História Mercy - VIII

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— Eadlyn? — perguntou o príncipe australiano, Peter, e eu tentei parecer normal e não extremamente sem graça ou nervosa — Só queria dizer que eu fiquei muito triste quando soube que já estava comprometida, ainda tinha esperança de reproduzir o que aconteceu há anos atrás.

— Estou comprometida — eu disse baixo em seu ouvido — Não morta.

Peter sorriu de lado e caminhou até sua família que estava logo na frente.

Kile deu início a um jogo poderoso, mal sabe ele que eu era uma ótima jogadora também.

Mercy — Capítulo VIII — Baile

— Você está dizendo então que flertou com o Peter mesmo estando comprometida para se vingar do Kile? — perguntou Georgia com uma expressão surpresa — Sinto-me orgulhosa e decepcionada ao mesmo tempo.

— Decepcionada?

— Peter é muito bonito e tão gentil quanto, não quebre o coração do coitado somente pelo Kile ter feito o mesmo com você — disse Georgia e eu assenti talvez ela estivesse certa, eu não deveria fazer isso com ele, não seria justo.

— Mas nós não somos tão ingênuas a esse ponto — se pronunciou Phoebe — Sabemos que Peter é semelhante à Kile, sua reputação de “Pegador de criadas e princesas” é bem maior do que sua beleza e gentileza.

— Já ficou com ele não foi? — perguntei e ela arregalou os olhos e Georgia deu uma gargalhada muito alta.

— Não vou falar sobre isso — disse ela com o rosto vermelho, aparentemente minha suposição estava mais do que correta.

— Hora de se arrumar meninas — Yvla entrou no meu quarto acompanhada de três criadas, cada uma segurando um vestido, o que eu iria usar essa noite estava nas mãos de uma delas, pode parecer um tanto infantil, mas eu adorava me arrumar para bailes.

Uma das criadas me guiou até o banheiro, Georgia e Phoebe foram para os seus aposentos para tomarem banho e logo voltariam para se arrumarem junto comigo. Liberei Yvla para que se arrumasse para ir ao baile junto comigo, mesmo sem deixar explicito eu sabia que ela estava borbulhando de ansiedade por dentro, afinal, esse será seu primeiro baile, e se depender de mim, será o primeiro de muitos.

A água da banheira estava gelada, a pedido meu, a água gelada ajudava a clarear meus pensamentos. Minha cabeça não conseguia esquecer da cena de Kile abrindo a porta e sendo grosso comigo, eu não conseguia admitir isso para eu mesma, eu realmente queria que fosse apenas um mal entendido, mas não era. Se fosse, ele iria atrás mim pedindo desculpas pelo que tinha dito. É verídico, eu fui traída.

Não sei como as pessoas me veem, se Kile me via como uma inútil e que iria aceitar tranquilamente isso, ele estava completamente e terrivelmente errado. Era triste ter que usar Peter para isso, mas é necessário. Não apenas para Kile saber que eu também posso ter outros, mas para eu me sentir com a autoestima restaurada novamente, me sentir desejada por alguém.

“— Você está linda princesa — disse Peter e eu apenas dei um pequeno sorriso, minha mãe disse que hoje eu iria ser cortejada por príncipes que anseiam pela minha mão, entretanto não era para eu ceder, eu estava comprometida desde quando nasci.

— Obrigado príncipe Peter, você parece aceitável também — eu disse e ele sorriu. Que sorriso, eu poderia escrever um livro descrevendo como seu sorriso era hipnotizante.

— Quero que saiba de algo — ele disse se aproximando mais e eu dei dois passos para trás, estávamos sozinhos no jardim, mas qualquer um poderia aparecer — Eu não estou aqui pela sua mão, estou aqui por você.

— Tudo isso já pertence à outra pessoa — eu disse tentando parecer dura, mas por dentro eu estava completamente derretida por suas palavras. Tenho apenas 14 anos e nunca escutei isso de ninguém.

— Não seja dura Eadlyn — ele disse se aproximando ainda mais, a diferença é que dessa vez eu não recuei. Ele me beijou e eu corri para o mais longe possível dele. Se alguém tivesse visto eu estaria morta, literalmente. Voltei para o grande salão e sentei em uma mesa com Phoebe e Georgia, fingindo que nada tinha acontecido”

— As meninas já estão no quarto alteza — disse a criada com um roupão nas mãos, levantei-me e ela me cobriu. Entrei no quarto e vi Phoebe e Georgia já vestidas, com suas criadas as maquiando e penteando seus cabelos.

Astrid, a criada, fez com que eu sentasse em uma cadeira e começou o seu trabalho penteando o meu cabelo, o que não era uma tarefa fácil considerando o seu comprimento, dessa forma, outra criada apareceu para ajuda-la, enquanto Astrid penteava meu cabelo, a outra cuidava das minhas unhas.

Phoebe e Georgia estavam incrivelmente caladas, certamente estavam ansiosas para o baile, mesmo ele não sendo o primeiro e nem o ultimo que elas frequentariam. Ansiosa deve estar Yvla, supus esse sim era o seu primeiro baile como participante dele, e não como criada.

Hoje eu não queria usar minha coroa, enquanto as criadas davam os últimos ajustes no vestido, peguei minha caixa de tiaras e escolhi uma simples, entretanto optei por usar um par de brincos grandes, dados pela minha avó no meu aniversário de 16 anos. Astrid voltou com o vestido pronto e eu o vesti, ele estava incrivelmente lindo.

Era simples, um vestido azul inteiramente bordado à mão, porém a parte de cima era constituída pela união de fios prateados, dando ideia de metal. Para ficar totalmente pronta, a outra criada passou uma maquiagem básica em meu rosto, nada exagerado.

— Eu estou muito linda — disse Phoebe se olhando no espelho e eu me posicionei ao seu lado para me ver também. As criadas fizeram um ótimo trabalho.

— Linda é muito pouco para me definir — disse Georgia se juntando a nós, e ela realmente estava muito mais que linda.

— Vocês precisam ir logo — disse Astrid — Já está na hora. — Phoebe e Georgia me abraçaram e saíram do quarto, como noiva de Kile eu deveria entrar junto com ele e sua família no baile, o que poderia demorar um pouco.

Para distrair, comecei a me arrumar ainda mais, dessa vez sozinha. Peguei uns anéis na minha caixa de joias e escolhi outro sapato, visto que o atual estava incomodando meus pés.

Minha ansiedade parecia estar me matando, cada segundo parecia durar uma eternidade. Justo quando eu estava prestes a ir atrás de alguém para me fazer companhia, a porta fora aberta por um guarda. Finalmente.

Ele me escoltou até o fim da escada, onde a família real já estava. Josie estava linda, e muito nervosa. A rainha e o rei tentavam acalmá-la, mas parecia não estar fazendo efeito algum. Erik estava encostado na parede tentando não rir da situação, e Kile não estava lá, tentei ignorar a curiosidade de saber onde ele estava, sorri e caminhei até Erik que acenou para mim.

— Com todo respeito, vossa alteza está deslumbrante hoje — disse ele fazendo uma reverencia.

— Posso dizer o mesmo de você vossa alteza — eu disse e fiz uma reverencia também, entrando na sua brincadeira.

— Eu vou tropeçar no vestido mãe, todo mundo vai rir de mim — disse em um tom alto, a rainha Marlee segurou sua mão e deu um beijo na sua testa, aparentemente ela ficou mais calma — Vamos logo antes que eu tenha outra crise.

— Onde está Kile? — perguntou o rei com certa raiva e em questão de segundos ele apareceu, ficando ao meu lado.

Não vou negar, quando ele chegou perto de mim eu tive que segurar a respiração para conter o meu nervosismo. Quando todos se posicionavam para entrar, ele olhou para mim e me deu o seu braço, continuei a olhar para frente, ignorando-o, entrelacei o meu braço ao seu de maneira grossa, para ele saber que eu descobri o que ele andava fazendo, ele entendeu o recado, parou de me encarar e olhou para frente.

Logo as portas foram abertas e entramos no salão com chuvas de aplausos dos que estavam presentes. Dei o melhor sorriso que pude, tinha certeza de que parecia falso, mas era o melhor que eu podia dar agora.

Todos da família Woodwork sentaram em seus respectivos tronos, mesmo não sendo os mesmos da Sala dos Tronos, esses eram similares. Por não ter algo concreto com eles, fiquei em pé ao lado direito de Kile.

— É com muita honra que hoje anuncio o noivado da minha única filha, Josie Woodwork, com um Schreave. Queria dizer primeiramente que é de imensa felicidade que eu entrego sua mão à Kaden Schreave. É um prazer unir novamente membros das nossas famílias. Um brinde, por favor — taças de champanhe foram servidas rapidamente e um brinde foi feito. Por isso que Josie estava tão nervosa, além de seu aniversário, hoje é sua festa de noivado. — A primeira dança do casal, por favor.

Era como se eu pudesse sentir o nervosismo de Kaden, ao caminhar para o centro de um imenso salão cheio das pessoas mais poderosas do mundo, ele me olhou e eu sorri para ele. Josie parecia mais nervosa do que nunca quando ele se ajoelhou perante a ela em seu trono e colocou em seu dedo um anel de diamantes. Ambos levantaram-se e caminharam até o meio do salão, uma música começou a tocar e logo começaram a dançar.

Olhar os dois dançando pela primeira vez após o anuncio do noivado me lembrou de quando era eu e Kile. Nós dois estávamos tensos, ele tentava quebrar a tensão entre a gente sorrindo para mim ou perguntando discretamente se eu estava bem. Naquela época eu não estava nada bem, um noivado era a ultima coisa que eu queria.

— Kile e Eadlyn, juntem-se aos seus irmãos — disse a rainha Marlee. Kile levantou-se e antes que segurasse minha mão eu a empurrei. Ele revirou os olhos e segurou meu braço, olhei para a rainha que olhava com o cenho franzido para a gente, provavelmente percebeu que eu recusei sua mão.

Caminhamos até o centro do salão e ficamos cara a cara. Kile segurou minha mão, e dessa vez não tinha como eu recusar, e com a outra mão segurou na minha cintura. Logo começamos a dançar e outros casais se juntaram. Eu olhava para todos os lados, menos para o rosto de Kile.

— Não sabia que você era rancorosa — disse Kile e eu o olhei e apertei seu ombro — Agora eu sei.

— Não sabia que você era um vagabundo também — eu disse e ele apertou minha cintura — Agora eu sei.

— Eu não devia ter falado com você daquela forma, desculpa — ele disse e eu dei um sorriso irônico enquanto pisava de proposito no seu pé.

— O pior é que você acha que o errado foi à maneira que falou comigo, não o que realmente fez, eu esperava mais de você Kile. Meu maior arrependimento é não ter rompido com você quando tive a oportunidade — eu disse sussurrando no seu ouvido para ninguém perceber que estávamos tendo uma leve discussão. Ter falado a ultima parte era como se eu tivesse tocado em uma ferida sua, ele desviou o olhar para os pés e eu larguei sua mão.

O mais discreto possível eu sai do salão, o deixando plantado no meio de todo mundo. Eu pelo menos esperava que ele viesse atrás de mim, mas nada. Eu tinha prometido para eu mesma que não iria chorar novamente por ele, quando percebi já estava com os olhos marejados. Antes das lagrimas caírem eu as limpei o mais rápido que pude.

— Princesa Eadlyn? — escutei no final do corredor e virei rapidamente para ver de onde vinha à voz — Eu estava justamente a sua procura.

— Oi Peter — eu disse caminhando ate onde ele estava. Era como se o destino tivesse colocado ele ali e falado “Ele presta e te quer, diferentemente do seu noivo”. — Quer dar uma volta no jardim?

— Seria uma honra — ele disse entrelaçando seu braço ao meu. — O que faz aqui sozinha? O baile acabou de começar.

— Eu estou cansada, passei o dia me arrumando para chegar na hora e estar indisposta, parece ate irônico — eu disse enquanto caminhávamos.

— Não minta para mim Eadlyn, eu vi você e Kile discutindo, foram minuciosos, mas foi perceptível a meu ver — disse se sentando no banco do jardim e fiz o mesmo.

— Foi nada demais — menti, e ele certamente percebeu.

— Com certeza não estamos aqui para falar dos nossos problemas — ele disse e se aproximou, e como anos atrás, eu não recuei — Kile Woodwork não sabe o que esta perdendo.

— O que ele está perdendo? — provoquei e Peter beijou minha testa.

— Isso — disse e beijou minha bochecha — Isso também — e por fim, nos beijamos. Foram longos minutos com pausas para respirar. Meu coração estava acelerado, eu estava com medo. Era de meu conhecimento que se eu fosse pega, estaria acusada de adultério, mas o sentimento de vingança por Kile ter feito o que fez foi maior do que a razão.

— Tenho que voltar para o baile — eu disse interrompendo o beijo e Peter assentiu, levantamos e ele limpou o batom, ou o resto dele, que ainda estava no meu rosto. Seria estranho se aparecêssemos juntos, então eu fui primeiro.

O pior de tudo era que eu não estava me sentindo melhor. Pensei que o peso no meu coração doesse menos quando eu fizesse a mesma coisa que ele, agora eu me sinto mal, coloquei Peter em uma situação complicada. Meu conforto era pensar que ele sabia muito bem o que estava fazendo e os riscos que estava correndo.

Ao entrar no salão tudo parecia estar na mesma forma do que quando sai há algumas horas atrás. Em uma mesa afastada estava minha família e a de Kile, teria que dar uma boa desculpa para o meu sumiço.

— Desculpa pelo sumiço estava cansada demais, resolvi passear pelo palácio — eu disse me sentando na única cadeira vaga, que era justamente uma ao lado de Kile.

— Tudo bem querida — disse minha mãe e olhei para a rainha Marlee que encarava Kile. Ela já tinha percebido algo de errado.

— Quero fazer um convite aos nossos casais — disse o meu pai — Estou convidando vocês três, Eadlyn, Josie e Kile para passarem uma semana com a gente em Illéa, com Ahren prestes a se casar, o palácio está quase vazio, as portas estarão sempre abertas.

— Pode ser essa semana? — perguntou Kile e meu pai assentiu. — Desculpa te abandonar assim meu velho, mas eu preciso de descanso com a minha noiva — disse para o seu pai e me abraçou de lado para que todo mundo pudesse ver. Sorri o mais verdadeiro que pude e tirei discretamente seu braço sobre o meu corpo.

— Quer namorar com a minha filha debaixo do meu teto? — perguntou meu pai e eu chutei o pé de Kile antes que ele respondesse qualquer besteira.

— A gente fez isso Maxon — disse minha mãe e todos na mesa riram.

Depois de longas horas com conversa jogada fora, o baile acabou. Não vi Phoebe e nem Georgia a noite inteira, certamente deveriam estar em algum corredor com algum príncipe. Assim como Yvla, que não vejo desde que a dispensei de tarde para que fosse se arrumar.

Erik, irmão de Kile, me acompanhou até a porta do meu quarto. Tirei o vestido sozinha com certa dificuldade e coloquei o meu pijama, deitei na cama e antes de desligar a luz do abajur, notei um papel debaixo da minha coberta.

“É feito trocar beijos com príncipes que não são seus por ai.”

Levantei da cama rapidamente e liguei a lareira do meu quarto e queimei aquele papel. Não, não, não, não, não.

Alguém tinha visto eu e Peter. Deu merda.