barulho com outros colegas de curso de Artes. Ele teve que servir a mesa algumas vezes ou simplesmente começar a limpar as mesas próximas para que ela e outros percebessem que estava na hora de fechar e eles teriam que sair.

Pessoalmente, Levi não tinha nada o relacionamento das duas, mas sabia que outros não pensariam o mesmo. Sobretudo na administração da Universidade. Portanto para evitar prejudicar uma boa professora, ele nunca comentou nada do que viu naquele dia.

– Este livro é de leitura obrigatória e como há poucos exemplares disponíveis na biblioteca, aconselho que fotocopiem ou comprem. Como for mais conveniente para vocês. – Explicava depois de mostrar o livro a que se referia. – Eu consideraria adquirir o livro, uma vez que vos pode ser útil no futuro para consultar informação.

Se pudesse Levi compraria quase todos os livros que os professores sugeriam, mas muitas vezes não tinha sequer dinheiro para fotocopiar, portanto, comprar estava fora das possibilidades. Embora às vezes fizesse um pequeno esforço para conseguir comprar alguns. Usualmente, conseguia encontrá-los na biblioteca ou optava por fotocopiar. Existiam também os casos em que havia as versões online, mas ele preferia a versão em papel do que ler um livro no ecrã. Era menos cansativo.

Durante a aula sentiu o telemóvel vibrar no bolso e assustou-se um pouco. Reparou que tinha esquecido de desligar a net e por isso, recebeu uma notificação. Eram os ficheiros Excel que teria que analisar e com isso iria receber algum dinheiro extra sem sentir muito culpado. Ele achava sempre que o outro era demasiado generoso.

Depois daquela aula seguiu-se uma longa aula de álgebra. Não que o jovem não considerasse interessante, mas a quantidade absurda de vezes em que o professor tinha que explicar alguma coisa, irritava-o. Como é que havia gente que conseguia passar de ano e ainda assim, colocar tantas questões inacreditáveis?

À hora do almoço enquanto esperava por Armin próximo à biblioteca com os fones nos ouvidos, Levi resolveu ir adiantando uma parte do trabalho de álgebra deixado pelo professor. Como estava tão absorto nos exercícios não notou que o observavam de longe. Até teria continuado com os exercícios, se uma mão não tivesse sentido uma mão sobre o ombro.

Os olhos cinza ergueram-se com rapidez e encontrou o sorriso do loiro.

– Estavas há muito tempo à minha espera?

Retirou os fones dos ouvidos e respondeu:

– Não, estava só a adiantar uma parte de uns exercícios, já que hoje à tarde trabalho.

Guardou os fones, o MP3 e o caderno dentro da mochila.

– Pareciam complicados. Do que era? Matemática?

– Álgebra.

– Parece complicado e no entanto, parecia que estavas a fazer uma coisa bem simples. – Comentou, mantendo o sorriso. – Os teus turnos no trabalho são sempre em part-time?

– Não. De segunda à sexta costuma ser tempo parcial, mas aos fins de semana, se for necessário, posso fazer tempo inteiro.

– Hum, então vais estar ocupado no fim de semana? – Questionou enquanto entravam na cantina depois de comprarem a senha numa das máquinas da entrada.

– À tarde sim.

– De manhã imagino que queiras aproveitar para dormir e descansar. – Disse com a bandeja na mão e colocando os talheres sobre o mesmo. Viu o olhar de Levi ao seu lado. – Desculpa. Só vou no domingo à casa do meu avô e mesmo que o Jean não esteja no quarto o tempo todo…

– Da parte da manhã podemos sair. – Cortou Levi. – Só entro no trabalho da parta da tarde. – Entregou a senha à funcionária que começou a preparar o prato escolhido.

– A sério? Não te importas? – Perguntou entusiasmado depois de entregar a própria senha.

– Claro que não. Caso contrário, não teria dito nada. – Respondeu e recolheu o prato, deixado pela funcionária da cantina sobre o balcão.

Armin abriu mais um sorriso e pouco depois, os dois encontraram uma mesa quase vazia. Almoçaram, conversando acerca da vida universitária que os rodeava. Era óbvio para Levi que além de ser bastante inteligente, o loiro também demonstrava que possuía vocação para a profissão que queria desempenhar no futuro.

Assim como acontecia com Hanji, também Armin podia falar bastante acerca das coisas de que mais gostava. Embora o loiro não subisse o tom de voz exageradamente ou gesticulasse em excesso ao contrário do que acontecia com Hanji. Ao escutar o entusiasmo do loiro, Levi perguntou-se há quanto tempo não se empolgava com alguma coisa.

O jovem de olhos cinza sentia como se as emoções que faziam os olhos do outro brilhar com esperança e perspetivas de um futuro de sucesso, não faziam parte do universo dele. Não que odiasse o curso em que se encontrava, pelo contrário, mas dentro dele reinava uma dormência constante. A mesma que somente se alterava para responder a emoções negativas. Levi não tinha esperança de dias melhores, apenas esperava que o dia seguinte não fosse pior do que anterior.

Com o fim do almoço quase em cima da hora das aulas, Armin teve que correr com pouco tempo para despedir-se de Levi ou combinar a que horas se encontrariam no dia seguinte.

No entanto, ficou a promessa de que falariam disso mais tarde através de mensagens. Ao confirmar mais uma vez as horas, Levi viu que ainda tinha tempo de tentar terminar os exercícios de álgebra antes de ir trabalhar. Tendo esse plano em mente, começou a caminhar na direção da biblioteca. Ia sair para o exterior para atravessar o jardim, quando viu dois rostos conhecidos na saída que pareciam olhar para ele. Com um mau pressentimento, resolveu voltar para trás e sair pela outra porta, mas a meio do corredor já vazio devido ao início das aulas, encontrava-se o terceiro elemento.

Levi reconheceu aqueles três como os mesmos que atormentavam Armin e que por alguma razão, notaram a presença dele. Os olhos cinza observaram o espaço e concluíram que as câmaras de segurança continuavam ausentes. Como era um corredor de passagem para os que se dirigiam para a cantina, descuidaram a segurança. Aliás havia um salão utilizado para convívio ali perto da cantina em noites de festa, aquele corredor sendo um dos locais sem câmaras de vigilância, era conhecido como um dos locais utilizados pelos casais para outras atividades. Essa era uma das razões para nunca se aproximar daquelas paredes.

– Ora, ora. – Disse um deles que tinha os cabelos castanhos presos num rabo-de-cavalo e era o que estava mais próximo de Levi. – Onde pensas que vais? Nós temos umas coisas para conversar.

– Não precisas de fugir com o rabo entre as pernas. – Disse um dos outros dois que se aproximava pelas costas do jovem de olhos cinza, vedando a possibilidade de fuga.

– Imagina que podias ter ficado fora do nosso radar, mas andas a esconder nosso brinquedo. Logo agora que ouvimos que está a aprender umas coisas. – Disse o terceiro com uma voz um pouco afeminada e que Levi gostaria de apontar a falta de puberdade, mas naquele momento, ele começava a ficar tenso com as intenções daqueles três.

– Nós podíamos exigir que ficasses longe dele, mas normalmente falar não é o suficiente para que as pessoas entendam. – O que tinha falado em primeiro lugar golpeou o jovem de olhos cinza no estômago, fazendo com que se curvasse. – Mas quando deixamos marcas, é mais fácil que não se esqueçam.

O que tinha voz afeminada pontapeou uma das pernas de Levi que caiu no chão. Ouviu os três rirem e todo aquele cenário era tão familiar. Gritavam insultos, alternando entre eles quem devia pontapeá-lo à altura dos braços, pernas ou costas. Entre as várias coisas que lhe diziam, frisavam como devia manter-se longe de Armin e que assim que o amigo deles se cansasse, iriam também eles aproveitar-se do loiro.

O amigo deles só podia ser o Jean e Levi imaginava o que esse e também aqueles gorilas pretendiam fazer. Aliás, nem precisava de imaginar porque como pessoas nojentas que eram, fizeram questão de dizer em alto e bom som o que iriam fazer.

Ao longe, Levi viu uma aluna que ao testemunhar o cenário virou o rosto e saiu rapidamente. Ninguém queria envolver-se. Era o normal. Ele estava habituado a isso.

A cada palavra que ouvia, Levi recordava as conversas com o loiro e como apesar de ser tão inteligente, era bem inocente relativamente à monstruosidade que os outros podiam representar. Levi não duvidava de uma só palavra que ouvia e enquanto os insultos continuavam, ele começou a levantar-se do chão.

Eles riam, tentaram mantê-lo no chão até um deles agarrando-o pelos cabelos, acabou por ajudá-lo a levantar-se.

– Vá, deixem ele de pé por alguns segundos. Quero ver o que vai fazer. Vais tentar fugir? Vais ripostar? Ou será que queres tirar o lugar ao teu amigo? Queres chupar em troca de perdão? – Os três gargalharam e com uma das mãos nas calças, aproximou-se de Levi. – Queres?

Mal teve tempo de acabar a pergunta e recebeu um golpe no queixo. A força foi tal que os outros em choque viram quando o amigo caiu no chão completamente desamparado e inconsciente. Porém, outro reagiu quase de imediato e empurrou Levi contra a parede.

– Vais morrer aqui, nerd!

Esse recebeu uma cabeçada forte, seguida de não uma, mas várias joelhadas no estômago até que os olhos cinza viram gotas de sangue caírem no chão. Segurando o rabo-de-cavalo desse, Levi largou assim que o rasteirou e viu que tossia e gemia de dor devido aos golpes recebidos.

O terceiro que restava retirou uma lâmina do bolso, ainda que fosse visível como estava trémulo perante o que tinha acabado de presenciar. Mesmo assim, lançou-se na direção de Levi que se desviou com facilidade e agarrou o braço do opositor.

– Lamento, mas eu não tenho medo de lâminas. Só que tu devias ter. – Encostou o outro à parede, socando-o no estômago várias vezes, mas não deixou que caísse no chão. Em vez disso, encostou a faca perto dos olhos aterrorizados do outro rapaz. – Eu não me importo com as vossas ameaças ou insultos, mas se volto a vê-los perto do Armin outra vez… acredita que não tenho medo e sei muito bem como utilizar uma lâmina. Vão ficar tão desfigurados que ninguém vos irá reconhecer depois…

Em seguida antes de se distanciar do jovem trémulo, Levi cravou a lâmina na gola casaco do outro em mais um sinal de aviso. Depois deixou-o cair aos seus pés e arrumou as próprias roupas e mochila antes de sair. Já não tinha tanto tempo para resolver os exercícios de álgebra e para dizer a verdade também não seria capaz de se concentrar, dado que as imagens recentes do que tinha feito continuavam bastante presentes.

Muitos se enganavam acerca dele. Ele não era incapaz de se defender, pelo contrário. Só que Levi não sentia vontade de o fazer e mais do que isso, cada vez que cedia, receava estar a tornar-se naquilo que o tio queria que fosse. Após tantos golpes e momentos em que teve em perigo, o jovem de olhos cinza teve que aprender, não teve escolha senão aprender a defender-se.

Aliás, defender-se não tinha sido o propósito de todos os espancamentos que recebeu da parte do tio. O objetivo era ensiná-lo que o ataque era a melhor defesa e que o mundo pertencia aos mais fortes. Pertencia aqueles capazes de eliminar qualquer sentimento de empatia pelo outro e em consequência disso, estabelecer dominância. Mesmo que Levi não quisesse viver segundo esses ideais, muitas vezes não teve escolha e reagir tornou-se uma opção.

 

Flashback

– Se continuares assim, coisas terríveis podem acontecer e não, não me refiro à morte. – Dizia, caminhando no beco imundo de lixo, onde o cheiro forte a urina e vómito ajudava a engrossar as lágrimas que caíram no rosto do rapaz que se apoiava numa das paredes.

– Tio Kenny, eu não quero fazer isto. – Murmurou.

– É ridículo ver como acreditas que tens escolha. – Assobiou e vários indivíduos com um cheiro nauseante a álcool, cigarro e ausência de higiene pessoal rodearam o rapaz. – Os meus amigos vão passar um bom tempo contigo, caso decidas continuar com essa atitude fraca.

– Não…

– Se não queres que nada aconteça, luta. Posso garantir que não vais receber ajuda da minha parte.

Fim do Flashback

 

O tio não teve mesmo qualquer intenção de ajudá-lo e foi graças a isso descobriu as coisas que era capaz de fazer e como sem saber, aprendeu a imitar várias coisas que viu o tio fazer. Nem mesmo Hanji conhecia a extensão de tudo o que aconteceu ou as coisas que teve que fazer. Ele queria manter tudo no recanto mais obscuro e escondido que pudesse existir.

No entanto, a amiga já tinha testemunhado uma das vezes em que ele ripostou. Não por ele, mas por ela. Hanji estava em perigo, assim como ele viu que Armin também estava. Principalmente, quando viu até que ponto aqueles três estavam dispostos a ir.

A amiga quando descobriu aquilo de que ele era capaz não teve medo. Aliás, incentivou-o a reagir mais vezes, a lutar não só pelos outros, mas por ele mesmo. Porém, essa era uma motivação difícil de seguir, visto que por vontade própria já teria desistido de tudo há muito tempo. Também não queria ver o monstro em que se tornava sempre que reagia. Ele não queria seguir a influência do tio. Simplesmente queria que o deixassem em paz e ignorassem a existência dele.

Quando mudou de roupa para colocar a farda notou que tinha algumas manchas mais escuras na pele. Estava tão habituado à dor física que não lhe ocorreu que os golpes que tinha recebido, iriam deixar marcas.

Pelo menos não é em nenhum sítio visível”, concluiu antes de acabar de se vestir para dar início a mais um turno de trabalho.

Como se tratava de uma sexta-feira, o movimento no café foi maior e isso fez com que tivesse que servir mesas em vez de ficar na cozinha. Odiava quando lhe pediam isso, mas pelo menos, todos os clientes estavam tão absortos nas conversas com os amigos, que mal olhavam para a cara dele. Assim não teria que fingir simpatia que não tinha.

Numa das mesas que deixou Hitch atender, Levi viu Jean com uma rapariga que sorria e não se incomodava nem um pouco com os avanços dele. O companheiro de quarto de Armin não estava a ser minimamente discreto e Levi sabia que tinha sido visto e reconhecido. Contudo, Jean não o via como uma ameaça e o jovem de cabelos negros só podia deduzir que o outro ainda acreditava que os amigos teriam feito a parte deles.

O que significa que ainda não sabe o que aconteceu e por isso, está confiante de que não vou dizer nada ao Armin”, concluiu e questionava se precisaria de enviar mais alguma prova ao loiro do quão mentiroso e falso Jean era. Tinha o telemóvel no bolso e poderia ligar a câmara discretamente.

– Tens um minutinho para mim?

O toque no braço e a voz familiar fizeram com que Levi se voltasse de imediato e não conseguiu disfarçar a surpresa. Na mesa estava um conhecido que vestia as roupas de tons escuros, mas ainda assim com um estilo justo e sensual que nunca falhava em chamar a atenção. Um colete sem qualquer camisa por baixo mostrava as tatuagens tribais nos braços. Ainda tinha o mesmo piercing no sobrolho e outro na língua que passou pelos lábios em jeito de brincadeira. O cabelo com gel puxado para trás e pequenas sardas no rosto que chegou a dizer várias vezes que contribuía para o charme dele.

– Marco?

– Há quanto tempo, Levi. – Sorriu e acrescentou com um meio sorriso. – Senti saudades.

– O que estás a fazer aqui?

– Tenho andando perto da faculdade de Filosofia. – Respondeu descontraidamente. – Sabia que acabarias na Universidade, mas sempre me perguntei se nos voltaríamos a encontrar.

– Estás a vender aqui? – Perguntou num tom mais discreto, mas apreensivo.

Marco riu.

– Aqui no café não, mas perto da faculdade de Filosofia sim. Se eu estudasse aquilo, provavelmente também iria precisar de fumar qualquer coisa. – Brincou com um dos inúmeros anéis que tinha nas mãos. – Como tens estado? Confesso que não esperava que a tua amiga conseguisse afastar-te de mim.

– Ainda vais acabar apanhado aqui na Universidade. – Levi abanou a cabeça. – Estou como sempre e… – Fez uma pequena pausa. – Tens alguma coisa contigo?

Outro riso bem divertido da parte do outro.

– Não da qualidade que gostas, mas podemos combinar qualquer coisa como nos velhos tempos. – Piscou o olho. – Sabes onde me encontrar. Agora vai lá. Estão a olhar muito para cá e não quero que reclamem contigo por minha causa. Traz-me uma Super Bock. Daqui a pouco chegam uns amigos meus e depois pedimos mais qualquer coisa.

– Ok, já trago a tua cerveja. – Disse e afastou-se da mesa, notando de soslaio o olhar atento de Jean.

Se ele está com ideias acerca do Marco… bom, seria até cómico”, pensou e regressou ao balcão onde pediu a cerveja para levar.

– Hei, quem é aquele pedaço de mau caminho? – Perguntou uma das colegas de trabalho enquanto ia buscar a cerveja.

– Pois, conta lá. Pareciam amigos. – Comentou Hitch.

Ele revirou os olhos e não respondeu a qualquer pergunta. Ele e Marco não eram propriamente amigos, mas conheciam-se por outras razões. Ele era o que Hanji chamava de péssima influência, mas durante algum tempo, Marco deu-lhe exatamente o que procurava: uma fuga da realidade.

Quando no fim do turno, Levi estava a acabar de limpar e recebeu uma mensagem. Era de Nanaba. Precisava da ajuda dele e tendo em conta, que podia usar aquilo como mais um motivo para chegar tarde a casa, não pensou duas vezes em confirmar que iria ao encontro dela.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

Eu – Mensagem:

Planos para hoje?

 

.I. – Mensagem:

Claro, a menos que me faças mudar de ideias.

 

Eu – Mensagem:

E q tal pensarmos nisso depois de jantar?

 

.I. – Mensagem:

Onde nos encontramos? :p

 

Eren não queria voltar para aquela casa tão cedo, onde não havia nada de jeito para comer e também não podia tentar cozinhar porque nunca fez isso antes. Porém, comer iogurtes ou fruta às escondidas quando Levi não estava por perto não era um bom plano. Acabava sempre com fome e por isso, decidiu recorrer ao namorado. Quem sabe, Jean também tivesse boas notícias quanto aos avanços com Armin, visto que quase não viu o loiro depois do primeiro encontro que tiveram na sala de aula.

O moreno ouviu mais uma queixa do estômago e arrependeu-se por não ter aceitado o convite de uma rapariga para irem almoçar algumas horas antes. Recusou também comer na cantina da Universidade.

Não queria gastar dinheiro e podia ter convencido a rapariga a pagar, alegando que se tinha esquecido da carteira ou alguma desculpa semelhante. Porém, como não quis recorrer a isso e passar pelo risco dela também não ter dinheiro suficiente ou não querer pagar.

Também não quis gastar dinheiro na cantina porque não se queria rebaixar a comer num sítio daqueles, embora começasse a arrepender-se de não estar a pensar bem nas coisas. Passou o dia com dores de cabeça e na enfermaria depois de verificarem o curativo, deram-lhe medicação para a dor e para uma prevenir infeção. Como a enfermeira também ouviu a barriga dele a dar sinal de fome, hesitou em dar-lhe a medicação dizendo que não deveria tomar nada de estômago vazio. Contudo, o moreno comprometeu-se a comer qualquer coisa assim que saísse. Coisa que não aconteceu. Talvez essa fosse a razão para a dor no estômago.

As aulas naquele dia foram um martírio. Não só porque o tema não lhe interessava minimamente, mas também porque o desconforto gerado pelas dores de cabeça e mais tarde, acrescido pela dor no estômago não ajudou. Suspirou e enviou uma última mensagem ao namorado, dizendo onde se iriam encontrar.

“Só preciso de uma distração”, concluiu, dirigindo-se à entrada da Universidade.

Eren não imaginava que ter que esperar quase quarenta minutos até que Jean aparecesse. Combinaram a uma hora em que as aulas já teriam terminado e embora, o namorado não fosse a pessoa mais pontual do mundo, nunca imaginou que fosse demorar tanto. O sol já tinha desaparecido, o que significava que as temperaturas frias de outono já estavam presentes e fizeram com que colocasse as mãos nos bolsos, enquanto soprava um pouco de ar quente contra a gola do casaco.

– Vamos?

Os olhos verdes desviaram-se do asfalto e encontraram as costas do namorado que já tinha começado a caminhar, assim que chegou.

– Vamos onde? – Perguntou.

– À baixa. Deve haver um sítio…

– A pé? – Interrompeu, vendo Jean olhar por cima do ombro com uma expressão que lhe dizia que estava mal-humorado por alguma coisa.

– Claro.

– Outro dia qualquer, mas hoje vamos no teu carro. – Disse Eren e antes que o outro pudesse rebater acrescentou. – A sério, não passei bem o dia e podemos comer em qualquer lado, mas não quero andar a pé.

– Estás muito mimado hoje. – Ironizou, retirando as chaves do carro do bolso e mudando a trajetória que os dois estavam a seguir antes. – Espero ser compensado por isto depois do jantar.

– Hum, eu compenso. – Murmurou contra a gola do casaco.

– Estás doente? – Perguntou, arqueando uma sobrancelha.

– Não.

– Estás mais calado e estranho que o normal.

– Vai-te foder, Jean.

O namorado riu.

– Pronto, aí está. É a prova que estás bem. – Colocou o braço em torno da cintura do namorado e beijou-o no rosto.

– Cheiras a perfume de puta. Deixaste-me ali à espera para estar com uma tipa qualquer?

– Normalmente, és tu que chegas sempre atrasado. – Jean aproximou-se do carro e Eren da porta do lado oposto. – Pensei que não te irias incomodar isso. Além disso, se o meu namorado não me dá atenção, tenho que o recordar que há sempre quem me queira. – Entrou no carro, acompanhado pelo moreno que o fez o mesmo, depois de revirar os olhos.

– Se é assim, por que razão pareces mal-humorado? O que foi? A puta não tinha tomado banho? Murchaste antes do tempo? – Provocou enquanto colocava o cinto de segurança.

– Isso não acontece comigo. – Respondeu, ligando o carro e ouviu o outro rir.

– Ah sim? Queres que te refresque a memória?

– Vai à merda, Eren. Sabes bem que tens brincadeiras bem estúpidas. – Falou irritado.

– Mas vá, se não é nada disso que eu disse, estou curioso. – Disse um pouco mais confortável depois de o namorado ter ligado o aquecimento no carro.

– Encontrei alguém que também seria o teu género. – Começou por dizer, despertando a curiosidade do moreno. – Só que como estava com companhia, não pude falar muito com ele.

– Hum, mas se não pudeste falar muito, significa que ainda trocaram algumas palavras.

– Sim. Está a fazer-se de difícil. – Disse sem querer entrar em detalhes e contar que na verdade, aquele seu novo interesse chegou a rir na cara dele.

– Hum, queres ajuda? – Ofereceu Eren num tom insinuante. – Sou bastante persuasivo quando quero.

– Obrigado, mas este… faço questão de fazer rastejar. – Respondeu Jean, passando uma das mãos nas pernas do namorado. – Depois podes aproveitar a situação, se quiseres.

– Ok. – Recostou-se no banco e ao passar a mão sobre a do namorado, Jean distanciou a dele e confuso perguntou:

– O que é isso? Caíste?

– O meu companheiro de apartamento tem um gato que é a reencarnação do demónio. – Ironizou Eren.

– Nunca compreendi por que razão gostas dessas bolas de pelo inúteis.

– Nem todos são crias do demónio. – Apontou o moreno. – O gato até é bonito e nunca lhe fiz nada, mas ele parece que me odeia por alguma razão. Sabes que sempre quis ter animais em casa, mas nunca deixaram.

Jean simplesmente abanou a cabeça, resolvendo não iniciar uma discussão quando respondesse que pouco ou nada se interessava pelos animais em geral. Nunca compreendeu como Eren podia gostar tanto deles, ao ponto de quando saíam e se na rua encontrassem algum cão ou gato, o namorado iria querer parar para acariciá-los e perder vários minutos com isso. Chegou inclusive a falar em adotarem um em conjunto, mas após várias discussões que terminavam em sessões bem quentes entre os dois, Jean conseguiu afastar essa ideia da cabeça do namorado.

No café que escolheram para jantar, Eren pensava que ia comer mais do que na realidade aconteceu. A dor na barriga ainda continuava presente e por isso, preferiu não forçar-se a comer muito. Também esperava que Jean servisse como uma boa distração, mas o namorado não fazia mais do que falar dele mesmo. Pelos vistos, Jean estava fascinado com a vida universitária e com o curso de Direito, referindo que também tinha na mira dele, uma professora bastante popular.

Contudo, Eren não podia partilhar do mesmo entusiasmo. Ele não queria estar naquele curso ou naquela Universidade. Como só começou a frequentar as aulas algum tempo depois, também não ajudava a que socializasse muito. Ainda que fosse verdade que isso nunca foi um impedimento. Se ele quisesse, já poderia ter várias pessoas a babar por ele.

Sempre que se apanhava a pensar assim, procurava as razões por detrás daquela falta de entusiasmo. Possivelmente, isso teria a ver com o facto de que a mãe continuava a ignorá-lo. Nunca pensou que fosse chegar o dia em que ela optasse por deixá-lo sem nada, do que continuar a ignorar tudo o que fazia. Graças à falta de dinheiro, passava a ter que limitar bastante o seu dia-a-dia e talvez isso também estivesse a mexer com o seu ânimo. Isso e a falta de ensaios com Annie. 

Se calhar, devia combinar com ela. Algumas horas de ensaio deve ser o que preciso para colocar as ideias em ordem”, pensava, ignorando por completo mais alguma história que Jean contava acerca dos seus dias na Universidade.

 

Flashback

– Estás bem?

– Porquê? – Questionou surpreso. – Não te pareço igual ao de sempre?

– Consigo ver. – Respondeu a voz ao seu lado num tom triste.

– Os outros não…

– Porque eles só olham, mas não veem. Quase ninguém vê até ser muito evidente ou muito tarde.

Fim do Flashback

 

– Estás a ouvir, Eren? – Jean perguntou e bastou um aceno para continuar a história. – Agora vem a melhor parte. Então, ele disse-me que…

Tinha razão. Podemos estar sentados frente a frente e apenas a olhar sem ver. Estou com dores, cansado e claramente, desinteressado mas ele não vê ou simplesmente, não quer saber”, pensava e na sua mente também passaram outras imagens. Desta vez em casa, parado diante da porta do escritório do pai com um sorriso e um conjunto de folhas na mão. Esperava pacientemente pela autorização do pai para entrar, pois não queria aborrecê-lo outra vez e ouvir outro sermão.

Quantas vezes ficou parado na frente daquela porta, aguardando pacientemente pela voz que nunca veio? Batia uma, duas, três ou às vezes mais, mas nada acontecia. Ainda assim, ele esperou. Por bastante tempo, esperou pelo que jamais viria.

Quando lhe perguntaram de onde vinha tanto desinteresse pelos outros, ele só podia responder na mesma moeda. Ora, ninguém se interessava por ele. Por que razão deveria dar aos outros, o que os outros não estavam disposto a oferecer? Ele estava simplesmente a devolver todo o desprezo que lhe ensinaram a ter. Não compreendia como podiam surpreender-se com isso.

– O que foi? – Perguntou, vendo que Eren usava a mão para criar distância entre eles.

– Sei que disse que te recompensava, mas não estou mesmo a sentir-me bem. Podes levar-me a casa? – Pediu, sentado sobre as pernas do namorado no banco traseiro do carro.

– Estás a brincar, certo? Vieste comer com o dinheiro do meu bolso, exigiste que viesse de carro e agora queres que te leve a casa sem ter nada em troca?

– Quantas refeições e outros luxos paguei desde que nos conhecemos? – Apontou. – Será que podes parar de me atirar coisas à cara quando tu tens telhados de vidro? – Ia afastar-se do namorado, mas este agarrou-o pela cintura.

– Quem não está para paciência para as tuas manias sou eu. – Disse Jean. – Não vou ter o meu namorado a dizer-me que não sempre que lhe apetece. – Apertou a mão do moreno onde estava o curativo e este queixou-se. De imediato, Eren tentou bater em Jean mas a reação lenta fez com que ele recebesse um golpe no nariz. – Puta que pariu, Eren. Não te queria ter…

Caralho, para que foi isso? – Perguntou um pouco zonzo, passando a mão no nariz e tentando perceber se não estava a sangrar.

– Só estava a tentar defender-me e tu é que começaste. Não fiz de propósito. – Disse, colocando a mão no queixo do moreno. – Shh, deixa-me ver. – Viu o outro um pouco contrariado, mas deixou que ele observasse com cuidado. – Estás bem. Não estás a sangrar. – Acariciou o rosto dele. – Desculpa. Não queria ter feito isto.

– Sei que não gostas de ser contrariado, mas isto…

– Shh. – Beijou-o. – Já disse que foi sem querer e foste tu que me tentaste bater primeiro.

– Magoaste a minha mão.

– Desculpa. Não sei o que me deu. – Beijou-o de novo. – Estou desculpado? Posso fazer-te sentir bem para esqueceres isto? – Desviou a boca dos lábios do moreno para passar ao pescoço, ouvindo um suspiro e sorrindo ao ver que estava a convencer o namorado a esquecer aquilo e mais importante, a ceder.

 


Notas Finais


Até ao próximo capítulo *


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