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História Memories And Letters - Aesthete


Escrita por: feeljhn

Notas do Autor


Aesthete (nome do capítulo) é aquela pessoa que tem sensibilidade refinada para as belezas da arte ou da natureza.

Capítulo 3 - Aesthete


Eis que, depois das apresentações formais, fomos para uma sorveteria ali próxima, que, inclusive, estava bastante lotada, como sempre fica nos dias de primavera ou verão. Porém, aconteceu algo que, na verdade, não era de se esperar.

- Você fica aqui sentado e eu vou comprar para nós dois – você me disse, enquanto me guiava para uma das mesas que havia vagado naquele mesmo momento, a qual ficava embaixo de uma cerejeira carregada de flores rosas.

- Ué, não deveria ser o contrário? Quem deveria pagar era eu – disse rindo, sem entender bem o motivo de sua ação.

- Ah, aquilo foi só uma desculpa para te conhecer melhor. Eu te explico melhor daqui a pouco, fica ai. – disseste, afastando-se enquanto arrumava seu chapéu, a fim de organizar melhor seu cabelo.

Apesar da demora em ter que pedir os sorvetes, gostei em ter que observá-lo por alguns instantes, verificando detalhe por detalhe, me perguntando se haveria alguém mais simétrico quanto você. Como um amante da arte, eu não posso deixar de admirar a simetria e perfeições do corpo das pessoas, e você era tão simétrico e primoroso quanto a escultura do faraó Ramsés II.
 
          - Ah, que fila, hein? Mas finalmente saiu. Escolhi o chocolate pra você, tudo bem? – você perguntou sorrindo logo depois de umedecer seus lábios com sua língua, algo que havia feito eu sentir um leve calafrio por ter sido algo deveras sedutor para alguém como esse garoto amável de cabelos claros.
          - Claro, quem não gosta de chocolate, né? – disse rindo de lado, mentindo em minhas palavras, porque, como bem sabes, eu sempre odiei chocolate. Contudo, abri uma certa exceção naquele momento porque você não sabia.
 
         Sob a sombra daquela cerejeira, ficamos conversando sobre coisas tão aleatórias que eu realmente não entendia como começávamos a falar sobre Harry Potter e terminávamos falando sobre coelhos na lua. Era curiosamente divertido pois eu nunca havia conhecido alguém que pudesse liberar esse meu lado cômico de mim. Comicidades a parte, também falei muito sobre mim e pude sentir que, mesmo sendo alguém que eu acabei de conhecer, eu poderia confiar as minhas histórias ligeiramente tristes à você. Eu me senti tão leve em desabafar tudo para alguém que não se incomodava nem um pouco em ter que escutar minhas experiências tediosas vividas no Brasil. Era notável que você ouvia tudo atentamente, se mostrando interessado em desenvolver uma conversa interessante encima dos meus relatos, não deixando que a nossa conversa se tornasse deveras melancólica. Naquele momento, percebi que já era tarde demais: você já havia me cativado e eu já estava ciente de que estava entrando em um beco sem saída. Porém, nem tudo que é doce, dura. Enquanto estávamos tomando o nosso terceiro sorvete, meu celular vibra: era Jimin. Eu havia esquecido de acordá-lo para o almoço.

[celular atendido]
              - Ô Jungkook, se eu fosse depender de você pra um caso de vida ou morte, já tava morto, hein? – disse Jimin, rindo no outro lado do telefone.

- Você se acordou a tempo, então? – soltei um suspiro aliviado, pois não queria passar uma imagem negativa para o Jimin.

- Claro, não consegui pregar os olhos um minuto sequer, planejando o que podemos fazer hoje à noite aqui em Incheon.

Quando olhei para frente, me deparei com você fazendo umas mímicas, querendo se comunicar de um jeito indecifrável.

- Espera ai, Jimin – disse, afastando o celular da minha boca – O que foi, Taehyung?

- Desculpa mas não pude deixar de ouvir, porque o áudio da chamada está muito alto... Mas, se querem um programa noturno aqui, vocês podem visitar o templo Jeondeungsa. Lá tem um pedacinho da história coreana e, já que você não é um coreano nato, poderia conhecer um pouco da história coreana lá.

- Hm... Você ouviu, Jimin?

- Ouvi, talvez seja uma boa ideia. Topa?

- Claro, te encontro daqui a pouco para organizar melhor isso tudo.

[celular desligado]

- É, então.. Eu preciso ir agora, mas obrigado mesmo por ter me ouvido por tanto tempo sem reclamar – eu disse rindo, enquanto me levantava da mesa, guardando minha câmera no pescoço.

- Ah, não precisa agradecer. Você se incomoda se eu te acompanhar um pouco?

- Não, nem um pouco.

Enquanto caminhávamos lentamente até o outro lado do parque, você parou de andar e, quando me dei conta disso, olhei para trás me perguntando o motivo de você ter parado do nada.

- Ué, aconteceu alguma coisa? – eu disse, olhando em volta, procurando alguma coisa diferente ao nosso redor, sem ver nada de estranho.

- Eu queria deixar claro uma coisa que eu deveria ter dito algum tempo atrás mas não sabia como.. – você disse meio acanhado, olhando para o chão enquanto brincava com uma pedra com um de seus pés. Eu nada falei, fiquei apenas esperando essa tal coisa que você queria me dizer. – Eu não falei muita coisa de mim porque a verdade sobre mim é muito feia para alguém como você ter que ouvir – continuaste, ainda cabisbaixo.

- Não precisa ter vergonha da sua história. Eu contei a minha, certo? Como confiei em você, você também pode confiar em mim, apesar de nos conhecermos a.. – momentaneamente parei minha fala olhando para o relógio – duas horas, 43 minutos e 20 segundos – conclui rindo fraco, colocando meu braço em seu ombro, tentando animá-lo.

- É mas.. Lembra que eu disse que eu ter achado sua carteira foi uma desculpa pra falar com você? É, então, na verdade, eu não achei sua carteira.. – eu olhei estranho para você, pronto para interrompê-lo, mas sem sucesso – Calma, eu sei que pode parecer bem estranho mas eu passei um certo tempo observando você aqui na praça e eu não sabia outro jeito de puxar assunto com você, então eu furtei sua carteira na mesma hora que fui falar com você.. Então, tecnicamente, não foi um roubo, certo? – você disse, levando as mãos à nuca, tentando não parecer tão errado quanto, de fato, estava.

Eu não sabia ao certo o que fazer. Xingá-lo por ter pego minha carteira? Ou me sentir lisonjeado por alguém ter, esquisitamente, arranjado um jeito complicado pra puxar assunto comigo? Por um estranho impulso momentâneo, me aproximei e pronunciei.

 - Então, você só queria falar comigo, né? Mesmo assim, merece ser punido – logo em seguida, me aproximei e o ataquei com meus famosos dedos de cócegas.

Não tinha como você se defender daquele ataque repentino e, como já era o esperado, acabei derrubando-o no chão de tantas cócegas que fiz. Depois de perceber que haviam pessoas ao nosso redor, meu lado tímido despertou e eu parei, envergonhando-me e pedindo desculpas por ter agido daquele jeito.

- Deixa disso – disseste, ainda rindo, enquanto se levantava, arrumando sua roupa – Nós estamos nos divertindo, não tem por quê pedir desculpas.

- É, eu sei, mas eu nunca havia agido assim com ninguém, ainda mais com alguém que conheci a pouco tempo – ri, tentando não transparecer minha timidez estrondosa.

- Que nada, eu até acho que mereci mesmo tudo isso – falaste enquanto soltava seu amável sorriso quadrado, o qual me derreto até os dias atuais.

Retomamos nossa caminhada, ainda rindo sobre o que acabara de acontecer. Quando chegamos próximo ao albergue em que eu estava hospedado, não sabia, de fato, como me despedir, já que, na Coreia do Sul, abraçar alguém que você acabou de conhecer não é visto com bons olhos.

- Então.. é aqui que eu fico – disse, apontando para o albergue.

- Certo... Me diverti muito hoje. Obrigado, Jeon Jungkook – você despedia-se enquanto lançava um sorriso meigo que geravam duas lindas covinhas, se virando, logo em seguida, pronto para ir embora. Naquele momento, eu pensei: “Devo ir atrás dele? Pedir o número de contato? Chamar ele pra sair? Aish!”

Enquanto eu ficava paralisado, pensando no que dizer, você virou a esquina e eu nada fiz. Por que? Não sei ao certo. “Pensando bem, se Kim Taehyung realmente tiver gostado da minha companhia, certamente ele  vai me encontrar no templo Jeondeungsa hoje à noite”, pensei. O que eu poderia fazer era apenas aguardar a noite chegar, torcendo para que eu não tenha sido tão entediante quanto o de costume, fazendo com que, consequentemente, você não se interessasse em mim.


Notas Finais


1- A escultura do faraó Ramsés ll é a escultura mais simétrica do mundo.
2- "Aish" é uma expressão coreana de descontentamento que pode ser traduzida como "Que droga".

Obs: Como essa carta é para Taehyung, o leitor deve se colocar no lugar de Taehyung. Ou seja, quando digo "você", me refiro a Taehyung, o qual é o destinatário principal.


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