História Memories - Capítulo 1

Taehyung

A notícia é a pior parte da morte de alguém querido. Não apenas seu queixo cai, mas sim toda a sua disposição e humor. Por um primeiro momento sua mente se recusa em acreditar que aquela pessoa tão normal não está mais viva, e dói saber que a morte era seu destino desde que nascera. Então, em um dia a sua ficha realmente cai, e aquele fato soa estranho, mas o que podemos fazer sobre isso? Sim, nada. A estranheza permanece ali, junto com os pensamentos sobre aquela morte por um bom tempo... E nunca digerimos a partida, nem nos acostumamos, só somos convencidos a esquecer, e essa parece ser a única coisa que uma mente consegue fazer para se livrar da tristeza e estranheza do fato.
A luz já está apagada há várias horas, e a minha vontade de vê-la novamente é mínima. E mesmo que eu quisesse, não teria disposição para ir até o interruptor.
Nunca fiquei tanto tempo junto a minha cama antes, e ela parece ser o lugar mais acolhedor desse mundo nos últimos dias…
Jin sempre foi alguém deprimido, mas eu nunca achei que isso era tão sério ao ponto dele ter feito o que fez. Me sinto um tanto culpado por isso… Ele costumava dizer que eu o melhor amigo que ele já teve, e eu dizia o mesmo. Já vi-o preocupado, vi-o chorar, sorrir, desistir, motivar-se, e creio que ele viu ainda mais de mim. E, mesmo assim, eu não percebi o quão mal ele estava…
Não consigo parar de pensar sobre o último momento em que estive com ele. Jin parecia tão… Bem. Contava alegre sobre a melodia que escrevia e do quanto estava se esforçando com ela. “ Tae, quero tocar isso em algum lugar, mostrá-la para várias pessoas quando eu terminar “, ele me disse… E eu realmente fiquei feliz com sua alegria. Mal sabia eu que no dia seguinte ele simplesmente se afogaria no mar…

Hoseok

Tirei minhas mãos molhadas de meu rosto, vendo meus olhos e nariz avermelhados no espelho. Encarei-me por alguns segundos, sem pensar em algo realmente. Desviei o olhar para a pia após a vinda de mais um soluço. Estava me sentindo horrível, como nunca me senti antes. Apenas conseguia pensar em Jin e chorar. Pensar que nunca mais o verei novamente é quase inacreditável…
Eu me lembro de atender ao telefone e ouvir Taehyung do outro lado da linha chorando como nunca havia ouvido-o chorar em toda a minha vida. Suas lágrimas carregavam toda a melancolia de uma perda, e a notícia que ele deveria me dar deixava tudo pior. Ele mal conseguia falar do que se tratava, e quando finalmente conseguiu eu simplesmente não sabia como reagir, meu corpo entrou em choque. Meus pelos se arrepiaram, meu estômago revirou-se, minhas pernas amoleceram e meus olhos marejaram… Sentia como se meu coração tivesse parado.
Levantei a cabeça novamente e olhei-me mais uma vez no espelho. Respirei fundo entre alguns soluços. Tentava me acalmar pelo menos um pouco, falhando miseravelmente.
Abri uma gaveta da pia e peguei, com as mãos trêmulas, um saquinho de comprimidos, calmantes. Minha mãe havia pegado alguns comprimidos do hospital onde trabalha caso eu precisasse, e ela sabia que eu precisava. Sempre preciso.
Abri o saquinho e encarei o conteúdo do mesmo por alguns segundos antes de despejar duas ou três pírulas em minhas mãos e, sem medo colocá-las na boca. Deixei rapidamente o saquinho de comprimidos em um canto na pia e enchi uma de minhas mãos de água, colocando-a na boca logo em seguida. Engoli tudo em minha boca com a ajuda da água.
Abaixei minha cabeça e fechei meus olhos.

Jungkook

Olhei para meu relógio e logo em seguida, para o céu. Estava quase escurecendo, e mesmo que eu soubesse que o melhor seria voltar para casa, apenas abaixei minha cabeça e segui a caminhada. Precisava relaxar, tirar um pouco todo o ocorrido de minha cabeça.
Minha casa fica longe da praia… Ou como todos dizem, fica no centro da cidade. Não fazia muito tempo que havia saído de casa para andar, então permanecia naquela área central. As lojas já estavam fechadas e alguns vagabundos já começavam a chegar no local, provavelmente procurando alguma prostituta, algum vendedor de seu vício ou indo até um bar. Uso um capuz preto na tentativa de passar despercebido e, até agora, estava dando tudo certo.

Yoongi

Abri meus olhos e encarei o teto por alguns segundos, pensando em coisas banais. Havia pensado muito sobre Jin, e acho que pensei tudo o que poderia pensar sobre ele e assim já tirei todas as conclusões que poderia tirar. Eu não sei o que achar sobre o que aconteceu, e nem sei se quero achar. O sentimento em meu peito era complexo demais para ser transformado em alguma opinião.
Ele foi alguém importante pra minha… Evolução. Antes eu era um completo delinquente. Suas palavras talvez foram as coisas que mais fizeram com que eu melhorasse, e hoje eu o agradeço imensamente por tudo o que já me fez.
Olhei para o lado, relaxando ainda mais minha cabeça no travesseiro. Estiquei minha mão e peguei meu celular. Olhei o horário, vendo quanto tempo já estava deitado pensando sobre a vida. Fico surpreso por não ter derrubado nenhuma lágrima.
Não havia nenhuma notificação, apenas o horário e a lockscreen de sempre. Suspirei e larguei o celular na cama, sentando-me na mesma rapidamente. Espreguicei-me e fiquei parado ali por alguns segundos, mais uma vez olhando para algum ponto aleatório e pensando em vários tipos de nada.

Após um minuto ou mais levantei-me para comer alguma coisa.

Jimin

As lágrimas simplesmente não paravam de cair, era totalmente incontrolável. Coloquei as mãos trêmulas sobre meu rosto de forma um pouco desengonçada. Aquela banheira costumava ser meu refúgio, mas agora nem ela consegue fazer com que eu me sinta confortável com tudo. Me estressa não conseguir entender a vida. Não consigo ver razões para ela ser assim tão injusta com praticamente todos, principalmente com Jin. Ajudava-nos tanto, fazíamos todos nós nos sentirmos tão bem, e ele ficou tão doente ao ponto de se suicidar.
Ontem eu chorei até dormir por conta da notícia, e hoje eu acordei tão mal quanto estava ontem. Sinto-me tão estranho, é como se algo estivesse errado, esquisito… Além disso tem a tristeza que me pegou de surpresa e não me deixou até agora.
Eu só espero que ele esteja bem agora, em algum lugar bom, onde ele sempre gostaria de estar.
Esses pensamentos apenas fizeram com que eu piorasse. Grunhi e fechei meus olhos, apenas continuando a chorar, sem a opção de parar.

Jungkook

Já haviam se passado mais ou menos uma hora desde que comecei a andar pelo centro. Não, eu não consegui esfriar a cabeça. Continuo pensando sobre Jin e tudo o que aconteceu. É quase impossível não pensar nisso tudo, são coisas muito recentes em minha mente, além de serem marcantes...
Pensei muito sobre o dia em que todos nós nos conhecemos. Foi realmente bom. Nunca havia me sentido tão tranquilo e feliz em toda a minha vida… Ele tocando piano, outros fazendo algumas pinturas ou desenhando, como era meu caso, e outros apenas conversavam um pouco.
Algumas lágrimas escorreram pelo meu rosto. Abaixei minha cabeça rapidamente e enxuguei-as. Talvez se aqueles sujeitos vissem que estava chorando viessem me encher o saco. Permaneci andando de cabeça baixa.
Desde que eu cheguei apenas chegam mais pessoas, e além disso já estava ficando tarde. Ir embora é a melhor opção no momento…
Comecei a caminhar em direção a minha casa, ainda com a cabeça abaixada, pensando sobre o que eu faria nos próximos dias, mesmo que eu soubesse que provavelmente não faria nada.
Passaram-se alguns minutos de caminhada, estava um pouco desatento, com o olhar baixo, pensando sobre algumas coisas. Sinto meus ombros trombarem com algo e levanto imediatamente meu olhar, um pouco assustado. Vejo um cara qualquer, apenas mais um vagabundo da madrugada. Volto a olhar para baixo, resolvendo ignorar a situação.
- Não olha pra onde anda, moleque? - ouvi o homem, aparentemente, perguntar em tom de deboche. Franzi o cenho, irritando-me um pouco com aquilo, mas apenas ignorei novamente e segui andando. E foram alguns passos depois que senti um puxão forte em meu capuz. Este fez-me cambalear para trás e, com alguns empurrões do homem, fosse praticamente atirado em uma parede. Olhei irritado, mesmo que assustado, para o rosto do sujeito. Seus olhos estavam vermelhos e seu rosto corado. Estava claramente bêbado. Olhei para seu lado ao perceber uma movimentação, só aí percebendo que este não estava sozinho. - Não finja que não ouviu, infeliz. - ele disse, parecendo irritado. A raiva passava e dava espaço ao medo. Estranhamente não conseguia fazer nenhum movimento, apenas encarava o homem, sem mais nenhuma esperança de que chegaria em casa vivo.
Ele tentou levar sua mão até meu pescoço e, em um movimento defensivo, empurrei-a, impedindo-o. Talvez essa tenha sido a gota d’água para ele, porque após isso… Só consegui sentir socos, empurrões, meu corpo sendo levado de um lado para o outro, chutes… E principalmente, dor. Não conseguia pensar em mais nada, apenas apanhava em um quase silêncio, apenas grunhindo de dor em alguns momentos.

Yoongi

Comia os poucos restos que haviam sobrado em meu prato. Estava faminto antes. Enquanto mastigava peguei meu celular e chequei as notificações. Para variar, não havia nada. Passei a língua por meus dentes, tirando alguns pedaços da comida dos mesmos.
Estava preocupado com Jungkook. Ele sempre me chama a esse horário… É como um ritual nosso. Desbloqueei o celular e abri o Kakao, logo clicando minha conversa com ele.

[ Yoongi: Onde tu tá? ]

Enviei, preocupado. Encarei o celular por alguns segundos, esperando por algo que eu sabia que não iria acontecer assim tão rápido.
Levei meu prato até a pia após deixar o celular na mesa. Enchi-o de água, já que era um prato fundo. Respirei fundo. E agora eu só conseguia pensar em meu pequeno e o que estava acontecendo.
Fui até o celular e coloquei a senha rapidamente. Ligaria para ele. Ele provavelmente vai estar dormindo pelo dia cansativo que teve e vai estar tudo bem… Tem que estar tudo bem.

Liguei. Eu sentia algo em meu peito, um sentimento estranho. Aquilo só me deixava mais inquieto.
Chamou uma vez, duas vezes, três, quatro… Sete, e nada. Comecei a ficar semi-desesperado. Liguei mais três vezes e nenhuma resposta. E depois de todas as ligações não atendidas eu estava, simplesmente, surtando. Se eu ao menos soubesse onde ele está agora…
Comecei a fuçar em todas as redes sociais que ele possuía em busca de algo.

Namjoon

As ondas do mar me acalmavam, mesmo que me lembrassem do que havia ido com aquelas mesmas águas no dia anterior.
Fechei meus olhos e abaixei minha cabeça, deixando novas lágrimas escorrerem em silêncio. Apertei meus lábios um contra o outro, soltando um suspiro depois de alguns segundos. Coloquei as mãos no rosto.
Eu já sinto tanta falta dele… Apenas gostaria de tê-lo em meus braços nesse momento para dizer palavras que pudessem ajudá-lo pelo menos um pouco. Sinto que parte desse suicídio foi minha culpa. Eu deveria ter sido alguém melhor… Eu deveria ter… Não, que merda! Ficar pensando nisso só piora tudo, Namjoon, só pensa em outra coisa. Qualquer uma…
Dei um soco na areia com raiva. É incrível como não consigo tirá-lo da cabeça. É isso que eles chamam de amor, afinal?
Enfiei minha mão no bolso em um movimento rápido, tirando de lá uma caixa simpática de cigarros. Assim que pensei em pegar um maço lembrei-me de que ele não gostava que fumasse perto dele…
Olhei, então, para o mar. Os sons das ondas penetravam em minha mente, como a voz dele costumava fazer. Eu apenas guardei a caixa em meu bolso.

- Perdoe-me… - disse ao além, ou talvez para o mar… Talvez até mesmo para Jin, seja lá onde ele esteja.