História Memories And Letters - Verklempt

Após me encontrar com Jimin e ter deixado todos os detalhes prontos, me arrumei e, enquanto eu esperava Jimin terminar de se arrumar, sentei-me na poltrona do nosso quarto e parei para pensar melhor sobre esse misterioso garoto que apareceu para mim naquele dia. Era confuso. Eu não sabia ao certo como me sentir porque eu sentia por você algo semelhante ao que eu sentia pela Clarinha. Seria isso possível? Eu, Jeon Jungkook, sentir algo assim por um.. menino? Eu não sabia ao certo como pensar sobre isso, já que eu nunca havia beijado alguém em toda a minha vida, então aquilo tudo era um sentimento novo, assim como era quando eu gostava da Clarinha. Diferentemente do Jimin, o qual me deixava muito confortável para conversar, aquele Taehyung havia algo que prendera minha atenção, eu só não sabia o que era.

Depois de Jimin já ter acabado de se arrumar, pegamos nossas mochilas e tomamos um táxi à caminho do templo Jeondeungsa. Enquanto estávamos no carro, Jimin, meio inquieto desde que voltei para o albergue, se pronunciou:

- Com quem você estava no parque? Algum conhecido? – perguntou enquanto mexia no celular, tentando demonstrar não se importar.

- É apenas um garoto que conheci hoje – disse, evitando transparecer algo especial nesse garoto.

- Ah.. Ele vai nos encontrar no templo?

- Não sei, espero que sim – disse sem pensar direito, fazendo aquilo soar meio esquisito. “Por que ele iria ficar ansioso para rever esse garoto?”, aposto que foi isso que Jimin pensou naquela hora.

Ao chegarmos ainda pela tarde, fomos seguindo umas placas informativas, em que Jimin traduzia algumas palavras coreanas formais que não eram muito comuns no meu vocabulário. Eu me sentia, de fato, bastante interessado pelo local pois, além de ser um templo que retratava parte da história coreana, também era um templo budista e eu, naquela época, estava bastante voltado às ideologias budistas. Houve um momento em que experimentamos 30 minutos de meditação. Contudo, por mais que uma parte de mim quisesse meditar, outra parte estava, desde o início, aflita em busca do misterioso Taehyung, e aquilo era bastante perturbador para mim, que já praticava meditação há algum tempo e conseguia me concentrar facilmente.

Ao término do nosso passeio, Jimin notava que eu estava meio abalado, apesar de eu ainda continuar, minimamente esperançoso, procurando por aquele cabelo castanho claro por todos os lugares.

- Ele não veio, né? – disse Jimin, com uma voz reconfortante, sabendo que eu estava meio decepcionado.

- Não, mas sabe.. – continuei, olhando-o como quem quer dar uma desculpa convincente – Que tipo de pessoa iria atrás de alguém que conheceu no mesmo dia? Não sei por que pensei que isso aconteceria – disse rindo um pouco nervoso, tentando me conformar com a ideia.

- É, mas não fica assim, afinal, você ainda tem o seu Jimin aqui, né? – disse Jimin, colocando sua mão no meu ombro e sorriu cerrando os olhos, gerando um eye smile deveras meigo.

E o que eu mais temia aconteceu: Kim Taehyung, o tal garoto misterioso, não apareceu. Eu sei que já aconteceu há muito tempo, mas, olha, Tae, eu fiquei muito puto com você. Enfim, retomando a carta. Logo depois, fomos para o albergue e jantamos cedo, pois tínhamos que acordar 5h do próximo dia para continuar nossa jornada pelo interior da Coreia do Sul.

Como eu estava bastante chateado e sonolento, caí em um sono quase que profundo, enquanto Jimin, meio barulhento, acordava uma ou duas vezes durante a noite, mas aquilo não me incomodava muito. Eu estava com o pensamento fixo no que aconteceu durante todo aquele dia e desliguei-me do mundo externo.

No dia seguinte, arrumamos nossas malas e descemos para tomar o café da manhã. Em boa parte dos casos, quando uma pessoa fica mal, ela tende a deixar de comer por estar chateada. Pois bem, eu sou totalmente o contrário desses casos: naquele dia, comi feito um animal. Talvez eu fosse mesmo um coreano nato, já que o dilema mais conhecido na Coréia do Sul é que a comida é o melhor remédio. Depois de tomarmos o café da manhã, fomos devolver nossa chave, mas Jimin havia esquecido algo no quarto e correu para buscar. Enquanto ele voltava ao quarto, eu o esperei próximo ao balcão da recepção.

- Vocês estão no quarto 206? – perguntou-me o recepcionista.

- Sim, estamos – disse, sem dar muita atenção.

- O tal garoto loiro conseguiu falar com vocês? - o recepcionista retomou com tal pergunta.

“Garoto loiro?” pensei, já imaginando que poderia ser Taehyung. Quando estava pronto para questioná-lo, Jimin chegou barulhento por trás.

- Desculpa a demora – Jimin disse para mim, meio ofegante, e continuou a falar direcionando-se para o recepcionista – Aqui está a chave, obrigado.

- Não há de quê. Gostaram da estadia? – perguntou o recepcionista para nós dois. Naquele momento, eu havia paralisado, estava ainda tentando entender tudo aquilo. Taehyung havia mesmo voltado para falar comigo?

- Sim, nós gost.. – dizia Jimin, até que eu o interrompi bruscamente.

- Espera ai, ontem um garoto loiro foi no nosso quarto? – perguntei dirigindo-me ao recepcionista.

- Sim senhor, chegou aqui quase meia noite perguntando por algum Jeon, e havia um único Jeon hospedado aqui no albergue, que era no quarto de vocês. Virei-me, então, para o Jimin e perguntei.

- Você falou com ele?

Jimin respondeu que não, como quem não sabia do que eu estava falando. Naquele momento, fiquei furioso comigo mesmo. “Como pude não ouvir? Minha cama é a mais próxima da porta! Aish!” gritei comigo mesmo em pensamento. Ambos estavam me olhando sem entender o motivo das minhas caretas, então me normalizei, agradeci ao recepcionista e saímos do albergue.

Quando avistei a praça que ficava no outro lado da rua, pareceu que eu estava em uma cena de drama coreano. Tudo acontecia mais devagar. O vento varrendo a rua enquanto levava algumas folhas. Um grupo de crianças correndo com uma bola em direção ao parque. Parecia que o meu mundo ia explodir. Mas calma, tudo aquilo por causa de um garoto? Minha cabeça estava confusa ao extremo. “Onde será que Taehyung está? Será que o encontrarei mais uma vez em minha vida?” Infelizmente, eram perguntas torturantes que eu fazia a mim mesmo sem ter a mínima ideia de uma resposta.

- Taehyung, meu ex-futuro amigo, onde quer que você esteja, que nos encontremos novamente – fiz aquele pedido sussurrando, enquanto caminhava olhando para as nuvens daquele dia de primavera que amanhecera tão nublado quanto o meu coração.