1. Spirit Fanfics >
  2. Metamorfose >
  3. Máscaras e armaduras

História Metamorfose - Máscaras e armaduras


Escrita por: leticiamendiola

Capítulo 12 - Máscaras e armaduras


Nem tudo que nossos olhos veem condiz com a realidade, por vezes temos que usar máscaras e vestir armaduras, nós construímos muros e ficamos escondidos dentro de uma falsa realidade. Leticia Padilha é um bom exemplo disso, passou anos de sua vida escondida por baixo de roupas estranhas e penteados horríveis, escondia sua beleza e se escondia do mundo, era sua forma de se proteger da vida. Fernando igualmente se fantasiou para viver, escondia que era humano e como tal tinha sentimentos, ele fingia apenas ser um homem frio e conquistador, aquele que nunca na vida iria se apaixonar, pois a vida de solteiro era perfeita para ele. A verdade é que cada um tem seus motivos para se esconder, alguns uma hora percebem que seus motivos são tolos e deixam de lado a farsa, se transformam e encaram o mundo sem mascaras,  já outro não veem nunca uma saída e passam a vida inteira escondidos atrás de sua armadura. 

A única coisa unanime nisso tudo é que todo mundo se esconde por medo, por pura proteção. É preciso muita coragem para tirar a mascara e encarar o mundo e as pessoas de forma limpa, sendo simplesmente como você é.

 

LETICIA

 

“Agora que ferrou geral, né?" Eu ainda estava assimilando aquilo tudo e mal conseguia entender o que aquela menina que até pouco era um menino dizia "Aposto que vocês não vão me deixar ir embora sem bancar os policiais e fazer mil perguntas” Sim, ela estava certíssima, não deixaríamos mesmo ela escapar facilmente, não antes de entendermos tudo “Eu sabia que não devia ter me metido com vocês, vocês são aquelas pessoas que querem bancar os certinhos, né?" Sua voz era irônica demais para uma criança tão pequena "Me ferrei feio, vocês são certinhos e vão querer me levar direto para essa coisa de conselho tutelar” A menina estava desesperada e Fernando teve a sensibilidade de ligar o carro e ir direto para minha casa.  O caminho foi todo com ela reclamando e implorando que a deixássemos ir. Fernando e eu ficamos calados, apenas aguardando por respostas.

Aquela menina era esperta e sabia que não tinha como fugir da gente, sem contestar ela entrou na minha casa. Taik veio como de costume e pulou em mim, em seguida em Fernando e depois na menina que não o temeu, como qualquer criança ela amou o cachorro logo de imediato, por um momento ela se esqueceu da situação e brincou com Taik, ele tinha o dobro de seu tamanho, mas isso não a inibiu. Eu podia jurar que tinha a ouvido rir enquanto meu cão lambia suas mãos.

“Qual é o nome dele?” Ela perguntou.

“Taik” Respondi.

“Oi, Taik" Ela falou sorrindo, nem parecia a mesma desesperada de um minuto atrás e nem muito menos o menino de sempre "Você tem um bonito nome” Ela disse para o cão e ele se deitou aos pés dela enquanto ela fazia carinho na sua barriga.

“E o seu nome, qual é?  Porque imagino que Danilo não seja” Ela não desviou o olhar de Taik, fazendo carinho nele, ela respondeu sem olhar para mim ou para Fernando.

“Sophia”

“Sophia, você entende que a gente só quer te ajudar?” Perguntei calmamente.

“Eu não quero ajuda, eu queria mesmo era ir embora, mas sei que vocês não vão deixar” Ela ainda se mantinha com atenção voltada ao cão e ignorando olhar para mim ou para Fernando.

“Não vamos mesmo, você é uma criança, não pode ficar sozinha pelas ruas de noite e no meio da chuva”

“Eu quero um acordo” Sophia pela primeira vez olhou para mim e deixou Taik sozinho no chão, era incrível que embora fosse uma criança, ela já parecia bastante decidida em suas atitudes

“Que tipo de acordo?” Foi Fernando que perguntou.

“Eu conto o que vocês quiserem, mas em troca vocês não vão na policia e nem no conselho tutelar, eu já estive em abrigo e não quero voltar para la, se não aceitarem meu acordo, eu vou fugir novamente e vocês nunca mais irão saber de mim. Vão ficar para sempre com o peso na consciência” Sua maturidade era impar e ela sabia até mesmo fazer chantagem. Com certeza aquela menina guardava muitas histórias de vida, pois eu era a prova viva que ninguém amadurecia tanto assim sem ter sofrido muito, Sophia deve ter sofrido muito para ter ficado assim.

“Tudo bem, prometemos que não vamos na policia ou no conselho tutelar” Fernando disse e eu olhei para ele querendo lhe matar.

“A tia tem que prometer também” Sophia exigiu e sem qualquer outra escolha eu prometi.

Sentamos os três no sofá e Sophia iniciou sua história.

.

“Minha mãe morreu quando nasci, ela tinha apenas quatorze anos e não aguentou o parto, meu pai era um pouco mais velho, tinha dezoito anos e ficou responsável por cuidar de mim. Eu nunca conheci meus avôs por parte de mãe e nem por parte de pai, nunca conheci nenhum tio e nem ninguém, era apenas meu pai e eu. Meu pai me criou sozinho até eu ter uns três anos, mas então ele casou com uma mulher que nunca aceitou o fato dele ter uma filha e sempre me batia sem motivo ou gritava comigo, quando eu tinha seis anos meu pai saiu para o trabalho e não voltou mais. Eu sabia que tinha algo errado, ele nunca se atrasava, quando era cinco horas ele sempre chegava em casa e me trazia um pirulito. No dia seguinte ligaram da policia, meu pai tinha morrido em um assalto, falaram que ele era bandido e eu fui para um abrigo. A mulher dele disse que não ia cuidar de uma pivete como eu, o abrigo era horrível, eu lembro que lá era frio demais, as crianças tinham piolho e a gente só tomava banho de água gelada, a comida era uma gosma e eles diziam que como eu era grande não seria adotada, então eu fugi e comecei a viver nas ruas, mas eu não podia viver como menina, era perigoso, foi então que eu encontrei um boné no lixo e resolvi me disfarçar de menino. Danilo era o nome do meu pai e é isso, essa é minha história.” Sophia contava sua história como se narrasse uma novela, engoliu totalmente suas emoções – pobre menina.

Eu queria lhe abraçar, mas sabia que ela não seria receptível ao meu abraço, me limitei a segurar forte na mão de Fernando e ele fez o mesmo na minha.

“Agora que vocês já ouviram a minha história o que pretendem fazer? Porque eu não quero voltar para o abrigo, eu acho que a coisa certa a fazer é vocês abrirem a porta e me deixarem ir embora, a gente finge que nada aconteceu” Aquilo certamente era um blefe, pois uma menina tão esperta quanto ela sabia que não teríamos como fingir que nada daquilo aconteceu e deixa-la voltar para as ruas.

“Eu tenho uma sugestão melhor” Fernando tomou a iniciativa de falar “Você toma um banho quente e desce para jantar, você dorme hoje aqui e amanhã a gente vê como vamos resolver toda essa confusão”

“Tio, não tem como vocês resolverem nada, é melhor me deixarem ir logo, para que ficar adiando?”

“Ninguém vai sair daqui” Fernando disse firme e Sophia pareceu ter entendido e não questionou-o.

“Como faremos amanhã?” Ela perguntou.

“Eu não sei, vou ter a noite toda para pensar” Ele foi sincero com a criança.

.

.

Fernando foi comprar comida, já era vinte horas e ainda chovia, por precaução ele levou as chaves e trancou Sophia e eu em casa, pois assim mesmo que ela quisesse, não teria como fugir. Levei ela até o banheiro do meu quarto e deixei a porta entre aberta, pois não queria que ela tentasse qualquer loucura que fosse.

Fiquei sentada na minha cama pensando como a vida podia ser tão dura, ela ainda era uma menina de oito anos e tinha sofrido desde que nasceu, eu não sabia o que Fernando estava pensando em fazer e tão pouco eu sabia o que eu iria fazer perante aquela história. Como cumprir a promessa e não levar ela na policia? Como não acionar o conselho tutelar? Como deixar ela voltar para um abrigo? As dúvidas eram tantas que nem vi que passou quase uma hora e Fernando já estava de volta, Sophia continuava no banheiro e ocasionalmente ouvi ela rindo, provavelmente estava brincando com a água e sendo apenas uma criança, coisa que provavelmente há anos ela não podia ser, apenas uma criança que brinca sem se importar com nada.

“Ela ainda está no banho?” Fernando me perguntou.

“Sim, confesso que minha cabeça está tão cheia que nem vi a hora passar”

“Entregue essas roupas a ela” Fernando me entregou um saco cheio de roupas “Consegui pegar uma loja aberta e comprei algumas coisas”

Fui até o banheiro e falei com Sophia que era hora dela sair do banho e que tinha roupas limpas e novas em cima da bancada, ela saiu correndo, provavelmente curiosa com as novas roupas. Voltei para o quarto e dessa vez fechei a porta do banheiro por completo e a deixei ter sua privacidade.

Tanto Fernando quanto eu estávamos calados, tentado formular nossos pensamentos e planos, não tardou para a porta do banheiro ser aberta e ele e eu sorrimos da figura a nossa frente. Totalmente diferente daquela figura de menino suja que estávamos acostumados, agora ela tinha os longos cabelos soltos e molhados, seu cabelo era enorme, eu não tinha ideia de como ela conseguia os enrolar no boné. Como o tempo estava frio, Fernando lhe comprou um moletom, um moletom rosa, definitivamente ela era uma menina e ambos estávamos encantados com ela.

“É estranho me vesti de rosa e ter meus cabelos soltos” Ela falou e eu fui obrigada a ri.

“Pronta para o jantar?” Fernando perguntou a ela.

“Eu não sei, já almocei e não costumo comer tanto assim durante um dia, eu posso guardar meu jantar para comer de almoço amanhã?” Se meu coração pudesse ser quebrado, estaria em mil pedaços agora.

“Sophi” Tomei a liberdade de abreviar seu nome “Você pode jantar hoje sem se preocupar e amanhã eu te prometo que você irá almoçar também”

“Sabe, tia, uma horas vocês vão cansar de mim, dessa coisa de brincar de filhinha e irão querer me mandar embora, pode não ser hoje nem amanhã, mas até semana que vem vocês vão se encher e me mandar embora, então é melhor eu não me acostumar com essas coisas que vocês estão me oferecendo agora” Novamente ela demonstrava maturidade e muita dor, para uma criança ela não deveria se preocupar tanto com o amanhã e menos ainda com o semana que vem. O erro dela é que ela estava completamente equivocada, pois não sabíamos o que faríamos em relação a ela, porém jamais qualquer escolha seria coloca-la novamente nas ruas.

“Então é melhor você aproveitar ao máximo, comer bastante, para quando a gente se encher de você, você não está com fome” Falei tentando a convencer de comer e não lhe dá falsas expectativas.

 

Por sorte a casa tinha dois quartos e Sophia dormiu no quarto de hospedes, Fernando e eu esperamos para ter a certeza que ela tinha dormido antes de iniciarmos qualquer conversa, a chave de casa ficou embaixo do travesseiro dele e não havia forma nenhuma dela tentar uma fuga.

 

“Eu não sei o que pensar e nem o que fazer, estou perdida” Assumi para Fernando, ambos estávamos deitados em minha cama já de luz apagada.

“Não podemos colocar ela na rua e prometemos que não vamos na policia” Fernando falou e eu entendi de imediato sua ideia.

“Fernando, ela não é um cachorro, não podemos simplesmente ficar com ela”

“E o que vamos fazer então?” Ele perguntou levemente irritado.

“Ir no conselho tutelar”

“Mas nos prometemos”

“Fernando, não seja criança, temos que ir, não temos outra saída”

“Eu quero adotar Sophia” Ele disse e embora aquela ideia me tenha passado diversas vezes pela cabeça, ouvi ele falar em voz alta me fez tremer.

“Acha que temos condições? A gente está começando agora nossa história, ainda nem sequer somos namorados e surgir no meio disso tudo uma criança órfã de oito anos pode deixar tudo confuso” Tentei ser racional.

“Isso é egoísmo Leticia, você está pensando na gente, na nossa história, mas e Sophia como fica? Você teria mesmo coragem de entregá-la em um abrigo?” Eu fui obrigada a me calar, ele estava certo, eu estava sendo egoísta.

“Não teria” Respirei fundo “Estamos ferrados” Ele riu e eu o olhei sem entender “Por que esta rindo? Não vejo graça”

“Eu estou rindo de desespero” Ele disse e acabei rindo também.

Definidamente nos estávamos ferrados, ao quarto ao lado tinha uma menina de oito anos sem família que nenhum de nós dois teríamos coragem de entrega-la ao governo e tão pouco estávamos preparados para abrigar a menina. Por que mesmo eu não tinha comida em casa? Se a geladeira não estivesse vazia certamente não estaríamos nessa situação.

.

.

Acordei na manhã seguinte e minha casa estava calada demais, me levantei assustada, afinal eu deveria ter uma criança de oito anos em casa e um cão endiabrado, porque mesmo tanto silencio? Percebi que Fernando não estava comigo na cama e um alerta se fez presente. Levantei correndo e fui para o quarto de hospedes, vazio. Chamei por Taik e nenhum latido, desci as escadas e constatei o obvio, a casa estava vazia, o carro de Fernando ainda estava na garagem e tudo aquilo era estranho demais, por sorte não tive muito tempo para me desesperar e ouvi barulho de chave na porta. Fernando abriu a porta e Taik passou voando e subiu em cima de mim cobrando carinho e latindo, Sophia explodiu em risos e a casa em um segundo se tornou barulhenta, agora sim as coisas pareciam normais.

“Onde vocês foram?”

“No mercado, você não tem nada para comer nessa casa”

.

O domingo se passou tranquilo, nenhum de nós ousamos comenar algo sobre o destino de Sophia e ela parecia está aproveitando o tempo com a gente até a hora de nos enchermos dela e a colocar para fora, segundo suas palavras no dia anterior. Já era noite quando resolvemos assisti a um desenho, para nossa surpresa Sophia nunca tinha visto um desenho inteiro na vida e estava extremamente animada, porém acabou dormindo no sofá na metade de Cinderela.

“Como faremos amanhã?” Perguntei para Fernando na cozinha enquanto eu espiava Sophia dormir tranquilamente na sala “Amanhã já é segunda e temos que trabalhar, mas não podemos deixar ela sozinha aqui, ela simplesmente fugiria”

Alguns minutos de conversa e decidimos que amanhã eu não iria trabalhar, faríamos da segunda-feira mais um dia para podermos pensar melhor, Fernando foi até seu apartamento e pegou suas coisas para ir para o trabalho no dia seguinte, ele dormiria novamente na minha casa, era nossa melhor opção, porém tão pouco era algo definitivo, afinal, como seria na terça-feira?

 

Acabou terça-feira chegando e continuamos sem coragem para tomar uma decisão, terça-feira foi o contrário da segunda, pois ele ficou em casa e eu é quem fui trabalhar, assim como na quarta-feira e novamente invertemos na quinta-feira, pois eu fiquei em casa e ele quem foi trabalhar. Aquela situação era irreal, não poderíamos sustentar essa rotina e nem tão pouco manter uma criança em casa fora do sistema, poderíamos acabar respondendo um processo e ai sim, definitivamente, Sophia seria levada para um abrigo e nunca mais iriamos vê-la.

Estávamos Sophia e eu em casa, ela estava brincando com sua nova boneca, contando com aquela ela já tinha seis bonecas, todas presentes de Fernando que estava enchendo a menina de brinquedos. Eu sabia que dentro de toda aquela loucura eu só poderia contar com uma pessoa e foi para ela que liguei, para minha mãe,  pedi que ela viesse almoçar em casa comigo, pois eu tinha algo muito importante para lhe contar e precisava de sua ajuda.

Preocupada minha mãe chegou em menos de uma hora e foi totalmente surpreendida por Sophi brincando de boneca no sofá da sala enquanto assistia Disney na televisão, pela primeira vez na vida ela estava tendo a oportunidade de ser criança de verdade e eu faria de tudo para que ela continuasse assim.

Eu já tinha avisado para Sophia que minha mãe estava vindo nos visitar e ela para minha surpresa não se desesperou pela mudança de rotina, até mesmo disse um “Legal”

“Você é a mãe da Lety?” Sophia perguntou curiosa.

“Sim e você quem é?” Minha mãe perguntou ainda sem ciência de toda a confusão.

“Longa história, vó. Melhor a tia te contar” Fiquei paralisada olhando para minha mãe, ela tinha chamado minha mãe de Vó? Minha mãe parecia tão assustada quanto eu “Eu sei que vocês vão falar de mim, então eu vou brincar no meu quarto” Sophia já estava quase que a uma semana com a gente e pareceu ter se adaptado com facilidade a nossa estrutura, já dominava cada coisa naquela casa, sabia mexer em cada eletrônico, brincava com Taik no quintal e tomou o quarto de hospedes para seu. Ela estava tão adaptada a tudo que tinha tornado mais difícil qualquer tipo de decisão que Fernando e eu poderíamos cogitar a tomar, ela já estava basicamente a uma semana com a gente e não tínhamos a mínima coragem de ir a qualquer autoridade levar ela a conhecimento.

“Lety, quem é essa criança?” Minha mãe perguntou mais assustada que curiosa, contei para ela toda a história e ela tinha mil duvidas. Minha mãe nem sequer sabia que eu estava com Fernando e tão pouco estava assimilando o fato de termos uma menina órfã em casa.

“O que vocês vão fazer?” Minha mãe era minha mãe, ou seja, me conhecia bem e provavelmente já sabia a resposta.

“Adotar” Falei decidida, Fernando e eu já tínhamos tomado essa decisão, iriamos adotar Sophia e estávamos dispostos a enfrentar qualquer coisa para ficar com sua guarda.

“Minha filha, é um gesto bonito, mas será que vocês vão conseguir lidar com isso? Quer dizer, a menina já é grande, é diferente ter um bebê e ter uma criança maior”

“Mamãe, a gente não sabe se irá consegui lidar com isso, pode ser que não, porém a gente tem a certeza que não vamos consegui lidar com o fato dela ir para um abrigo ou voltar para as ruas”

Minha mãe me abraçou, eu precisava daquela abraço de mãe e eu sabia que poderia contar com ela. Depois de quase uma hora de conversa subimos para falar com Sophia, que agora desenhava em um caderno em branco.

“Sophi, minha mãe quer te conhecer” Sem timidez ela deixou seu desenho de lado e se colocou receptiva a conversa com minha mãe, sorri ao ver as duas interagindo, Sophi chamava minha mãe naturalmente de vó e eu estava começando a achar que minha mãe estava adorando isso.

Minha mãe passou o dia junto de nós duas e no final estava disposta a me ajudar, Fernando chegou e eu já tinha lhe avisado previamente que minha mãe estaria ali.

“Dona Julieta, como está?” Fernando estava tímido.

“Seu Fernando, é bom rever o senhor” Minha mãe também estava tímida. Senti vontade de ri daqueles dois, o mundo caindo sobre nossas cabeças e eles timidos por nada.

“Me chame apenas de Fernando, não é convencional chamar seu genro com tanta formalidade” Genro? Oi? De onde Fernando tinha tirado aquilo? Que eu saiba nossa relação ainda era inominada e não tínhamos nada tão formal a ponto de minha mãe ser sua sogra e ele seu genro. Optei por questionar aquilo mais tarde.

Minha mãe rapidamente se despediu e foi para casa de táxi, Sophia estava assistindo a um filme e desenhando na mesa de centro da sala.  No dia seguinte ambos iriamos para o trabalho e falaríamos de tarde com um advogado para ver como iriamos conseguir a guarda de Sophia, minha mãe tinha se disposto a ficar com Sophia durante todo o dia, pois não tinha mais como Fernando e eu seguir uma rotina onde apenas um ia para a empresa e o outro ficava de olho na criança.

.

.

Fernando foi primeiro para a Conceitos e eu tive que esperar minha mãe chegar para eu pode sair, meu pai estava desconfiado do porque ela teria que passar o dia todo em minha casa, porém para me ajudar, ela mentiu para papai e inventou que ficaria esperando um técnico para consertar a televisão. A desculpa tinha sido o suficiente no momento.

Cheguei na Conceitos por volta das dez da manhã e cumprimentei Anabella, a nova recepcionista, passei rápido por ela e fui direto para o andar da presidência, não queria nem imaginar o tanto de coisa que tinha sido acumulada, provavelmente eu teria de levar trabalho para casa no fim de semana.

“Amiga, que bom que você veio hoje” Paula Maria falou entusiasma, entusiasmada até demais, logo desconfiei.

“Eu não me senti muito bem essa semana e tive que ficar alguns dias em casa” Menti.

“Sei bem” Ela tinha a voz irônica e olhei para ela desconfiada “Seu Fernando andou passando mal também, pode falar amiga, confia em mim, vocês brigaram não foi isso? Eu senti um clima entre vocês semana passada e essa semana quando um vinha o outro não vinha, aposto como brigaram” O que responder a Paula Maria e sua fértil imaginação?

“Mas você diz cada coisa, claro que não, primeiro não tem clima nenhum e segundo muito menos tem briga, eu faltei porque passei mal, já Fernando ... bom, ele você tem que perguntar a ele o porquê ele andou faltando” Falei tentando não soar rude.

“Tudo bem amiga, vou fingi que acredito, mas o segredo de vocês está salvo, não se preocupe” Ela piscou para mim e eu quase fiz uma careta, me limitei apenas a dá um sorriso falso e ir para a presidência.

Durante aquele dia liguei inúmeras vezes para minha mãe, eu queria me certificar que tudo estava bem, que Sophi não tinha fugido, que minha mãe estava dando conta e que principalmente as duas estavam se entendendo, Fernando sempre ouvia atento a minha conversa e no final da tarde, saímos juntos da empresa e fomos até uma cafeteria para conversamos com um advogado. Ambos estávamos ansiosos e esperando que o processo de adoção fosse simples e que Sophia não precisasse ir para um abrigo.

.

“Vocês me parecem um casal tão jovem, quantos anos a senhora tem?” O doutor Medina me perguntou.

“Vinte e sete”

“A senhora se dá conta que após adotar essa menina será como se a senhora tivesse tido uma filha com dezenove anos? Eu só quero mostrar para vocês a realidade. Com dezenove anos você teria maturidade para cuidar de um bebê? Então será que aos vinte e sete a senhora terá para cuidar de uma menina de oito? Vocês são jovens e eu não sei bem se estão entendendo a responsabilidade da situação” O advogado mais parecia o advogado do diabo, pois ao invés de nos ajudar, colocava mais dúvidas na gente “Como Sophia existe muitas crianças órfãs e todas tem uma história tocante, não podemos nos deixar levar por suas histórias e querer abriga todas”

“Doutor, nos já pensamos nisso tudo e estamos dispostos a arriscar” Fernando falou em uma tentativa de cortar aquela conversa do advogado.

“Vocês são casados a quanto tempo?” O advogado indagou e eu olhei para Fernando confusa.

“Não somos casados” Expliquei ao advogado.

“Mas como podem querer adotar juntos uma criança se ainda nem são casados? Sendo solteiros vocês podem apenas adotá-la um,  para adotarem em conjunto, vocês teriam que ser casados” Como não pensamos nisso antes? Aquilo era tão logico quanto 1+1. Casar com Fernando era algo que não estava nos meus planos, pelo menos não pelos próximos dias, meses e nem anos. Aquele advogado estava pintando um quadro muito pior do que o que eu tinha planejado, eu não estava pronta para aquilo tudo.

Por que a vida sempre tem que ser tão confusa e vir como uma onda e arrastar-me todo o tempo?



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...