História Mercy (Hiatus) - Blind

Selena On

Acordei recebendo um cafuné é e um beijo, suave e prologado, no canto da boca. Minha visão estava meio embaçada, mas logo normalizou, me deparando com Harry sentado no chão, com o cotovelo em cima do sofá. Balancei a cabeça franzindo o cenho, não entendendo porque ele estava ali, sorri de canto fitando-o, ele não parecia ter acordado agora, já que estava muito bonito, embora eu já ter convicção de que ele  era lindo de qualquer jeito, e eu odiava isso nele. 

Eu: Eu te empurrei do sofá? -Perguntei receosa com as chances de ser esse o motivo dele estar sentado no chão e ele riu.

Harry: Não. -Sua risada nasal me deixou anestesiada. -Eu só fui preparar o café.

Eu: Ah ta. -Falei rindo da minha paranoia me sentando no sofá reparando que eu estava sem roupa, puxei a coberta. 

Eu devia estar muito vermelha, já que sentia minhas bochechas queimarem, não queria nem olhar para a cara do Styles, pois tinha certeza que ele riria de mim. Eu nunca havia acordado sem roupas, isso era estranho para mim. Senti que a coberta estava escorregando e puxei com mais firmeza, não que tenha adiantado. 

Eu: Para! -Me exaltei olhando para Styles segurando o riso, se levantando do chão. -Você é um idiota. -Falei rindo junto com ele.

Harry: Desculpa. -Se aproximou colocando sua mão no meu queixo e me beijando. -Você é linda.

Neguei com a cabeça sorrindo e fui para o quarto vestir uma roupa. Coloquei uma calça larga e uma blusa antiga, me olhei no espelho analisando a roupa. 

Eu queria chorar ao ver meu reflexo. Porque eu não podia ser magra? Ter um peitão e um bundão? Não ter olheiras e nem espinhas? 

Passei a mão na barriga, tentando achar uma maneira que a roupa ficasse larga, como deveria ficar, mas não ficava. 

Me fitei com dó de mim. Eu podia vomitar o quanto quiser, nunca ficaria magra. Olhei para os meus pulsos que estavam cicatrizando. Todo mundo dizia que eu estava perdendo muito peso, mas eu nunca via a diferença no espelho.

Liguei para a Cece saindo de perto do espelho, não podia ficar mais perto dele. Comecei a força um sorriso e tentar pensar em coisas legais que podiam me acontecer, para não ouvir sermão de Joyce sobre como a vida é preciosa e não devemos jogar ela pelo lixo por qualquer "coisinha". O que ela não entendia era que o que era uma "coisinha" para mim era um tsunami de sentimentos.

Joyce: Oi sis! -Ouvi a voz suave da garota, totalmente animada. -Que bom que ligou, eu estava me roendo de curiosidades para saber como foi a primeira noite na casa do Harry Styles?

Eu queria contar tudo, não sabia como... Eu precisava contar para alguém.

Eu: Então, eu tenho uma coisa para te contar. -Falei enérgica.

Joyce: O que?! 

Eu achava interessante que dependendo do tom e da palavra eu conseguia imaginar Joyce se movimentando. 

Eu: Como é que eu posso te contar... Bem, nós estávamos assistindo a um filme e dai Harry começou a me beijar e... -Mordi meus lábios sorrindo.

Joyce: Espera! -Disse emocionada. -Está querendo me contar sua primeira vez? -Perguntou receosa, porem eu via um sorriso de orelha a orelha dela.

Eu: É, eu estou tentando. -Disse rindo de mim mesma, com as bochechas queimando como fogo.

Joyce: AI MEU DEUS! -Gritou eufórica. -ISSO É SÉRIO? Caramba, eu aqui preocupada se você ia se sentir bem dormindo na mesma casa que um garoto da sua idade... Eu sou tão bobinha.

Eu: Do jeito que você está falando parece que eu sou uma safada!

Joyce: Não amiga, você não é safada. -Falou rindo. -Estou muito feliz por você, não quero detalhes, só quero saber como você se sentiu.

Eu: Eu me senti bem com ele. -Falei contida. -Foi tão natural, tão...

Joyce: Espera! E os seus machucados?! -Perguntou preocupada.

Eu: Não se preocupe, ele não deu a devida atenção.

Joyce: Até porque os safadinhos estavam ocupados fazendo outra coisa, não é mesmo senhorita Gomez.

Eu: Eu estou apaixonada, muito apaixonada mesmo, eu não imaginava que poderia gostar de alguém desse jeito. -Falei me jogando na cama, fechando os olhos imaginando o lindo sorriso do garoto.

Joyce: Eu sabia que vocês iam ficar juntos, era questão de tempo para vocês saberem disto. -Falou orgulhosa de seu palpite. -Uh! -Se lembrou de algo. -Logan chegou, eu tenho que ir, me perdoa? Por não te escutar agora? 

Eu: Não, está tudo bem. -Realmente estava, pelo menos dessa vez, Joyce tinha uma mania chata de esquecer que estava fazendo algo e começar a fazer outra e isso se aplicava a tudo!  Eu podia estar péssima, ela me escutaria até alguém tirar sua atenção e ela se esquecer de que estava me aconselhando. -Onde vocês vão?

Joyce: Vamos fazer rapel, querem vir? 

Eu: Ah... Não, obrigado. -Falei depois de pensar um pouco.

Joyce: Você quem sabe. -Deixou a frase no ar. -Qualquer coisa ligue, beijão.

Eu: Ok, beijo.

Desliguei o celular, fitando o teto por alguns segundos, procurando forças dentro de mim para levantar e tentar comer algo, sem vomitar quinze minutos depois.

~~

Harry On

Quando eu decidi me mudar, na tentativa de ficar longe das ideias malucas do meu pai de eu assumir a empresa dele, entrar na escola publica em um bairro que aos olhos dele era perigoso, e por isso escolhi ele, eu não fazia ideia que conheceria ela. Selena é totalmente diferente de qualquer garota que eu já fiquei, dava vontade de ser um cara melhor, por ela. 

Eu arrumei a mesa para nós tomarmos café... Quem faz isso? Desde quando isso combina com Harry Styles? Exatamente! Não combina. 

Eu estou ferrado.

Vi Selena atravessar a porta da cozinha. Mesmo as roupas caberem umas três Selenas, ela estava linda, na verdade ela é linda. 

Eu não ferrado. Estou muito, muito mesmo, ferrado.

Eu: Preferia sem roupa. -Comentei a fazendo corar.

Selena: Você é um pervertido. -Falou em um tom brincalhão. 

Eu: Você desperta isso nos homens, até o seu amigo gay deve ter pensado um dia em te beijar.

A observei puxar a cadeira rindo, e logo depois se sentar na minha frente.

Selena: E quem disse que nunca nos beijamos? -Perguntou olhando nos meus olhos.

Eu parei de rir imediatamente. Como assim? Eu pensei que ele não se senti-se atraído por mulheres, eu estava tranquilo com o convívio deles até esse momento. Franzi o cenho.

Eu: Vocês já se beijaram?

Selena: Não. -Disse depois de longos segundos rindo no final da frase. -Sua cara de espanto foi hilária!

Eu: Não faz mais isso. -Pedi estático.

Selena: Gelou, né?

Eu: Claro que não, eu sabia que ele nunca beijaria uma mulher.

Selena: Tem garoto que finge que é gay para ver as meninas se trocando. -Deu os ombros enchendo a xícara de café.

Eu: Você já se trocou na frente dele?

Selena: O que você acha?

Eu: Que não, né? -Selena arcou a sobrancelha direita, soltando um sorriso mordaz. -Não faz essa cara que você me deixa na dúvida.

Selena: Você acha que eu tenho cara de quem faz essas coisas? -Perguntou calmamente. 

Ahhh... Entendi! Ela está me provocando! Sorri de canto bebendo um pouco de café com leite.

Eu: Com toda a certeza do mundo, você não faria isso. -Falei confiante.

Selena: Como pode dizer isso com tanta certeza?

Eu: Porque você não é igual as outras. Simples assim.

Selena sorriu sem jeito adoçando o café, ela pegou meio pão colocando uma fatia de peito de peru, me encarou de volta com os olhos sorrindo.

Selena: Talvez você esteja certo.

Eu: Talvez? -Questionei a informação.

Selena: Talvez. -Respondeu mordendo seu pão em um tom se superioridade.

Eu: Você é um monstro.

Por fora eu estava calmo, mas por dentro eu estava muito desesperado. Eu não gostei da ideia que outro garoto a beijasse, ou a visse se trocando. Tomei meu café, aflito com esse assunto. Se a intenção dela era essa, ela conseguiu. Vi o grupo do time de hóquei se manifestando no meu celular e dei uma lida por cima, sendo informado que teria treino hoje à tarde. Que merda.

Eu: Tenho treino hoje.

Selena: Sério? -Perguntou aborrecida.

Eu: Vem comigo? -A convidei vendo sua cara de desanimo.

Selena: O que eu vou ficar fazendo lá?

Eu: O que você vai ficar fazendo aqui?

Selena: Eu não sei. -Disse de uma maneira engraçada. -É que... -Arquei a sobrancelha esperando a continuação. -A verdade é que você se machucou feio na última vez, eu fiquei preocupada com você, você precisa mesmo ir?

Sorri ao perceber que ela estava preocupada comigo, não é por ela não gostar do esporte e sim por gostar de mim.

Eu: Eu tenho que ir, se não eu tenho que treinar sozinho.

Selena: Você pode treinar comigo. -Falou manhosa sorrindo.

Eu: Eu acho que você não sabe nem ficar de pé no gelo quem dirá...

Selena: Está duvidando da minha capacidade?

Eu: Não, na verdade eu estou afirmando.

Selena: Quer apostar? -Questionou com um sorriso de canto, estendendo a mão.

Eu: O que vai ser dessa vez? Prolongar as apostas anteriores, dinheiro...

Selena: Se você perder, vai ficar afastado do hóquei por um tempo...

Eu: O que? Não, Selena! -Falei rindo. -Isso é ridículo.

Selena: Então você não quer apostar? -Perguntou arcando a sobrancelhas.

Eu: Você gosta de esportes radicais?

Selena: Claro. -Ironizou. -Eu adoro esportes que são na natureza! Principalmente os que são em alturas elevadas... 

Eu: Tá, digamos que eu aceite... 

Selena: Não, você não vai mais aceitar, deixa pra lá.

Eu: Mas agora eu quero apostar.

Selena: Não tem como apostar sozinho.

Eu: Eu sabia que você não teria coragem. -Fiz uma leve pressão psicológica. -Hoquei no gelo é algo que envolve inteligencia e coordenação motora... -Eu fiquei com medo da Gomez, sua expressão de raiva me deixou meio desconcertado, mas ainda assim a provoquei. -E uma mulher nunca seria capaz de vencer uma partida.

Selena: Oh, cala boca! -Falou revirando os olhos. -Isso é tão... Tão... Argh! Você está me dando nojo.

Eu: Vai me dizer que uma pessoa tão sensível como uma mulher conseguiria jogar?

Selena: Claro que sim! 

A vi se levantar com raiva, sem terminar de comer e me encarar torto antes de sair pela porta. Respirei fundo, com medo da reação dela.

Eu: Então você aceitou a aposta? -Perguntei a vendo de costas.

Ela parou me encarando indiferente por um tempo. Senti minha alma sair do meu corpo, parecia que ela ia jogar a primeira coisa que visse na minha cara.

Selena: Aceitei. -Falou seca.

Eu pensei em ir atras dela e falar que não era realmente o que eu achava, que era só para provocá-la, mas fiquei come medo da sua reação. Sim, eu fiquei com medo dela me bater, me xingar e, sei lá, parar de falar comigo. Dei um tempo para ela se acalmar, rezando para ela entender minha brincadeira. Me levantei da cadeira, tomando coragem para falar com ela, sentindo minhas pernas tremerem. Eu sou um covarde, fala sério. 

Eu: Selena! -A chamei procurando pela casa. -Gomez? -Perguntei abrindo a porta do quarto vendo Selena se analisando no espelho, não parecia estar feliz com o que via. -O que houve? -Perguntei indo rapidamente até ela, ao perceber seus olhos cheios de lágrimas. 

Ela não falou nada, apenas me abraçou forte, se pendurando em meu pescoço. Eu não entendi, mas não julguei. Ela chorou um pouco afundando sua cabeça no meu ombro, eu nunca tinha participado de alguma cena igual a essa, minha irmã não era de chorar e eu também não me recordo da minha mãe chorando na minha frente. Eu acho que nem uma mulher gosta de chorar na frente de ninguém.

Selena: Porque eu sou assim? -Perguntou entre soluços.

Eu: Assim como, meu amor?

Selena: Feia, gorda, sei lá... -Me soltou sem se afastar de mim. 

Eu: Da onde tirou que é gorda? -Estranhei olhando para o seu corpo e tentando olhar nos seus olhos.

Selena: Não precisa mentir, eu não sou cega.

Vi ela se sentar na ponta da cama olhando para suas mãos, parecia um robô sem emoções. Me sentei ao seu lado pensando bem no que ia falar, para não ferir ela.

Eu: Selena, eu nunca mentiria para você. -Vi ela fungar, virando mecanicamente sua cabeça para o espelho que tinha no quarto, fiz o mesmo. 

Eu era um tapado! Como demorei tanto para perceber? Selena não via seu corpo do jeito que ele realmente era. Por isso estava ficando tão magra ultimamente... A foto de Selena com a mãe dela mostra que Selena era uma menina gordinha e talvez essa imagem tenha fixado na cabeça dela. Peguei sua mão, entrelaçando nossos dedos.

Selena: Quando minha mãe faleceu, eu fiquei sem chão, mesmo Wesley tendo boa parte da culpa, eu achei que ele se tornaria um pai melhor, já que ele era minha única família e eu a única filha dele... Eu fui tão idiota, porque ele iria mudar? Ainda mais mudar por mim? Quem faria isso por mim se nem meu pai fez?

Eu: Eu fiz. -Disse olhando nos seus olhos. -Eu percebi que nunca ficaria comigo se eu ficasse com varias, bebesse até cair. -Arranquei risos dela. -Você nunca se permitiria gostar de mim, se eu não mudasse. 

Selena: Isso não é verdade.

Eu: É sim. -Disse sorrindo. -Não precisa mentir, eu não sou cego. -A imitei. -Embora eu saiba que gostou de mim desde que me viu.

Selena: Que mentira. -Falou rindo.

Eu: Eu sei que é verdade.

Selena: Como pode ter tanta certeza?

Eu: Porque eu senti o mesmo e porque a Joyce me falou. -Selena riu, corando rapidamente, negando com a cabeça. -E quando ela me falava de você não fazia justiça com a sua beleza, assim como aquele espelho perto da porta.

Selena: Espelhos não mentem. 

Eu: Então me deixe ser seu espelho.

Selena: Você não conta, deve ser cego para querer algo comigo.

Eu: E você é cega por falar isso.