História Mermaid - Larry Stylinson - O pior já aconteceu

– O pôr-do-sol sempre foi a minha parte favorita do dia. – O homem ao meu lado comentou quando o silêncio se instalou e nós dois ficamos apenas um ao lado do outro, admirando a paisagem. 

– Eu também gosto, principalmente quando estou perto de algum recife. O sol bate nos peixinhos dourados e eles brilham embaixo d'água. É lindo. – Olhei para ele e abri um sorriso de covinhas, o que o fez sorrir e suspirar involuntariamente e então eu corei. 

Não é como se eu quisesse ter efeito sobre ele, era uma coisa intrínseca de minha natureza. Eu realmente fui criado para seduzir homens maus e os afogar para que as criaturas marinhas se mantivessem seguras. Era o pior em nós. 

E ver Louis ali, olhando para mim como se eu fosse a melhor coisa do universo fazia meu coração acelerar apenas para logo em seguida se apertar em agonia ao lembrar que é apenas meu charme natural. Não há nada além de uma imposição de minha própria natureza. 

Se eu pedisse que ele me acompanhasse até o fundo do mar, ele provavelmente o faria sem nem refletir sobre isso. Apenas porque eu o ordenei, porque minha voz e meu canto são irrenunciáveis. 

– O que houve? – Ele perguntou com uma ruga de preocupação na testa. – Você ficou quieto e pensativo...

– Eu tenho que ir. – Disse rápido e mergulhei na água.

– Não! – Ouvi sua voz na superfície. – Harry, por favor. Mais um pouco. Me deixe olhar para você mais um pouco. – Ele implorou e meu coração se apertou. 

– Eu sinto muito. – Emergi uma última vez, apenas para não deixá-lo sem respostas. Já era ruim o suficiente fazer com que ele me veja e pense nisso todos os dias daqui por diante, porque essa seria a vida dele agora, pensar em mim, escutar minha voz e ver meu rosto para sempre, até que a loucura o atinja e ele se jogue no mar para me encontrar. – Eu espero que um dia me perdoe. 

Mergulhei novamente e dessa vez sem nenhuma esperança de voltar a vê-lo, mas guardei em mim o som de sua voz chamando meu nome ao longe. Me mantive perto o suficiente para resgatá-lo caso ele decidisse me procurar, mas isso não aconteceu. 

E, embora eu devesse ficar feliz por isso, uma parte de mim queria que ele o fizesse. Assim, eu teria uma desculpa para tê-lo novamente em meus braços e poderia olhar em seus olhos mais uma vez. Olhos tão azuis e intensos quanto a parte mais profunda do oceano. Olhos que eu jamais esqueceria. 

Quando o pequeno bote que o levou até ali começou a flutuar sobre a água, eu o segui, assegurando que ele chegaria a salvo até a praia. Vi de longe Louis recolher o bote para dentro do barco e olhar em direção às rochas em que nos vimos no dia anterior. Ele suspirou derrotado quando não me viu ali e eu tentei não sorrir por isso.

Finalmente pude mergulhar novamente em direção à colônia, sentindo toda a frustração por não poder ter mais nem um pouco de tempo com Louis. 

Ele era único. Eu sabia disso. O observei por tempo suficiente para saber que ele era um humano diferente. Ele se importava com os tesouros que havia no fundo do oceano. Se importava com as criaturas marinhas. Se importava comigo. 

Eu o vi quando chegou à ilha, vi todo o seu esforço em me procurar e encontrar um lugar apropriado para nós dois. O vi dormir calmamente enquanto esperava e não desistir em nenhum momento. 

Não havia ambição em sua voz. Ele não queria me ver para me usar ou qualquer outra coisa. Ele queria me ver porque isso era importante para ele, porque eu era importante.

– Harry? – A voz de Niall soou a meu lado, mas eu ainda estava perdido em devaneios. – Onde você esteve o dia todo? Achei que ia me ajudar com aqueles pescadores no sul e... – Ele me olhou confuso. – Harry, você está me ouvindo? 

– Eu preciso te contar uma coisa. – Minha voz denunciava a gravidade de minha confissão e Niall percebeu rápido, já que sua expressão se intensificou. 

– Você foi vê-lo de novo, não é? – Eu o olhei culpado e ele negou levemente com a cabeça, olhou para os lados para ver se não estávamos sendo seguidos e logo depois me puxou pelo braço, nos tirando de perto de qualquer um.

Niall era meu melhor amigo e a única pessoa para quem eu havia contado sobre Louis. E, embora ele não tivesse sido favorável à minha decisão de conhecer um humano, ele não havia brigado ou sequer mencionado o fato de que poderia contar a qualquer outro. 

Ele também era um rebelde que amava quebrar regras e sua aparência já denunciava isso. A princípio, ele tinha tudo para ser calmo e angelical como todos em sua família. Tinha cabelos longos e loiros e olhos azuis celestiais, assim como sua calda, mas fez questão de deixar tudo isso para trás.

O garoto não tinha muito apreço por humanos em si, mas gostava de ir até a costa para aprender e suas últimas descobertas envolviam cabelos curtos e músicas barulhentas, o que fazia com que todos o olhassem como se ele tivesse comido filhotes de baleia azul. Eu gostava, achava que o novo visual havia combinado muito mais com ele, assim como gostava dele não ser tão certinho, isso significava que eu podia confiar.

– E então, me conta qual foi a coisa incrível que ele fez dessa vez? E espero que não tenha interferido de novo, porque salvá-lo daquela vez já foi muito e eu ainda acho que você deveria ter encontrado outra maneira. – Ele me disse quando já estávamos longe o suficiente.

– Foi muito pior. – Eu murmurei sem muita coragem para revelar meu erro. – Eu o encontrei. Conversei com ele. 

– Harry... – Era para soar como uma advertência, mas ele parecia tão chocado que não funcionou. Mesmo assim eu o olhei culpado. – Ele viu você? Todo o seu corpo? – Eu assenti, sentindo minhas bochechas queimarem. Niall passou a mão pelos cabelos, sem saber o que dizer.

– Ficamos juntos por horas. Ele me tocou. Tocou a minha calda. – Disse muito envergonhado. 

– Você deixou que ele tocasse a sua calda? Uau! – E então Niall começou a sorrir. – E como foi? Ele foi gentil?

– Niall! – Eu corei ainda mais – Você sabe que os humanos não fazem as coisas como nós. – Ele gargalhou. 

– Sim, é bem mais estranho, é como as baleias. – Ele fez uma careta. – Eles não são seres místicos e puros como nós. – Ele fez uma pose de superioridade e eu ri levemente

– Espera. – Eu o olhei confuso. – Como é que você sabe disso? – Ele revirou os olhos.

– Você vai até a costa para ver seu humano, eu vou para aprender coisas. – Disse como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. 

– Ele não é meu humano. – Minha voz saiu falha e eu senti minhas bochechas esquentarem. 

– Hazz... – Ele se aproximou ainda mais de mim e me olhou com pesar. – Sabe que não pode ter nada com esse humano, não é? Eu sei que você o acha diferente, mas nós fomos criados com o propósito de proteger tudo isso aqui deles mesmos. Tudo o que os humanos sabem fazer é destruir. 

– E tudo o que nós podemos fazer é enganá-los, seduzi-los e afogá-los, como se isso nos fizesse melhores do que eles. 

– Algumas vezes é necessário...

– Eu gosto dele. Ele foi gentil comigo, me olhou diferente. – Disse buscando todas as esperanças que eu tinha. 

– É claro que ele te olhou diferente, você é um tritão.  

– Tem razão... – Senti meus ombros caírem, mas nem me preocupei em parecer feliz. – Perto dele eu sou perigoso, ele não pode se apaixonar por mim, eu vou enlouquecê-lo, vou matá-lo e... – Perdi as palavras, incapaz de dizer ou pensar em algo ruim acontecendo a Louis.

– Sinto muito, Hazz, mas nenhuma história de amo entre uma sereia e um humano teve um final feliz. Isso sempre resulta em...

– Morte, eu sei. Para um ou para outro. Eu conheço bem as histórias. – Disse amargo.

– Hazz, não fica assim. – Ele acariciou meu ombro tentando me confortar. – Temos naturezas diferentes. – Eu me limitei a assentir e Niall me puxou para um abraço, o que me fez sorrir levemente. – Amanhã vamos nadar com os golfinhos para te animar. – Ele sorriu em minha direção. – O que acha? 

O sol iluminava a superfície cristalina da água quando eu e Niall chegamos perto da família de golfinhos que migrava. Essa era outra rebeldia que nos permitíamos: pulávamos junto deles, nos revelando na superfície e voltando a mergulhar com a rapidez que só nós poderíamos ter. Mas nem um ato tão libertador quanto esse me deixava animado. 

Pensava tanto em Louis que começava a pensar que talvez quem estivesse enlouquecendo por pensar tanto em um humano era eu. Me pegava dizendo o nome dele apenas pelo prazer de ouvir a sonoridade. Parecia tão bom quando dito pela minha voz, que eu não resistia, o repetia como um mantra.

Consegui me manter longe por um dia inteiro e realmente me senti orgulhoso por isso, mas no dia seguinte, quando percebi, já estava próximo à praia e foi inevitável não me sentir triste por não ver o barco ali. Menti para mim mesmo dizendo que estava apenas nadando sem rumo, mas sabia que eu estava o procurando.

Avistei o barco de longe e sorri involuntariamente quando o vi na proa, acompanhando duas humanas de idade mais avançada. Ele gesticulava e parecia explicar algo para as duas. Louis tinha um sorriso enorme no rosto, fazendo seus olhos sumirem em um milhão de ruguinhas e eu suspirei.

Não sei quanto tempo fiquei parado observando e estava tão absorto pela simples ação de olhá-lo que quando senti uma mão em meu ombro, soltei um grito involuntário e mergulhei, percebendo a grande besteira que tinha feito. Era Niall e ele gargalhava enquanto me acompanhava. 

– Assustado, Harry? – Ele debochou rindo.

– Seu grandessíssimo imbecil, ele pode ter me ouvido.

– Então é ótimo, porque assim você percebe que não pode ficar perto dele. – Ele me advertiu, parando de rir. 

– Eu não estava perto dele, estava só...

– Olhando para ele como se sua vida dependesse disso. – Ele completou. – Eu vi o que estava fazendo e se me permite dizer, você estava perto o suficiente e se aproximando cada vez mais. 

– Eu não estava nada! – Protestei. 

– Estava sim. Harry, não minta para nós dois. – Ele disse convencido. – Sabe que eu só quero o melhor para você e isso significa manter distância desse humano antes que algo pior aconteça.

E talvez esse fosse o grande problema, o pior já havia acontecido. Eu já estava apaixonado por Louis. Nada poderia ser pior do que isso.

Passei os próximos dias totalmente focado nas tarefas que me eram delegadas, fazendo inclusive uma viagem de dois dias para ajudar algumas baleias jubarte a atravessar um dos estreitos mais perigosos do Mediterrâneo. Mas nem preocupações como essa me faziam deixar de pensar em Louis. 

Então, depois de quatro dias sem vê-lo, eu decidi que ir até a praia apenas para ver se o barco estava parado ali, não faria mal a ninguém. Me escondi nas rochas e suspirei ao lembrar que ali havia sido nosso primeiro encontro.

Quando coloquei meus olhos sobre o barco, o vi sentado na popa do barco, com os pés na água. Ele olhava para o mar e parecia perdido. Em suas mãos havia algo diferente, que fazia fumaça e tinha um cheiro tão ruim que camuflava todo o cheiro delicioso que Louis tinha. Eu não sabia o que era, mas já odiava. 

Ele desviou o olhar do oceano e virou em direção ao local em que eu estava, me fazendo esconder rápido atrás de uma das rochas. Meu coração batia acelerado contra o peito e eu me virei devagar apenas para me certificar de que estava tudo bem, mas ele não estava mais ali. Minha respiração engatou em um ritmo diferente e eu comecei a procurar em todas as direções, tentando encontrá-lo. 

– Isso é muito nostálgico, Harry. – Dei um pulo assustado e virei pra encará-lo. – Ainda mais por você estar me olhando assustado assim. – Ele tinha um sorriso bonito no rosto, embora fosse levemente provocador e presunçoso. – Eu sabia que ia voltar para mim, afinal, eu nem tive tempo de lhe agradecer por salvar a minha vida.