Ela se remexeu vagarosamente, mas logo se arrependeu; uma forte dor no corpo fez com que parasse. Quando sua visão ficou nítida,percebeu vários fios ligados ao copo. Fez uma careta - odiava hospitais- e olhou para baixo, se assustando.
Os inconfundíveis cachos cor-de-chocolate estavam bagunçados; apoiados no colchão, espalhavam-se de uma maneira bonita aos olhos de Kath que, com certa dificuldade, estendeu a mão para afagá-los.
Ela sentia os fios.
Arregalou os olhos totalmente assustada, e bruscamente tirou as mãos.
Estava... Viva?
Harry se remexeu um pouco e levantou a cabeça - ainda lento - para encarar Katherine. Quando os olhos se encontraram e os corações bateram mais rápido do que o normal, Harry se sentiu aliviado e feliz. Já a menina se sentiu confusa, muito confusa; não entendia toda aquela situação.
- Você pode me... ver? - ela sussurrou devagar, sentindo sua voz falhar.
- Ainda bem que você acordou! - Harry exclamou, se levantando e abraçando-a com todo cuidado possível.
Seus olhos estalaram e sua respiração ficara presa por um momento. Ela podia o sentir, e timidamente retribuiu o abraço, encostando a cabeça no ombro dele e finalmente tendo a certeza de que tudo aquilo não era um sonho.
- O que aconteceu?! Eu morri, como...
- Shhh, vou te explicar tudo depois. Por enquanto, descanse. - Harry a acalmou. A menina apenas assentiu e se afastou um pouco; a dor lhe fez respirar fundo e fechar os olhos - ah, me desculpe Kath - Harry também se afastou, sentando na poltrona e passando na ponta dos dedos pelo rosto dela.
Aproveitando a carícia, ela fechou os olhos.
Não demorou para que um médico entrasse no quarto e examinasse a menina.
- Você foi sortuda Sophie. Não vai ficar nenhuma cicatriz feia, mas você vai ter que ficar aqui por mais alguns dias em observação - ele deu um sorriso simpático - já vão lhe trazer o café, deve estar com fome. Volto aqui algumas horas, descanse. - deu as costas e saiu do quarto.
- Sophie?! - ela indagou confusa - quem é Sophie?! - sua voz já estava alterada, bem como a expressão tensa - o que está acontecendo?! - começou a se levantar.
- Katherine, se acalme. - ele colocou suas mãos nos braços dela e a impediu de se levantar, mas ela começou a se debater e tentar se desvencilhar do toque.
Com medo dela se machucar, ele apertou a campainha vermelha ao lado da cama, e não demorou para dois enfermeiros entrarem no quarto as pressas. Katherine gritava e tentava estapear o garoto; visivelmente descontrolada.
Eles lhe deram uma injeção e, em segundos, ela parou. Começou a amolecer nos braços de Harry e seus olhos fecharam lentamente. Colocou-a deitada e cobriu seu corpo frágil, depositando um beijo em sua testa e sussurrando palavras doces, segundo as lágrimas. Ficou um bom tempo ali,mas logo sentou.
Percebeu que suas roupas estavam sujas; a camisa antes branca, agora tinha grandes manchas vermelhas e escuras - já que o sangue estava seco -, na calça e o blazer, por serem mais escuros, não aparentava tanto.
Mas não ia sair de lá até ela acordar e ficar bem, em outras palavras, não sairia sem ela.
- Tsc tsc, não achei que precisariam sedar ela. - a voz de John lhe fez despertar, e sua cabeça imediatamente virou para o encarar.
- Como é que você entrou aqui?! - indagou um pouco confuso, ainda não havia se acostumado com os aparecimentos repentinos dele.
- Entrei na sua casa. De nada. - jogou uma sacola em Harry.
- Obrigado. - agradeceu. Assim que abriu a sacola e viu algumas roupas deu um sorriso. - ela não se lembra...
- Ela acabou de acordar, claro que não vai se lembrar de anos que viveu como Sophie. Vou falar com ela, assim que acordar.
- John, as pessoas conseguem te ver? - essa era uma pergunta que ele queria fazer há muito tempo, mas não tinha coragem. - é que você toca nas coisas do "mundo humano" e... Ah... Não sei explicar!
- Podemos tocar nas coisas do mundo humano quando temos a mais pura intenção. É por isso que não podemos "ajudar" na morte de um humano. E não, não podem me ver. Estou morto, Harry. - John estava de costas, sua voz não soava grossa ou indiferente; era suave.
- Entendi... Você não é tão ruim assim. - Harry admitiu.
- Não me entenda mal, ainda não gosto de você. - ironizou sem se virar para a encarar o menino.
Talvez John não falasse por medo ou orgulho, mas, a verdade é que gostava sim de Harry.
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