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História Memórias Rasgadas - Capítulo VIII


Escrita por: Imagination

Notas do Autor


Obrigada pelos comentários, mensagens, favoritos e a todos os que acompanham a fic!

Capítulo 8 - Capítulo VIII


Capítulo VIII

 

Levi chegou cansado a casa. Era bem tarde, dado que a noite a ajudar Nanaba teve alguns imprevistos, mas no fim daquelas horas, podia dizer que regressava a casa com um sentimento de dever cumprido. Nem mesmo sendo tão tarde, Kuro deixou de esperar por ele e por isso, chegava a casa mais uma vez com o pequeno gato nos braços.

Porém, o jovem de olhos cinza assustou-se com a presença do Eren. Como era sexta à noite e enquanto esteve com a Nanaba, viu vários adolescentes e adultos bêbados, Levi deduziu que Eren estaria a fazer o mesmo. Para dizer a verdade, essa hipótese ainda se encontrava sobre a mesa, pois o moreno estava claramente a dormir nas escadas próximo à porta. Não cheirava álcool ou quem sabe, não estivesse próximo o suficiente para notar. De qualquer forma, não pretendia confirmar.

Levi abriu a porta de casa, pensando que esse ruído acordaria o outro, mas depois de colocar as coisas no quarto e procurar roupa para vestir depois do banho, ele notou que a porta continuava aberta e nem sinal de Eren na sala. Seria possível que o moreno continuasse a dormir? Se assim fosse, não queria ter que acordá-lo. Queria limitar o contacto ao mínimo. Seria o ideal para evitar qualquer deslize e com isso em mente, pegou nas chaves, saiu para fora do apartamento e fechou a porta com força. O estrondo acordou Eren que caiu à medida que tentava focar-se realidade à sua volta e viu Levi abrir a porta.

O método utilizado podia não ser o mais maduro, mas pelo menos Eren acordou e entrou em casa, fechando a porta. Enquanto Levi ligava o esquentador, viu de soslaio como o moreno deitou-se de imediato no sofá e enrolou-se no cobertor que tinha deixado ali de manhã. Não abriu a boca para reclamar de nada, o que era algo estranho. Porém, se Eren não estava a causar qualquer discussão ou conflito, com certeza não seria Levi a mudar isso.

Portanto, ignorando o moreno, tratou da higiene pessoal e fechou-se no quarto. Ao pegar no telemóvel viu as mensagens de Armin. Esperava que o loiro ainda estivesse acordado para que pudessem sair no dia seguinte. Como saiu do trabalho no café e foi diretamente ao encontro de Nanaba, esqueceu-se completamente do que tinha combinado com Armin.

Com alívio, Levi concluiu que Armin ainda estava acordado a rever a matéria do curso e por isso, puderam combinar onde e a que horas se iriam encontrar no dia seguinte.

Amanhã ainda tenho que arranjar tempo para as compras e passar na lavandaria. Terá que ser depois do trabalho e assim até é melhor, passo menos tempo em casa”, concluiu com satisfação já sentado na cama e a abrir o email com os ficheiros Excel que teria que analisar, “Posso ir adiantando trabalho, já que apesar do cansaço, sei que não vou adormecer já. Também não posso fazer o mesmo que ontem, caso contrário o Armin vai sair com um zombie”.   

Depois de terminar um dos ficheiros e responder a uma mensagem que Hanji tinha enviado, finalmente decidiu juntar-se a Kuro debaixo do cobertor.

No dia seguinte, Levi acordou com o despertador que marcou para um pouco mais tarde, visto que era fim de semana. Saiu da cama e encontrou a roupa que já tinha deixado preparada na noite anterior. Uma camisa de malha branca com o desenho do Pac-man a cor preta no centro (um presente de Hanji) a que juntou umas calças de cor cinza escura e um casaco da mesma cor que ficou sobre a cama, enquanto saía para fazer a higiene pessoal. Como aconteceu antes, teve que respirar fundo mais do que uma vez antes de sair e tudo continuava escuro com Eren ainda a dormir.

Com um suspiro de alívio, Levi entrou na casa de banho para acabar de se arranjar para sair. Antes de deixar o apartamento, bebeu apenas um copo de água, visto que tinha combinado que iria tomar o pequeno-almoço com o Armin. Com as chaves nos bolsos, porta do quarto trancada, Kuro nos braços e fones nos ouvidos, Levi saiu. Ainda olhou mais uma vez para o sofá antes de sair, mas Eren continuava a dormir profundamente.

A caminho da paragem de autocarro, despediu-se de Kuro e num dia em que o autocarro ia consideravelmente mais vazio, Levi aproveitou para se sentar e distrair-se com as músicas que preenchiam silêncio e o faziam relaxar.

Quando chegou ao destino, Levi esperava Armin na entrada da Universidade como combinado, mas não que Jean estivesse com ele e claramente irritando, falando alto e fazendo o loiro recuar. Ao retirar os fones à medida que se aproximava, Levi já conseguiu ouvir o que o outro dizia.

– Sei que estavas a mentir, Armin! Caso contrário, não terias melhorado tão rápido quando ainda ontem disseste que estavas mal! Agora estás aqui a fazer o quê? À espera de alguém?

– Sim, à minha espera. – Informou Levi, após respirar fundo e decidir que teria que colocar um basta naquela situação o quanto antes. Colocou-se ao lado de Armin, enlaçando-o pela cintura e ignorando como o loiro corou. – Não sei para quê todo este espetáculo. Ainda ontem estavas tão bem acompanhado no café. Suponho que assim como não lhe deves explicações acerca do assunto, penso que ele também não tem que ouvir nada disto.

– Vocês os dois andam juntos?

– Sim e agora que esclarecemos isso, vamos embora. – Respondeu Armin, puxando Levi e dois distanciaram-se de um Jean que ficou em choque e sem reação.

Entretanto os outros dois continuaram a caminhar bem próximos até que ficaram longe do campo de visão de Jean e Armin foi o primeiro a reagir. Riu e mesmo Levi não conseguiu conter um sorriso divertido. Os dois criaram uma distância entre eles à medida que o loiro dizia:

– Meu Deus, viste a cara dele? Queria ter a oportunidade de emoldurar.

– Pode ser que assim te deixe em paz. – Comentou Levi. – Espero que o efeito não seja o contrário, mas não hora não consegui pensar em nada melhor.

– Foi hilariante e desculpa, mas…super sexy. Nunca imaginei que pudesses fazer uma coisa dessas. Quer dizer, eu sei… ah, das tuas preferências, mas não te via nesse papel.

– Que papel?

– Tu sabes. – Disse um pouco envergonhado e quase num sussurro, acrescentou. – Pensei que fosses do tipo mais passivo.

Levi arqueou uma das sobrancelhas e abanando a cabeça, disse:

– Estás enganado a meu respeito. – Colocou as mãos nos bolsos. – Já sabes para que café vamos?

Armin ainda um pouco ruborizado respondeu:

– Sim, vi um que fica um pouco mais para o centro, mas tem bons preços. – Continuaram a caminhar. – Já que vamos ao centro, depois do pequeno-almoço importas-te se formos a outro sítio?

– Não fiz planos porque cheguei tarde a casa ontem, mas desde que esteja perto do trabalho à hora em que tenho que entrar de resto, vamos onde quiseres. – Respondeu. – Mas por curiosidade, onde queres ir?

– Segredo. – Sorriu. – Não quero assustar-te com as minhas tendências geek.

Levi arqueou uma sobrancelha, mas não comentou. Assustá-lo com tendências geek? Armin não imaginava que estava a falar com alguém que ocupava grande parte do tempo livre com animes, séries, vídeos no Youtube e Tumblr. Isso quando não passava horas a resolver exercícios de matemática, não por ter trabalhos, mas porque considerava que aquela fosse uma boa forma de ocupar o tempo. De todas era provavelmente a mais produtiva.

Deixando esses pensamentos de lado, Levi ainda não acreditava no que tinha feito para livrar Armin daquela troca de palavras com Jean. Esse tipo de comportamento só lhe era familiar mediante algumas circunstâncias. Isso significava que para ser tão arrojado e desinibido na frente de outros daquela forma, normalmente não estava sóbrio. Era tão mais fácil dizer o que pensava quando as substâncias tóxicas corriam dentro dele e transformavam todas as dúvidas e receios em nada.

Não obstante a ausência desse fator, Levi foi capaz de agir um pouco fora do habitual. Mais uma vez não o tinha feito por ele, mas por Armin. Se em resultado disso, podia ver o loiro rir e relaxar, então valia a pena. Era a primeira vez que sentia que estava de facto a retribuir o que um dia fizeram por ele.

Com Hanji, ele sempre sentia que tinha uma dívida imensa para com ela. Foi sempre protegido pela amiga. Porém, Armin fazia com que fosse possível sentir como se tivesse um impacto positivo na vida de alguém. Levi só esperava nunca se transformar num empecilho na vida do loiro.

– Disseste que vais visitar o teu avô amanhã. Ele vive muito longe? – Perguntou após algum silêncio enquanto comiam.

Os olhos azuis focaram-se nos cinza. Armin teve medo de estar a falar demais e por isso, assim que vieram servir a mesa deles, decidiu ficar em silêncio. Não esperava que Levi tomasse a iniciativa de retomar a conversa, mas ficou feliz com isso.

– O meu avô vive em Shiganshina. Vou sair de noite e chegar lá de manhã. É uma viagem um pouco longa, mas posso dormir no comboio. – Fez um ar pensativo. – Hum, já falaste da Hanji várias vezes, mas não disseste onde ela está a estudar.

– Está em Sina. – Respondeu. – O teu avô vive sozinho?

– Sim, é viúvo há bastante tempo, mas nunca quis voltar a casar. – Disse com um sorriso triste. – Às vezes penso que seja por minha causa porque quando os meus pais morreram, ele teve que assumir uma responsabilidade que não devia ter tido.

– Tenho a certeza que isso é um sentimento de culpa sem razão de existir. Se ele quisesse casar, teria feito isso. Posso não o conhecer, mas pela lógica até facilitaria ter outra pessoa ajudá-lo, já que os teus pais não estão presentes. – Aclarou a garganta. – Podemos mudar de assunto, se isto te deixar desconfortável.

– Era muito novo para me lembrar deles. Para mim, a minha família é o meu avô. Não te preocupes, posso falar do assunto sobretudo se for como um amigo.

Mesmo com aquele tema de conversa, o loiro não fez qualquer perguntar sobre a família do outro jovem. Podia ser só um pressentimento, mas o facto de Levi não referir qualquer familiar e falar só da melhor amiga, era um indício que a história familiar era complicada. O loiro não queria manchar a atmosfera ou fazer com que Levi se distanciasse. Não agora que tinha a oportunidade de estar com ele.

Armin podia esperar até ao dia em que Levi quisesse abrir um pouco com ele.

– Tenho que comentar outra coisa, essa camisola que tens é tão fixe!

– Presente da Hanji. – Respondeu.

– Então não gostas? – Perguntou menos entusiasmado, pois não era capaz de entender se o outro gostava ou não daquele tipo de coisas.

– Joguei Pac-man, Sonic, Super Mário e afins. Não sou um jogador fanático, mas conheço alguns. – Respondeu enquanto caminhavam numa direção conhecida só pelo loiro.

– Eu tenho todos esses jogos! Um dia tens que vir comigo a casa ver o meu santuário.

Levi sorriu um pouco.

– Santuário?

Geek, lembras-te? – Questionou o loiro e após alguns minutos em que entraram num centro comercial pouco movimentado, os dois pararam na frente de uma loja chamada “Komic”.

Surpreendido, Levi foi puxado para o interior da loja que era uma das suas definições de paraíso. A quantidade de manga, figuras, peluches, entre outros produtos onde se incluíam séries americanas e até produtos de bandas coreanas.

– Não sabia que havia uma loja destas aqui.

– Abriu há poucos meses depois do sucesso que foi o primeiro evento do Comicon em Trost. Normalmente, esses eventos são em Sina mas parece que descobriram que a comunidade é grande o suficiente para que também seja feita uma edição em Trost. – Dizia Armin, aproximando.se de uma secção de manga. – Têm uma diversidade impressionante. – Ao notar que estava a falar demasiado e provavelmente a aborrecer o outro, parou e preparava-se para se desculpar quando viu Levi retirar um dos mangas da prateleira.

– Têm a coleção inteira de Death Note. – Deslizou o dedo pelas lombadas dos pequenos livros. – Está por ordem… também têm Fruits Basket. A Hanji andava à procura desta coleção e também de Elfen Lied.

– És fã? Vês anime? – Perguntou Armin entusiasmado. – Não saberias esses nomes se não fosses fã!

– Não és o único geek por aqui.

– És ainda mais perfeito do que pensava! – Assim que se apercebeu do que tinha dito, corou bastante. – Ah, quis dizer que não é todos os dias que encontro alguém que se interesse por estas coisas.

– Não sei se devia orgulhar-me de dedicar tantas horas da minha vida a estas coisas, mas há histórias muito boas. – Disse, continuando a observar os mangas.

– Qual foi o primeiro que viste?

Dragon Ball. – Respondeu, retirando outro manga da estante. – Chobits. Tem mangas mais antigos. Gosto da variedade.

Os dois continuaram a observar mangas e outros produtos disponíveis. Existia uma grande diversidade e descobriram também que tinham estado presentes na 1º edição da Comicon em Trost, mas em dias diferentes. Levi tinha ido com Hanji, mas Armin foi sozinho apesar de ter conhecido várias pessoas interessantes, entre elas uma cosplayer da Fate Stay Night, que estava vestida como Saber. Infelizmente não trocaram contactos e ele não tornou a encontrar a rapariga com quem passou grande parte do tempo.

O loiro também fez cosplay, mas não quis revelar de que personagem e mostrou-se desapontado porque Levi não tinha vestido nada. Hanji queria que tivessem ido vestidos como as personagens de Black Butler, mas no fim, só ela foi vestida como o mordomo.

– Vais este ano?

– Não sei. – Respondeu Levi, acompanhando o loiro até à secção de mangas mais uma vez, pois ele decidiu que iria fazer uma pequena compra. Um manga de Fullmetal Alchemist. Pelos vistos, Armin estava a colecionar os volumes da história, mesmo que só pudesse comprar cada um deles com meses de diferença entre uma compra e outra.

– Gostava que fosses. – Disse Armin, retirando o oitavo volume do manga anteriormente mencionado. – Para ter companhia.

– Já compraste o bilhete?

– Ainda não, mas não queria ir sozinho sobretudo agora que conheço alguém com quem posso falar destas coisas. – Disse o loiro com o manga nas mãos e olhando para o outro.

– Se for, é provável que Hanji se junte a nós.

– Quantos mais melhor e confesso que cada vez tenho mais curiosidade em conhecê-la.

– Ela é louca… mas é boa pessoa. – Disse pensativo.

– Quando souberes se vais, diz qualquer coisa. – Pediu o loiro e em vez de se mover na direção do balcão para pagar, parecia hesitar com algum nervosismo visível.

– Armin? – Chamou Levi ao lado dele, estranhando a postura nervosa. – O que foi? Não tens dinheiro para pagar?

– Não, não é isso. – Apressou-se a dizer um pouco ruborizado e deu a sensação de que queria dizer qualquer coisa, mas continuava a hesitar. Ainda que tenha deixado de olhar de soslaio para o jovem de olhos cinza. Em vez disso, virou-se de frente e o outro aguardava pelas palavras que explicassem a razão por detrás daquele comportamento.

Nos primeiros instantes não era claro qual a razão, mas refletindo acerca de todos os olhares que tinha recebido do outro até aquele momento, onde se incluíam reações e gestos, Levi surpreendeu-se um pouco com a suspeita que se formava na mente dele. Para confirmar a teoria que lhe passou pela cabeça, deu dois passos em frente. O rubor no rosto do loiro aumentou à medida que diminuía a distância entre os dois.

– Estou a deixar-te desconfortável?

– Nã…não. – Gaguejou e pouco depois só teve tempo de fechar os olhos antes de sentir os lábios de Levi contra os dele. O primeiro contacto foi breve e suave e o segundo um pouco mais demorado com uma mão no rosto do loiro. Antes do terceiro, Armin abriu um pouco os olhos para encontrar a íris de cor cinza e todo um mistério atraente que se escondia atrás daqueles olhos. A mão no rosto moveu-se um pouco e o polegar tocou nos lábios do loiro, acariciando-os com cuidado antes de encurtar novamente a distância entre os dois.

Os lábios tocaram-se mais uma vez e apesar do mesmo cuidado de antes, sentiu a língua a pedir-lhe passagem e Armin não hesitou em deixar que o beijo se intensificasse. Em resposta, as mãos dele colocaram-se sobre a cintura de Levi que inclinou o rosto, explorando a boca do outro. O contacto entre as línguas fez com que o loiro se envergonhasse do som que lhe escapou e essa foi a razão para interromper o beijo.

– Ah…

– Não precisas de ter vergonha, mas… – Criou uma distância que permitisse o loiro recompor-se. – Porquê Armin? Sei que há pessoas bem mais interessantes do que eu. Confesso que estava com dúvidas se estava ou não a interpretar bem os sinais e quase esperei que me empurrasses.

– Não, não te iria empurrar. – Disse ainda ruborizado. – Não és definitivamente passivo e também não te vês ao espelho. Tu… foste das primeiras pessoas que notei quando cheguei à Universidade, embora pensasse que a rapariga que normalmente estava contigo, fosse a tua namorada.

– A Hanji não consegue andar ao meu lado sem agarrar-se como uma lapa. – Arqueando uma sobrancelha, prosseguiu. – Se me notaste desde dessa altura, isso significa que quando dizias que gostavas de um rapaz…

Ainda mais ruborizado, o loiro assentiu.

Levi estava surpreso e confuso. Mesmo que fosse verdade que em épocas em que não andava sóbrio mais do que um par de horas, conseguisse envolver-se com outras pessoas com facilidade, Levi apostava que isso acontecia porque os outros com quem esteve, também não estavam sóbrios. Era tudo casual, no calor do momento e pela busca do prazer rápido. Não havia mais nada. Às vezes nem mesmo o nome da outra pessoa chegou a conhecer.

Não se orgulhava desses dias, mas quando estava sob o efeito daquelas coisas que Marco lhe arranjava, sentia que podia esquecer tudo e focar-se somente naquilo que lhe dava prazer. Fora desse contexto, não tinha propriamente fama de atrair olhares. Não se considerava atraente para que alguém o achasse interessante ou gostasse dele.

– Desculpa. Sei que pode parecer estranho que estivesse a observar-te desde dessa altura, mas realmente penso que não te vês ao espelho. Podes usar roupa que esconde como és fisicamente atraente. Mas ainda assim há coisas que dá para perceber e não só do físico. Por exemplo, como te via a empurrar a tua amiga ou a reclamar, mas cuidavas para que ela não se esquecesse de comer ou voltasse para casa à chuva. Coisas pequenas que dizem mais sobre ti do que pensas. – Disse com um sorriso tímido. – Reparei em várias coisas pequenas que me foram deixando interessado, mas nunca imaginei que algum dia estivéssemos aqui a conversar assim e mais importante… que quisesses ajudar com os meus problemas. Mesmo assim, não queria estragar a nossa amizade e se isto te deixa desconfortável, não toco mais no assunto. Só que…

– Já namoraste antes e embora não me orgulhe disso, eu fiz muita merda com relacionamentos que não passavam de uma noite. Eu muito provavelmente não sou a pessoa que pensas.

– Não estou a pedir para namorar até porque nos conhecemos há pouco tempo. Não precisamos de dar nome a nada disto. Podemos ir nos conhecendo aos poucos. Tenho a certeza que tens uma ideia muito errada acerca de ti mesmo e gostava de provar-te isso, mesmo que seja só na qualidade de amigo. Será que me podes dar essa oportunidade?

Levi tinha a certeza que estava longe de ser aquilo que Armin merecia. O loiro devia gostar de alguém sem um passado repleto de fantasmas e tantas coisas das quais não se orgulhava. O jovem de olhos cinza também sabia que não nutria os mesmos sentimentos. Há muito tempo que estava irremediavelmente estragado por dentro. Não seria capaz de apaixonar-se de novo, visto que o passado estava sempre por perto para recordá-lo quais seriam as consequências.

Então, como explicava o beijo entre ele e Armin? Podia ter só confirmado. Podia explicar isso com o facto de ter visto nos olhos dos azuis do outro um sentimento que embora não retribuísse, teve vontade de cuidar e não pisar ou humilhar como tinham feito com ele.

Tendo isso em consideração, não discordava totalmente da ideia de não dar nome ao que podia haver entre eles. Ainda que pensasse que manter a amizade era o mais aconselhável e era provável que Armin acabasse por concordar com isso eventualmente.

Depois de concordarem em manter as coisas como estavam enquanto se iam conhecendo, o loiro ainda assim, quando se despediram não conseguiu evitar mais uma confissão.

– Disseste que não havia casamento depois da primeira dança, mas tenho a certeza que ouvi fogo-de-artifício de fundo quando me beijaste.

Levi abanou a cabeça e deixou escapar um sorriso divertido, que mais uma vez colocou borboletas na barriga do loiro.

Podes não acreditar, mas mesmo que não retribuas os meus sentimentos, trataste-me com mais carinho do que o Jean. Claramente não vês o valor que tens”, pensava o loiro depois se despedir de Levi que foi deixá-lo à porta da residência de estudantes.

Da parte da tarde, o jovem de olhos cinza trabalhou no café/bar e no fim do turno, dirigiu-se ao supermercado. Era um pouco tarde, mas como já não tinha muita comida em casa, sabia que não podia continuar a adiar. Enquanto comprava bens alimentares, de higiene e limpeza trocou algumas mensagens com Hanji e Armin. A amiga marcou mais uma sessão de Skype para mais tarde e Armin anunciou que já estava na estação à espera do comboio para ir até à casa do avô. Desejou um resto de bom fim de semana e disse que provavelmente, só se veriam na terça.

Com os sacos das compras nas mãos, Levi pesava os prós e contras de ir à lavandaria depois de deixar as compras em casa. Também o podia fazer na manhã seguinte, mas no fundo só queria uma desculpa para estar menos tempo em casa. Só que precisava de continuar a análise dos ficheiros Excel e por isso, seria boa ideia ficar um pouco em casa.

Se ficar no quarto, não preciso sequer de olhar para a cara dele”, pensou à medida que entrava no prédio com as sacas das compras e Kuro atrás dele. O gato apareceu outra vez pelo caminho como se tivesse ficado mais uma vez à espera dele.

Quando entrou em casa, Levi estranhou a luz apagada. Esperava que o outro ocupante estivesse no sofá com o telemóvel nas mãos. Pensou na hipótese de ele ter saído, só que ao acender a luz, Levi surpreendeu-se ao ver o moreno enrolado no cobertor e encolhido no sofá, assim como o tinha visto de manhã.

Por impulso, Levi quase apagou a luz para não acordar Eren, mas logo veio a parte racional recordá-lo que estava em casa e que não tinha que sentir-se mal com a possibilidade de acordar o outro, até porque ainda era cedo para dormir. Entrou com as sacas e com Kuro atrás. Fechou a porta e durante a arrumação das compras nos armários, viu que Eren se moveu. Pensou que tivesse sido só a revirar-se, só que o moreno levantou-se sem dizer uma palavra e fechou-se na casa de banho. Primeiro veio a confusão e depois ouviu o moreno a vomitar.

Notou também em outras coisas. Não havia iogurtes ou fruta em falta. Nada tinha sido cozinhado e além disso, Eren estava exatamente com a mesma roupa da noite anterior. O que o levava a suspeitar que o moreno não saiu do sofá o dia todo, nem mesmo para comer.

Ouviu o autoclismo e começou a questionar se devia falar com o moreno. Se Eren estivesse mesmo mal, talvez fosse melhor aconselhá-lo a ir ao hospital. Se bem que Levi recordava a aversão do moreno por hospitais. Se ele continuasse igual, iria recusar aquela sugestão. Ainda pensava no que dizer quando Eren saiu da casa de banho e voltou para o sofá. Antes que pudesse continuar a pensar se devia ou não falar com ele, Levi perguntou:

– Estás mal do estômago?

Os olhos verdes viraram-se na direção dele. Seguiu-se um silêncio e Levi não gostava da palidez que estava a ver no rosto do outro que sentado no sofá, puxou o cobertor para se cobrir.

– Reparei que não comeste nada. – Insistiu Levi, indo até ao sofá. – Diria que não saíste desse sofá deste ontem.

– Não te preocupes, não vou continuar a roubar comida para cobrares depois. – Respondeu num tom rouco.

– Não me interessa se tiraste comida. Responde à minha pergunta: comeste alguma coisa hoje?

– Não, mas não tenho vontade de comer.

– Tens frio? Confirmaste se tens febre?

– Sei lá, o que é que… – Parou de falar, arregalando um pouco os olhos ao sentir a mão de Levi na testa dele.

– Estás quente. – Concluiu. – Doí-te a garganta? O corpo? Tens tosse?

– Por que é que isso te interessa? – Perguntou confuso.

– Responde às perguntas. – Exigiu num tom seco.

– Não tenho muita tosse e a dor na garganta deve ser pelas idas à casa de banho. – Respondeu.

– Hum… pode ser que tenhas gripe. Devias ser visto por um médico, mas como sei que não vais querer ir ao hospital. Preciso que faças exatamente o que disser nas próximas horas. – Dizia com uma mão na cintura e observando o moreno. – Devias tomar medicação para a febre, mas de estômago vazio está fora de questão. Portanto, vou fazer um chá que vais beber e comer fruta.

– Pensas que és alguma babysitter?

– Preferes o hospital? – Questionou. – Se bem me lembro, odiavas hospitais.

– Sim, mas…

– Deve ser das poucas coisas em que não mentiste.

– Não gosto de chá.

– Hospital? – Apontou.

Seguiu-se mais um silêncio e no fim Eren bufou sem argumentar de novo. Levi encarou isso como um sinal para fazer o que queria. É verdade que durante muito tempo, Levi também não teve um apreço especial pelo chá, mas descobriu que era uma das melhores formas para lidar com a ressaca ou problemas no estômago. Começou a preparar o chá, refletindo também acerca da facilidade com que as palavras escaparam da boca dele ao falar com Eren. Não gaguejou, não hesitou e conseguiu dizer exatamente o que queria. Pretendia atribuir isso à raiva que sentia ao ver alguém tão mimado e irresponsável nem sequer comer alguma coisa ou ir a uma farmácia comprar qualquer coisa. Em vez disso, fechou-se num casulo com um cobertor e esperou que alguém tomasse a iniciativa por ele. Seria possível que nem sequer para ele mesmo, Eren se esforçasse para fazer alguma coisa?

Por outro lado, Levi tentava ignorar o outro fator que o levou a falar com Eren. Não queria admitir que estava preocupado. Se bem que podia encontrar forma de justificar isso.

Não quero problemas só porque o idiota pode apanhar uma pneumonia. Explicar à mãe dele porque lhe vou devolver um cadáver e não uma nova versão impossível do filho, não é uma coisa que queira fazer”.

Podia haver quem argumentasse que aquele era um pensamento exagerado, mas o jovem de olhos cinza contentava-se com qualquer explicação que obscurecesse os motivos da preocupação. Depois de preparar o chá e cortar duas maçãs em pedaços que colocou numa pequena tigela, voltou ao sofá onde Eren continuava sentado e encolhido no cobertor. O moreno não escondeu o desagrado ao ver a chávena cheia que teve segurar, mas olhou com interesse para a tigela com os pedaços de maçã que se manteve nas mãos de Levi.

– Isto fica para quando tiver a certeza que consegues manter o chá no estômago.

– O aspeto e o cheiro são terríveis como sempre. – Murmurou e sob o olhar atento do Levi que via o moreno fazer caretas como uma criança, encostou os lábios na chávena. Assim que o fez, fechou os olhos, esperando pelo sabor horrendo. Em vez disso, os olhos verdes abriram-se surpresos. – É…doce…

– Coloquei um pouco açúcar para que fique mais agradável. Consegues beber? – Viu o outro assentir e vendo os olhares na direção da tigela com maçã, Levi colocou a mesma ao lado do moreno. – Bebe o chá todo e come a fruta.

Com a correria no trabalho e a ida até ao supermercado, Levi não teve tempo de jantar e por isso, depois de deixar Eren em silêncio a pôr qualquer coisa no estômago, foi até ao frigorífico e armários. Tinha comprado os ingredientes necessários para fazer uma sopa de legumes. Usualmente, comia melhor à hora do almoço e comia somente uma sopa jantar. Podia fazer uma panela para durar várias dias e assim não tinha que preocupar-se com o que iria fazer. Porém, nos últimos tempos descuidou-se novamente com as refeições.

Era bastante fácil perder o apetite. Bastava que um dia fosse um pouco pior para que a única coisa que quisesse fazer, fosse deitar-se na cama e dormir. A médio e longo prazo esses hábitos aliados a outros vícios podiam fazer com que regressasse ao hospital e por isso, estava a tentar controlar a frequência das refeições.

Quem diria que com isso, também acabaria por ajudar Eren, pois tornava-se cada vez mais evidente que o moreno possuía uma aptidão nula para a cozinha.

– Cheira bem.

– É sopa. – Respondeu um pouco espantado com a vontade de Eren em conversar e principalmente de elogiar alguma coisa. A especialidade dele era o contrário.

Puta que pariu, devo estar mesmo nas últimas para elogiar uma sopa. – Disse e não viu Levi revirar os olhos e aproveitando que a sopa ainda teria que manter-se no fogo por mais tempo, optou por ir tomar banho. Dessa forma, evitava também que Eren iniciasse novamente uma nova conversa.

Provavelmente fosse a febre a influenciar a vontade de Eren conversar. No entanto, Levi não podia ou queria alimentar o contacto com o moreno. Não mais do que o necessário, pois em breve o dono dos olhos verdes estaria melhor e o desprezo voltaria. Tudo era passageiro e não demonstrava as verdadeiras cores do moreno que em condições normais, estaria a rir dele como sempre o fez.

Levi tomou banho e quando passou pela sala para ir ao quarto, viu que Eren terminava de comer os pedaços de maçã. Entrou no quarto onde Kuro dormitava na cama e acordou com o som do secador. Após alguns minutos, o gato seguiu-o de volta para a cozinha para comer a refeição que o jovem de cabelos negros preparou.

Em seguida, com a sopa já terminada retirou duas taças, sentindo que era observado e Levi confirmou isso, assim que se virou e viu os olhos verdes na direção dele.

– Vais mesmo dar-me sopa?

– Queres continuar com fome? – Perguntou e entregou a taça ao moreno. – Não vou preparar mais nada. – Recolheu a chávena e tigela vazia. Lavou os dois recipientes antes de começar a comer a sopa, vendo que Eren fazia o mesmo.

Ainda que tivesse começado depois, Levi terminou primeiro de comer e como Eren representava a lentidão a comer, o primeiro teve tempo de ir procurar na caixa debaixo da cama, medicação que se aplicasse aos sintomas da gripe. Encontrou uma caixa quase cheia, visto que era raro que tivesse doente por essas razões.

Quando regressou à cozinha, encheu um copo de água e retirou um dos comprimidos da caixa.

– Aqui tens. – Entregou-lhe o copo e o comprimido. – Caso não melhores, amanhã passo na farmácia. – Recolheu a taça sopa vazia.

– O que vais fazer a seguir? Dormir?

– Por que raio isso te interessa?

– Por nada. Só para saber se vais ver o meu cadáver durante a noite ou só quando acordares.

– Ninguém morre por causa de uma gripe.

Embora, eu tenha pensado na mesma coisa, mas era uma desculpa esfarrapada”.

Levi foi buscar também o copo que levou juntamente com a taça e a colher. Assim que acabou de fazer isso, foi até à casa de banho lavar os dentes e ia para o quarto, quando foi mais uma vez interpelado pelo Eren.

– Queria um favor.

– Favor? Estás a sentir alguma coisa ou isto é alguma piada? – Perguntou entre a preocupação e a desconfiança.

– Posso não estar cá amanhã. – Dizia, deitado no sofá e enrolado no cobertor.

– Não precisas exagerar. Não estás a morrer.

– Podes trazer o Kuro aqui só um bocado? – Pediu e Levi arqueou a sobrancelha.

– O gato odeia-te.

– Mas pode ser que no teu colo não faça nada.

– Estás mesmo a falar a sério? – Perguntou Levi e vendo que Eren continuava a olhar para ele expectante, o primeiro decidiu chamar Kuro que veio ao seu encontro e saltou para os braços dele. Em seguida, abaixou-se diante do sofá. – Não me responsabilizo pelos arranhões.

Um pouco hesitante e engolindo em seco ao ver o ar pouco amigável do gato, Eren estendeu a mão. Hesitando um par de vezes antes de tocar na cabeça do gato. Primeiro apenas com dois dedos e depois com a mão inteira. Ao fazê-lo sorriu, dizendo:

– Afinal deve gostar um bocadinho de mim. Isso ou sabe que vou morrer e por isso, quis dar-me essa oportunidade.

– Pára de dizer que vais morrer. – Comentou Levi, revirando os olhos.

– À exceção dos que têm medo, os outros animais até me deixavam chegar perto deles. Sempre achei que não te julgavam e gostavam de ti, independentemente de quem fosses. Será que este consegue ver-me?

– Isso é a febre a falar.

– Sempre quis ter um.

– Eu sei, mas não te deixavam ter animais em casa. – Levi deixou escapar num murmúrio.

– Também te contei isso. Parece que te lembras muito do passado.

– Um de nós infelizmente não esqueceu. – Distanciou-se com Kuro nos braços. – Dorme.

Dizendo isso, Levi virou as costas ao moreno e saiu da sala, fechando a porta do quarto. Não gostava de falar com o moreno, sobretudo vendo como ele estava claramente desorientado e com um olhar semelhante que usou quando lhe mentiu no passado.

Ligou o computador e os fones no mesmo, antes de forçar a concentração nos ficheiros Excel. Avisou Hanji que teriam que adiar a chamada de Skype, pois tinha uns trabalhos com atraso para fazer. Se por um lado, era verdade que queria concentrar-se no trabalho dos ficheiros Excel, por outro lado, não queria que a amiga fizesse perguntas. Em todo o caso, ela ainda não sabia que Eren estava a viver com ele e se em outros dias pôde disfarçar, naquele dia seria difícil. Ele estava agitado porque cada palavra trocada e gesto na direção do moreno eram sinais proibidos. Nada disso acabaria bem e no fim, ele seria o único prejudicado.

Contudo, a meio da noite, Levi não conseguiu evitar em retirar mais um cobertor do guarda-roupa e levá-lo para a sala. O apartamento era bastante frio e isso não iria ajudar Eren a melhorar.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

Os olhos verdes focaram-se lentamente. Viu a luz apagar-se e ouviu o som da porta a fechar. Um pouco desorientado, notou que estava com muito calor e até transpirava. Ao sentar no sofá, viu que tinha dois cobertores em vez de um, comprovando que não tinha imaginado quando teve a impressão que alguém o tinha aconchegado um pouco mais, diminuindo o gelo que se fazia sentir naquela sala.

Quando pegou no telemóvel que estava no chão, Eren encontrou um post-it que dizia “Quando acordares, come e toma o comprimido que deixei”. Olhando para a banca da cozinha, viu o copo de água com um comprimido sobre uma pequena caixa.

Não entendo porque faz estas coisas”, pensava confuso, “O que tem a ganhar com isto? Será que pensa que é melhor ficar do meu lado do que contra mim? Não, não parece ser esse o caso até porque me trata várias vezes como se fosse uma criança”.

Refletindo acerca da situação, não existia qualquer razão para que Levi se incomodasse com ele ou podia pelo menos, ter feito somente o mínimo ou chamado uma ambulância para descarregar o problema nos outros. Só que em vez disso, ele preocupou-se com a comida, medicação, conforto e até com caprichos que incluíram deixar que acariciasse Kuro.

Nada disto faz sentido”.

Comeu algumas bolachas e bebeu um iogurte líquido depois de deixar este último fora do frigorífico por algum tempo. De seguida, tomou a medicação e com o corpo ainda mole voltou para o sofá. Não teve que esperar muito para adormecer, pois não tinha a mínima vontade de olhar para o ecrã do telemóvel e não havia uma TV para o entreter.

Quando acordou mais tarde, o cheiro da comida foi a razão para abrir os olhos. Viu que Levi tinha chegado há pouco tempo. Colocava duas sacas no chão perto do quarto e uma terceira foi levada até à cozinha.

– Como estás a sentir-te hoje?

– Só me apetece dormir, mas o que trazes aí até cheira bem.

Take-away, massa à bolonhesa. Era o prato do dia mais barato por isso, é bom que te contentes com isto porque não há mais nada. – Dizia, colocando água em dois copos. – Fui à lavandaria e aviso já que é a primeira e última vez que levo a tua roupa. Isto foi uma exceção. – Entregou o copo de água e a pequena caixa de alumínio onde se encontrava a refeição com os talheres.

O moreno considerava que ainda não estava a 100%, caso contrário teria feito um comentário acerca da improbabilidade de ir até uma lavandaria pública. Só que a fraqueza e fome uniram-se para que terminasse a comer sozinho na sala, enquanto Levi almoçava no quarto com a porta fechada e na companhia de Kuro. Eren ouviu também o som de vozes a sair do computador que indicava que Levi estaria a ver alguma coisa.

Não consigo perceber uma palavra. Deve ser um programa estranho”, suspirou.

Mais tarde, Levi saiu para limpar a cozinha e deixou a janela um pouco aberta para deixar Kuro sair e também para recolher a roupa estendida. Ainda enrolado no sofá, Eren viu ou escutava os movimentos de Levi que num claro sinal de que não tinha intenções de conversar, usava os fones ao passo que realizava diferentes tarefas domésticas.

Curiosamente, Eren não se sentia muito afetado por alguém a ignorá-lo. Todos aqueles movimentos à sua volta recordavam-no como eram as coisas em casa. Os espaços eram tão extensos e vazios que mesmo com empregadas em casa, era difícil estar acompanhado numa divisão. Ali era como se de facto, não estivesse sozinho.

Além disso, não compreendia como o outro jovem conseguia dedicar-se tanto a atividades tão monótonas e que o moreno nunca parava sequer para ver quando estava em casa.

Seria este tipo de coisa que a minha mãe queria que visse? Para quê? De que adianta ser assim, se está condenado a estar sempre abaixo de alguém? O que pensa a minha mãe que preciso de aprender com uma pessoa que mesmo não ouvindo qualquer agradecimento da minha parte, continuou a cuidar de mim? Vai toda a vida ser pisado. Faria melhor se cuidasse dele primeiro e não dos outros”, concluiu ao sentir as pálpebras pesadas após seguir os movimentos de Levi que regressou ao quarto e fechou a porta como era o habitual.

 

Flashback

– Obrigado por tudo.

O som ensurdecedor do corredor repleto de estudantes que escapavam das salas de aula para o exterior, escondeu um pouco do tom de voz utilizado. Porém, não escondeu a proximidade entre os dois. Prendendo o caderno contra o peito, um deles recusava-se a encarar o outro e acontecia o contrário com o rapaz um pouco mais alto. Este último sorriu ao ver o rubor na pele branca e a vergonha evidente que impedia o outro de erguer o rosto.

Querendo demonstrar como aquelas palavras eram mais do que um desabafo, os lábios do moreno encostaram na testa do outro que corou ainda mais.

– Ere…Eren?

Fim do Flashback

 

– Hei. – Ouviu uma voz chamá-lo e ao acordar, encontrou o rosto de Levi. – Caíste no chão enquanto dormias. Não vais ficar melhor se continuares a dormir no chão frio.

– Se não morrer de dor nas costas primeiro. – Reclamou o moreno ao levantar-se e viu pela pequena janela da sala que já tinha anoitecido. – Dormi assim tanto? – Afastou os cobertores, incomodado pelo calor.

– Estás doente. É normal. – Comentou Levi, voltando para a banca da cozinha onde preparava uma refeição.

Saindo do sofá e incomodado com o suor e o facto de não ver o chuveiro há horas, Eren decidiu escolher algumas roupas e pegar na toalha. Em seguida, entrou na casa de banho e ouviu Levi bufar antes de ligar o esquentador para evitar que o moreno tomasse banho com água gelada.

Quanto a Eren apostou que o companheiro de apartamento iria ligar o esquentador por ele. Não quis pedir, pois sabia que o outro iria querer ensiná-lo e ele não tinha paciência para aprender isso. Tal como suspeitava, Levi agiu como esperava e por isso, tomou um banho agradável de água quente e assim que saiu, encontrou o jantar preparado.

Levi estava mais uma vez a encher um copo de água e ao lado da sopa e do prato de comida, encontrava-se também a taça com fruta cortada.

Será que se apercebe que está a fazer tudo isto por alguém que não lhe disse um ‘obrigado’ desde que chegou? Será mesmo que não tem qualquer interesse e faz estas coisas inconscientemente? Pessoas assim não existem, mesmo que eu tenha aquelas lembranças estranhas… por que razão iria agradecer o que quer que fosse a uma pessoa assim?”, pensava à medida que se aproximava de Levi que distraidamente continuava a ajeitar as coisas, “Isto é tudo fingimento, não é? Assim como naquela altura deve ter sido. Nós os dois jogámos o mesmo jogo de fingimento que tantos outros jogam todos os dias. Não há uma só verdade naquele passado”, concluiu com um sabor amargo na boca.

Eren viu quando Levi colocou o comprimido ao lado do copo de água e arqueou a sobrancelha ao ver que o moreno estava quase ao lado dele. Ponderou que Eren viesse buscar a comida devido à fome que o impedia de ser paciente, mas estranhou que os olhos verdes se fixassem nele.

A mentira parece ser diferente nos olhos dele. E se eu forçar a verdade? Todos querem alguma coisa e mentem, fazem o que for preciso para ter o que querem”, concluiu e procurando que Levi não tivesse tempo de pensar em como reagir, avançou e colou os lábios aos dele.

Os arrepios nos dois causaram o primeiro choque.

Com os olhos abertos e em choque, Levi tentou falar, mas proporcionou algo que conscientemente não pretendia. A língua de Eren invadiu a boca dele e ambos gemeram com as mãos do moreno a descer até à cintura do outro, puxando-o mais contra ele.

Com os pensamentos completamente enevoados, coração a mil e invadido por sensações de prazer, Levi tinha fechado os olhos. Começava a saborear também a boca do moreno, atraído também pelo aroma que emanava do corpo dele, proveniente sobretudo de um banho tomado recentemente.

Eren esperou várias coisas, mas não que Levi o empurrasse contra o frigorífico, assumindo cada vez mais o domínio do beijo longo, molhado que chegava inclusive a deixar que saliva escapasse da boca dos dois.

Era intenso, desnorteante e quente.

Nem mesmo as respirações erráticas separavam os dois e Eren tentava colocar uma das mãos por baixo da camisa de Levi, sentindo um corpo bem mais definido do que imaginava. Gemeu com outro movimento da língua dos dois e sentia as calças bem mais desconfortáveis, imaginando como seria estar à mercê daquela intensidade. O calor que sentiu por dentro foi subitamente interrompido quando Levi se afastou bruscamente.

Mesmo um pouco desorientado e sob o efeito daquele momento quente, Eren quis tomar a palavra com alguma ironia.

– Este era suposto ser… – Parou ao ver as lágrimas nos olhos cinza. Mais do que tristeza, enxergou outro tipo de sentimentos que atuavam como uma tempestade naqueles olhos hipnotizantes.

– Não vais brincar de novo comigo, Jaeger! Não tens esse direito, não tens esse direito…

– Ouve, também não é preciso exager…

– Não prestas! – Quase cuspiu as palavras. – Preciso sair daqui… – Murmurou nervosamente e com um olhar perdido e depois de pegar nas chaves de casa, deixou o apartamento quase tropeçando nos próprios pés na forma desesperada como saiu.


Notas Finais


Até ao próximo capítulo!


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