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História Memories of a butterfly - Don't forget me...


Escrita por: Docemel

Notas do Autor


Olar! Olha eu aqui de novoooo
Dessa vez, vim com algo mais sad, porque se eu tô na bad, vocês ficam também -q brincadeira <3
O capítulo ficou realmente muito grande -dois dias inteiros preparando essa joça também, espero que tenha ficado bom, pelo menos- mas quem não gosta de algo grande, né nom? (sem malícias :v )
Essa é a primeira one-shot que eu faço na vida, e espero que tenha ficado boa, porque eu trabalhei muito nela T-T
Alguns avisos:
Aqui, obviamente,contarei toda uma história. São as lembranças da personagem.
Os trechos entre " " são os flshbacks dela, o.k?
Eu apelidei a menina de "Mo" porque não sou dessas de ficar botando um (s/n) ou (__) para imagines. Então por quê não "Mo"? É parecido com "amor" -q
Enfim, acho que é só isso mesmo.
Espero realmente que vocês gostem. Boa leitura <3

Capítulo 1 - Don't forget me...


Fanfic / Fanfiction Memories of a butterfly - Don't forget me...

 O sol já brilhava lá fora, os pássaros matutinos cantavam harmoniosamente e a brisa fresca entrava pelo quarto. Definitivamente, uma manhã agradável de quarta-feira. Mas nem tanto assim, para a figura sentada na ponta da cama, olhando fixamente para a parede branca e perdida em seus próprios pensamentos. 

 Um suspiro baixo escapou dos lábios avermelhados, enquanto passava uma mão pelos fios castanhos. A perna direita estava inquieta e balançava sem parar, à medida que roía as unhas das mãos. Tudo isso era resultado da ansiedade evidente; não que isso importasse muito para alguém, sabia que não importava -não mais

 Olhou para trás, tendo a bela visão do garoto adormecido, parecendo tão tranquilo e em paz que a fez se esquecer que dia era aquele e só se focar naquela expressão serena. Ah, certamente o amava; amava o jeito que o cabelo ficava bagunçado quando dormia, como ele se abraçava ao travesseiro, a forma como os lábios formavam um leve biquinho e amava os pequenos murmúrios que soltava de vez em quando. Amava Jeon Jeongguk, e disso ninguém tinha dúvidas. 

 O movimento ao lado do rapaz fez a menina acordar e olhar na direção do mesmo. Os fios loiros e bagunçados se espalharam pela almofada fofa, o rosto ficou mais próximo do pescoço do Jeon e os gravetos que chamava de "braços" contornou a cintura de seu amado. Seu Jungkook. Um misto de ciúmes, raiva, tristeza e angústia transbordou em seu peito e teve que se retirar do quarto às pressas, antes que acabasse fazendo alguma coisa errada. 

 Quando chegou na sacada do apartamento de luxo, teve uma vista mais ampla do mundo e inspirou fundo o ar fresco, enquanto fechava os olhos. A vontade de chorar já era maior que tudo, mas não podia, não ali, não naquele momento. A fraqueza já era uma amiga de longa data, mas decidiu que teria uma folga só daquela vez. 

 Quis sentir o calor do sol, a brisa;  queria sentir a textura da madeira sob seus pés descalços, queria sentir frio, queria arder, queria qualquer coisa que a fizesse se sentir viva novamente. Mas o tempo passa e o que passou, não volta mais.

Ah, era tão solitário. 

 Sentia falta dos tempos antigos, onde eram oito meninos correndo pela escola e fazendo barulho, até algum inspetor os pegar no flagra e dar suspensão. Então entravam no carro de Jin e iam até a praia, onde passavam a tarde toda falando besteiras e comendo espetinhos. Sentia falta das festas, que sempre terminavam em todos eles bêbados e jogados no chão, rindo até do vento. Sentia falta das brigas, que sempre terminavam no famoso "montinho", onde se jogavam um em cima do outro. Sentia falta de fazer maratonas de filmes em sua casa, todos reunidos e felizes, comendo pipoca. Tempos que nunca mais voltariam. 

 Olhou para baixo, vendo o movimento naquela rua de Seul. Pessoas indo e vindo, distraídas em seus celulares, ou então perdidas em seus próprios pensamentos confusos; eles nem faziam ideia da sorte que tinham. Só por estarem onde estão, só por verem, só por serem notadas pelos demais. Esse privilégio lhe foi tirado há algum tempo. 

 Então, um grupo de jovens passou fazendo barulho, esbarrando em algumas pessoas, que reclamaram e continuaram seu percurso. Riu nasalado. 

 Lembrou-se de quando era ela naquela situação, com todos presentes. Era uma tarde de outono, e estavam todos na sala de detenção -o que não era nenhuma surpresa para ninguém. 

 " -Que saco! -Suga reclamou, se jogando na cadeira e atraindo os olhares dos outros sete. -Vamos sair, por favor. -quase implorou, mas não seria o Suga se o fizesse.

 -Não podemos, Suga. -a morena respondeu entediada, enquanto apoiava a cabeça em uma mão e olhava para o mais velho, que rolou os olhos e sorriu irônico. 

-E desde quando seguimos regras? -perguntou retoricamente, se levantando da carteira e jogando sua mochila nos ombros. Os demais se entreolharam, parecendo pensar nas palavras do pálido. 

-Já estamos fodidos demais, para tentarmos fazer qualquer outra merda. -retrucou a mais nova, mas a vontade de segui-lo era tentadora. O rosado bufou e andou até parar em frente à menina, que piscou os olhos se afastou da mesinha. 

-Não é você que sempre diz... como é mesmo? Ah, é : 'o que é uma piroca a mais, pra quem já tá todo fodido?'. -a frase fez a sala ecoar em risadinhas. 

-Ah, não sei... -franziu a sobrancelha, baixando o olhar. Tinha ganhado a terceira detenção naquela semana e sua mãe já lhe havia alertado que se continuasse nesse ritmo, seria obrigada a tirá-la da escola e mandá-la para o colégio interno. 

 Uma mão em seu ombro chamou sua atenção; olhou para trás e viu Hoseok com seu típico sorriso espontâneo. 

 -Vamos lá, Mo. Você é a rainha da maldade aqui, o cérebro do crime, o espírito maligno... -foi cortado por um pequeno tapa em sua cabeça. -Ai! 

-Concordo com o Suga, pra que ficarmos aqui, se já estamos ferrados mesmo? -Namjoon se pronunciou pela primeira vez e ela se surpreendeu. -Bem, Jin já está nos esperando lá fora. -disse, sem tirar os olhos da tela do celular. - Se você quiser vir... -se levantou com a mochila nos ombros, os outros meninos se levantando animados para sair. 

 -Ei, vocês... -já tinham saído. Bufou em descrença e batucou os dedos na mesa. Então pulou da cadeira, quando uma cabeça apareceu na porta. -Por Deus, Jungkook! Que susto. -colocou as mãos no peito. 

-Para de cu doce e vem logo, estamos te esperando. -disse simplesmente e desapareceu. Ficou parada por uns instantes, mas logo se deu por vencida e começou a correr pelos corredores, bem atrás do Jeon, que ria. 

 Adorava aquela sensação do vento batendo contra seu rosto, enquanto corria pelos corredores vazios do colégio; gostava de sentir o chão passando como uma esteira sob seus calcanhares. A adrenalina. 

-Mais rápido, lesma! -ouviu o grito de seu amigo e gargalhou, o alcançando. 

-Vamos ver quem é a lesma?! -dito isso, ultrapassou o menino, que protestou em alto e bom som, arrancando mais risadas. -Te vejo na próxima encarnação, lesma! -retrucou, saindo pelo portão principal e avistando o carro preto de Jin. Correu até o automóvel e tratou logo de adentrar. 

-Ué, mudou de ideia? -Taehyung provocou a menina, que lhe mostrou o dedo do meio e arrancou risadas dos mais velhos. Jungkook chegou em seguida, se jogando ao lado da menor. 

-Você me paga... -disse ofegante.

-Não aceita perder, é? -apertou a bochecha gelada dele, que fez uma careta e deu um peteleco na testa da menina. -Ai! -exclamou e revidou, com mais força. Ele a olhou indignado.

-Eu não acredito nisso... -disse perplexo. Ela sorriu irônica. 

-Quer que eu faça de novo, para acreditar? -o Jeon a olhou sem expressão e o silêncio se instalou no carro; até que ele deu mais um peteleco na testa dela. -Filho da puta.-  Então, iniciou-se uma guerra de petelecos.

-Crianças,  sem brigas. -Jin disse autoritário e os mais novos obedeceram quase que na mesma hora, ficando com posturas impecáveis no banco e olhando para o mais velho. -Acho bom. -então o carro começou a se movimentar." 

 Naquele dia, eles acamparam na praia. Podia ainda sentir o cheiro da maré e a brisa batendo em seu rosto, o calor da fogueira que fizeram, as canções que cantaram a noite toda, o gosto dos doces que compraram em uma loja de conveniências; lembrava das gaivotas voando ao horizonte. Podia ainda ver o sorriso de cada um daqueles meninos, podia ouvir o som de suas risadas, podia ainda ver o brilho nos olhares deles, podia sentir a vida neles.

 Eles eram, de fato, sua vida. A razão pela qual ainda continuava ali. 

 Se retirou da varanda e dirigiu-se até a sala, onde se jogou no sofá e encarou o teto. Mirou o lustre de cristal falso pendurado, a borda do iluminador estava quebrada. Um sorriso brotou em sua boca, quando outra lembrança atravessou sua mente. 

 " -Caralho, Namjoon! -Jimin gritou, já alterado por conta de alguns drinks a mais. -Você quebrou o treco! -permaneceu com uma expressão espantada, mas não resistiu por muito tempo e começou a rir descontroladamente. O mais velho o olhou confuso, ainda com o taco de beisebol em mãos; mas começou a rir junto. 

-Ah, diga-me uma novidade! -Suga cambaleou até chegar ao mais alto e se apoiou nos ombros do mesmo. -Esse aqui é o rei da destruição! Ele destrói tudo. -gargalhou, tomando mais um gole longo da bebida no copo vermelho.

-Culpem a Mo também! -protestou o de cabelos descoloridos, apontando para a menina estatelada no sofá, rindo de tudo e todos. 

-O quê?! -ela se levantou do sofá aos tropeços e colocou a mão na cintura, em uma pose exagerada de indignação. 

-Foi você quem deu a ideia de brincar de pinhata! -retrucou. 

-E eu lá ia saber que você quebraria o lustre do bonitinho ali?! -apontou para um Jungkook caído no chão, parecendo bêbado demais par quaisquer reações. 

-Deveria! Eu sou o rei da destruição, lembra?! -não conseguiram ficar sérios por muito tempo, gargalhando novamente." 

 Ah, aquela festa foi uma das melhores de sua vida e não conseguiria esquecê-la nem se quisesse. 

 O barulho da porta se abrindo a trouxe de volta à realidade e a menina olhou para a figura alta indo em direção à cozinha. O cabelo para o alto e os olhos menores que de costume, a pose preguiçosa e os constantes bocejos. Ah, sentia falta daquilo. Era quase que observar uma obra de arte, quando Jeon Jeongguk acordava depois que ela. 

 Se sentou em uma cadeira perto do balcão que dividia a cozinha da sala e pegou uma banana da fruteira, comendo preguiçosamente a fruta. Ele olhou para trás e mirou a foto da menina na estante, dando aquele sorriso maravilhoso de covinhas, os olhos grandes e brilhantes e o cabelo negro caindo como uma cascata sobre os ombros, sem contar aquela pele levemente bronzeada que reluzia no sol. A saudade lhe apertou o peito e virou o rosto, antes que a vontade de chorar o preenchesse. 

 Ah, como sentia falta daquele sorriso, do cheiro, dos toques... dos beijos. Queria sentir a textura daquela pele, dos cabelos. Queria sentir os lábios macios, a língua adentrando sua boca, o calor que subia por todo o corpo só de estar perto. Queria ela de volta. 

 Se aproximou do menino, vendo que o mesmo olhava perdido para um ponto na sala. Quando chegou perto o suficiente, estendeu a mão até tocar na bochecha levemente rosada de Jeon, que se arrepiou e deu uma leve tremida. Sabia que não podia, mas se não fizesse naquele momento, nunca mais poderia tocá-lo.

O mais alto fechou os olhos e entreabriu a boca vermelha e levemente rachada. Era como se estivesse recebendo tratamento de choque. Aquele arrepio... era o mesmo que ela lhe proporcionava. A realidade lhe deu um soco bem na boca do estômago e teve que se segurar para não cair de joelhos no chão e botar todo seu café da manhã para fora. Era idêntico.

 Igual até demais... 

 Já estava ficando louco e nem percebera. Balançou a cabeça e se retirou daquele lugar da casa, que lhe recordava tantas coisas. Não queria sofrer mais. Sabia que eram coisas de sua cabeça para poupar-lhe o sofrimento.

 Ficou parada no mesmo lugar, apenas o vendo partir mais uma vez. Uma lágrima solitária escorreu por sua bochecha e despencou do queixo. 

Dessa vez, as lembranças vieram descontroladamente e ela só se deixou levar, fechando os olhos. 

 Se lembrou de como eram amigos e de como se amavam e odiavam, ao mesmo tempo. 

 " -Jeon Jeongguk! -gritou correndo atrás do menino pelas ruas, enquanto este ria alto. -Me devolve essa merda! 

 Pararam em uma rua sem saída e ela riu vitoriosa, chegando cada vez mais perto do mais alto, que já estava prensado na parede, a essa altura. Ele inclinou a cabeça e sorriu de lado, para provocar. Chegou o rosto mais próximo do dela, quase tocando os narizes.

-Ou então o quê? -perguntou desafiadoramente. 

-Ou então eu corto as suas bolas! E você sabe que eu faço isso. -tentou puxar a sacola da mão dele, mas o braço longo a ergueu bem no alto, impossibilitando-a de alcançar. -Ah, caralho! 

-Você não poderia fazer isso. Sabe por quê? -a olhou e divertimento e a garota só cruzou os braços com uma expressão de tédio. -Porque aí não poderíamos fazer bebês. -sorriu maldoso e recebeu um tapa em resposta. -Ai! 

-Deixa de ser idiota e... me dá...isso! -a cada pausa, era um pulo para pegar o objeto, e quando ia finalmente conseguir, foi empurrada para a parede e prensada na mesma. Arregalou os olhos, quando a expressão no rosto do amigo se tornou séria até de mais. -O que... 

-Não negue que sente atração por mim, garotinha... eu posso ser um oppa muito mal, sabia? -sorriu maldoso, encurralando o pequeno corpo. Ela ergueu o queixo, e o olhou com aqueles olhos cor de âmbar e tão grandes como um olho de gato. Ah, ele adorava aquilo. 

-Jungkook, que brincadeira de mal gosto é essa? -se irritou, o rosto ficando vermelho, não só pela vergonha, mas por ele brincar assim com ela. 

-Não estou brincando. Eu sei que você gosta de ser má, então merece um castigo. Certo? -chegou ainda mais perto, e pôde sentir o hálito fresco do menino. Suas pernas tornaram-se gelatinas, de repente. 

-Me deixa, pelo amor de Deus. -virou o rosto para o lado, tentando disfarçar a vergonha evidente; mas sua tentativa foi falha, pois o rosto foi virado e novamente seu nariz se tocou com o do Jeon. 

-Se eu fizer isso, haverá uma consequência. -alertou descendo o rosto, que ficou próximo ao pescoço exposto da amiga. Sorriu em vitória, quando viu que ela se arrepiou só com aquele gesto. 

-Que consequência, valentão? -Jungkook ergueu o rosto novamente, mas antes dando uma pequena mordiscada na pele sensível e clarinha, perto do cordão de ouro que ela usava. Os olhares se chocaram e a energia era quase palpável. O canto da boca avermelhada se ergueu em algo mais divertido e ele se afastou abruptamente. 

-Isso. -então deu um peteleco na testa da menina e voltou a correr. E ela, sentindo a raiva a consumir, foi atrás. Antes, tirando apenas um sapato, para que quando estivesse pronta, pudesse tacar naquele cabeção. 

-Volta aqui com as minhas... coisas! -disse envergonhada, por quase gritar outra palavra. Ele olhou para trás e deu aquele típico sorriso filho da puta. Então, o sorriso desapareceu, quando o rapaz tropeçou em uma pedra e acabou caindo no chão. A sacola voou, e o absorvente dentro dela caiu no colo de uma senhora, que alimentava os pombos. 

-Ops. -Olhou para a menina, que agora tinha uma expressão típica de um assassino. -Então...tchau! -e assim ele correu por sua vida. 

-Volta aqui, seu filho da puta! -berrou, passando pela senhora e pegando o pacotinho rosa. O tênis voou e acertou em cheio na cabeça de Jeon. " 

  Lembrou da noite em que ficaram acordados até tarde, vendo estrelas no telhado de sua casa. 

 " -Atende, Jungkook... -resmungou, encolhida em sua cama e com o celular grudado no ouvido. Depois de mais três toques, ele atende. 

-Alô? -a voz sonolenta a rouca fizeram um sorriso fraco brotar nos lábios da menina. -Mo? 

-Será que você tem um tempinho para uma certa pessoinha com problemas? -sua voz saiu baixa, como um sussurro. Ouviu-se o barulho de coisas em movimento, do outro lado da linha. 

-Já tô indo. -desligou o celular e, com cautela, correu para o terraço descoberto da casa. Era onde eles se reuniam, normalmente. 

 Não demorou muito pro Jeon chegar, já que eram vizinhos, praticamente. 

-Tá viva? -cutucou a testa da menina, que mantinha os olhos fechados. Quando os olhares se cruzaram, ele soube na hora o que deveria fazer. -Ah, Mo... -se sentou do lado da menina e a abraçou forte, logo sendo correspondido. Então, as lágrimas começaram a molhar a camisa dele. 

 Jeongguk sabia que a menina estava em uma fase difícil da vida, com os pais se divorciando e a recente perda de sua avó materna. Sabia como estava sendo doloroso para a menina, ver os pais naquela situação. Sabia da insegurança da menina, em  ter que morar com a mãe, nos Estados Unidos, e nunca mais os ver. Ela contava tudo para seus amigos, seus anjos. 

-Daqui a seis meses eu vou estar me mudando para a América... -murmurou entre soluços, apertando o tecido de algodão. Ela não imaginava como o machucava, dizendo aquilo. -Mas eu não quero. -ele segurou o rosto com as duas mãos e secou as lágrimas com os polegares, depois a olhando no fundo dos olhos. 

-Então não vá. -sorriu fraco, com a ideia que teve. -Foge com a gente... comigo. -disse com firmeza. Ela parou de soluçar e o olhou em confusão. 

-Fugir com vocês? Não, Jungkook. Não posso. -balançou a cabeça, ainda entre as mãos grandes. 

-Por que não? Seria a vida perfeita, não é? -riu, voltando a abraçar. Dessa vez, de lado. -Imagina, nós oito vivendo em um apartamento apertado no centro de Seul... 

-Com vocês me deixando louca, por causa da bagunça... -a menina riu fraquinho e ele se sentiu a pessoa mais foda, por ter conseguido arrancar um riso dela naquele estado. 

-O Jin hyung ajudaria você. -fez cafuné no topo da cabeleira ondulada. 

-O Namjoon quebrando o apartamento todo... -continuou, podendo ver em sua mente a imagem perfeita. 

-O Yoongi dormindo por todos os cantos... -o moreno fechou os olhos também, inspirando fundo. 

-O Hoseok dançando aquelas coreografias malucas de grupos femininos... 

-E ensinando para todo mundo, não se esqueça. -os dois riram. 

-O Jimin perturbando todo mundo e se safando, por causa daquela carinha de bebê... -resmungou a menor. O rapaz riu fraco, com a careta dela. -O Taehyung... sendo o Taehyung... -olhou para ela, que já melhorara a expressão triste, pelo menos um pouco. 

-Tá vendo? Seria tão mais fácil a vida... tão mais feliz. -se arriscou em dizer. 

 Ela sabia que era mais fácil e muito, muito mais feliz. Mas não poderia simplesmente fugir de seu destino. Não poderia deixar sua mãe sozinha, não depois que perdera sua avó. Era doloroso, saber que uma hora teria que deixar tudo para trás; era ainda mais doloroso ter que deixar ele para trás -o que era quase a mesma coisa. 

-Eu sei... só que eu não posso mais fugir dos meus problemas. Alguém me disse que só se pode sair do fundo do poço, por cima. -mirou os olhos do mais alto, que estavam já fixos no olhar dela. -Você entende, né? 

-Entendo... -depois de uns instantes em silêncio, ele responde. -Então vamos aproveitar esses últimos meses, sim? -sorriu, mesmo que sua vontade fosse de se defenestrar ali mesmo. 

-Vamos. -sorriu. 

 Se deitaram no chão e olharam para o céu limpo de nuvens e cheio de estrelas cintilantes. Naquele momento, eles queriam apenas esquecer do mundo, dos problemas, dos pais, da escola. De tudo. Queriam apenas curtir o silêncio gostoso que se instalara. 

-Só... não esquece da gente, tá? -Jeongguk disse, depois de alguns minutos em puro silêncio. Ela riu, sem tirar os olhos das estrelas. 

-Você é bobo, biscoito. -virou o rosto, agora sorridente. -Eu nunca vou esquecer dos meus anjos. 

 E então passaram a madrugada inteira em silêncio, nenhuma fala, apenas o som de suas respirações; apenas admirando aquelas estrelas. "  

 Lembrou-se do primeiro beijo que tiveram. Ainda podia sentir o gosto dele. Foi quando ele se declarou também. Ainda ficava toda boba com essa história.

 " -Jimin! -gritou para o avermelhado, que dançava sem parar ao som de "Good Boy", cambaleando vez ou outra por conta da bebida. Ele a olhou e sorriu largo em cumprimento. -Onde fica o banheiro dessa coisa? 

-Vira a esquerda, no final do corredor! -gritou de volta e logo foi puxado por uma menina. Balançou a cabeça negativamente e se espremeu entre as pessoas até chegar em seu destino. 

 Se assustou quando encontrou outra pessoa lá, deitada na banheira e totalmente bêbada. E se assustou ainda mais, quando viu  que se tratava de ninguém menos que Jeon Jeongguk. 

-Jungkook?! -chamou o menino, que a olhou um pouco desnorteado, mas que logo sorriu, vendo quem era. Levou a garrafa de Vodka novamente à boca e deu um longo gole, quase acabando de vez com o conteúdo. A morena fez uma careta. 

-Ah, olha quem está aqui! A garota que me fode e nem sabe. -exclamou em uma ironia exagerada. Mo franziu a testa em desentendimento. -Veio aqui pra dar descarga em mim? Porque parece que sou um merda pra você, não é?! -riu descontroladamente e ergueu novamente a garrafa, pronto para dar outro gole. Mas ela foi mais rápida e tirou o objeto das mãos dele. -Me devolve essa porra!  -se levantou quase que em um flash da banheira. 

-Não! Você vai pra casa, agora! -disse, enquanto tacava a garrafa pela janela. Ele levou as duas mãos até as bochechas e abriu a boca em um perfeito 'o'. A cena seria hilária, se ela não estivesse tão preocupada. 

-Eu não vou a porra de lugar nenhum! Me deixa em paz, você já fodeu muito com a minha vida. -se jogou novamente na banheira vazia. Ela rolou os olhos e se sentou na borda da banheira, começando a encará-lo. -O que foi? -perguntou, ao perceber o olhar sobre si. 

-Tô esperando você me contar direito essa história. -cruzou os braços. Ele fez um muxoxo e logo riu. 

-Tenho cara de contador de histórias? -então começou a rir novamente. Foi então que percebeu que ele estava muito bêbado para qualquer coisa; e daí surgiu a ideia perfeita. 

-Olha, eu não queria fazer isso, mas você me obrigou. -após dizer isso, ligou o chuveiro, deixando a água fria cair sobre a cabeça do garoto, que gritou em surpresa e tentou sair. Mas ela o empurrou de volta. -Você não vai sair daí até estar, pelo menos, um pouco sóbrio. 

-Me deixa sair, porra! -gritou. 

-Não! Agora cala a porra dessa boca, antes que me obrigue a te amordaçar! -gritou de volta, surpreendendo o garoto, que se calou. 

 Os minutos deixando a água fria cair sobre o Jeon pareceram surtir efeito. 

-O.k, eu já tô melhor. Posso sair? -perguntou mais calmo. Mo apoiou a cabeça em uma mão. 

-Não. -desligou o chuveiro e sorriu com a careta de Jeongguk. -Você ainda não me disse o por quê de eu ter 'fodido' com a sua vida.

-Ah, isso... -o rosto tomou um tom mais vermelho. -Não é nada de importante. -deu de ombros. 

-Não pareceu nada de mais, quando você gritou comigo. -ergueu uma das sobrancelhas, não se dando por convencida. -Por que eu ferro com a sua vida? -cruzou os braços. Jeon coçou o topo da cabeça.

-Porque é o que você faz, você fode com as minhas estruturas. Desde o dia em que nos conhecemos. -se surpreendeu com as palavras. -Desde que você pisou com esse maldito pé e apareceu com esse maldito rosto bonito no colégio. -ele endireitou sua postura na banheira cheia, sem tirar os olhos de Mo. -Desde que você disse o primeiro maldito 'oi' para mim. Desde que você deu seu primeiro maldito sorriso. E desde que percebi que eu estava fodidamente apaixonado por você. É por isso que você me fode tanto. -teve a ousadia de sustentar o olhar. 

 Mo estava perplexa por fora, mas dando pulinhos de alegria por dentro. Pensava que não era recíproco. Ela nem percebeu, quando o sorriso se alargou em seu rosto e ela aproximou-se dele. Queria beijá-lo mais que tudo, e como não era menina de ficar de cu doce... 

-Me beija agora. -o menino se assustou com aquilo, não entendendo. -Você é lerdo pra porra, viu? -rolou os olhos e puxou a nuca do menino, iniciando um beijo terno, mas que transmitia todos aqueles sentimentos que guardava dentro de si. Não demorou para que o moreno a retribuísse, entrelaçando suas línguas, e puxasse sua cintura, fazendo com que caísse na água, junto dele. Riram da situação em que se encontravam, mas não ousaram separar-se. 

-Quer ser minha? -perguntou, quando se acalmaram das risadas. Ela o olhou com divertimento. 

-Cadê o anel? -brincou. Ele riu e fez um gesto para que ela esperasse. -É brincadeira... -ele procurou em seu bolso e achou um pequeno arame preto. O enrolou, até que ficasse em forma de anel e colocou no dedo anelar da menina. -Um arame, é? -riu, vendo o anel improvisado em seu dedo. 

-Você sabe que eu sou pobre. -sorriu. -E além do mais, anéis são para casais normais. Nós somos uma exceção. -apoiou seu queixo no ombro de Mo. 

-Você sabe que eu não vou ficar por muito tempo, né? -se referia à sua ida para a América. Ele assentiu. 

-Mas eu vou fazer isso dar certo, nem que eu tenha que me mudar junto. -a abraçou pela cintura.

-Para sempre arame? -brincou, estendendo o anelar. 

-Para sempre arame. -riu, entrelaçando seu anelar com o dela. "  

 Daí vieram as brigas, que eram quase sempre por causa dos ciúmes. Não que isso fosse necessariamente um problema... 

 " -O que você tava fazendo com aquele garoto? -se assustou com a voz grossa do namorado se pronunciando repentinamente. Tirou os óculos de leitura e sorriu cínica. 

-Ah, agora você se importa? Vai lá com aquela ruiva, vai. -rolou os olhos. Jungkook riu em descrença. 

-Ela é minha amiga! -exclamou. Mo o fitou por uns instantes, antes de dar de ombros e retornar sua atenção ao livro. 

-Ele também é meu amigo. -respondeu na cara de pau. O Jeon não se controlou e acabou fechando o livro na cara da morena, que passou de branca como a neve, para vermelha como um camarão. -Qual é o seu problema?! -se levantou da cadeira, já exaltada. Se esqueceu de que estavam em uma biblioteca, mas por sorte esta estava vazia. 

-Qual é o meu problema? -perguntou, com um sorriso debochado nos lábios. -Qual é seu problema, digo eu! Não fiz nada de mais, para você ficar assim. 

-Só fica com um monte de puta! -bateu as mãos na mesa de madeira. 

-Elas não são putas. -jogou o livro perto das mãos da menina, que o lançou um olhar ameaçador. -Você que fica em cima dos caras!

-Tá me chamando de puta?! -perguntou, chocada. 

-Puta, piranha, meretriz, vadia, cadela... -teria continuado, se não fosse o tapa forte em seu rosto, deixando a marca perfeita da mão pequena na pele branquinha. 

-Vai se foder,  Jeon Jeongguk! -gritou com raiva e pegou sua mochila do chão. Quando estava pronta para sair, um puxão em seu braço a fez virar e bater contra o peito do maior. 

-Você é ,sim, tudo isso. -não acreditava que ele continuava insistindo naquilo. -Mas só minha. -levantou o rosto dela pelo queixo, com o indicador. -Só eu posso te chamar assim. 

-Não sei quem te deu o direito. -sentiu o rosto queimar e tentou livrar-se do Jeon, mas ele a virou de costas para ele e a apoiou sob a mesa, inclinando sobre ela. 

-Se o problema for esse, posso resolver isso agora.-sussurrou no ouvido da menina, mordendo o lóbulo da mesma, lentamente. Sorriu em vitória, quando ela arquejou. -O que me diz? -murmurou perto do pescoço de Mo. 

-Vai se foder... -resmungou, se remexendo e, consequentemente, roçando sua bunda no membro do maior. Ele gemeu baixinho e mordeu o lábio inferior, com um sorriso safado estampado no rosto. 

-Pra já. -então a virou para si e começaram um beijo ardente e carregado de luxúria. As línguas travando uma batalha pelo controle. 

-A gente tá na biblioteca da escola... -lembrou, ofegante, enquanto o rapaz tratava de beijar cada pedacinho de pele exposta de seu pescoço. Ele a olhou e desabotoou a blusa do colégio, com um sorrisinho de lado. 

-Já ouviu a expressão : 'proibido é mais gostoso'? - a menina balançou a cabeça e o puxou pela nuca, para iniciarem mais um beijo. "   

 Mas como nada na vida dura para sempre, algo de ruim tinha que acontecer. E após dois meses de namoro, o improvável acontece. 

 " -Acho que vou voltar para casa. -Mo avisou o namorado, que a olhou e fez uma carinha manhosa. 

-Fica mais um pouco, a festa vai ficar tão chata sem você... -o biquinho em seus lábios era a coisa mais fofa. 

-Deixa de ser viado, Jungkook! -Yoongi o abraçou pelo pescoço e bagunçou os cabelos do mais novo. -Você sobrevive. 

-Mas vocês são insuportáveis! -exclamou, e ela não pôde conter a risada alta, quando ele recebeu um tapa na cabeça. 

-Ingrato! -Jimin se jogou ao lado dos dois. -Já vai, Mo? -perguntou, quando a viu arrumar sua bolsa. 

-Sim, amanhã vou trabalhar. -suspirou, pegando a chave de seu carro. -Vejo vocês amanhã. -sorriu, dando um abraço em cada um dos meninos e por fim parou no seu amado moreno. -Você não precisa de beijo, né? -brincou. 

-Vem logo aqui. -a puxou pela cintura e selou os lábios, logo começando um beijo calmo. 

-Vão se comer outro dia! -Taehyung gritou, os separando. 

-Cuidado com o empata foda! -Jungkook resmungou. 

-Tchau. -acenou, logo saindo. 

A estrada naquele dia estava molhada, por conta da chuva que caía. E o trânsito estava agitado, como sempre. Só queria chegar em casa e se tacar na cama, para acordar só no próximo ano. 

Foi então que o barulho de seu celular chamou-lhe a atenção e ela se curvou sobre o banco ao lado para alcançá-lo. Reconheceu o toque de sua mãe e não queria ter problemas, quando chegasse em casa.

 Mas foi em uma fração de segundos, quando tudo aconteceu. Só teve tempo de dizer o 'alô?', quando viu o farol do caminhão vindo na direção de seu carro."  

 Depois do acidente, ficou uma semana lutando por sua própria vida. Lembrou de seus amigos indo todos os dias até o hospital para vê-la, e de como Jungkook ficara arrasado quando a viu naquele estado. Tinha dias que dormia ao lado da menina, se recusando a separar-se de Mo. 

 " -Eu não vou te deixar... -se agarrou à mão da menina, que lutava para manter os olhos abetos. -Eu me recuso, Mo. -as lágrimas queriam descer, mas ele se recusou a chorar. Ela o olhou e sorriu minimamente. As palavras eram difíceis de sair, mas tentou com todas as forças. 

-Tudo vai ficar bem... -acariciou o cabelo preto do namorado e estendeu o anelar com um arame de enfeite. -Para sempre arame? -ele a olhou e foi então que não conseguiu segurar mais. As lágrimas grossas desciam como ácido por suas bochechas. 

-Para sempre arame... -soluçou e entrelaçou seu anelar com o dela. Ela fechou os olhos e puxou o ar, queria reconfortá-lo de alguma forma e sabia como fazer.

-A drop in the ocean 

(Uma gota no oceano)

A change in the weather 

(Uma mudança no clima

I was praying 

(Eu estava rezando

That you and me 

(Que você e eu

Might end up together 

(Pudéssemos acabar juntos

It's like wishing for rain 

(É como desejar a chuva

As i stand in the desert 

(Enquanto estou no deserto

But  i'm holding you 

(Mas eu estou segurando você

Closer than most 

(Mais perto do que nunca

'Cause you' are my heaven... 

(Porque você é o meu paraíso...

Cantarolou com a voz fraca, enquanto o Jeon se acalmava, com as carícias que Mo fazia nele. Ficaram assim por um tempo, enquanto ela sentia os olhos pesarem cada vez mais,a respiração ficando mais fraca, assim como as batidas do coração. Momentos d sua vida passaram diante de seus olhos e ela sorriu, por não ter vivido em um completo inferno. 

-'Cause you are my heaven... -cantarolou mai uma vez, à medida que foi pegando no sono, junto com Jungkook. 

 A vida deixou seu corpo bem serenamente, naquela noite. Foi enquanto dormia, sem dor, sem choros; apenas a calmaria e uma paz irresistível, que convidou-a para um sono sem fim. A mão dela ainda continuava entrelaçada com a de seu amado, e não poderia imaginar um melhor fim, para aquela situação."

  O tempo que passaram juntos poderia ter sido maior, mas tinha certeza que aproveitaram ao máximo. Cada briga, cada toque, cada suspiro, cada beijo, cada gemido. Foram os melhores de sua vida inteira, e nunca se esqueceria de seu Jeon Jeongguk. Seu chato e arrogante, mas leal e sabia como lhe arrancar uma risada. 

 Se lembrou de seu enterro, e de como foi doloroso ver todos os seus amigos e familiares chorando e lamentando a perda. Mas até aquele momento, se lembrava do silêncio do namorado. Não havia lágrimas, nem aquelas coisas típicas de algo fúnebre. Era só ele sem expressão, olhando fixamente o pedaço de madeira marrom. 

 " -Sinto muito, senhora Young. -os meninos falaram quase que em uníssono. As expressões em seus rostos eram de pura tristeza. A mãe da menina os olhou, ainda com as lágrimas caindo. 

-Eu sei que vocês também sofreram uma perda, meus filhos adotivos. -sorriu tristemente a mulher com seus cinquenta anos evidentes. Os maiores então pararam de segurar o choro e desabaram, se abraçando à mãe de sua amiga.  Mo se surpreendeu, por ver até Suga chorando.

-Ela vai fazer falta... -Jimin fungou, com o rosto vermelho e molhado. Senhora Young acariciou os fios tingidos de laranja. 

-Ela vai estar sempre com a gente, eu sei disso. -então, olhou para o menino mais afastado, ainda em frente ao túmulo de sua filha. -Eu já volto... -e assim se aproximou dele. A menina acompanhou a mãe, mesmo que fosse doloroso, por ela não conseguir a enxergar. -Tem um lugar aqui pra mim? -chamou a atenção do Jeon, que apenas assentiu, com a cabeça baixa. 

 Ficaram em silêncio por um tempo, a garoa fina molhando levemente os cabelos negros de ambos. A brisa acariciava os rostos, como se quisesse lhes confortar e o som do trânsito lá fora parecia mais abafado. 

-Por que tinha que ser assim? -o namorado se pronunciou pela primeira vez, naquele dia. -É tão injusto... -a voz ficou embargada e chorosa. -Tínhamos tantas coisas a fazer, tantos planos... 

-Ah, querido. -a mais velha o puxou para um abraço apertado, e o outro não conseguiu mais conter as lágrimas quentes, soluçando e soltando alguns gemidos baixos pela dor. -Nada é por acaso, sabe? Minha filha sempre foi um caso especial, talvez o destino guardasse outros planos, uma causa maior. -afagou os cabelos do mais novo. 

-Eu não quero saber do destino, eu quero ela de volta! -soluçou. -Não podia acontecer isso... -caiu de joelhos no chão, perdendo suas forças. Ignorou se todos estavam olhando, ignorou o solo sujo, ignorou tudo. Sua dor era maior que qualquer coisa que já havia sentido na vida.

-Jungkook... -a menina murmurou baixo, mesmo sabendo que ele não a ouviria. Ergueu a mão e tocou no rosto dele, que se contraiu e então o choro piorou. Rapidamente se afastou. 

-Tudo vai ficar bem... -sussurrou a mãe de sua namorada, se juntando ao menino e o abraçando." 

 Ela nunca soube o por quê de ter seguido em frente, ido para o "céu" ou algo parecido. Estava presa, e isso já fazia um ano. Talvez não estivesse preparada ainda, para isso. 

Lembrou de como foi horrível ver seu Jungkookie entrando em depressão, de como os meninos tentavam seguir em frente e de como sua mãe chorava pelos cantos. E ela nem poderia fazer nada. Estava morta. 

-Me desculpem... -sussurrou, e sabia que nunca seria respondida. As lágrimas já rolavam por seu rosto. -Eu preciso deixar vocês seguirem em frente. Eu preciso seguir em frente... -suspirou. -Eu vou me despedir da maneira certa, dessa vez. -E assim, saiu pela porta do apartamento. 

 Ela passou na casa de Jimin primeiro, já que era a mais próxima. Ele estava sentado no sofá, olhando para o teto e parecendo pensativo. Se aproximou com cuidado e sentou ao lado dele. 

-O quê? -murmurou, quando sentiu um vento gelado contra si. Sua janela estava fechada. 

-Ei Jimin, você continua o mesmo anão de jardim, né? -brincou, olhando a expressão confusa ao seu lado. -Eu queria ter passado mais tempo com você...com todos vocês, mas fui descuidada. -as palavras saíam como lâminas cortando sua garganta. -Tá na minha hora de dar adeus, sabe? Acho que fiquei tempo de mais aqui. -sorriu triste. -Eu vou estar sempre com vocês, não se esqueça. Tá? -com um último beijo no topo da cabeça do amigo, se retirou. 

 E assim foi com todos os meninos, que sempre se arrepiavam ou fechavam a janela. Era triste, eles não poderem percebê-la junto deles. Queria os tempos felizes de volta. 

 Sua mãe já havia se mudado para os Estados Unidos, e infelizmente não poderia falar algo. 

 Então voltou ao ponto inicial: a casa de seu namorado, ou ex... não entendia muito bem. Já estava em um final de tarde e os raios de sol alaranjados entravam pelas janelas da sacada, o vento fresco balançava as cortinas.

 Sentiu que sua hora estava próxima, teria que fazer aquilo rápido. 

 Se dirigiu até a sacada e viu mais uma vez aquela cidade linda, com as luzes da cidade começando a iluminar o escuro. Sentiria falta, muita falta de tudo. 

 Então, o barulho de algo caindo ao chão lhe trouxe de volta. Se virou, vendo um certo Jeon estatelado no chão, e ,para sua surpresa, olhava em sua direção. Os olhos esbugalhados e a boca entreaberta, querendo dizer algo. Ele estava a vendo?

-Jung... -foi cortada pelo menino, que se levantou em um flash e tentou a todo custo abraçá-la, mas suas mãos atravessavam o "corpo" da menor. 

-Você... o quê?! -balbuciou, parando as tentativas, os olhos começando a marejar. 

-Oi, coelhinho... -sorriu fraco. 

-Mo... -juntou as sobrancelhas, e então ficou em prantos. -O quê você tá fazendo aqui? Como?! -em meio a soluços, conseguiu dizer. 

-Eu precisava dizer 'adeus' decentemente... -não conseguia desviar o olhar dele. -Já fiquei tempo de mais com vocês.- Jeon arregalou os olhos. 

-Você estava aqui esse tempo todo?! -ela assentiu com a cabeça. -Por quê? -deu de ombros. 

-Não sei... mas hoje eu vou deixar vocês em paz. -tocou o rosto liso do rapaz, que fechou os olhos, como se pudesse sentir o toque. -Preciso fazer isso. 

-Não me deixe de novo... -a voz grossa falhou. 

-Eu nunca te deixei. -balançou a cabeça. -E nunca vou deixar. -tentou secar uma lágrima dele, sem sucesso. -Mas tá na hora de você seguir em frente, e isso serve para mim também. -os olhares se aprofundaram, o negro do âmbar. Ficaram assim por alguns instantes, o menino associando tudo e tentando ser compreensível, sabia que ela estava certa. Era difícil não estar.

-Eu nunca te disse isso em voz alta, e me odeio por só dizer agora, mas... eu te amo. -disse alto, e ela fechou os olhos, como se sentisse a paz, só em escutar tais palavras. -Eu sempre te amei. Nunca vou deixar de amar. 

-Ah, kookie, eu já sabia disso. -riu da careta dele. -Você sabe que eu te amo, e nunca vou parar de amar. 

 Jeongguk queria gritar, com a dor que ardia em seu peito, porque sabia que teria que deixá-la. Precisava fazer isso por ela, e por si mesmo. Pelo menos a viu uma última vez. 

-Me concede um último beijo? -perguntou, se aproximando. Ela sorriu e balançou a cabeça. 

-Não podemos... -ele suspirou e parou à um passo dela. 

-Foda-se... a gente dá um jeito. -se aproximou da morena, que sorriu com a teimosia do menino. 

-Feche os olhos. -pediu e ele obedeceu. Então sem demora, colou seus lábios em um ósculo casto. Jungkook podia sentir a leve dormência em sua boca, como se de fato fosse ela em vida o beijando. As sensações ainda eram as mesmas nos dois. 

 Não queriam se soltar, mas tiveram.

Já sentia que estava pronta, sua figura começava a desaparecer aos poucos, e quando o Jeon viu aquilo, o coração partiu. 

-Promete que quando eu te chamar, você vai me atender? -perguntou à Mo. Ela o olhou, e com um sorriso radiante nos lábios, respondeu. 

-Eu sempre vou te atender. -e assim, foi ficando cada vez mais transparente, até que desapareceu por completo. O último raio de sol do dia estava bem onde sua amada se encontrava antes.

Ele deu um sorriso fraco, quando as lágrimas pararam. Não ficaria mais triste, estava na hora de seguir em frente. Mo não gostaria que ele ficasse se remoendo para sempre, nem o próprio. 

-Adeus, Mo...

E assim ele passou o resto da tarde: sentado na sacada, vendo as luzes da cidade e sentindo, pela primeira vez em muito tempo, a paz lhe tomar conta. 

                                                    


Notas Finais


E aí? Gostaram? Odiaram? Acharam meio pombo? Me contem! <3
Uma coisa que esqueci de mencionar ali em cima foi que eu me baseei em músicas para escrever.
Para quem quiser ouvi-las :
https://www.youtube.com/watch?v=3lSDU48Pr_Q
https://www.youtube.com/watch?v=q31tGyBJhRY
https://www.youtube.com/watch?v=aNzCDt2eidg
https://www.youtube.com/watch?v=YuHdkSj5nGc
https://www.youtube.com/watch?v=AMzjbyZhM5U
https://www.youtube.com/watch?v=jErJimwom94


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