Estou tão cansado. Cansei de tentar. Cansei das paredes. Das mentiras. Do medo. Das mortes. Estou tão cansado.
Ele diz que quer ser eu, mas não consigo compreender o motivo. Por que ser idêntico a um ser tão violento, instável, desfigurado? Com tantas cicatrizes, marcas e mágoas? Um corpo impuro e uma mente ainda mais. Se eu pudesse, seria o meu oposto. Quem sabe assim, não sairia desse buraco. Quem sabe assim, ainda teria um pouco do que perdi.
Contudo, estava diante de um homem que anseia ser igual a mim. A D¹ se derretia em minha língua e o cinza de Oz nunca me pareceu tão colorido. Os dedos de Torquemada tocaram minha pele, deixando-a dormente. Desceram pela minha pele, queimando-a. Não soube dizer se era pela droga ou por finalmente ter sido acariciado com tanto desejo.
Pendi minha cabeça para trás, entregando-me ao vazio, às drogas, a tudo pelo qual resisti nesses anos que estive em Oz. Mãos quentes abrangeram meu torso e, por um segundo, senti-me protegido. No entanto, sabia que era apenas uma ilusão.
Seus lábios tocaram os meus, de maneira suave, mas com anseio. Como se estivesse esperado a vida toda por aquilo, e me senti belo de novo. Estava desnorteado, mas de alguma forma, seu toque me davam um novo sentido a seguir. Totalmente destorcido e fragmentado, porém, melhor do que eu vivia até então.
Entreguei-me, libertando-me do medo. Não desejava mais ser dono de minhas ações, porque não conseguia mais suportar o peso da responsabilidade delas. Para que ser uma pessoa melhor se o mundo jamais irá me reconhecer? Se eu nunca vou mudar, então vou apenas abraçar o monstro que sou, engaiolado para sempre na teia de mortes em que eu me condenei.
A pior morte é a que sofri: a da alma. Espero que Torquemada tire um melhor proveito de mim, porque eu só estraguei minha vida.
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