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História Mentira e Sangue - Boa Garota.


Escrita por: BrabuletaAzul

Notas do Autor


Então, faz um ano e uma hora, já q eu me atrasei para postar, que eu escrevo M&S. Se eu estou alucinada sobre isso? ÓBVIO. O cap ficou meio curto, mas espero que seja treteiro o suficiente.
Espero que gostem 💙💙

Capítulo 18 - Boa Garota.


Fanfic / Fanfiction Mentira e Sangue - Boa Garota.

"Medo, e pânico no ar.
Eu quero ser livre,
Da desolação e do desespero.
E eu sinto como se tudo que eu tivesse visto,
Estivesse sendo levado para longe,
Mas eu me recuso a te deixar ir. 


Tudo aquilo deveria ser um pesadelo. Não. Tinha que ser um. 

Dipper estava tentando se conectar com alguma mente fazia duas horas. Seu corpo mal se aguentava no lugar, balançando de um lado para o outro, enquanto usava toda a sua força em vão.

Era incrivelmente irritante como estava impotente. Toda a sua pose magestral e medonha havia se esvaído e deixado somente o garoto de dezoito anos fraco e quase anoréxico que havia se tornado.  Ao contrário dele, Mabel parecia o mais viva que já havia estado, com bochechas rosadas e poderes fortes, mesmo que evitasse demonstrar isso perto do irmão. Os dois estavam afastados como nunca estiveram antes, mal se olhavam, envergonhados um do outro. Ainda existia a imensa tensão sexual que emanava de seus corpos quando se aproximavam, mas o ódio e o orgulho os afastavam, tornando impossível o contato entre os gêmeos, que ignoravam a presença um do outro.

Ali, sozinho e sem poder algum, Dipper entendia o significado da fraqueza humana. Tudo que o tornava especial havia sido roubado, o deixando nada mais do que a lembrança da antiga habilidade semi - divina que um dia possuíra. 

Ao perceber que estava se fazendo de bobo, Dipper saiu do quarto, descendo com cuidado as escadas principais da mansão, não conseguindo sentir firmeza  nos pés esqueléticos e pálidos. 

-Deixa eu te ajudar. -Disse Gideon, passando o braço do mais velho por cima de seu ombro e servindo de apoio. 

-Eu não preciso da sua pena.

-De você eu só tenho raiva. -Seu rosto estava virado para o lado, evitando o contato.

-E inveja. - Acrescentou Dipper, movendo seus lábios sem cor em um gorgolejo, emitindo palavras flácidas e sem tom.

-Você parece um cadáver e acha que está em condições de ser invejado? Ego de rico...

No fim da escada, Dipper apoiou seu corpo exangue em uma poltrona, já demasiado cansado para ficar mais um segundo sequer de pé. Seu rosto estatelado camuflava a expressão de dor,   que mesmo assim estava arrancando vômitos de Gideon, que se apoiava no corrimão, virando o rosto do odor podre de carne exposta ao sol que emanava do antigo telepata.

-O que houve com você? - Conseguiu perguntar, empurrando o vômito guella abaixo.

-Se eu fizesse a mínima idéia não acha que já teria resolvido? - Suas palavras soavam como o último suspiro de um homem morto, preenchendo o vácuo de som deixado pela falta de líquidos dentro de Pines para vomitar. 

-Não dói? Sem ofensas mas você está literalmente apodrecendo. No mínimo isso deve ser tão ruim quanto o que Mabel fez com aqueles policiais.

-Sinceramente, eu nem falei com ela desde que acordei, não tenho idéia do que quer que ela tenha feito. Mas sim, dói.

-Não falou nem com a Paci?-Disse, limpando a sujeira do campo de sua boca e finalmente contendo a ânsia.

-Por quê eu teria algo para falar com ela? Da última vez que a vi, ela estava ajudando minha irmã a fazer sei lá o que enquanto eu era preso.

-Só fala com ela, por favor. Ela precisa de ajuda de alguém que entenda. Agora, se me dá licença, eu vou pegar um pano e muito desenfetante para limpar esse vômito, já que não tem mais ninguém que limpe esta casa e eu tenho que ficar aqui com este cheiro.

-Não pensava que você fosse um maníaco por limpeza. Mas pode pegar um esfregão e os produtos nos laboratórios. A escada deve estar aberta.

-Valeu. E Dipper, não caia no chão e suje tudo, Mabel vai matar alguém se encontrar mais uma mancha de sangue que não foi ela que derramou nesta casa. 

Dipper observou o garoto sair, quase rindo de como era patético, e um nada comparado a quem ele próprio um dia fora. Com medo de sentir mais dor, comprimiu o riso em um som quase mudo, se levantando finalmente, e deixando o cheiro de vômito para trás.

" Solidão, acabe.
Quando esta solidão irá acabar?"


Os laboratórios pareciam mais medonhos a cada dia. Só havia os visitado três vezes antes daquela, mas já compreendia que era um local no qual não queria estar. 

Revirou sala por sala, ignorando máquinas, livros e líquidos que ele não estava ansioso para descobrir a matéria prima. Toda a história da mansão estava ali, confinada naquele andar subterrâneo, esperando para ser contada à quem quer que ouvisse. 

Na frente de Gideon, entre as últimas salas, estava um túnel. Um buraco de pedras na parede que não parecia ter fim. Pensou ter ouvido algo sobre. Uma sala, algo que fez Mabel chorar. Só o pensamento da garota chorando já lhe causava medo. O que poderia ser tão horripilante à ponto de levar tal monstro às lágrimas?

Libertando toda a sua curiosidade, o garoto correu para uma sala, ignorando o esfregão e sacando uma lanterna, antes de adentrar a penumbra do longo e escuro túnel.

"A vida irá passar na frente de meus olhos,
Tão dispersos e perdidos
Eu quero tocar o outro lado.
E ninguém pensa que é o culpado.
Por quê não conseguimos ver,
Que quando sangramos,  sangramos igual?"

No andar de cima, Dipper conseguiu chegar ao quarto de hóspedes, abrindo a porta com dificuldade, encontrando uma garota assustada, de olhos arregalados, segurando um pedaço de vidro como arma.

-Nem tente nada, já estou destruído o suficiente, não preciso de mais um machucado. 

-Vá embora... -Sua voz trêmula rangeu, ao sentir o caco cortar sua mão.

-Seu primo me pediu para vir. Eu não sei o que você fez, mas ele parecia com medo. -Sentou - se numa poltrona, cruzando as pernas e esperando ainda ter uma mínima parte de sua poderosa pose antiga. 

-E por que você se importa? Você me manipulou... me enganou desde que me conheceu. -Seus dentes rangiam enquanto falava, guardando a dor. 

-Ah, Pacífica. Precisa entender que tudo o que eu fiz foi para sobreviver, não sou o vilão aqui. 

-Para mim, é exatamente o que você é. Saia, por favor, eu não quero conversar.

-Eu só estou me defendendo e me acusa de vilão, quanta consideração. E você também não é santa. Tem sangue na sua roupa, e não me parece ser seu.

Ela encarou o próprio pijama, passando a mão na mancha que ainda parecia se expandir, soltando um suspiro triste e arrependido.

-Em parte é sim. Acho que me machuquei, ou algo assim. É difícil de me lembrar. -Seu olhar era longínquo, como se repassasse algo traumático. 

-O resto é de quem? -Disse, finalmente interessado.

-Do namorado da minha melhor amiga. -Enterrou o rosto na palma das mãos, escondendo-o. -Deus, o que eu fiz? 

-O matou? Todos nessa casa já mataram alguém. -Ele falou, indiferente.

-Mas não quer dizer que esteja certo. Eu não queria... Foram essas malditas vozes. Elas não param. -Pacífica cobriu, os ouvidos, em vão. -E o Gi nunca matou ninguém, eu espero. 

-Talvez não, se não contar os incêndios, mas ele irá. Não se torture tanto por algo tão trivial. - Pelo gorgolejo rouco, ele tossiu em sua mão, limpando o sangue que saira na manga da camisa. 

-Não vê que você pode morrer a qualquer momento agora? Você não é um deus para mexer assim com a vida dos outros.  E eu também não sou. -Ela começou a chorar, deixando as lágrimas pingarem na mão  cortada.

-Quanto drama. 

Dipper se levantou, caminhando até uma penteadeira e pegando um kit de primeiros socorros, logo se sentando ao lado de Pacífica, para limpar seu ferimento.

-E o que você quis dizer com vozes? 

A garota mordeu o lábio com força, o machucando enquanto continha os gritos de dor. 

Passando uma gase pelo ferimento dela, Dipper passou seu dedo pela entrada, encarou o sangue e chegou na conclusão de que não sentia mais atração nenhuma por aquela violência. Não era provocadora como antes, não servia como combustível para ele. A descoberta foi como uma facada, o mostrando de uma vez por todas que de fato, agora era humano.

-O que você quer dizer com vozes? -Ele repetiu, com mais ênfase do que antes.

-É horrível. -Ela puxou ele pela camisa, quase o abraçando, mesmo sem entender o por que, e se permitindo chorar em seu pescoço. - A sua voz, a de Mabel, Will, Bill, até Tyrone... todos repetindo as mesmas coisas, as mesmas memórias, mortes, torturas, sexo, tudo que eu menos queria ver e...

-Espere, o que tem meu irmão? -Ele cortou sua fala, segurando os ombros da garota com força. 

-Eu o vejo. O escuto. A morte dele... Deus, como foi ruim. Pobre Mabel. Como ela aguentou? - Em seu choro, Dipper jurou que havia visto uma gota dourada, descendo o rosto da loira e atingindo sua camisola ensanguentada.

-Desde quando?-Ela não o respondeu, continuando a chorar. -Desde quando?!- Ele perguntou de novo.

-Desde ontem! Mabel teve uma visão e foi... -Ela cobriu os ouvidos novamente, chorando ainda mais, soltando alguns gritos.

-Merda. -Dipper passou as mãos pelas costas dela, tentando acalma-la. -Você deveria tomar algo. 

Enchendo um copo com a mistura avermelhada que se encontrava ao lado da cama, ele a fez beber tudo que conseguia, finalmente parando para analisar a garota suja de terra e sangue no quarto. 

-Você pelo menos trocou de roupa? -Ela mexeu a cabeça,  informando que não. -Parece que só eu me importo com essas coisas aqui. 

-Eu não estava me sentindo bem. -Pacífica disse, ainda trêmula e chorando. -Gideon se ofereceu para ajudar, mas eu recusei, não deixei ele nem chegar perto. Will nem tentou, disse que era meu amigo, mas me ajudar a trocar de roupa não era algo que ele faria

-Que cavalheiro. -Dipper falou, sarcástico. -Não pensou em minha irmã? - E ali estava, seu sorriso provocador, de desdenho, como se fosse superior à quem quer que estivesse se dirigindo à. 

-Eu não sou louca. Ou suicida. -Pacífica tentou conter o choro, se levantando com dor e caindo ao sair da cama. -Droga.

-Mas é fraca. 

-Olha quem fala. 

Por debaixo da camisola, sua ferida abriu, a fazendo grunir de dor, se jogando de volta na cama o mais rápido que conseguiu.  

Dipper levantou sua camisola, olhando o grande corte que se estendia por grande parte da barriga. Para um machucado, o ferimento não era fundo de fato, mas sim longo, do tipo que um pouco mais para dentro e tudo sairia. E um corte bruto. Definitivamente havia sido um acidente. 

Ele passou sua mão sobre a ferida, fazendo a garota gritar mais alto, e por um segundo, sentiu toda a sua dor, vendo diante de seus olhos o momento que ele sempre teve pesadelos sobre.

"Ty... eu não tenho certeza.", dizia uma garota de doze anos.

"Vai ser simples. Eu entro, trago ele para fora, e pego a informação sobre o diário. Você fica aqui para caso apareça alguém. Como nós treinamos nos cervos, lembra?" 

Ao seu lado, em um beco, estava um menino alto, quase atlético, de pele pálida olhos azuis. Se não fosse pelo cabelo bagunçado e sensação muito mais medonha que ele emanava, seria uma cópia perfeita de Dipper.

"Vamos lá, Mabel.", fez uma pausa, segurando a adaga. "Imagine como Mason vai ficar orgulhoso."

Ainda com certa dúvida,  ela segurou a adaga, estranhando a leveza, e encarando o irmão, como se esperasse por algo. "Boa garota." Ele disse, antes de mecher no cabelo da mesma e sair, entrando no bar.

Por longos minutos ela esperou, observando a pequena foto de Dipper que carregava consigo. Um retrato 3x4 tirado em seu aniversário. O sorriso era tão largo que parecia pular para fora, e ela sabia, mesmo que só por intuição, que aquele sorriso era para ela. 

Quando se permitiu sorrir também, foi arrancada de seus pensamentos pelo som dos policiais fora do trabalho, saindo do bar e empurrando Tyrone para o beco. Ele acertou algumas caixas de madeira e se levantou, segundo a parte machucada do rosto.

"Patéticos." 

Os homens à sua volta se entreolharam, antes de partir para cima dele, que só aceitava os socos, não emitindo som algum.

Percebendo que seria sua hora, Mabel se levantou,  correndo até o homem maior com sua adaga e tentando a enfiar no peito. Ao se afastar, encarando o corpo com horror, viu o grande grupo a encarar, enquanto o outro sangrava no chão. Retirando sua lâmina do corpo,  Mabel a empunhou, gritando em alto e bom tom, mesmo que se sentindo culpada: "Onde está o diário?" Até mesmo gritando depois de um tempo. "Me respondam!" 

"Marius, vá para dentro." Um dos homens disse para um jovem em meio ao grupo, que saiu correndo para o bar, deixando a briga.

O mesmo homem avançou contra ela, que congelou em pânico, pegando a adaga e jogando a garota contra o irmão, que a segurou.

"Mabel, olhe para mim." Tyrone disse, virando a gêmea para ele. "Você consegue fazer isso. Só mate eles e nós vamos para casa, aquele Marius deve ter o diário. Você só precisa matar eles e nos saímos daqui vivos."

"Eu não consigo, Ty. Eles são pessoas, não gnomos."

Em volta deles, os policiais riam da atitude dos dois, não pretendendo deixar os gêmeos saírem vivos. 

"Calem a boca seus merdas!" Tyrone gritou, assustando muitos deles, que somente depois se lembraram que se tratava de um adolescente. "Só os mate."

Estalando os dedos, os homens se aproximaram, empurrando os gêmeos para a parede, prontos para atacar. "Mate-os!" Ty gritou. 

"Eu não consigo!" Ela começou a chorar, já sentindo alguém segurar sua garganta.

E gritou. 

Tão alto que toda Berkley poderia ter ouvido. 

Ao abrir os olhos, gritou ainda mais alto em horror. Das bocas, narinas, orelhas e olhos dos homens, saia sangue, pingando e sujando toda a calçada.  Como dominós, eles caíram um por um, deixando o beco sem vida. Ao lado da garota, mais um corpo foi ao chão. 

Era óbvio que ele estava lutando contra o que ela havia feito. Seu corpo tremia, enquanto gotas de sangue escapavam pela boca. Mabel segurou o irmão, chorando sobre ele e amaldiçoando à ela própria pelo erro. 

"Eu disse que as sessões iam valer a pena." Disse, em soluços. "Você conseguiu, não foi? O teste final?"

Ela segurou a mão de Tyrone contra sua bochecha, beijando a palma à cada cinco segundos. 

"Boa garota." 

"Para de falar." Mabel estava desesperada, olhando em volta descontrolada,  atrás de uma saída da situação. "Eu vou resolver isso."

"Você foi meu melhor experimento,  não foi? Boa garota." 

E com aquelas últimas palavras, ele deixou sua mente ser inundada pelo sangue.
Mabel gritou tão alto que sentiu toda a sua garganta arder em carne viva, antes de Will aparecer em sua frente,  a abraçando com força.

Saindo do transe, Dipper pulou da cama, gastando quase todas as suas forças, ainda encarando a ferida aberta.

E pela primeira vez em muito tempo, ele estava chorando. 


"Mamãe, nós somos todos cheios de mentiras.
Mamãe, nós fomos feitos para as moscas
E neste momento, eles estão fazendo um caixão no seu tamanho.
Mamãe, nós somos todos cheios de mentiras."


No andar de baixo, pelo longo túnel, Gideon já estava considerando voltar atrás. Pelo que sabia, poderia estar até mesmo embaixo de sua antiga casa, pelo tempo que estava caminhando. Não que ele quisesse estar sob ela, era o último lugar em que gostaria de estar, mesmo tendo queimado o local poucos dias antes. Sentia-se até aliviado por ter o feito, parecia que havia jogado fora todo o peso em seus ombros e as más lembranças, tudo aquilo que ele e Pacífica haviam passado por, embora a garota tivesse sofrido muito mais.

Seus pensamentos o abandonaram quando chegou à grande sala à sua esquerda. Usando sua lanterna, ele procurou fósforos, acendendo cada uma das velas do local, antes de finalmente analisar tudo à sua volta e descobrir o interruptor.

As paredes, repletas de livros, pareciam não ser tocadas fazia um bom tempo, mesmo que estivessem visivelmente remexidas. Organizados por ordem alfabética de autor, as obras enchiam todo o cômodo, atraindo a atenção do garoto para vários títulos estranhos, como "Demonologia:Um Estudo.", "Criação" e até mesmo livros com somente o nome do autor.  Uma televisão antiga estava no centro da sala, ao lado de pilhas e pilhas de estudos. Para analisar tudo à fundo poderia se levar meia vida. 

Revirando os papéis, encontrou um pequeno baú, repleto de fotos de uma jovem de cabelos castanhos e imensos olhos azuis. No fundo, uma fita cassete estava coberta em um pano rosa, com um nome escrito em linha branca. 

"Mabel".

Intrigado, ele levou a fita até a televisão,  onde a colocou, sentando logo em seguida em uma poltrona, esperando até finalmente conseguir enxergar a imagem.

"Diga Olá para a câmera, Grace." Uma voz masculina e suave dizia atrás da câmera, enquanto mirava na mesma jovem morena.

"Para, Gerard." Ela disse, rindo. Seu sorriso era talvez a coisa mais linda que Gideon já havia visto. Largo e verdadeiro, encarando a câmera como quem encara uma criança. Era uma Mabel feliz, mesmo que ele nunca fosse falar isto em voz alta.

"O que você acha, Yolanda? Eu paro de gravar ou continuo com essa pequena documentação?"

"Nós estamos na melhor lanchonete da cidade, comendo o melhor hambúrguer que eu já vi na minha vida, e você realmente está gravando?" Disse uma mulher, finalmente aparecendo na câmera. 

Seu rosto um tanto cheio definitivamente atraía mais atenção que seu decote. Envolto no cabelo quase cor de neve, ele brilhava de tão pálido, com pequenas sardas espalhadas. Toda a delicadeza de sua face se desfazia nas roupas, completamente pretas e chamativas. 

Gideon sentiu tudo dentro de si se remexer, enquanto fitava o rosto da mulher mais importante de sua vida, em seu estilo motoqueiro e sorrisos debochados. Mal se lembrava de quando sua mãe era assim.

"Ei, não posso querer me lembrar disso depois?"

"Não. E nós não viemos aqui para isso. Eu só quero meu sanduíche e uma boa cerveja." Ao lado de Yolanda, Grace riu, empurrando o ombro da amiga.

Eram um trio inseparável, pelo que Gideon conseguia perceber pelos vídeos.  Faziam tudo juntos. 

"Landa tentando dirigir a moto do Ge, tentativa número quatro." Falou Grace, gravando a mãe de Gideon quase bater a moto, enquanto o amigo gritava para que ela não amassasse nada. 

Era uma cena cômica,  todos se divertindo,  se machucando algumas vezes, mas sendo felizes. Um tipo de felicidade que Gi nunca havia visto na mãe. 

No vídeo seguinte, eles já estavam em um parque, andando com uma quarta figura. Segurando a mão de Yolanda, lá estava Bud. Muito mais jovem, porém com a mesma expressão de sempre, largado, como se tivesse acabado de beber. 

Os quatro corriam pela grama, molhados por jatos D'água que não paravam de jorrar. Gerard levantou Grace, girando-a no ar, enquanto Bud tentou fazer o mesmo com Yolanda, que pediu para ele parar, o que ele não fez.

-Não,  pai... -Gideon deixou escapar, ainda se referindo ao monstro que tanto odiava como pai.

Nos vídeos seguintes, Bud estava sempre tocando a namorada, com uma mão em sua coxa ou abraçados. Muitas vezes ela parecia desconfortável, olhando para os lados ou para a amiga, que parecia não entender.

-Por favor não... Não pai. -O menino continuava a repetir para si mesmo, deixando algumas lágrimas caírem. 

Muitos vídeos depois, Gerard estava segurando a câmera, andando pelo corredor escuro da casa onde Gideon crescera. Pelas paredes de madeira, murmuros podiam ser ouvidos, ecoando pela casa.

"Abandona esse cara." "Eu não posso." "Mas ele..."

"Eu disse que não posso!" Gritou Yolanda, quando o amigo abriu a porta. "Sai daqui!"

Limpando as lágrimas na camisa, Gideon continuava a murmurar para si mesmo, se recusando a acreditar. 

Ao olhar para o lado, ele percebeu uma garrafa de wiskey, provavelmente velho, justamente o que ele precisava. Praticamente virou-o intera guela abaixo, tentando forçar seu corpo a esquecer o que havia descoberto.
O líquido queimava por sua garganta, mas era uma dor necessária. Suas suspeitas de que o pai era um monstro estavam confirmadas. Ele havia estuprado Pacífica,  e muito provavelmente a própria esposa também, pensou Gideon. Talvez ele próprio fosse fruto dessa barbaridade. Ao se deparar com esse pensamento, Gideon gritou o mais alto que conseguiu, deixando muitas outras lágrimas escorrerem.

Assistiu os vídeos novamente uma, duas, até três vezes, tentando ter certeza de que não estava imaginando coisas, mas era exatamente o que ele pensava. Antes de Bud, Yolanda era divertida, feliz e calorosa, mas a partir do momento em que o conheceu, se tornou isolada, à ponto de parar de aparecer mas gravações depois de certo ponto.

Com raiva de si mesmo e ignorando os vídeos da triste e grávida de trigêmeos Grace, Gideon atirou a garrafa na parede, onde viu, por pelo menos um segundo, as pedras balançarem. 

Talvez fosse a bebida, pensou, andando torto até o ponto em que o vidro havia colidido, e puxando as pedras uma por uma, revelando um imenso arsenal de armas, pistolas, espingardas, munição por toda a parte. O suficiente para abater metade de Berkley. Tomado pela embriaguez, o garoto segurou uma pistola, sentindo seu peso  e colocando algumas balas, estranhando a nova sensação de poder. Cambaleando pelo corredor, ele se dirigiu à mansão, com um plano borrado pela embriaguez, e uma arma na mão.

"Nós estamos amaldiçoados .
Pela fortuna e pela fama, caímos.
E se você puder ficar, então lhe mostrarei o caminho
Para retornar de suas cinzas. "

No quarto que dividia com o irmão no último andar, Mabel relia algumas cartas que havia separado do escritório de Ford mais cedo, procurando por dicas de onde estaria o último diário. Passava seus olhos pelas folhas, amassando algumas e até mesmo as arremessando da sacada.

-Eu sabia que você estaria aqui. -Disse Dipper, entrando no quarto.

-Estou ocupada. Não vai voltar para sua garota não? -Mabel se xingou apenas um minuto depois. Havia se entregado. Mesmo sem olhar para o irmão, sabia que ele carregava um sorriso por aquele momento de fraqueza 

-Então estava espiando? -Ele andou até a cadeira de Mabel, botando as mãos em seus ombros e os apertando levemente, enquanto ela evitava virar o rosto. -Por quê me libertou se nem ao menos irá olhar para mim? Não me parece uma escolha sabia. Ainda mais vinda de alguém como minha irmãzinha.

-Cale a boca. -Mabel segurou a mão de Dipper, finalmente o encarando, tentando esconder o seu horror. -O que eu fiz com você? 

-Nada que não possamos dar um jeito, se você parar de me ignorar junto de seu demônio particular e decidir fazer algo de útil.
Ela bufou, se levantando e guardando os papéis em uma caixa, se afastando mais uma vez do irmão. 

-Não é tão simples. O que você quer que eu faça? Eu não tenho nada! Esses papéis não dão em nada, os diários mal tem informações, você está assim e se ainda não percebeu, eu matei todos os serviçais dessa casa, já que não temos mais dinheiro. 

-Paciência, minha querida irmã, logo acharemos o último diário e poderemos fugir daqui. -Os dois se olharam, um tanto receosos sobre o que havia restado de sua relação. -Bem, se não tem nada para fazer além de reclamar, eu tenho uma idéia muito mais divertida em mente. 

Abriu um sorriso malicioso, que só arrancou uma virada de olho de sua irmã,  que tentou sair, mas foi prensada contra a parede.

Se ela realmente quisesse, poderia facilmente te-lo empurrado, ou acertado-lhe um tapa, mas simplesmente se deixou ser empurrada pelo antigo amante, que levou uma mão até seu pescoço, o apertando com firmeza. 

-Não sente falta do nosso atrito? -Disse, descendo sua mão pelo corpo de sua bela irmã e levantando sua saia. -De nada? Será que Will a cegou enquanto eu estive fora?

-Ou talvez eu tenha ganhado juízo. -Ela iria continuar, mas se calou quando sentiu a mão de seu irmão por debaixo da calcinha e seus dentes um tanto afiados mordendo-lhe o pescoço. 

-E talvez eu deva refrescar sua memória. -Mordeu outra vez, com mais força, logo subindo novamente, para fazer o que tanto havia esperado e beijar sua irmã, voltando a provar da droga da qual estava em abstinência.

"Nós todos iremos continuar
Quando nossos irmãos em exércitos partirem.
Então erga seu copo alto,
Pois amanhã morreremos,
E voltaremos de nossas cinzas."


No primeiro andar, Willbourne preparava uma sopa para Pacífica, ignorando tudo dentro de si que o fazia querer machucar Dipper. Em todos os seus anos de vida, nunca havia sentido tanto ciúme. E o pior era que sabia que dessem a opção para Mabel, ela o jogaria para escanteio, voltando aos braços do irmão,  como estava fazendo naquele exato momento e na uma hora anterior. 

Sentia tanto ódio de si mesmo. Deveria estar fazendo algo por ela, ou ajudando Pacífica, mas ao invés disso estava queimando sopa e quebrando mais um copo, o quinto no dia. 

Quando ia se virar para levar o que havia conseguido preparar, se deparou com Gideon, segurando uma arma e cheirando e cambaleando enquanto dizia coisas à si mesmo.

-Ele a estuprou sabia? O filho da puta estuprou minha mãe, minha irmã, ele fodeu com a vida de todos!-Sua voz era arrastada e lenta, engasgando nas palavras.

-O que houve? Me dê a arma, Gi. -Willbourne largou a sopa, se aproximando lentamente do garoto. 

-Eu sou um merda, Will. Como eu não percebi? -Chorando, ele levantou a arma, se esquecendo completamente do por que de ter ido até a casa. -Eu não consigo proteger a Paci, fui enganado pela Mabel, e ainda por cima não percebi nada do que acontecia na minha casa. Ninguém precisa de mim. -Apontou a arma para sua garganta.

Will se encontrou em um momento difícil,  não poderia entrar na mente dele, já que caso Gideon morresse com ele lá, ele mesmo morreria, mas também não conseguia arrancar a arma rapidamente. Como um instinto, pulou no garoto, empurrando a arma enquanto o som da bala preenchia o local.

Assim que caiu no chão,  correu para o corpo ao seu lado, precionando a ferida no canto do maxilar, para evitar que o sangue jorrasse mais. Desesperado, ele murmurou algumas palavras para si, ignorando a luz azulada que ele mesmo fazia sair da ferida.

-Inacreditável. -Disse Mabel,  entrando no quarto correndo,  vestindo somente um roupão transparente um tanto escuro, com um M bordando em cima do seio esquerdo. -Você mentiu.

Temendo por sua vida, Will se afastou de Gideon, cuja ferida já estava curada, se levantando rapidamente e ficando na frente da antiga mestra.

-Você disse que só curava feridas superficiais! 

-E eu curo, mas... 

Recebeu um tapa na face, o mais forte que conseguia se lembrar. Provavelmente teria caído se não fosse mais resistente. 

-Não tente mentir. Quando eu me machucava não curava, mas agora que ele se atira você se torna capaz de curar qualquer coisa?

-Não é isso, eu só precisei salvar ele. Você não entenderia. -Ele disse, quase envergonhado. 

-Mas é claro que não entendo. Agora você joga para o outro lado e está apaixonado por ele, por acaso? 

-Não! Eu só... É complicado. 

-Bem, Dipper está exausto e debilitado, não vai descer tão cedo; Pacífica deve estar tendo mais alguma crise e o garotão ao seu lado me parece bem desacordado. -Mabel se sentou em uma cadeira, encarando Will. -Acho que tem tempo suficiente para me explicar.

"Bem, mãe, o que a guerra fez com minhas pernas e minha língua.
Você deveria ter criado uma garotinha,
Eu deveria ter sido um filho melhor."

Pacífica acordou com o som do tiro, pulando da cama. Tudo ainda doía. A conversa com Dipper depois da visão havia sido ótima, por incrível que pareça. Ela ainda sentia rancor dele, não só por ter a enganado,  mas por ter brincado com seus sentimentos como se não fosse nada. Porém ele entendia sua dor. Entendia as vozes que estavam em sua cabeça a todo momento. Até mesmo ajudou com os ferimentos, enfaixando sua barriga cortada. Era um conforto inesperado.

Relutante, ela levantou da cama, se arrastando pelos corredores, quase uivando de dor. Chegando na cozinha, viu Willbourne e Mabel conversando, com um corpo caído atrás 

-Entende agora?

-Você se meteu em uma enrascada, Will, estou pagando para ver como irá sair dessa. 

Os olhos dos dois se viraram para a garota quando ela se apoiou em uma estante, derrubando alguns pratos. 

-Eu vou levar a bela adormecida para cima, ele precisa descansar. -Mabel disse, ignorando-a e levando Gideon para fora.

-Espera, aquele era o Gi? O que houve? O que vocês estavam falando e que tiro foi aquele?

-Nada para se preocupar, Pací.-Disse Will,  de forma rápida. -Nós só estávamos conversando sobre algumas coisas. E aquele barulho não era nada para se importar com. -Ele botou o cabelo manchado da amiga atrás da orelha.

-Vocês estavam falando da sua mãe, na foi?- Ela disse, ainda desconfortável pela dor. -Você está suando, só sua quando pensa ou fala nela.

Ele pegou o prato de sopa, botando o na mesa e puxando uma cadeira para Pacífica se sentar. 

-Eu te fiz sopa. Pensei que iria ajudar.

-Não quero sopa, quero uma resposta. -Pacífica continuou de pé, levando sua mão até a de Will. -Pode me contar, sabe que sou confiável. 

-Este não é o caso. -Puxou sua mão da dela, andando até perto da pia e pegando a arma.

-Por quê você nunca fala nela à fundo? Eu quero saber sobre ela, quero te entender. Não pode fingir se importar com a minha amizade por um segundo e me explicar algo?

O demônio guardou a pistola em uma gaveta fugindo da pergunta. E virando o rosto.

-Uau, muito esclarecedor. Então vai me ignorar assim? -Pacífica se levantou, indo até ele.

-Pode por favor não perguntar sobre isso?

-Por quê você não confia em mim? Eu quero te entender, ser sua amiga, mas você continua me afastando! Qual o problema em falar da sua mãe? 

-Você ainda está alterada por causa da profecia, vá comer, vai te fazer bem. -Ele tentou levar Pacífica para a mesa, mas ela se recusou, bufando.

-Não. Você pode falar assim com a Mabel talvez, mas não comigo. Eu não sou uma bonequinha para você cuidar e depois fugir sem dizer nada. Eu quero respostas! 

-Não tem nada que eu possa dizer! - Willbourne disse, se virando para sair.

-Então é isso? Prefere perder todos que tem só por não ter coragem de falar do passado? Eu achava que você era mais maduro que isso.

O demônio perdeu a paciência, empurrando a garota contra a parede, sem muita força e sem se aproximar demais, porém ainda segurando ela pela gola da camisola.

-Eu não falo dela por que eu realmente não posso. Você uma das pessoas mais próximas de mim e deveria entender isso. -Soltou-a, que continuou bufando em raiva. - Tem que aceitar que eu...

Antes de terminar de falar, Will recebeu um tapa.

-Não se atreva a me empurrar, Willbourne Cipher! Essa história de "não posso dizer" pode funcionar com os outros mas não comigo.

-Não vê? E por isso que eu não posso falar nada! Como você espera que eu fale da minha mãe se eu estou vendo ela neste exato momento?!

Ela parou, um tanto surpresa.

-Eu posso ser um pouco chata, mas nunca fui comparada à uma mãe. 

-Eu quis dizer ao pé da letra! Como acha que eu devo falar para você do seu próprio e miserável futuro?! -Percebendo o que acabara de falar, ele arregalou os olhos junto dela, dando alguns passos para trás. -Merda. 

Quando ela finalmente entendeu o que ele queria dizer, era muito tarde, Willbourne já havia desaparecido e a deixado sozinha na cozinha, repleta de dúvidas sobre o que acabara de escutar.

As vozes de crianças vieram mais alto, gritando em sua cabeça, mas agora ela as reconhecia, como se houvessem ligada algo dentro da garota. Conseguia distinguir em sua cabeça a voz de cada um dos garotos, enquanto eles murmuravam coisas sobre família, sabia dizer quem ali era Will e quem era Bill, seus dois filhos que ainda nem havia tido.

"Ela disse "Você não é meu filho.
Pelo que você fez eles irão encontrar,
Um lugar para você, 
E só tenha cuidado com seus modos,
Quando for.
E quando for não volte para mim, meu amor' "


Notas Finais


Fiquei satisfeita com o cap? Não.
Fiquei satisfeita com a revelação? Não.
Mas é o que tem para hoje.
Entenderam pq q Willcífica não é ship? Eu avisei.
Espero que tenham gostado 💙

•Qual o seu personagem favorito daqui?•


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